|regresso|ao|subúrbio|

Sexta-feira

Julgo que nunca tomei a decisão de abandonar Lisboa. As grandes escolhas que fazemos são as que a vida faz por nós. Vim para Évora a reboque do destino e por aqui fiquei.
Crescer nos subúrbios foi uma experiência valiosa. Os dormitórios dos arredores de Lisboa começaram a crescer com a fixação de população jovem, casais à procura da primeira casa onde pudessem constituir família. No tempo em que os meus pais compraram casa os subúrbios eram um lugar inocente. Lembro-me do tempo em que se jogava na rua, passeávamos de bicicleta ou, no Verão, ficávamos até às dez da noite a brincar às escondidas. Ainda era o tempo em que as crianças usavam roupas sem marca e rasgavam as calças e os ténis na correria e nas quedas.
A adolescência daquela primeira geração nascida no bairro trouxe transformações visíveis. Uns começaram a isolar-se, outros a formar grupos. Alguns entraram na má vida para de lá sair com marcas visíveis, ou não sair de todo. Entretanto o subúrbio dos anos oitenta e noventa ia crescendo, massificando-se, escondendo o céu.

Hoje sinto que sou de Évora como nunca senti que era de Lisboa. Agora quando visito aqueles subúrbios da grande Lisboa surpreende-me a massificação a que tudo aquilo se entregou. E é curioso ver que hoje, como à trinta anos atrás, é uma geração em início de vida e que trabalha em Lisboa que é empurrada para ali por força da sua incapacidade económica. Ei-los a iniciar a vida, a ter filhos. Existe por ali uma nova geração de crianças que já não brinca nas ruas. Vivem escondidas naqueles andares, em prédios altos. As ruas sem vida, sem hierarquia, sem circuitos pedonais, os passeios assaltados pelos carros. Os espaços verdes, ou melhor, os “espaços públicos de utilização colectiva” são os restos de declives inúteis transformados em canteiros, ou o interior das rotundas. Ali nenhuma criança alguma vez brincará.

O que entristece não é aquela miséria urbanística, o desleixo ou a sujidade. É rever no futuro destas crianças, como disse Exupéry “um pouco, em qualquer desses homens, Mozart assassinado”. É compreender que cada geração de crianças traz consigo um potencial incrível de mudança. É ver aquele recurso valioso ser desperdiçado, e imaginar estas crianças daqui a quinze anos a construir as referências com que vão conduzir as suas vidas, naqueles subúrbios quinze anos mais velhos, mais degradados, mais pobres.



CC escreveu:
Gosto muito do blog!
05.02.04 - 12:44 pm

António escreveu:
O que é preciso fazer para que se inicie um movimento cívico que evite que Lisboa continue a crescer? Na Holanda, por exemplo, as cidades não crescem mais que uma determinada dimensâo.
Canalize-se o furor imobiliário para o interior, que bem precisa de gente e desenvolvimento.
"Nem mais um tijolo para Lisboa!"
email: thoix@hotmail.com
homepage: http://lusofolia.blogspot.com/
05.03.04 - 1:41 am

CC escreveu:
Hmmm... Na Holanda, quando o limite já foi atingido, constroem-se umas ilhas (veja-se o caso das novas ilhas de Amesterdão).
05.03.04 - 10:20 am

Pedro escreveu:
Eu também cresci nos subúrbios, mas sinto-me de Lisboa, do Funchal, de Évora, do Porto, de Madrid, de Londres... tudo menos Rio de Mouro.
email: oceusobrelisboa@sapo.pt
homepage: http://o-ceu-sobre-lisboa.blogspot.com/
05.12.04 - 2:07 am

|mocoloco|

Quinta-feira

Hoje apetece-me passear na internet como quem anda a ver montras. No Mocoloco há design contemporâneo para ver. Muitas categorias incluindo arquitectura.

|this|is|temporary|

Sexta-feira

Se a sua viagem pela internet se está a tornar demasiado confusa, lembre-se que é muito mais importante seguir aquilo que parece interessante do que saber onde está.



Cris escreveu:
gostei muito do seu blog, sou brasileira e faço mestrado em história da arte, estou pesquisando tudo que cerca a imagem das cidades atualmente. Seu blog me interessou mto! :)
bjos,
Cris
email: chris.alcantara@uol.com.br
homepage: http://www.egoconfession.zip.net/
04.25.04 - 8:44 pm

|caos|urbanístico|em|portugal|

Quarta-feira

Através do Portal de Urbanismo poderão aceder à Exposição Virtual 30 Anos de Caos Urbanístico. É um trabalho de 2002 que se mantém bem pertinente para conhecer alguns dos mais flagrantes atentados urbanos que marcam a paisagem das nossas cidades. Para aprender com os erros e compreender que não é a falta de dinheiro mas sim a falta de cultura de muitos promotores e daqueles que na administração pública permitem que isto aconteça, que comprometem o território em que muitos vão viver, crescer e construir as suas vidas durante várias décadas.
Aceda directamente à exposição aqui, clique em Menu e depois em A Exposição Interactiva.

Nota: o ficheiro de apresentação da exposição encontra-se em formato Macromedia Flash Player (se não o tem instalado pode fazer download gratuito aqui).



Hipólito escreveu:
o hipolito recomenda um livro sobre este assunto e q tá na ordem do dia...
Politicas urbanas e tendências estratégicas e opurtunidades by nuno portas e outros.
homepage: http://oblogdohipolito.blogspot.com
04.28.04 - 11:11 am

Pedro escreveu:
Pois, já vi esse livro na Gulbenkian (+ barato lá) e tenho de comprá-lo. Além do mais tem fotos lindas. A expo está fantástica. Reparei que foi feita na U. Lusófona - algumas privadas começam a surpreender-me. Espantoso é como ao fim de 30 anos este ainda não é sentido como um problema urgente.
email: oceusobrelisboa@sapo.pt
homepage: http://o-ceu-sobre-lisboa.blogspot.com/
04.29.04 - 1:48 pm

Pedro escreveu:
Ah, ainda mais fantástico: acabo de ler a composição da comissão de honra, onde estão o Fonseca Ferreira, da comissão de descoordenação regional de Lisboa e Vale do Tejo e conhecido urbanista, o famigerado José Augusto Carvalho, ex-secretário de estado do desordenamento do terrítório, o PSL - tudo gente que não tem nada a ver com o que lá se passa...
email: oceusobrelisboa@sapo.pt
homepage: http://o-ceu-sobre-lisboa.blogspot.com/
04.29.04 - 1:55 pm

|as|faces|da|favela|

Segunda-feira

Viva Favela é uma interessante porta de entrada para conhecer o mundo perigoso mas vivo das favelas do Rio de Janeiro. Uma página informativa que dá a conhecer o que de melhor se faz para sobreviver numa realidade difícil, trazendo à luz da discussão assuntos que durante muito tempo perduraram na sombra do medo e dos segredos.
Outros olhares também se encontram em Favela Faces, um site bilíngue que nos revela as histórias de quatro moradores, os seus problemas e as formas que usam para ultrapassá-los. O que fizeram e o que fazem para melhorar a vida das suas comunidades, com os poucos recursos de que dispõem.
Também do Brasil, mas agora em inglês, a experiência de Jaime Lerner, arquitecto e anterior presidente da municipalidade de Curitiba. Fala-nos das suas iniciativas pioneiras para tentar criar cidades mais amigas do ambiente, em Change comes from the cities.

|de|que|fala|sampaio|

Sábado

[via Público: Sampaio defende debate sobre a Reserva Ecológica Nacional] O Presidente da República concordou hoje com a necessidade de um debate sobre o futuro da Reserva Ecológica Nacional, mas alertou que o país não se pode transformar num grande parque ambiental. (...)

[via Público: Até o Presidente da República! por Miguel Sousa Tavares] (...) Se Portugal não se encontra hoje já totalmente vandalizado, se ainda restam algumas zonas que servem todos e não apenas alguns, deve-se à existência da RAN e da REN. Mas, ao longo dos últimos 25 anos, esse derradeiro obstáculo tem sido, disfarçada ou descaradamente, combatido por autarcas, governantes e especuladores imobiliários. (...)
Pois bem, parece que, no segredo do seu gabinete, o desastroso ministro do Ambiente que agora nos calhou em sorte prepara a revisão da legislação referente à RAN e à REN. E, quando digo que prepara a sua revisão, todos sabemos à partida, a começar pelo próprio ministro, que a ideia não é obviamente a de reforçar os comandos legislativos e muito menos - credo! - alargar as zonas actualmente abrangidas pela RAN e REN.


Nem tudo o que parece é, apetece dizer a propósito das palavras de Jorge Sampaio e das reacções críticas que se começam a fazer ouvir, encabeçadas pelo ataque directo de Miguel Sousa Tavares. Eis então que Sampaio caiu na asneira de pôr o pescoço no cepo do politicamente incorrecto, mas será que se tornou agora afinal num agente do lobby do betão? Terá sido subvertido por obscuros interesses imobiliários? Será culpado por um total desprezo pelas questões ambientais no que se refere ao planeamento do território? A questão talvez seja bem mais complexa do que parece.

O regime da Reserva Ecológica Nacional (REN) é uma solução visionária e positiva adoptada pelo Estado Português, doutrinada por Gonçalo Ribeiro Teles numa época em que o vazio legal relativamente às questões do território deixava desprotegidas áreas que pelo seu valor ambiental deviam ser protegidas e conservadas. Mais do que isso, a REN procurava nos seus princípios garantir a preservação de áreas necessárias para a sustentabilidade da própria ocupação humana no conjunto do território, como zonas costeiras e ribeirinhas, áreas de infiltração máxima e zonas declivosas. Quanto à Reserva Agrícola Nacional (RAN), é a categoria atribuída, como o próprio nome indica, aos solos considerados com maior aptidão para a agricultura.
A necessidade de rever os regimes da RAN e da REN tem sido motivo de discussões recorrentes, fruto das críticas que se fazem ao facto de não estar perfeitamente regulamentada a gestão desses espaços (quem é responsável por eles e quais os meios colocados à disposição para a sua preservação). Perante a falta de uma regulamentação clara e a desarticulação de planos com competências e conteúdos repetidos e sobrepostos, tem-se verificado na prática um quadro de dependências que condiciona gravemente, não apenas as dinâmicas das actividades económicas, mas também a acção estratégica dos órgãos de gestão do território, na medida em que não se consegue alterar ou ajustar em tempo útil os conteúdos dos planos, quando estes estão desactualizados ou quando, de algum modo, contrariam de forma negativa e com pressupostos ultrapassados as opções relativas a empreendimentos necessários. Cai-se assim muitas vezes na rigidez cega, em que grande parte das vezes se inviabiliza toda e qualquer intervenção nestes espaços sem que para isso seja apresentado qualquer fundamento.

Perante esta situação, o anterior Governo socialista tentou proceder a uma revisão da REN, no sentido de aligeirar a sua rigidez proibicionista. A ideia era definir, legalmente, quais as actividades ou usos do solo que não punham em causa os princípios que regem a Reserva Ecológica, acautelando os interesses de diversos sectores. Um projecto de decreto-lei neste sentido foi elaborado pelo Ministério do Ambiente, em 1999, contendo uma lista detalhada do que é que se podia fazer em cada tipo de espaços incluídos na REN. Mas o diploma não chegou a ser aprovado.
O processo de revisão foi retomado pelo actual Governo, que prometeu fazê-lo com critérios de base científica. Para isto, o Ministério das Cidades assinou, em Julho do ano passado, um protocolo com o Instituto Superior de Agronomia, para a elaboração de estudos científicos e propostas, sob a coordenação de Sidónio Pardal. O estudo que agora está nas mãos do Ministério das Cidades é um dos resultados deste protocolo.

A nova abordagem que está a ser desenvolvida por Sidónio Pardal pretende regulamentar a gestão da REN, e apesar de se encontrar ainda em estudo está já a ser alvo de penosas críticas da parte dos organismos de protecção ambiental, encabeçados pelo criador da REN, Gonçalo Ribeiro Teles, que afirmou claramente que "Isto é óptimo para acabar com a REN. (...)É uma visão na qual a componente principal é a construção civil".

O problema que se levanta a todos, e que tem de incluir também aqueles que mais defendem o actual quadro legal da RAN e da REN, é que não basta defender aqueles que aparentam ser os melhores princípios se na prática não se faz a monitorização dos resultados e se tiram daí as devidas conclusões. Ora a experiência tem vindo a demonstrar que na realidade não existe desenvolvimento sustentável se não se proceder à monitorização das políticas, procedendo às necessárias correcções quando as práticas se desviam dos seus objectivos. Miguel Sousa Tavares tem razão em preocupar-se com aqueles que sempre têm tentado subverter a ordem legal para levar avante os maiores atropelos, urbanizando áreas que legitimamente deviam ser preservadas da intervenção humana. Mas deveria igualmente observar que a situação legal existente cria situações tão caricatas como as de proprietários de extensas áreas de RAN que, legalmente, apenas podem aí construir uma moradia de 200 m2. Regulamentações que chegam a inviabilizar a construção de equipamentos necessários às próprias explorações agrícolas e agro-pecuárias (que por vezes atingem grande dimensão em termos de área construída).

Como tenho aqui repetido, a realidade é complexa e diferente para as diversas áreas do país. É necessário que se olhe para essa realidade e se perceba se o que era urgente e eficaz há vinte anos atrás é, hoje, uma mais valia. Caso contrário, será a própria dogmatização da RAN e da REN que conduzirá à sua falência, para prejuízo de todos.



Alexandre Monteiro escreveu:
Este arrazoado é muito bonito mas a experiência mostra (vidé Cascais, Costa Vicentina, Alentejo, etc.) o que pode bem a ignomía que é cada autarquia depender dos impostos sobre a área construída para apresentar serviço à custa dessas verbas.
E depois há os patos bravos e a sua clique de arquitectos de arquinhos e engenheiros de assinatura e construtores civis de sub-empreitada, todos a fugirem ao fisco e a amealhar à custa do dinheiro fácil que ainda anda por aí, vendendo condomínios de 'luxo', com maus acabamentos, revestidos a lioz e pavimentados com calçada portuguesa colocada às três pancadas por 4 ou 5 guineenses, com nomes tão sonantes como Quinta dos Principes ou algo sonante em inglês, tudo isto em reservas agrícolas ou ambientais que diminuem cada vez mais até se tornarem novas Brandoas ou nóveis Cacéms... a Parque Expo também anda a fazer um «bom» trabalho, neste capítulo...
email: arqueologia@portugalmail.pt
homepage: http://alexandre-monteiro.blogspot.com/
04.20.04 - 6:07 pm

António Neves escreveu:
Conheça-se o estudo e veja-se da sua justiça!
A análise pragmática de sidónio pardal clarifica e desmistifica as diferenças entre os preâmbulos das duas leis e os seus verdadeiros conteúdos (escondidos), os objectivos idealistas do texto introdutivo como contraponto a uma proposta de execução prática oposta, sem argumentação técnico-científica clara e suficiente, com permissas erradas e ignorantes que justificam o contrario do que se propôem.
Aos delatores aconselho que leiam as leis e não apenas os preâmbulos, vejam os resultados.
Depois consultem o estudo e analisem devidamente as propostas. Terão concerteza uma lição de bem fazer.
email: ajoneves@clix.pt
04.27.04 - 3:30 pm

|novidades|

Sexta-feira

Abre hoje na barra de links d’A Barriga De Um Arquitecto uma nova secção dedicada à Agenda 21 (também conhecida como Agenda Para O Desenvolvimento Sustentável, Agenda 21 Local, ou mais recentemente Acção 21). Ao longo dos próximos tempos espero dedicar bastantes linhas a este tema, dando a conhecer o que de melhor se faz na Europa em termos de governação local, planeamento participado e desenvolvimento sustentável. Em termos simples: Cidadania Avançada. A Agenda 21 Local é uma fantástica porta que se está a abrir para um verdadeiro progresso baseado no equilíbrio e na qualidade de vida, trazendo à participação todos os actores locais, administração local, associações, empresários, técnicos multi-disciplinares, ONG’s, população geral, etc. Para que a democracia deixe de ser apenas representativa e passe a ser também participativa.

Quem quiser começar a aventurar-se neste mundo interminável pode caminhar pela porta de entrada portuguesa da Agenda 21 Local, o Civitas – Centro de Estudos sobre Cidades e Vilas Sustentáveis da responsabilidade do especialista João Farinha. Levem em mente uma máxima de Jane Morris (Local Agenda 21 Advisor): Start where people are (comecem de onde estão as pessoas). Estejam onde estiverem, o futuro é por aqui...

|aalborg|plus|10|

Sexta-feira



[via Aalborg Plus 10]

aalborgplus10.dk
Fourth European
Conference
on Sustainable
Cities & Towns
Aalborg, Denmark, 9-11 June 2004

Aalborg+10 marks the 10 years of the European Sustainable Cities & Towns Campaign founded at Aalborg in 1994. Aalborg+10 will be the opportunity to look back over 10 years of local sustainability action, to evaluate and to monitor progress and obstacles, to set new targets for strategies and action and to continue the successful partnership between European networks of local authorities, European local authorities and the European Commission, culminating in the participation of over 2,000 local authorities in the Campaign to date.

Aalborg+10 is the fourth in a series of pan-European conferences addressed to local authorities that are committed to urban sustainable development and Local Agenda 21. It is the follow-up event to the 1994 Aalborg Conference, the 1996 Lisbon Conference, the Hannover Conference 2000 and the four regional conferences - Turku 1998, Sofia 1998, Seville 1999 and The Hague 1999.

|o|fim|do|mundo|

Quarta-feira

Tal como o conhecemos...

1|Urban Tapestries é um catálogo de ideias que explora novas tecnologias que irão permitir “anexar” mensagens electrónicas, imagens, sons e histórias a determinadas localizações geográficas, através de telemóveis ou PDA’s.

2|Headmap examina as implicações sociais e as aplicações de aparelhos de observação espacial (location aware devices), redes sociais avançadas, computadores corporais (wearable computers) e interfaces de rede semântica (semantic network interfaces). Nota: a verdade é que não sei bem o que é mas também é interessante...

3|Litracon ou Light Transmitting Concrete é basicamente um betão transparente, que conduz a luz através de fibra-de-vidro embebida no betão. A luz passa de um lado para o outro sem perda significante e ilumina o lado mais sombrio da parede. As sombras transmitem-se e aparecem na face oposta.

|vandalize|você|mesmo|

Terça-feira

Aqueles que já projectaram espaços públicos ou que trabalham em câmaras municipais têm sempre histórias de vandalismo para contar. Chega a surpreender a quantidade e diversidade dos actos que se cometem contra a propriedade pública, desde roubo de mobiliário urbano – não apenas bancos mas também papeleiras, material de iluminação pública e muitos outros – a roubo de plantas de jardim, passando pela destruição de sinalética, quiosques, brinquedos infantis e tudo o que se possa imaginar.
Se alguns casos estão associados ao uso abusivo da população mais jovem e mesmo a situações de delinquência, verificam-se muitos outros em que a explicação é bem diversa: um fenómeno cultural indiferente da idade, que se revela numa profunda desvalorização daquilo que são os bens públicos, como se o que a todos pertence fosse pertença de ninguém. Dito de outra forma, aquilo que nos é dado, não tem valor.
Para compreendermos o vandalismo temos de reconhecer os factores de carácter nacional que conduzem a população a esta atitude de desvalorização da coisa pública (bem diferente, diga-se, da atitude dos nossos vizinhos espanhóis que aprenderam a valorizar tudo aquilo que respeita ao espaço público). Em Portugal observamos aquilo que poderíamos definir como uma falta de sentido de patriotismo: um valor quase sempre polémico e associado a manifestações de nacionalismo bacoco, de contornos que mais parecem vindos do tempo do salazarismo. Afinal, uma falta de patriotismo entendido como o sentido de gosto em pertencer a um país com origem(ns) e cultura(s), valorizando-as.
Tudo isto se reflecte, depois, no excessivo individualismo dos portugueses, e mesmo o egoísmo com que despudoradamente alguns assumem a sua forma de estar na vida. É um individualismo que começa em casa, na educação de cada um. Algo que eu definiria como a antítese da atenciosidade. É ao servirmo-nos à mesa não tirar o bife mais suculento, deixando-o para outrem e retirando o mais esturricado, é ao ir buscar um copo de água perguntar se há mais alguém com sede. Depois em tudo o resto, no modo como nos comportamos no trânsito, ou na fila do supermercado, ou como atendemos alguém no nosso local de trabalho.
A atitude individualista dos portugueses é, de resto, um dos maiores atentados que cometemos à democracia, porque ela se sustenta mais na união cívica dos cidadãos em torno de causas do que na mera execução do voto eleitoral.
Regressando ao tema inicial, julgo ser esta atitude de desvalorização de um sentido comum que nos facilita o gesto de menosprezo para com os espaços públicos, em que não reconhecemos algo que nos qualifica a todos e nos deveria valorizar enquanto cidadãos. É, afinal, toda uma educação que está por fazer. Para que, mais que reclamar, os cidadãos compreendam que também lhes é devida a participação no cuidado e na manutenção das coisas que são de todos.

|newsmap|

Sábado

Já adicionado à lista de favoritos, este sensacional Newsmap é uma aplicação que transforma a página do Google News num mosaico com todas as informações facilmente acessíveis e um design espectacular. Aceda ao site e accione o botão LAUNCH.

|à|espera|do|desastre|

Sexta-feira

A primeira legislação portuguesa contemplando a resistência das construções a esforços sísmicos foi publicada em 1958. Quase meio século depois, continua a construir-se em Portugal desrespeitando a lei, o bom senso e a ética, deixando grande parte dos edifícios em incumprimento dos regulamentos e vulneráveis a um desastre previsível.
Construção anti-sísmica é um termo leigo para definir a capacidade que um edifício pode ter para resistir aos esforços que resultam da ocorrência de um sismo. Nenhum edifício, por mais resistente que seja, pode resistir a todo e qualquer tremor de terra. As preocupações expressas na legislação da construção têm por objectivo conferir aos edifícios uma capacidade estrutural que garanta níveis de resistência satisfatórios perante a ocorrência provável de um sismo de intensidade razoável. De certo modo, é o mesmo que dizer que uma porta corta-fogo não é uma porta que resiste indefinidamente a um incêndio, mas sim uma porta que garante a resistência às chamas, à temperatura e à passagem de fumos durante o tempo suficiente para permitir a evacuação de pessoas em segurança.
As vibrações resultantes de um tremor de terra transmitem-se aos edifícios através das fundações. Os efeitos decorrentes propagam-se depois através dos elementos estruturais da construção, os pilares, as vigas e as lajes, afectando depois todos os restantes elementos do edifício. A intensidade desses efeitos resulta da duração do sismo e da frequência de vibração do solo, e pode resultar de pequenas fissuras até danos estruturais, culminando no possível colapso da edificação.
Apesar de não se poder prever a ocorrência de um sismo, as suas consequências podem ser minimizadas. As acções preventivas podem e devem fazer-se a vários níveis, tanto no planeamento e construção urbanística, como ao nível da protecção civil e da sensibilização da população geral. Infelizmente, verificamos que em Portugal os erros se cometem em cima dos erros, silenciosamente satisfeitas as diversas entidades uma vez que “a lei é boa”.
A gravidade da situação começa ao nível do licenciamento dos edifícios. Apesar da existência de legislação específica, muitas Câmaras Municipais não dispõem de capacidade técnica para averiguar se os projectos de estabilidade dos edifícios garantem os níveis de resistência sísmica previstos em regulamento. Este facto talvez não se verifique nos municípios das principais zonas urbanas, mas em grande parte do restante território nacional as Câmaras não dispõem ou de técnicos qualificados para a apreciação dos projectos a este nível técnico, ou da sensibilidade dos seus responsáveis políticos à necessidade de atender ao problema (ou ambos). Daqui resulta, em termos mais simples, que em Portugal é possível licenciar um projecto que não cumpra com o Regulamento de segurança e acções para estruturas de edifícios e pontes.
De seguida, é na fase de construção propriamente dita que se cometem os maiores atropelos. Qualquer profissional minimamente experiente está condenado a encontrar atitudes irresponsáveis de construtores não qualificados, habituados que estão a economizar no aço e no betão. A falta de moralidade no sector é de tal ordem que por vezes se manifesta mais como um hábito do construtor em não cumprir com o projecto, do que como um efeito real de poupança financeira. A verdade é que o acréscimo de custo resultante da aplicação das normas anti-sismo equivale a pouco mais de 2 ou 3% do custo total da construção.
É fundamental que se comece a prevenir e fiscalizar o sector da construção, forçando o cumprimento das regras de segurança e punindo severamente os infractores. Não podem existir meios termos: é a vida de pessoas que está em causa. Para o comprador, para quem a aquisição de casa é provavelmente o maior investimento que realiza em toda a sua vida, é o direito a habitar numa construção que lhe garanta a possibilidade de sobreviver a um sismo grave que está em causa.

No silêncio o tempo continua a passar e o risco da ocorrência de um terramoto real aumenta, sem que o problema seja discutido e tomadas as medidas necessárias para que se instalem as boas práticas na nossa actividade. Estaremos condenados a aguardar pela calamidade inevitável, venha quando vier? Será que também perante este problema nos iremos sentir satisfeitos com a demissão de um ministro, porque “a culpa não pode morrer solteira”, ou que nos venham dizer que mais uma vez o país aprendeu uma grande lição?

Notas:
O Decreto-Lei nº 235/83, de 31 de Maio (Regulamento de segurança e acções para estruturas de edifícios e pontes) pode ser consultado aqui.



PCG escreveu:
Completamente de acordo. Convém referir igualmente todos os edifícios construídos anteriormente ao primeiro regulamento de betão em que não foram contemplados (à excepção dos "pombalinos de gema") quaisquer tipos de medidas anti-sísmicas e as obras de reabilitação que se fazem actualmente que deixam de fora reforços ou reabilitações estruturais sérias.
email: planeta-reboque@netcabo.pt
homepage: http://www.planeta-reboque.blogspot.com/
04.02.04 - 8:14 pm

|i|p|h|s|2004|

Quinta-feira

[via IPHS 2004] The 11th Conference of the International Planning History Society will take place in Barcelona between 14-17 July 2004. The theme, Planning Models and the Culture of Cities, places emphasis on Planning Models and Ideals, contrasting with the diversity of cities and urban situations. This theme will allow "Planning Cultures" to be related to the "Culture of Cities", and in turn to real urban processes. In other words it seeks to encourage the analysis of the relations between Planning Theory, Urban History and Urban Studies. Furthermore, it seeks to respond to the strong call made for some time now, by all those involved in understanding the nature of planning and urban processes, for the adoption of an (inter-disciplinary and) integrated approach.

Accordingly, the 11th Conference seeks to provide an opportunity that will encourage the participation of urban researchers from different parts of the world, especially from Latin America and "Latin" countries in Europe. It should be recalled that this will be the first IPHS conference to be held focusing specifically on this cultural area of planning and urban history, and that to date participation from such "Latin" countries in the Society's activities has been minimal. For these reasons although the official Conference language will be English, Spanish will be co-official, and indeed it is proposed that some of the working groups will be held in Spanish.

(...)The Conference will coincide with the Universal Forum of Cultures Barcelona 2004. This major international flagship event will offer a wide range of diverse and contrasting parallel activities, which will cater for the different backgrounds of the delegates who normally attend the IPHS Conferences. Delegates will be able to complement the Conference sessions with different programmed visits, as well as pre- and post-Conference tours. Furthermore at this time of year, both within Barcelona and within its wider area of influence, there are many other tourist attractions of special relevance to those whose professional interests lie in the area of cities and planning.

The Conference will address the following subjects or sub-themes:
Cultural heritage and planning models.
Cultural economy.
Planning cultures and planning theories.
Planning and the environment.
Society and space.
Urban spaces, landscape and planning.
Innovation and infrastructure.
Urban historiography and planning in Latin America.