Imersão tóxica



Um artigo interessante no Economist.com (ler Online Gaming – Worlds Without End, 2005-12-14) aborda uma nova realidade que está a nascer no mundo dos jogos online. À medida que se vão implementando os chamados massively multiplayer online role-playing games (MMORPs), eles vão-se estabelecendo como plataformas de interacção virtual entre milhões de pessoas, possibilitando-lhes experienciar vivências simuladas com uma forte componente emocional. Para muitos destes jogadores o espaço virtual passa a ocupar uma parte significativa da sua rotina diária. Mergulhados em universos fantásticos, dão vida a personagens imaginários e enfrentam batalhas, combatem monstros ou partem em grandes aventuras onde constroem a sua riqueza e o seu poder.

A tese inovadora que o artigo do Economist.com aborda é a forma como, no mundo dos jogos online, está a nascer toda uma nova economia. À medida que os jogadores vão mergulhando nestas paisagens sintéticas, todo um mercado interno ao mundo dos jogos tem vindo a florescer. No mundo real, os jogadores transacionam monetariamente, em espaços como o Ebay, objectos do jogo: espadas, ouro, poções e até personagens já desenvolvidas. Para dar a noção das proporções deste fenómeno, os autores apresentam o exemplo de uma transação realizada no jogo online Project Entropia, em que um jogador comprou uma ilha (do reino virtual) por mais de 25.000 dólares, tendo reavido o seu dinheiro vendendo caça e direitos de exploração mineira a outros jogadores.
Será isto um jogo, ou antes uma nova realidade de contornos imprevisíveis? Para alguns críticos de títulos como Project Entropia, estes produtos tratam-se de sorvedouros de dinheiro que exploram o fascínio por uma forma de alienação. Imersão tóxica é o termo avançado para definir a crescente tendência de muitos jogadores que dedicam parte significativa do seu tempo a uma experiência interactiva cuja base é ficcional, ao ponto em que as suas vidas virtuais tomam precedência sobre as suas vidas no mundo real. Numa altura em que se começa a tornar possível “ganhar a vida”, vivendo e trabalhando no mundo virtual, o apelo da imersão tóxica é bem capaz de se tornar uma perigosa realidade.

4 comentários:

  1. De facto o problema da "economia" paralela ao jogo é algo que há muito preocupa a comunidade de jogadores de vários jogos e que ameaça a ética e convenções de qualquer comunidade que joga o jogo por prazer. Castronova que é citado no Economist já aborda o assunto pelo menos desde 2001 como pode ser constatado no Wikipedia (que transcrevo parte aqui) pelo que o artigo do Economist não prima pelo pioneirismo e oportunidade.
    "MMORPGs have begun to attract significant academic attention, notably in the fields of economics and psychology. Edward Castronova specializes in the study of virtual worlds (MUDs, MMOGs, and similar concepts). Most of his writings, including "Virtual Worlds: A First-Hand Account of Market and Society on the Cyberian Frontier" (2001), have examined relationships between real world economies and synthetic economies."

    ResponderEliminar
  2. Tem razão. Vale a pena ler um ensaio de Edward Castronova, disponível online:

    Virtual Worlds: A First-Hand Account of Market and Society on the Cyberian Frontier, 2001
    http://www.bepress.com/cgi/viewcontent.cgi?article=1008&context=giwp

    Muitas das suas afirmações são especulativas e algo "over the top", mas não deixa de oferecer uma paisagem interessante a respeito destes "países" sintéticos com economias próprias.
    Não será fácil vislumbrar muitas das implicações futuras destes novos fenómenos do universo virtual, mas são já surpreendentes estas fronteiras de espontaneidade, de contornos imprevisíveis, mas de cuja consolidação resultará parte importante da cultura do entretenimento online, e da nossa sociologia futura.

    ResponderEliminar
  3. Festas felizes, para si e para toda a sua família

    ResponderEliminar
  4. SÓ EXISTEM DOIS DIAS NO ANO EM QUE NADA PODE SER FEITO. UM CHAMA-SE ONTEM E OUTRO AMANHÃ, PORTANTO, HOJE É O DIA CERTO PARA AMAR, ACREDITAR, FAZER E PRINCIPALMENTE VIVER!"
    FELIZ NATAL!!!

    ResponderEliminar