O episódio menor da gaffe do programa Quem Quer Ser Milionário, para lá do frisson instantâneo no Facebook, não deixa de conter uma mensagem curiosa sobre a natureza da televisão. A defesa débil avançada pelos responsáveis do concurso, considerando uma gralha repassada na internet como justificação para validar um provérbio que não existe, dá-nos conta da distância que separa os produtores do sentido ético que deveria actuar em defesa da concorrente, em primeiro lugar, no que mais não seria do que o reconhecimento de um erro irrelevante e ocasional. Desta forma acabam por revelar como a lógica operacional da televisão se sobrepõe não apenas ao interesse individual dos participantes mas também ao seu interesse próprio, comprometendo de forma fútil o nome (a marca) de um programa com vários anos de existência em apenas alguns dias.
Vale a pena recuperar a referência cinéfila de Quizz Show, dirigido por Robert Redford, que fazia um retrato das lógicas que orientam a produção de um concurso que é, afinal de contas, nada mais do que uma peça de entretenimento televisivo. Não se trata de estabelecer uma correlação directa entre a manipulação que nos conta o filme e o erro casual que se pôde verificar no programa. Trata-se apenas de constatar que estão em causa entendimentos semelhantes de programa de televisão enquanto produto motivado pela busca de audiências.
É o público que presume, por estar perante um concurso sobre “cultura geral” feito com concorrentes e com regras, estar a assistir a um evento de interesse público regido pelo rigor ético e pela justiça de “leis” que protegem aquelas pessoas.
Em boa verdade os concorrentes são apenas a matéria-prima passageira de um jogo onde o público se entretém a ver passar o dinheiro. Na sua lógica, até a polémica é tida como desejável. Afinal de contas, não estão a sentir-se entretidos?
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