Habitar Portugal 12-14



É hoje lançada uma nova edição do Habitar Portugal, uma iniciativa promovida pela Ordem dos Arquitectos que pretende dar a conhecer uma selecção de obras construídas por arquitectos portugueses que, pela sua relevância, sejam representativas do panorama da arquitectura em Portugal.
Esta edição irá acolher obras concluídas entre 1 de Janeiro de 2012 e 31 de Dezembro de 2014, em território nacional e também no estrangeiro.

Num tempo de crise interna profunda, em que os arquitectos são obrigados a repensar, tantas vezes em circunstâncias adversas, a sua forma de viver a profissão, torna-se ainda mais relevante fazer um retrato da arquitectura portuguesa contemporânea que faça reflectir os efeitos de uma tal conjuntura e o seu significado, presente e futuro. Este é também um tempo de esbatimento de fronteiras, marcado pela forte emigração dos mais jovens, que importa registar nas suas muitas dinâmicas, porventura contraditórias, mas que não deixarão de marcar a herança destes anos difíceis. Um retrato que não deixará de dramatizar o papel de resistência que continuará a marcar o trajecto dos arquitectos portugueses, dentro e fora do país.

O lançamento da edição Habitar Portugal 2012-14 é marcado pela abertura de um novo sítio web oficial, bem como pela sessão pública de apresentação que tem lugar hoje às 18h00 na Carpe Diem, Rua de O Século 79 (Bairro Alto), em Lisboa, com a presença do Presidente da Ordem dos Arquitectos João Santa-Rita e com os comissários da presente edição. A sessão será acompanhada por um debate que pretende colocar em perspectiva o momento que a arquitectura atravessa em Portugal e o modelo da iniciativa, através da reflexão e comparação pela voz de comissários de cada uma das edições desde 2003.

O Habitar Portugal 12-14 pretende ser um olhar sobre a produção arquitectónica portuguesa do último triénio a partir de um ponto de vista que articula duas ideias fundamentais. A primeira decorre do momento que o País vive a que, presumimos, a produção de arquitectura não será alheia. O tema proposto - está a arquitectura sob resgate? - estabelece desde logo um contexto onde situar as obras e um enquadramento para as poder ver e analisar. Acreditamos que este é o pano de fundo do espaço onde, ao longo deste tempo, acontecem as práticas arquitectónicas em Portugal cuja maior ou menor presença o HP vai tratar de analisar.
O Habitar Portugal é uma selecção, uma escolha das obras de arquitectura que, a partir de vários programas, lugares, escalas ou condições, se consideram desde o ponto de vista de cada um dos seus comissariados, exemplares, no seu tempo e na sua condição. Esta é a quinta edição do Habitar Portugal o que significa que esta iniciativa acumulou um acervo de cerca de 400 obras ao longo de 15 anos de existência que deve ser valorizado. Os registos desse acervo permitem-nos hoje estabelecer pontos de comparação com a situação actual, as potenciais transformações na prática projectual ou edificatória afectada pelas condições de austeridade e escassez provocadas pelo resgate da Troika. É essa a segunda ideia fundamental, trazer à luz um palimpsesto que resulta das obras que fizeram parte das quatro edições anteriores e assim encontrar os registos que o lastro que elas deixaram faz emergir em contraste ou continuidade com o momento que vivemos. Crise, resgate e palimpsesto são as marcas da condição actual, estão presentes no quotidiano e na paisagem do país onde hoje vivemos. Que impacto têm na arquitectura em Portugal?


Via Habitar Portugal.

Sinais de Fogo – ciclo de debates



Está a decorrer o ciclo de debates Sinais de Fogo, uma iniciativa promovida pelo centro de artes transdisciplinares O Espaço do Tempo sob a direcção de Rui Horta e Ana Sousa Dias.

São conversas de periodicidade mensal que têm lugar no Convento da Saudação em Montemor-o-Novo, sempre numa manhã de sábado. A próxima sessão tem data marcada para dia 23 de Maio sob o tema «A Loucura das Religiões», contando com a presença de Frei Bento Domingues, Joana Carneiro e Carlos Fiolhais. O calendário completo pode ser consultado no sítio web oficial do projecto, onde podem também ser visionadas as gravações vídeo dos eventos anteriores.



Fica o registo para a mais recente sessão, com o título «Turbo-capitalismo», com João Ferreira do Amaral, partilhando a sua visão sobre a actual circunstância de Portugal na Europa e no contexto da moeda única.

Da ausência do outro



O Desaparecimento de Eleanor Rigby é, na sua versão original, um díptico. Dois filmes distintos – um subtitulado Ele, o outro Ela – fazem o retrato do processo de desgregação de uma relação na sequência de uma tragédia. Assim vamos conhecer duas perspectivas sobre uma mesma história, cada uma preenchendo os vazios da outra e, a pouco e pouco, dando a conhecer o quadro mais vasto que se vai compondo a partir de cada pequeno mosaico de narrativa.

Os dois filmes foram exibidos pela primeira vez no Festival Internacional de Cinema de Toronto em 2013, merecendo a atenção da produtora The Weinstein Company que viria a comprar os direitos de distribuição em território norte-americano. Condição imposta a essa aquisição foi a feitura de uma versão adicional – com o subtítulo Eles – que juntou as duas obras num único filme, numa edição mais acessível que lhe pudesse dar maior alcance junto do público.
É essa versão, porventura mais “comercial”, que o espectador desprevenido poderá encontrar pela primeira vez, assim perdendo a oportunidade de descobrir esta pequena jóia cinematográfica na forma em que foi verdadeiramente imaginada.

A separação da história dos dois protagonistas – Conor (James McAvoy) e Eleanor (Jessica Chastain) – é muito mais do que um simples recurso estilístico. Trata-se na verdade de um registo essencial para imprimir em cada uma dessas histórias um sentido que está de todo omisso na montagem convencional; o sentido da ausência do outro.

Linhas de argumento que marcam o trajecto das personagens são secundarizadas ou mesmo truncadas naquela versão compósita.
Mais do que isso, os dois filmes vão introduzindo pequenas ambiguidades no recontar das mesmas cenas, em diferentes perspectivas. Pequenas variações na entoação tornam uma mesma conversa afectuosa ou distante. Por vezes os gestos mudam, outras vezes as palavras não são exactamente as mesmas. Numa passagem crucial mudam pormenores do guarda-roupa, mudam diálogos, mudam gestos. Ainda que a estrutura da cena seja a mesma, o sentido das palavras muda irremediavelmente.

É nessa ambiguidade que O Desaparecimento de Eleanor Rigby se revela uma obra maior, um trabalho de invulgar complexidade sobre o papel da subjectividade na construção das relações humanas. De como, de certa forma, estamos sempre a construir uma narrativa em torno das nossas vidas e de quão difícil pode ser o genuíno encontro entre duas pessoas.



O Desaparecimento de Eleanor Rigby encontra-se já disponível em DVD onde decerto não deixará de encontrar o seu público e tornar-se um objecto de culto junto de um pequeno grupo de cinéfilos e dos admiradores do par principal. Um filme que nos fala sobre a gravidade entre pessoas, sobre as forças que nos aproximam e afastam, e dos misteriosos caminhos que conduzem um amor sem destino, condenado a existir…