Mais do que quatro paredes







Talvez por ter formação interdisciplinar, tendo como ponto de partida a arte, para se debruçar depois sobre o mundo do design e da arquitectura, os projectos de Rosan Bosch sejam tão estimulantes. Os trabalhos do estúdio que dirige, sediado em Copenhaga, não se perdem na formalização de cascos notáveis, de grandes obras-de-arte de betão armado ou em soluções conceptuais em que o objecto-arquitectura se torna consumidor desproporcionado dos meios disponíveis para o todo da obra.
Pelo contrário, nela encontramos a paixão pela vivência plena dos espaços, pelo detalhe e pelo design como veículo para a interacção entre as pessoas e os edifícios.

A escola Vittra Telefonplan, localizada em Estocolmo, é bom exemplo dessas características propondo soluções inovadoras para um espaço educativo sem paredes. A ideia convencional de sala de aula é abandonada optando por criar ambientes com grande interactividade e sentido de convivência onde as crianças podem aprender, estudar e brincar em conjunto.
O que ali se revela é uma forma diferente de encarar a escola, um lugar constituído por espaços de aprendizagem multifuncionais, interiores coloridos, nichos para actividades de maior concentração ou espaços para contemplar o ambiente envolvente, pensados para o conforto tanto das crianças como dos adultos.

O sítio web oficial da instituição dá a conhecer mais detalhes sobre a filosofia que orienta a concepção das suas escolas. Via Arquitetura da Convivência.

Momento de recreio





A artista japonesa Toshiko Horiuchi MacAdam dedica-se à construção de estruturas de rede de grandes dimensões, em fibra e em crochet. Conta a lenda que, um dia, um grupo de crianças confundiu uma das suas instalações, julgando tratar-se de um objecto de recreio. Ao ver uma das suas esculturas ganhar vida, esta artista plástica começou a projectar diversos parques de recreio infantil no Japão, construídos com redes de crochet de muitas cores. Via Flores en el Ático.

Urbanismo faça-você-mesmo



Exemplo de urbanismo faça-você-mesmo. Em Seattle um grupo de cidadãos levou a cabo uma acção de guerrilha urbana, alterando e ampliando uma ciclovia existente e introduzindo protecções – dissuasores de plástico facilmente removíveis – em troços mais perigosos do percurso. A iniciativa foi acompanhada por uma carta dirigida aos serviços de trânsito do município, explicando os objectivos da intervenção.
Se acções deste tipo são muitas vezes menosprezadas ou encaradas como actos de vandalismo, neste caso as autoridades locais resolveram atender aos motivos apresentados pelos habitantes. A iniciativa espontânea serviu de inspiração a uma proposta definitiva coordenada pelos engenheiros de tráfego da cidade, tornando a infraestrutura mais segura para todos. Toda a história no Seattle Bike Blog. Via People and Place.

Negativos




Folhas embutidas em superfície de betão. Detalhe da escola de Mzamba, na África do Sul, em construção com o apoio da Bauen für Orange Farm. Via Designboom (com mais imagens).

Momento geek



A Força é grande nesta banheira mas solicita-se a todos os Wookies que não deixem vestígios no ralo. Via Hello You Creatives.

Brasil que futuro?



Por entre as imagens de imensas multidões que nos chegaram do Brasil nas últimas semanas encontramos, publicadas um pouco por toda a internet, fotografias de cidadãos que trouxeram para a rua as suas próprias palavras de ordem. Gente reclamando pela gestão responsável dos dinheiros do Estado, contra o despesismo e a corrupção, por mais investimento na saúde, na educação e em melhores infraestruturas públicas.

É um lugar-comum dizer que o Brasil é um país de futuro. Estima-se que possa ser, em 2020, o sétimo maior produtor de petróleo do mundo, podendo mesmo alcançar o quinto lugar. O Brasil tem hoje todas as condições de partida para assegurar o crescimento da sua economia durante várias décadas. Daqui a vinte anos será, sem qualquer dúvida, um país diferente e melhor. No entanto, apesar de todas as perspectivas promissoras, o caminho que agora se abre aos brasileiros é difícil e o país corre o risco de falhar o objectivo último de alcançar um desenvolvimento sustentável para as futuras gerações.

Se os recursos disponíveis parecem ser imensos, os problemas com que o Brasil se confronta são igualmente grandes e profundos. Com fortes insuficiências de infraestruturas básicas, de transportes, equipamentos públicos, segurança, habitação e urbanismo em geral, o caderno de encargos do progresso é extenso e irá requerer um grande esforço do Estado, ou seja, de todos. Se o Brasil permitir que este ciclo de crescimento seja conduzido como uma corrida ao ouro, entregue à corrupção e ao despesismo, deixando sobrepor a especulação e o lucro fácil ao planeamento e à exigência de boas práticas, todos os benefícios de uma política de investimento podem vir a ser desperdiçados.

Acima de tudo, o risco maior é cair na tentação de tornar os recursos do futuro num aval para o endividamento do presente. Se o país se entregar a políticas de sobreaquecimento rápido da economia por via do expansionismo assente na disponibilidade dos dinheiros públicos, sem critério rigoroso das suas necessidades, da justeza e da boa gestão dos gastos, o Brasil estará trilhando numa armadilha fatal para o seu destino. A maior armadilha de todas – aquela que porventura muitos brasileiros podem nem sequer imaginar – é que é possível fazer má política de investimento público em nome de boas causas. Deus, e o Diabo, estão nos detalhes. Motivos justos à vista de todos – tais como o investimento de larga escala em escolas, hospitais e outros equipamentos públicos – podem também ser usados de forma demagógica para promover o despesismo, o exagero, o favorecimento e a corrupção.
Não basta por isso investir na educação, na saúde ou nos transportes; é preciso investir nessas áreas mas investir bem, de forma justa, equilibrada e planeada.

Daqui a vinte anos o Brasil será diferente e melhor. Mas as suas perspectivas podem ser as de um país na charneira do mundo ou as de um país refém das dívidas e dos erros entretanto cometidos. Os brasileiros que estão saindo para a rua, levando consigo as suas próprias palavras de ordem, reclamam um maior discernimento no uso dos seus recursos e querem fazer parte dessa batalha. O futuro do Brasil decide-se hoje.









Imagens via Tumblr #changebrazil, #ogiganteacordou, #vemprarua.

Morro da Providência



No morro da Providência, uma das mais antigas favelas do Rio de Janeiro, está em curso uma vasta operação urbana de que resultará a demolição de centenas de pequenas casas da encosta. O street artist português Alexandre Farto, mais conhecido como Vhils, passou várias semanas junto daquela comunidade gravando murais com os rostos dos antigos residentes nas paredes restantes das suas casas.
Descascando a superfície, um pequeno filme dirigido por João Pedro Moreira, dá a conhecer este projecto artístico. Uma história de expropriação colectiva contada pelas muitas faces do morro, são as dores de crescimento de uma cidade em mudança que parece não saber como crescer sem expulsar as suas próprias pessoas.

The Pigs





The Pigs is a photographic essay by Carlos Spottorno.

Carlos Spottorno é um fotógrafo de origem Húngara que vive e trabalha actualmente em Madrid. Colaborou em diversas publicações de renome internacional tais como a National Geographic, o Le Monde, o El País e o The New York Times. Entre os vários prémios que recebeu ao longo da sua carreira encontra-se um prestigiado prémio World Press Photo pela imagem de um voluntário de limpeza, captada durante os trabalhos de recuperação ambiental da maré negra que atingiu a costa da Galiza após derrame de óleo do petroleiro Prestige em 2002.

The Pigs é o seu mais recente trabalho de foto-reportagem documental. Ensaio sobre uma visão estereotipada do conjunto de países do Sul da Europa, formado por Portugal, Itália, Grécia e Espanha, agrupados num termo pejorativo originário do meio financeiro anglo-saxónico. O título é reproduzido numa alusão ao design gráfico do logotipo da revista The Economist, fazendo eco desse olhar parcial sobre a nossa realidade. Suponho que é assim que os economistas nos vêm – desabafa o autor.

Esta é, no entanto, também a história de uma viagem interior. Partindo em busca dessa visão preconceituosa sobre os países do Sul, Spottorno viu-se confrontado com uma realidade que nos é incómoda. Como lidar com esse mundo desgostante que nos envergonha, que não consta dos guias turísticos, esses despojos do naufrágio de um conjunto de grandes nações da civilização ocidental? Teriam os economistas, afinal, razão? A resposta chegou na última paragem, na ilha grega de Naxos, a meio caminho entre a recolha de fotografias e o trabalho de reflexão que se seguiria. Spottorno afirma que estamos amarrados a uma visão estreita do mundo, reféns de uma visão idealizada do passado e das fracas fundações em que se suporta o nosso presente.

Os Pigs, afirma Carlos Spottorno, são a personificação de um paradoxo; entre a imagem desproporcionada da sua própria relevância e o complexo de inferioridade que se manifesta entre os seus desejos de grandeza e a realidade da sua situação. Por isso, os Pigs são velhos, cínicos e individualistas. O sentido de comunidade, tão encastrado na cultura nórdica, é fraco nestes países que carregam séculos de uma estrutura social fortemente hierárquica, acostumados a governos autoritários e corruptos. E assim as expectativas do povo já só se exteriorizam enquanto anseio de bem-estar pessoal, uma mais-valia de sobrevivência que acaba por se revelar um entrave ao progresso conjunto da nossa sociedade.