10.18.2005

Eles vivem

Para perceber um pouco mais da mecânica por detrás dos grandes desígnios do Estado no sector das obras públicas, com um destaque muito particular ao caso da Ota e também do TGV, recomendo urgentemente a leitura da entrevista de Fernando Nunes da Silva à revista Arquitecturas (Nº5, Outubro 2005).

Em poucas páginas, este professor catedrático do Técnico na área do urbanismo e dos transportes disseca as lógicas que dirigem as grandes tomadas de decisão política. Nas entrelinhas está um país refém de lóbis que enriqueceram à custa da completa vampirização de um Estado invertebrado que se demitiu de exercer o seu papel. Eis-nos nas mãos de um sistema político-partidário mais interessado em favorecer determinados grupos económicos do que em construir estratégias integradas de governação e desenvolvimento.
Esta história que passa pela Expo, segue pelos Polis e pelas Capitais da Cultura, com visita privilegiada ao Euro, promete agora continuar para a Ota e para o TGV. O problema, claro está, não é a falta de justificação para que se realizem certos empreendimentos de escala nacional, mas a forma enviesada como se dirigem fundos brutais em direcção a conclusões pré-concebidas por partes do tecido empresarial que não está sujeito ao escrutínio democrático.

Desiludam-se aqueles que pensam que os termos que aqui utilizo são de um qualquer radicalismo de esquerda. Este problema existe e é real. A falsa ligeireza assente na decisão do governo em prosseguir sem dúvidas para a Ota mostra bem que as rodas dentadas dos lóbis continuam a trabalhar indiferentes à situação financeira do Estado.
Não importa aqui se os futuros governos vão ser mais socialistas ou liberais. Importa é perceber que salvar um país a saque com as velhas receitas do défice é o mesmo que querer tratar de um cancro com mezinhas.

A discussão destas coisas, evidentemente, não passará pelos telejornais.

5 comentários:

  1. "vampirização de um Estado invertebrado"
    Bravo!

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  2. Nossa ... parece até que estou lendo algo sobre o Brasil...

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  3. Muito embora esteja de acordo, o problema não está nos empreiteiros mas sim no sistema.
    Os empreoteiros pagam campanhas e beneficiam (financeiramente) politicos. O estado "invertebrado" é que não reage ao mensalão instituido...

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  4. Não falei em empreiteiros. Falo certamente dos grandes grupos da área da construção e de sectores da banca, em associação com empresas de sectores específicos. Falei aqui dos transportes por via da Ota - e esqueci-me de referir as Scuts por exemplo. Mas poderíamos falar de muitos outros sectores. Vejam o caso da energia. Que tipo de parcerias é que pensam que estão a promover a construção de parques eólicos. Ah, pois é, são os suspeitos do costume.

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  5. infelizmente os que governam são já eles mesmo parte da horda de saquedores...

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