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Sexta-feira


Bibliothekszentrum Bozen, Bozen, 2004. Feld72, arquitectos. Posted by Hello

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Sexta-feira


GIL Fashion Area 1, Viena, Austria, 2000. Propeller Z, arquitectos. Posted by Hello

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Segunda-feira

[Chico Buarque, A Casa Do Oscar, artigo publicado no folheto Poemas, Testemunhos, Cartas, comemorando os 90 anos de Niemeyer, 2000]

A casa do Oscar era o sonho da família. Havia o terreno para os lados da Iguatemi, havia o anteprojeto, presente do próprio, havia a promessa de que um belo dia iríamos morar na casa do Oscar. Cresci cheio de impaciência porque meu pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir a casa do Oscar. Mais tarde, num aperto, em vez de vender o museu com os cacarecos dentro, papai vendeu o terreno da Iguatemi. Desse modo a casa do Oscar, antes de existir, foi demolida. Ou ficou intacta, suspensa no ar, como a casa no beco de Manuel Bandeira.

Senti-me traído, tornei-me um rebelde, insultei meu pai, ergui o braço contra minha mãe e sai batendo a porta da nossa casa velha e normanda: só volto para casa quando for a casa do Oscar! Pois bem, internaram-me num ginásio em Cataguazes, projeto do Oscar. Vivi seis meses naquale casarão do Oscar, achei pouco, decidi-me a ser Oscar eu mesmo. Regressei a São Paulo, estudei geometria descritiva, passei no vestibular e fui o pior aluno da classe. Mas ao professor de topografia, que me reprovou no exame oral, respondi calado: lá em casa tenho um canudo com a casa do Oscar.

Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando a minha música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é a casa do Oscar.



Chico Buarque com Oscar Niemeyer no salão central do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, 1999. Posted by Hello

|vida|contemporânea|

Sexta-feira


"New attitude", montagem fotográfica de Jann Lipka. Posted by Hello

Cada vez mais se vão introduzindo na vida contemporânea novas necessidades, dependências sem as quais parecemos incapazes de sobreviver.
Gandhi contava a história de um dia ter perdido o pequeno espelho que utilizava para se auxiliar a fazer a barba. Sem espelho não lhe restou alternativa senão redobrar a concentração e sensibilidade com que executava a tarefa que realizou com sucesso. Nesse momento compreendeu que acabara de se libertar de um bem material de que na verdade não voltaria a depender dali para a frente.

Ainda tenho esperança que no futuro se venha a tornar moda não usar telemóvel. Entretanto assisto à publicitação dos novos telefones de terceira geração com câmara incorporada, algo de que ninguém necessita verdadeiramente mas que é vendido como uma novidade sensacional. Fico a ver deliciado o fantástico anúncio da Optimus em que um grupo de malta comunica a imagem de uma baleia encalhada nas areias de uma praia e logo ali se reunem voluntários entrando pelas ondas adentro, empurrando e salvando a baleia. Genial, dá-me vontade de ir a comprar já aquele telemóvel só para me sentir um salvador de baleias. É um pouco como a vontade de beber uma bela Coca-Cola fresquinha. Se a vida fosse como os spots publicitários, mal abria a garrafa apareciam bolas de praia a saltitar e belas mulheres em bikini a correr pela minha sala de estar. Na vida real dou por mim a beber 90% de publicidade e 10% de bebida refrigerante.

No fim de contas a vida parece-nos impossível sem telemóvel ou sem televisão. A matemática não existe sem máquina de calcular. Somos uns incapazes sem a assistência do computador ou internet. As relações morrem sem SMS. Para além disso, é a forma como todos estes novos elementos vão alterando o modo como nos socializamos. O mundo pára ao toque polifónico de um telemóvel. Então, não atendeste? Não respondeste à minha mensagem! E aqueles emails que te enviei?
Eis a vida subjugada à proximidade opaca da sociedade de informação.

Vamos absorvendo como esponjas uma verdadeira revolução social sem que nos demos por isso. As verdadeiras revoluções, de resto, não nascem das ideias mas da introdução de inovação no mundo. O que despoleta a revolução industrial não é uma ideia mas uma máquina. Em arquitectura, o estilo internacional não nasce dos devaneios de Le Corbusier mas das potencialidades introduzidas por um novo material altamente económico e versátil: o betão armado. E hoje, esta revolução da nossa maneira de ser e de socializar nasce não de um ideal comunicacional entre os povos mas da presença nas nossas vidas de novos gadgets e funcionalidades. E vamos mudando com isso a pouco e pouco. Ontem parávamos na montra da loja de electrodomésticos para nos vermos aparecer naquela televisão com máquina de filmar ao lado. Amanhã teremos a cara espalhada por toda a parte sem ligar a isso.

Novos comportamentos vão-se introduzindo em nós próprios como se difundidos pelo sistema sanguíneo. Eis a vida quatro por três como na telenovela. Uma cena, trinta segundos. Outra cena, quarenta e cinco segundos. De cinco em cinco dias um climax, um escândalo. Aquela que vê aquele com a outra, o mal entendido, o flagra. A vida contemporânea leva-nos pela mão e distrai-nos como na montanha russa. O sistema Miami Vice em acção, de dez em dez minutos uma perseguição de automóveis mesmo antes de começarmos a bocejar. E nós vamos achando tudo aquilo normal, a boa vida quatro por três, easylistening, easywatching, easyliving. E eis-nos a saír à noite, atitude Don Johnson, até parece que vou bater em alguém. O namoro de telenovela, o ciúme, a besteira. Não me liga? Estou cobrando você!
Eis-nos transformados em incapazes mentais. Manuel de Oliveira, que seca! Vinte minutos a ir de lá para cá a conversar sobre metafísica, digo eu, nunca vi. Mas já alguma vez viram um apreciador dos filmes do Manuel de Oliveira a falar, parecem deslumbrados com outra forma de comunicar, uma linguagem diferente, o tempo, o espaço, uma outra forma de sentir. Deve existir ali alguma coisa afinal, mas aquilo não cabe no meu modo de ser, quatro por três.

Assim vamos na vida: uns deixam-se levar pela mão, os outros ficam a construir a sua couraça de cinismo e descrença. A telenovela, afinal, é tão inócua. A publicidade até é divertida e as modas fazem-nos sentir bem, pois sim. Mas todos aqueles códigos entram por nós adentro como farpas, que o diga a miúda anorética de quinze anos que se julga feia, esquisita, fora do grupo, fora do mundo.

E vamos acumulando dependências sem reflectir, sem escolher. Se não és tu que escolhes aquilo em que te estás a tornar, então não te iludas: NÃO ÉS LIVRE, ponto final.

|the|browser|reloaded|

Tempo de fazer um pouco de publicidade ao meu browser de eleição, o supersensacional Firefox da Mozilla.

É verdade que 99% de vocês julgam que isto não vos interessa mesmo nada mas estão enganados. Este browser é “a” alternativa ao monótono Internet Explorer da Microsoft. É um browser de enorme qualidade e com distribuição gratuita que oferece uma fácil manipulação das opções e excelentes ferramentas de segurança. A citar: bloqueio de janelas “pop up”, controlo total sobre a aceitação de cookies (lembrem-se que os tracking cookies são uma das principais causas de manipulação de um browser, com consequências na alteração de homepage e abertura de páginas indesejáveis), controlo total de downloads (mesmo aqueles que passam ocultos pelo IE), intuitivo, fácil de instalar e com a possibilidade de abrir várias páginas dentro de uma mesma janela, entre muitas mais opções.
Para além disto, o facto de instalar o Firefox não impede de continuarem a utilizar o IE, para que possam experimentar e depois optar pelo que mais gostam. Fica aqui o palpite para quem quiser ser diferente.

Uma nota final:
Apesar de este ser um problema muito pontual, alguns blogs parecem abrir mal no Firefox, nomeadamente o Extractos e o No Arame. Estes amigos obrigam-me a ligar o IE. Afinal ainda não me consegui libertar completamente da Microsoft.


Firefox 0.9, a nova versão do browser da Mozilla. Posted by Hello

Notas adicionais (2004-06-17):
Referência a dois artigos que apresentam as características do browser Firefox - em inglês.

[Firefox 0.9: Better Than Internet Explorer]

[13 Reasons To Use Firefox Over IE]

|scrapbook|

Quarta-feira

Graças a acessórios como pequenas câmaras em forma de ovo é possível fazer coisas estúpidas na internet como manter relações à distância com outras pessoas, em tempo real. É como uma versão freeze frame da pessoa amada. É como viver um filme de kung fu com a dobragem de má qualidade. Excitante. Há mesmo pessoas capazes de pagar para assistir a actos de sexo ao vivo nestas coisas. Não percebo. Ás vezes o computador congela numa imagem durante vinte ou trinta segundos. Depois desbloqueia-se e todos os frames que estavam entupidos passam a correr em super velocidade. Sexy, ein?

A internet também permite descarregar imagens de gente famosa.
Tecnologia!

[Tsilli]

[Pines Designs]

[Janis Elko]

[WRtP]

[Lovely Design]

[fStop]

[Photomontage]

[Fine Design Group]

[Wuff]

[Spatman]

[Split Design]

[Iteration]

[3am]

|parabéns|

Quarta-feira

O Projecto completou um ano de actividade e continua a ser um dos blogs portugueses mais sólidos e o blog de arquitectura de referência. Peca talvez por ser demasiado Rotring onde por vezes podia ser uma Grafite 6B, mas ninguém pode negar a profundidade e abertura das reflexões que tem partilhado ao longo do tempo. Fica aqui a devida vénia e o convite a que todos lhe façam uma visita.


O Projecto, blog de António Damásio e Lourenço Ataíde Cordeiro. Posted by Hello

|before|sunset|

Segunda-feira

Não posso mais esperar por este filme! Quem viu o Before Sunrise que ponha o dedo no ar?!


Before Sunset, 2004. Richard Linklater. Posted by Hello

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Segunda-feira


Painting Not In Use, 1999. Tim Willoughby. Posted by Hello

|ruptura|

Segunda-feira

São frágeis as tentativas de interpretar a arte contemporânea em correntes cujo movimento se enquadre numa lógica de evolução, um percurso ascendente a caminho de uma conclusão iluminada. O universo da arte é tão complexo como o da sociedade em que vivemos e está também infectado pelas suas contradições: não está isento dos fenómenos comerciais, mediáticos, da popularidade, do mainstream, da afirmação pessoal. Espera-se muito mais que o artista seja capaz de existir no circuito dos media como se fosse um superstar: não que seja um interiorizador do mundo envolvido em tertúlias de grupos intelectuais como nos finais de século XIX.

É fácil sentirmo-nos desamparados com a complexidade do universo da arte contemporânea como de tudo o resto que nos rodeia, o que certamente nos leva a olhar para o passado com a melancolia de um tempo em que tudo parecia fazer sentido e estar no seu devido lugar. É, evidentemente, uma ilusão: o passado não é aquilo que sonhamos com melancolia. Esse passado é aquilo que concebemos no nosso espírito, somos nós que imaginamos perfeito aquilo que foi provavelmente tão complexo como o nosso próprio tempo. É tão fácil, por exemplo, olharmos para o tempo da nossa infância e sentirmos o mesmo, e no entanto, se nos lembrarmos bem, o nosso “eu” da infância não foi menos complexo do que aquilo que somos hoje. Como chorámos então há medida que íamos descobrindo as injustiças do mundo, como sofremos por aquela paixão incompreensível que sentimos. Teremos sentido menos porque éramos jovens? Não. A dor e a angústia da dúvida foram tão penetrantes como nos são hoje. Somos assim nós que olhamos para essa angústia passada com a melancolia que torna belo ao nosso olhar o que em tempos nos fez sentir terror.

Sentimo-nos certamente mais em casa nas paisagens envolventes de Bach do que nos universos profundos de Elliot Carter. Toda a estrutura que somos rejeita o desconhecido. Ao mergulhar nos sons de um concerto de Carter sentimos a falta do horizonte, os nossos sentidos desconhecem aquele espaço sem referências – aquelas com que aprendemos a descodificar o mundo. E no entanto, nós somos organismos extraordinários preparados para descobrir e aprender de novo. Se nos apurármos a compreender essa complexidade, eis-nos a vislumbrar aquilo que antes nos parecera incompreensível. Existe algo fantástico nessa aprendizagem que altera o nosso gosto e nos transforma, que nos faz ver o mundo de uma forma diferente como se acabássemos de aprender uma nova língua.
Por isso devemos ter prudência com discursos destrutivos sobre a expressão contemporânea: na pintura, na música, na arquitectura, nas formas de manifestação artística. Ao olhar para o “dadaísmo” por exemplo, é fácil identificar nos seus princípios a inevitabilidade de uma auto-destruição. No entanto, esses momentos de ruptura são extremamente importantes porque buscam uma nova estética – e destroem outra.

A estética é também uma estrutura, um código de leitura da realidade. Nesse aspecto, gostar ou não gostar não é um jogo inocente. Gostar é uma escolha feita no fundo de nós, como que resultado de uma inteligência que reside na síntese entre o racional e o emocional. Essa inteligência encerra em si mesmo o impulso de rejeição do incompreensível que nos assusta e o potencial de aceitação do desconhecido que nos desperta. Por isto, negar um segundo olhar é negarmos a nós próprios a possibilidade de descobrir uma realidade mais complexa do que aquela que antes conhecíamos: cabe a cada um de nós a responsabilidade de aceitar os efeitos da escolha que fazemos. E também por isto, mais importante do que gostar ou não gostar é aprender a descobrir novas formas de compreender aquilo que nos rodeia, para depois então escolher!


Paintings For Recycling, 1999. Tim Willoughby. Posted by Hello

|urban|environments|

Quinta-feira

Urban Environments é uma firma de jovens arquitectos sediada em Dusseldorf, na Alemanha. Os seus trabalhos abrangem a arquitectura, design de interiores, planeamento urbano, design digital e de equipamento. Destaque para o projecto Urban Island, uma estratégia de reconversão de uma central de camionagem de grandes dimensões num quarteirão habitacional. Situado no Japão, o projecto desenvolve uma organização dinâmica dos volumes construídos e dos espaços públicos, culminando no desenvolvimento de três torres que se erguem dos “dedos” da nova “ilha urbana”, constituíndo-se como uma forte referência e o ícone do novo tecido da cidade.


Urban Island, Osaka, Japão, 2002-2003. Urban Environments, arquitectos. Posted by Hello

|snohetta|

Quarta-feira

Autores do projecto da nova Bibliotheca Alexandrina, a firma norueguesa Snohetta apresenta uma selecção dos seus trabalhos no site oficial acompanhados de imagens e uma descrição completa dos programas de intervenção. A Bibliotheca Alexandrina é, evidentemente, o projecto em destaque e a sua produção mais ambiciosa.

A obra foi promovida pelo estado egípcio e a Unesco, que ali se propuseram construir uma das maiores bibliotecas do mundo para acolher uma colecção de livros e manuscritos raros da região e fazer reviver a antiga biblioteca que existiu há dois milhares de anos naquele local. Marcada pela sua volumetria massiva e circular que parece emergir do chão revelando paredes maciças cravadas de inscrições simbólicas, o edifício abre-se para o mediterrâneo e constitui-se em múltiplos patamares interiores, como “terraços” de leitura. Associados ao grande edifício existem outros equipamentos culturais e uma escola, envolvidos no plano de arranjo de toda a zona envolvente no que se pretendeu vir a tornar-se um espaço de contemplação e debate.


Bibliotheca Alexandrina, Egipto, 2002. Snohetta, arquitectos. Posted by Hello

|solidariedade|

Terça-feira

Ao ouvir as palavras recentes de Júlio Machado Vaz a respeito da queda generalizada do conceito de solidariedade, não só enquanto expressão da nossa linguagem mas acima de tudo na prática dos nossos modos de vida sou levado a pensar se não será esse o principal problema com que a Europa se confronta nos dias de hoje.
A pouco menos de uma semana das eleições para o parlamento europeu e a meio de uma das mais pobres campanhas eleitorais de que há memória, é impossível não sentir o desamparo do vazio político e da estridência ideológica em que estamos mergulhados. Eis-nos então nesta frágil Europa em que as nações se degladiam pela gestão de benefícios económicos e da ratificação de tratados em que as particularidades locais sucumbem aos interesses internos de cada um: o interesse da Alemanha, o interesse da França, o interesse da Espanha, o interesse de Portugal. Uma Europa em que os “grandes” e os “pequenos” discutem à porta aberta erróneas posições de política externa sobre assuntos que mereciam pelo menos uma discussão interna. Uma Europa afinal, que em momentos cruciais de unificação e de grande simbolismo histórico como a recente negociação para uma Constituição Europeia, oferece ao mundo e a si própria um triste espectáculo de desunião e vergonha.
E no entanto, dezoito anos passados da nossa entrada na comunidade, os desafios que se nos deparam são dignos de respeito. As novas democracias que agora integraram a União Europeia esperam o apoio dos seus vizinhos e uma vontade de trabalhar em parceria para alcançar um destino comum. Pela primeira vez na História do velho continente um tão vasto conjunto de nações se aproximou numa tal reconciliação de vontades e interesses. Como conseguirá a União, cujas instituições nasceram com o propósito de servir um pequeno conjunto de estados membros, expandir-se sem comprometer os seus mecanismos de controle de decisão ou a sua identidade política? E como irão pessoas com tão grandes diversidades culturais conviver num continente sem fronteiras, dispondo-se a conceder uma boa parte da sua soberania? Em especial quando se torna evidente que o futuro europeu passará por desenvolver políticas de cooperação na área da justiça e da administração interna, e a criação de estruturas mais credíveis na área da segurança e da defesa. Conseguiremos implantar-nos como uma identidade política própria dentro da NATO, e estabelecermo-nos como uma voz autónoma no diálogo da segurança mundial? Conseguiremos desenvolver uma realidade de progresso económico e de convergência monetária, e o desenvolvimento de um quadro de políticas sociais e de estabilidade que uma tal convergência exige?
São estas algumas das muitas questões que se levantam a esta visão comum da Europa no início do século 21, uma visão necessáriamente especulativa e incompleta. Uma visão que só se tornará realidade com o esforço solidário das nações e a criação de laços reais de identidade entre si. Uma visão que não sobreviverá se os diferentes países persistirem na luta por ganhos individuais e pela supremacia dos seus pequenos interesses. Numa tal construção civilizacional como aquela que a Europa se propõe erigir, a solidariedade não é apenas um chavão mas um requerimento para a sua sustentabilidade. Tal como uma família, ou um grupo de amigos, também o nosso grupo de nações não resistirá aos desafios e às dificuldades sem a capacidade de se entregar a uma visão comum e partilhada, solidária, do futuro.


 Posted by Hello

|sevillanas|

Sexta-feira

Foi uma noite sensacional que se viveu ontem à noite no Lizarran de Évora. Por entre as tapas, os revueltos, as puntillitas, as batatas bravas ou as gambas à-la-guillo, foram as danças sevillanas ao vivo que mais encantaram os presentes. Os artistas chegaram com quase uma hora de atraso que o bom ambiente fez passar depressa. Ele, um formoso rapaz que posso jurar era uma cópia do Antonio Banderas. Elas, duas dançarinas carregadas de jovialidade e sedução que os apertados vestidos não conseguiam disfarçar. E assim se passou a noite ao som daquele ritmo, da beleza e do encanto que fizeram o tempo correr e os tintos verano saltitar ao som das palmas. E eu ali sentado na mesa junto ao estrado de dança, posso jurar que por uma ou duas vezes senti o toque do veloz girar das saias ao esvoaçar do leque.
Depois, a Dora e eu fomos para casa enebriados por aquela magia e com a maravilhosa sensação de como é bom estarmos vivos.


Sai um tinto verano se faz favor! Posted by Hello

|na|correria|

Quarta-feira

[Cristiane Alcântara, via email]
Olá,
não consigo deixar coments em seu blog, por isso estou escrevendo pra agradecer o link do meu blog, ego confession, em seu maravilhoso "a barriga de um arquiteto"!
Adoro seu blog e o visito sempre!
Abs,
Cris.
http://www.egoconfession.zip.net


Ninguém resiste à simpática Cristiane Alcântara por isso aqui vai uma piscadela de olho e um “não tem nada que agradecer”. Por mera coincidência, Cris escreve nos seus últimos textos sobre a fragilidade de alguma arte contemporânea subscrevendo um pouco das palavras do Lourenço. Escreve ela: Desse ponto de vista, tornam-se bem claras, e até certo ponto ingênuas, algumas extravagâncias que hoje aparecem como a vanguarda da pintura. O mal, entretanto, está em que tais obras só conseguem o efeito do primeiro contato, e não logram permanecer na condição transcendente de não-objeto. São objetos curiosos, estranhos, extravagantes - mas objetos. Hmmmm... Entre sorrisos, fica a promessa de a visitar muitas vezes no seu blog e beijinhos aqui de Portugal.

[Mário Pires, via email]
Olá
Adicionei o seu blogue à minha lista de links, só acho aborrecido que nos tenhamos de registar para comentar, mas assim aproveito para lhe dar a minha opinião sobre o último post.
Já deixei de ler o Expresso nos anos 80 (já faz uns tempitos) e há muito tempo que infelizmente deixei de confiar em qualquer meio de informação. Alguns comentadores ainda merecem o tempo que gastamos a ler o que escrevem, mas são raros e pela amostra junta o futuro deve ser negro.
Pessoas como JPC já houve muitas e continuará a haver, a coberto de um domínio da escrita ele não faz nada mais do que malabarismos, exercícios técnicos com determinados "truques" para criar essa imagem de "irreverente". No meu livro chama-se mais a isso má educação, e soberba vazia de conteúdo.
A projecção que lhe dá a página de um semanário de grande tiragem, é apenas o fogo mediático que procura esconder que aquilo não passa de uma mera opinião pessoal.
Embora muita gente se maravilhe com o moço, eu sinceramente prefiro outras escritas e outras pessoas, já que raramente essa gente demonstra personalidade recomendável.
Mário Pires
http://www.retorta.net


O Mário Pires envia a sua opinião e também se queixa do sistema de comentários. É verdade, este novo sistema do Blogspot não é grande coisa e tem o desplante de considerar todos os comentadores não registados no Blogger como “anonymous”, assim “a modos que” a dizer que quem não está no Blogger não existe. Eu também não gosto mas este novo sistema tem melhor integração com a construção da página do blog (o template para os entendidos). Assim, resta dizer-vos que o email abarrigadeumarquitecto@yahoo.com estará sempre aberto aos vossos comentários, textos e opiniões que tenho todo o prazer de publicar, como diz Cris, na correria...


Ego Confession, blog de Cristiane Alcântara. Posted by Hello

|rugemer|

Quarta-feira

A firma AJR do arquitecto berlinense Jorg Rugemer dá a conhecer alguns dos seus trabalhos, com especial destaque para os projectos de revitalização urbana Generations Reside, o Museu de Arte Moderna de Bozen e o Verl City Hall, todos desenvolvidos na Alemanha. Rugemer patrocina ainda o projecto ArchitekturBasis, uma sistema de trabalho em equipa que se suporta no esforço de um grupo aberto de pessoas em colaboração através da comunicação em rede e a standardização dos processos digitais. Em exposição um estudo de habitação modular com várias tipologias a partir de um modelo geométrico comum.


Basistyp 01, 2003. ArchitekturBasis, ARJ Architekten. Posted by Hello

|um|insulto|

Terça-feira


JPC em evidente esforço intelectual. Posted by Hello

O que entendemos nós por arte? A pergunta é mais velha do que o sexo. Pessoalmente, não concebo arte sem beleza e não concebo a beleza sem um mínimo de inexaustibilidade. Não sei se o Belo mora no objecto. Ou no observador do objecto – a velha disputa entre objectivistas e subjectivistas. Talvez ambos tenham razão e, com eles, Diderot, o primeiro de todos a apresentar a soma das partes. Sinto apenas que a grande arte é aquela que existe e persiste. Vemos Monet pela primeira vez. Ficamos assombrados com a luz. Depois, a consistência da cor. E quando, anos volvidos, regressamos a Paris, regressamos ao início. A grande arte é uma aventura interminável que somos humanamente incapazes de esgotar. Não conheço ninguém – rigorosamente ninguém – que tenha visto “demasiado” Monet, ou “demasiado” Bronzino, ou “demasiado” Van Eyck. Nunca se vê “demasiado”. Tudo ao contrário da arte contemporânea, ou da maioria dela, que não sobrevive a uma segunda vez. As esculturas de Sarah Lucas, feitas com alfaces e ovos estrelados, são criações inovativas? Não contesto. Mas interessam uma vez. Não interessam nenhuma outra vez. O mesmo para Damien Hirst, Tracey Emin ou Chris Ofili – artistas contemporâneos que, esta semana, viram as suas obras consumidas em incêndio brutal. Milhões de libras em fumo, dizem os entendidos. Uma perda “insubstituível” para a arte britânica, acrescentam os entendidos. Talvez seja. Mas, com a devida vénia, não sei o que será pior: que uma obra de arte desapareça pela força das chamas ou que desapareça em nós depois de um primeiro olhar.
[João Pereira Coutinho, Semanário Expresso edição de 2004-05-29]

Que um idiota como João Pereira Coutinho escreva no Expresso é um bom sinal do estado a que este semanário chegou. Que no mesmo jornal seja colunista a Clara Ferreira Alves torna a sua leitura o equivalente a assistir a um concerto de Maria João Pires seguida de Quim Barreiros. Mas o que é mesmo penoso é ver este menino de beicinho arrogante a exibir a sua sapiência livresca como quem tira ases do baralho. Arrogante de quê, pergunto eu. Este menino tem alguma obra feita, escreveu alguns livros notáveis, tem currículo para mostrar o que vale? Não lhe ficava mal um pouco de humildade, mas JPC é “irreverente” e “genial”, enfim, o pior que há nesta geração que é a minha, exibicionistas de “fortes opiniões” e sem humildade para as sustentar em factos.
Em JPC tudo é sentença e ideologia. Não lhe interessa a apresentação e a análise da realidade, ele não é analista, ele é essa nata do jornalismo, um comentador. Assim, cada parágrafo é um manifesto, tudo é interpretação, ponto de vista, “bias”. Um irreverente de trela pronto a reescrever os factos ao sabor da sua ideologia.
Que a direcção do Expresso dê carta branca a que este menino escreva uma coluna onde regista toda a porcaria que lhe sai da cabeça é a machadada final. Eis JPC em todo o seu esplendor pontapeando as cinzas do incêndio que na passada semana destruiu um número vasto de obras de arte da colecção de Charles Saatchi. Obras de artistas contemporâneos, a maioria representante da chamada Britart entre outras consumidas pelo fogo. Por entre as peças polémicas de Damien Hirst e Tracey Emin arderam obras como Mood Change One de Michael Craig-Martin, Hedone’s de Patrick Caulfield, Che Guevara’s Mountain Hideaway de Dexter Dalwood, 20 trabalhos da autoria de Martin Maloney, e ainda o quadro O Embaixador De Jesus da portuguesa Paula Rego.
Do alto dos seus vinte e tal anos, João Pereira Coutinho bem podia ficar calado se este acontecimento lhe mereceu tanto desprezo assim, mas que venha cuspir para cima dos leitores coisas como A grande arte é uma aventura interminável que somos humanamente incapazes de esgotar. (...)Tudo ao contrário da arte contemporânea, ou da maioria dela, que não sobrevive a uma segunda vez, e ironizar sobre a perda insubstituível do património que ali desapareceu é verdadeiramente revoltante. Talvez este conservador imberbe tenha de voltar aos livros de onde saíu para compreender que se em 1900 todas as obras de Monet tivessem pegado fogo muitas vozes como a dele se teriam feito sentir, menosprezando e regozijando-se com a sua destruição. Que, como apresentou Kundera, a arte deste século perdeu a ideia de um rumo ascendente cujo caminho conduziria a um glorioso final. Que vivemos hoje num mundo muito mais complexo em que as noções de significado, percepção, consistência, objectividade, paradoxo, não são mais as mesmas. Que muita da arte contemporânea retrata essa complexidade, esse diálogo tangente entre a realidade e a sua representação. Que aquilo que somos e aquilo que pensamos são coisas diferentes, e que o mesmo se aplica a JPC.

|arte|perdida|

Terça-feira


Algumas das obras perdidas no incêndio que no passado dia 26 de maio destruiu o armazém de uma galeria de arte em Londres. Em cima à esquerda "O Embaixador De Jesus" de Paula Rego. Posted by Hello