Novo Museu Nacional dos Coches

Ao propor-me reflectir sobre este projecto importa alertar os leitores que a procura de isenção de um olhar é limitada pelas contingências da subjectividade e da experiência pessoal. O esforço que aqui se inicia consiste na materialização de um pensamento argumentativo, aberto, e não um discurso com base no apelo emocional, carregado de juízo e adjectivação. Fica por isso o convite à reflexão de cada um, recomendando abaixo algumas das muitas ligações acessíveis na web sobre o tema para um posterior aprofundamento.





1. Contexto

O início dos trabalhos preparatórios de construção do Novo Museu dos Coches ocorre em simultâneo com o aparecimento de uma petição na internet apelando à sua não edificação. O projecto de Paulo Mendes da Rocha, em colaboração com Ricardo Bak Gordon, tem sido acompanhado por alguma conflituosidade e polémica desde que foi apresentado ao público em meados do ano passado.

Para além dos aspectos particulares que decorrem da sensibilidade da operação levantados pelos técnicos do Serviço de Arqueologia do IGESPAR, é o próprio processo que tem motivado diversas críticas. Não será alheia a esta situação a importância simbólica do sítio que, apesar de actualmente vedado ao espaço público pelo recinto murado das Oficinas Gerais do Exército, constitui a pedra de fecho de uma das mais importantes frentes urbanas da cidade de Lisboa.

O projecto foi alvo de uma revisão motivada pelo parecer negativo da autarquia lisboeta, pela objecção quanto à edificação de um silo automóvel a implantar na área próxima da estação fluvial de Belém. Em entrevista ao semanário Expresso o arquitecto Mendes da Rocha reconheceu o seu desagrado pela alteração ao conceito original, salientando a manutenção do longo passadiço pedonal que liga o novo museu à frente ribeirinha.

A construção do novo museu celebra o centenário do Dia da Implantação da República. A obra tem custo previsto de 31.5 milhões de euros, verbas provenientes de contrapartidas do Casino de Lisboa destinadas à área do Turismo. A proximidade da data de inauguração – Outubro de 2010 – terá sido o factor que motivou uma maior celeridade do processo, sobressaindo uma reduzida permeabilidade quanto a um desejável debate público de especial importância num contexto tão sensível.






2. Projecto

Na sustentação do conceito original do novo museu o arquitecto Paulo Mendes da Rocha sublinhou duas questões: «do lado da museologia, um critério básico para a exposição do notável património»; do lado do urbanismo, a implantação no recinto monumental, amparada no projecto governamental ‘Belém Redescoberta’».

O conteúdo programático do projecto ‘Belém Redescoberta’, lançado pelo governo Português em 2006, apresentou como objectivo o reforço da atracção turística da zona que se estende do Centro Cultural de Belém até ao Museu da Electricidade. A documentação oficial destaca a dimensão económica da iniciativa, assente na criação de um pólo de atracção artístico e cultural «com forte impacto na procura turística internacional e interna». Trata-se da «maior intervenção urbana em Lisboa com objectivos turísticos-culturais desde a Expo’98» e pretende «aproveitar o melhor e mais único da nossa História para projectar uma imagem de modernidade para o futuro».

No que refere à programação específica do novo Museu Nacional dos Coches registam-se já algumas alterações às directivas então anunciadas. A intenção de devolver a actual sede do museu à função de Picadeiro Real estará a ser reavaliada devido a um parecer do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) - com data de 1996 - que apontou incompatibilidades entre este uso e os requisitos de preservação do edifício. Complementarmente, a ideia de reunir nas novas instalações todo o espólio expositivo do museu – parte do qual se encontra sedeado em Vila Viçosa – terá sido geradora de controvérsia local e parece agora abandonada.

Estes aspectos não parecem pôr em causa a necessidade de ampliação das instalações do museu e a oportunidade gerada pela criação de um novo edifício, com a abertura de uma extensa área urbana à apropriação pública. Esse aspecto é, aliás, tão ou mais importante quanto a relocalização do próprio equipamento. Somam-se assim numa só operação duas preocupações fundamentais: por um lado a revisão da identidade arquitectónica do museu – o mais visitado do país – e por outro a identidade urbana daquela que é uma das principais ‘salas de visita’ de Lisboa.



Perante uma operação de tão elevada responsabilidade importa reflectir sobre o modo como os valores de contemporaneidade – ou ‘modernidade’ – referenciados no conteúdo da ‘Belém Redescoberta’ e enunciados pelo arquitecto Mendes da Rocha se materializam no local. A discussão urbana contemporânea centra-se sobre aspectos muito importantes do equilíbrio entre o tecido construído e os espaços vazios, a recuperação de identidades, a intensificação do uso do solo e a promoção da mistura de usos e, finalmente, a introdução de hábitos sustentáveis na vida da cidade.
A expressão dessa vida deve materializar-se em funções que dão lugar à possibilidade de múltiplas formas de apropriação. A contemporaneidade tem vindo a afirmar-se exactamente como a negação da mono-funcionalidade. A cidade deve oferecer a possibilidade de apropriação, da experimentação, da evasão. Deve permitir o encontro e a diferença. Deve responder ao balanço entre a necessidade de segurança e a liberdade para o isolamento do fluxo de actividades.

Observando os elementos disponíveis da proposta – com as limitações que esse exercício permite – é ainda assim possível elaborar uma apreciação sobre dados objectivos da transposição dessas oportunidades teóricas em estratégias práticas de desenho.
O projecto amplia o espaço aberto pelos equipamentos, oferecendo uma área extensa do quarteirão ao domínio público. Introduz, também, uma rede de espaços conectados, tanto pela permeabilidade do nível térreo como pela interligação pedonal aérea com a frente ribeirinha.

Ficam no entanto em aberto outros aspectos que levantam interrogação, por exemplo, quanto à definição desse grande espaço pedonal, da sua diferenciação, do modo como fará conciliar os diferentes ritmos dos utilizadores. Estarão presentes actividades recreativas ou que permitem a experimentação? Serão introduzidas tecnologias de informação? Como se irá materializar a identidade do local, tanto na sua dimensão paisagística como na interacção com elementos gráficos? Como irá afinal o público relacionar-se e colonizar o lugar, dando-lhe sentido e urbanidade?

O projecto de Mendes da Rocha é, nesse sentido, uma obra que não se ‘hibridiza’ com a própria acção de planeamento urbano. Os grandes volumes assumem-se sobre aquele novo território, revelando-se o oposto de uma eventual celebração material da complexidade, diversidade e variedade programática.
A presença do novo edifício «levantado do chão» faz repercutir um assumido peso estrutural e formal. Será, aliás, essa expressão infraestrutural que motiva as reacções mais adversas – sobre o qual importa reflectir, quanto ao modo como ali serão acarinhadas as possibilidades de vida pública que se deseja, em princípio, promover.
É, afinal, uma arquitectura de grande gesto que tem na elevação do rectângulo suspenso – o «estojo» branco, como refere o arquitecto – a sua marca principal. A esta volumetrização corresponde o aparecimento de extensos paramentos que contrastam com a ‘pequena urbanidade’ da envolvente construída do próprio quarteirão.
Temos assim um edifício que não envolve o espaço, antes cria interstício. Intencionalmente ou não, estamos perante uma oposição total daquilo que podemos observar no Centro Cultural de Belém, de Vittorio Gregotti, onde se interioriza o espaço público e se lhe confere escala.

3. Debate

É legítimo questionar o modo como estas preocupações foram – se foram - consideradas no programa base da intervenção e na sua materialização arquitectónica. Neste projecto podemos reconhecer claramente aquilo que Paulo Mendes da Rocha traz a Lisboa – em continuidade com os seus trabalhos mais recentes desenvolvidos para contextos muito diversos. Não será tão fácil identificar o que, nesta obra, trouxe Lisboa ao arquitecto Brasileiro.
O contraponto com o Centro Cultural de Belém ganha por isso relevância. Pois que ali se revela um sentido de observação e reciprocidade entre a cidade e o desenho arquitectónico, e não uma ideia pré-concebida de estilo.
Tratando-se de obras de regime, no que isso tem de mais representativo, importa questionar o modo como a arquitectura exprime os seus valores – e quais. O Novo Museu dos Coches é apresentado como um gesto de ‘modernidade’ e de «contraste entre coisas novas e coisas antigas» - como referiu Álvaro Siza. Questionemos então o que isto significa. Falamos de modernidade enquanto ‘estilo’ – um depositário de uma lógica meramente formal cuja legitimidade resulta de ser reconhecível e institucionalmente certificada?
Ou pensamos antes a ‘modernidade’ enquanto afirmação de valores contemporâneos de inovação e criatividade, de urbanidade e vida pública? Falamos, afinal, de formas ou de conteúdos?
São questões que não podem ficar no domínio do preâmbulo justificativo, devendo traduzir-se na formulação concreta do edifício e do espaço que o envolve. É irrelevante se sobre elas se projecta um discurso adjectivante pleno de generalidades, a favor ou contra, da poética laudatória aos amadorismos do ‘gosto’. Importa por isso discutir arquitectura e urbanismo. É isso que aqui se propõe numa base argumentativa e, desejavelmente, crítica. Para o debate público possível.

Referências:

Museu Nacional dos Coches
OASRS: Novo Museu dos Coches, 2008-10-19
OASRS: «O turismo é o desejo de ver o encanto da vida do outro», 2008-10-30
Expresso: «O novo museu será um amplo logradouro público», 2009-03-07
TSF: «A nova casa do Museu dos Coches», 2008-07-09
Petição online: «Salvem os Museus Nacionais dos Coches e de Arqueologia e o Monumento da Cordoaria Nacional!», 2009-02-02



New National Coach Museum

The project for the New National Coach Museum, designed by Brazilian architect Paulo Mendes da Rocha in collaboration with Ricardo Bak Gordon, has been surrounded by controversy since it was first presented to the public last year. Besides specific reservations that were raised regarding the sensitivity of the operation, it’s the very procedure that seems to motivate the most passionate reactions. The site is, after all, one of the most important urban fronts of the city of Lisbon.
The construction of the new museum will celebrate the 100th birthday of the proclamation of the Portuguese First Republic in 1910. The closeness of the inauguration date is most probably the reason why the process has been running so hasty, resulting in a small public participation – of particular importance in such sensitive context.


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The initial proposal received a negative review of the city’s administration, that objected to the construction of a multi-storey car park in the riverfront area. The architect Mendes da Rocha acknowledged his discontentment for the modification to his original concept, sustaining the maintenance of the long aerial walkway that connects the main buildings with the northern margin of the Tagus river.

Sustaining the concept of the new museum, Mendes da Rocha underlined two questions: «a basic criteria for the exhibition of the remarkable patrimony» and the insertion in the monumental urban context. The project therefore faces a double challenge: to review the architectural identity of the museum – the most visited in Portugal – and the urban identity of one of the most significant tourist attractions of the city.

Facing such a great responsibility, it is imperative that we reflect on how contemporary values of ‘modernity’, as stated by the architect, are materialized by the proposal. Contemporary urban design faces many important issues such as the balance between built fabric and empty spaces, the restoring of identities, the intensification of land use, the promotion of mixed uses and, finally, the introduction of sustainable habits in city life. The expression of these functions should materialize in design solutions that open the possibility to multiple forms of engagement. Contemporaneity has been establishing exactly the rejection of mono-functionality. The city should offer the possibility of appropriation, experimentation, evasion. It should allow people to meet one another and provide the freedom to be isolated from the flow of activities.

As we consider the available images of the project it is possible to elaborate an appreciation of how – or if – those theoretical possibilities where translated into practical strategies of design.
The new buildings widen the open space of the equipments, offering an extensive area to the public domain. They also introduce a basic connection of those spaces, both by making the ground level accessible and by setting up a walking passageway to the riverfront.

Other issues remain, however, open for questioning, for example regarding the definition of that wide walking space, concerning its differentiation and the necessary balance between the different rhythms of users. Are recreational activities, or information technologies, going to be implemented? Is it going to allow interaction and experimentation? How is the local identity going to materialize, both in the landscape and in graphic elements? How is the public going to relate with the space, colonize it, and give it a sense and urbanity?

The project of Mendes da Rocha is, in that sense, a work that doesn’t ‘hybridize’ with the action of urban planning. The big volumes stand over the new territory, its architecture revealing itself as the opposite to a possible material celebration of complexity and programmatic diversity.

The presence of the new elevated building results in a staggering structural and formal weight. It is, in fact, that infrastructural expression that motivates the harshest reactions – and this is something that should be thought upon, as to the way in which the possibilities of a desired public life are to be cherished in that setting.

It is, then, an architecture of grand gesture. The wide volumes produce extensive walls that collide with the ‘small urbanity’ of the surrounding buildings. Here is a building that doesn’t envelope space. Intentionally, or not, it is the opposite of that which one can find in the Belém Cultural Center, by Vittorio Gregotti, where public space is interiorized and scaled.

It’s legitimate to question how these worries were – if at all – considered in the intervention programme and its resulting architectural design. In this project one can clearly recognize that which Paulo Mendes da Rocha brings to Lisbon – in continuity to some of his recent works in very diverse contexts. It is not so easy to identify that which, in this particular work, Lisbon has brought to the Brazilian architect.
The confrontation with the Belém Cultural Center is therefore relevant. For in this building a sense of observation and reciprocity between the city and the architectural design is revealed, and not a preconceived idea of style.
As a public project, on its most representative dimension, one must question the way in which architecture expresses its values – and which. The New National Coach Museum is presented as a gesture of ‘modernity’ and «contrast between the new and the old» - as stated by Álvaro Siza. Lets question what that means, then. Do we talk of modernity as a ‘style’ – a recipient to a merely formal logic, whose legitimacy is achieved from being recognisable and institutionally certified?
Or do we think of ‘modernity’ as an affirmation of contemporary values of innovation and creativity, of urbanity and public life? Do we talk, then, of forms or their content? These are questions that cannot simply remain in the realm of dissertation, as they should translate in the concrete materialization of the building and its surrounding spaces.

18 comentários:

  1. Meu Caro,

    li, com atenção, o texto sobre o Museu. Reli um segunda vez. E não cheguei a nenhuma conclusão sobre o "posicionamento" d'A Barriga em relação ao objecto que se propõe analisar.
    No entanto diria, com toda a certeza, que é exactamente na questão que a Barriga tão cedo põe de lado (da poética laudatória aos amadorismos do "gosto") que se resolverá tão delicado problema.

    Subjugar o amadorismo do gosto a pontos de vista tecnocráticas é um daqueles erros básicos que só faz quem se propõe avaliar arquitectura.

    Na verdade o primeiro problema do Museu dos Coches do PMR é, simplesmente, o de ser um mau projecto. Não por fazer uma praça sei lá aonde. Não por estar cortado ao meio. Não por ser o contrário do CCB. Mas simplesmente porque é, amadoristicamente falando, formalmente despropositado; sem que no entanto nos dê algo em troca.

    É uma espécie de infelicidade que acontece a todos. Uma infelicidade para PMR, uma infelicidade para Belém. E uma infelicidade para mim, que gosto de um e do outro.

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  2. Em primeiro lugar os meus parabéns pelo excelente blog.

    Em relação ao tema “Novo Museu Nacional dos Coches” eu tenho a dizer o seguinte:

    Assisti com bastante ansiedade à apresentação do projecto na AO e acabei um pouco desiludido.
    Para além de achar que a proposta não remata a esquina com a Rua da Junqueira, acho que o projecto está todo ao contrário!
    Passo a explicar-me melhor, o museu propriamente dito não deveria estar do lado rio? Será que a cidade não ganharia mais com isso?
    Se calhar a zona ribeirinha de Belém passaria a ser “O passeio da Cultura”! Com o Museu do Oriente, Museu da Electricidade, Museu da Arte Popular, Padrão dos Descobrimentos, Torre de Belém, e com o Museu dos Coches, poderia fazer um passeio agradável com os meus filhos à beira rio e ao mesmo tempo, visitar os museus e incutindo alguma da nossa história, sem para isso ter de que fazer desvios nem ter de passar a barreira que é actualmente a linha de comboio.
    E assim poder passar uma tarde em família bem agradável.

    Parece-me bem mais aliciante esta visão do que a actual proposta, mas não deixa de ser a minha opinião!

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  3. O blog, como sempre, esta muito bom . Já não posso dizer o mesmo do projeto de PMR. Em minha cidade temos vários projetos de PMR e quase todos cometem o mesmo erro de escala e implantação. Existem várias obras de PMR maravilhosas ... outras nem tanto.

    abraço

    Fábio

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  4. Obrigado pelos comentários.

    Permitam-me fazer um exercício de moderação. Este é, aceito, um texto ‘filtrado’ de opinião. Ainda que julgue que ao levantar um conjunto de questões esteja subjacente um posicionamento, compreendo que este é daqueles textos que aborrecerá toda a gente, a favor ou contra. Ao colocar de lado a questão do ‘gosto’ não pretendo avançar com uma análise ‘tecnocrática’ ou muito menos neutra do projecto. Mas não vejo outra forma de falar objectivamente sobre ele. Podemos dizer que é um ‘mau projecto’, mas se isso não é substanciado por conteúdos, que significado tem? Uns dirão que é belíssimo. Outros que é uma monstruosidade. Em que ficamos? Fazemos disto um concurso de adjectivos, e ganha o mais mirambolante?

    Pois eu proponho que se coloque de lado a questão do ‘gosto’. Congelemos essa ‘layer’, mesmo que por um momento apenas. O que resta?

    Confrontemos então o projecto, objectivamente, com valores contemporâneos de arquitectura. Resumindo, eis um diagrama possível.

    O projecto materializa um equilíbrio entre massa construída e os espaços vazios?
    Confere identidade ao lugar?
    Promove a diversidade de usos?
    Permite uma boa apropriação do público?
    Acolhe a multiplicidade e riqueza de actividades?
    Experimentação?
    Evasão?
    Informação?
    Promove uma boa vivência, permite convívio, isolamento, confere segurança?
    O espaço envolvente é qualificado? Tem ´funções´? Resulta numa boa urbanidade do lugar?

    E a função Museu? Porque um museu não é apenas um edifício, não é apenas arquitectura, é acima de tudo conteúdos?
    Aquela expressão infraestrutural serve a identidade do Museu dos Coches?
    Como nos relaciona – exterior e interiormente - com a sua história?
    Valoriza o seu potencial turístico? Economicamente, é uma mais-valia?

    Podia avançar com as minhas respostas e fazer um gráfico. Optei por deixar as questões em aberto. Fazer um exercício de maiêutica. O que não também não é isento de ponto de vista.

    A mim preocupam-me várias coisas quando olho para arquitectura. E preocupa-me acima de tudo a ausência recorrente do dono da obra. A ausência de caderno de encargos que exprima preocupações contemporâneas de ‘valor’, mais do que da micro-funcionalidade de um programa de edifício. Porque ser contemporâneo não é ser ‘novo’, ou ser ‘diferente’, é trabalhar em cima de conteúdos concretos que dramatizam ‘valores contemporâneos’ de sociedade, de comunidade, de identidade.

    Materializo esses conteúdos naquelas perguntas. Eventualmente poderemos adicionar-lhe outras. E talvez procurando responder-lhes seja possível alcançar lucidez sobre a obra. Fica a proposta.

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  5. Gostaria de contribuir com mais duas perguntas (e uma resposta) sobre este tema:

    Será que faz sentido transladar estes (barrocos) coches do sítio onde dormem para um edifício luminoso de arquitectura contemporânea? E neste sentido, será que não estamos perante um mau Programa que deu origem a um difícil projecto?

    Porquê é que mais uma vez a questão de inteligência ambiental se encontra omissa? Grandes painéis em vidro virados a Sul na latitude de Lisboa – saem bem nos renderings e nas revistas mas ficam tão mal na conta da electricidade…

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  6. Antes demais, devo felicitar as extensas e ricas abordagens de diversos conteúdos do blog.
    No que concerne ao dito "Novo Museu dos Coches" preocupa me igualmente o impacte que trará a implantação do novo museu num tecido tão complexo como é belém.
    Tenho sérias dúvidas de que esta "massa" irá respeitar a envolvente, e irá certamente de um certo modo estancar a expansão urbana,criando tensões entre os domínios público e privado.
    Embora não seja reveladora ou até mesmo fidedigna, a imagem aérea do museu transmite uma desconecção do uso do solo urbano e claramente uma desconecção entre a envolvente e o projecto...reforçando a ideia anterior, desta insensibilidade ao lugar.

    Se calhar um pouco mais o método Louis Kahn nos anos 70

    "O que é que o edifício quer ser? Que experiências deve ele suscitar?"

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  7. "A contemporaneidade tem vindo a afirmar-se exactamente como a negação da mono-funcionalidade", esta ideia apesar de não ser contemporânea não deixa de continuar verdadeira.
    À questão sobre o modo de apropriação pedonal, arrisco afirmar que é algo que, em parte, se deverá deixar em aberto - temos assistido, também a este nível, a que o público se apropria de modo inesperado.
    Quanto à obra em si, opto por não responder a nenhuma das questões que o Daniel coloca na medida que aquilo que temos, por mais explicações que nos sejam dadas, e como acontece em qq projecto, é uma intenção ou se quiser um abstracção.
    O simples facto de se libertar a frente ribeirinha, colocando o rectângulo suspenso, do lado de dentro da via é um passo em frente. Se é bonito ou feio será sempre subjectivo; se o seu desenho deveria referenciar mais isto ou aquilo também considero uma questão secundária já que para alguns um museu deverá ser inócuo dando primazia ao que guarda para outros um museu deverá ser uma obra "de arte" em si mesmo, são correntes diferentes de pensamento.
    A falsa área de ocupação parece-me adequada ao espaço aberto em que se insere; o facto de ser elevada libertar a frente ribeirinha é por si só uma mais valia.
    Por outro lado e ao contrário do Daniel, desconfio que poderá ter com o rio o mesmo tipo de relação que tem o CCB, já que este apesar de bastante virado para dentro, tem a capacidade de oferecer a quem o visita uma excelente relação com a envolvente que importa - o rio.
    O único senão é o mesmo de sempre - a falta de um estudo e debate sério sobre a relocalização das vias e da APL, principal condicionante a qualquer obra que se pense para a beira-rio.

    Cumprimentos

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  8. Hai algo incómodo en certos discursos da nova arquitectura. Semella que sen certo aparato pedantesco e retórico o proxecto non ten valor en sí mesmo. Eu rexeito ese artificioso discurso que non engade nada a obra, non lle aporta valor e, moito menos, significado.
    En canto ao proxecto, hai que recoñecer que é frío, deshumanizado, sen gracia, pesado; nada que ver coa calidez, a dulzura e a gracia do urbanismo lisboeta.
    Temos que apostar por unha arquitectura menos enfática, menos retórica, menos sorpresiva e máis humana.

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  9. Este Post é interessantissimo, bem elaborado e esclarecedor. Parabens. Permite-me a linkar o texto no meu post na rubrica "Infinito em debate", esperando que não se importe. Uma vez mais muito obrigado pela qualidade do texto!

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  10. como mero curioso que sou na matéria, vendo tanta discussão, pergunto-me se este projecto estará "maduro" o suficiente e se toda esta discussão não deveria ser o inicio do projecto?

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  11. Coloquei faz dias duas questões e uma resposta aos visitantes da barriga do Daniel.

    Ao mesmo tempo, visitei o terreno previsto. Reflecti, reflecti e construi a minha opinião que se resume ao seguinte:

    Mesmo perante um Programa que deixa algumas reticências, o projecto é genial! Tomara nós - fartos de mediocridade e centros comerciais - e a cidade de Lisboa ser aditada com um projecto deste tipo: paulista, concreto e vigoroso; à semelhança dos projectos CEU em São Paulo, uma proposta francamente aberta aos cidadãos.

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  12. Caro Daniel,
    dada a natureza da minha resposta à sua resposta, resolvi deixá-la n'As Catedrais [http://quando-as-catedrais-eram-brancas.blogspot.com/2009/03/susana-e-os-velhos.html]; pelo que o convido a passar por lá.

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  13. Este projecto não vai trazer nada de novo (novo no sentido do bom) a Lisboa.
    Deixando de lado as discussões do processo (que per si mereciam reflexão: falta de concurso, a "rapidez", o dinheiro a jorros, etc...) este edifico destrói a unidade urbana da zona, do quarteirão, é totalmente desintegrado (pelo que se vê, poderia ser ali, na Expo, em Faro ou S. Paulo)
    É um projecto medíocre, passadista, de "regime" com custos de gestão e manutenção dificeis de quantificar (ainda mais grave num país falido), em que vai retirar o brilho da colecção (que suponho que deve ser restaurada, porque da ultima vez que vi...estavam num estado lamentável).
    Em suma...é o país que temos, em que a discussão do urbanismo, da arquitectura, da preservação do património é feita (ou imposta) por três ou quatro "iluminados" sem categoria.
    Lamentável e triste!

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  14. Espero que o Sr. Ministro da Cultura para alem deste novo e brilhante Museu para os Coches, mude a sua directora para o tarrafal ou para bem longe. Pois a Cultura tem sido destruida e mal tratada por Bessones, Oleiros, Raposos, Raqueis da Silva. As direcçoes dos Museus nao servem a verdadeira alma da MUseologia, servem se a si mesmas ao longo de anos e teem destruido pessoas. As vigarices desta gente na cultura é de certo grave pois desde influencias de poder e abuso do mesmo, fraudes fiscais, desvio de verbas de dinheiros publicos, prestituiçao, incluindo crimes mais gravosos que julgo darem autenticos casos de policia. Mudem as direcçoes e corram com as assessoras que sao promovidas por esta gente que tem destruido e usofuido de grandes poderes. No IPMC as pessoas que la trabalham servem se de favores pla coisa publica e roçam o rabo na parede, porque dizerem mal do novo museu? Considero um brilhante projecto e uma excelente forma de revitalizar a cultura e a economia, parabens ao Governo pela decisao!!!

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  15. Ao longo de todo este processo acho ridiculas as posiçoes do Presidente do Instituto de Museus e da pseudo conservaçao, pois nem conservadores teem com formaçao correcta. Todo este caso relativo ao Novo Projecto do Museu dos Coches deixa-me triste e acho que o Dr. Oleiro nao merece o lugar que ocupa por cunha do paisinho e tem usado e abusado do seu poder para colocar as amigas em lugares chave tais como o lugar de direcçao deste Museu, acho incrivel como se coloca uma pessoa incompetente e mentirosa e ate corrupta. Tanto esta senhora com o marido teem usofruido de dinheiros publicos e adjudicaçoes de tarefas expositivas ao longo de anos e essas verbas foram escondidas do conhecimento publico. Alias muitas situaçoes graves se teem passado e graças a protecçao do Sr. Dr. Oleiro nada acontece, nao por ser amorfo mas por ser protector da desgraça a que nos remetem estas coisas publicas da Cultura. É exactamente este incompetente bem como a Directora do Museu dos Coches que teem andado a minar o sistema cultural e cientifico com mentiras e tentativas de destruir o projecto do novo museu, porque na realidade é um optimo projecto e graças ao Governo tem pernas para avançar...Exigo que a Direcçao do MUseu dos Coches seja exonerada bem como o Presidente dos Museus e mais umas tantas tias entre elas a vice directora da rede de museus que prima pela incompetencia e pela maldade em destruir tecnicas de Museus. É triste que haja muita corrupçao na cultura e muita gente a usar mal as verbas escaças nos museus,...os serviçoes educativos dos coches sao o pior exemplo de ma gestao e maus serviços pelo mau perfil das pessoas que o dirigem e orientam, nao ha gente com formaçao em educaçao ha apenas gente com cunhas e com vicios e muita mentira graças aos excelentes que apanham nas avaliaçoes de funcionarias. É muito mau serem promovidas pessoas que nada fazem senao intrigas e furtos de dinheiros publicos. Sr. Ministro seria saudavel limpar os museus destas pessoas que nem formaçao teem para trabalhar em museus.

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  16. boa tarde
    li com atençao o texto e os comentarios.
    gostaria de deixar uma questao.
    de todos quanto aqui comentaram ha quanto tempo nao visitam o actual museu dos coches?
    será que a maioria tem noçao o estado de conservaçao dos ditos coches?!?!
    que excepto o coche que esteve na expo 98, mais nenhum deles recebe qualquer tratamento de preservaçao.
    vao ser gastos milhoes para o novo museu, mas quando este estiver concluido e for necessario deslocar os coches de sitio, estes ja estao de tal forma "PODRES", que nao vao chegar inteiros ha nova casa!!
    percam um domingo de manha, que nao se paga entrada e façam uma visita ao museu. vejam o estado dos coches.

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  17. Só me entristece o fato de eu achar que Vitória ES receberia um sofisticado núcleo de cultura Museu e Teatro Cais das Artes na Enseada do Suá inédito, quando percebo que o projeto não trará a identidade da cidade, mas somente a identidade do arquiteto, tendo em vista o repetitivo modelo do edifício. Lógico que não deixou de ser um projeto de "pomp" mas podia ser um pouco mais realista. Ainda assim parabéns, afinal prevalece a figura do artista.

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  18. Apenas ainda como aluno do 2ºano de arquitectura devo dizer que logo a partida este projecto me desilude, nao creio que o edificio crie qualquer tipo de relação com o redor, chego a dizer que a implantação mais parece que foi utilizada a borracha do "paint" e o edificio colocado no seu interior...a sua forma nao cria qualquer tipo de relação com os acessos, mas enfim depois da igreja do restelo actualmente esta zona é o novo "Dubai"

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