Kneel, you middlebrow old philistine you!
Pedro Gadanho reflecte sobre a ascensão do middlebrow enquanto sintoma representativo da era digital. A paisagem das redes sociais e dos blogues proporcionou novos palcos, anteriormente inacessíveis, à afirmação de participantes não creditados em domínios específicos do saber. Será no entanto prudente considerar as diferenças entre o culto do amador e uma noção mais vasta de cultura open source, bem como as suas possíveis implicações para um novo paradigma de crítica de arquitectura.
A primeira questão a colocar é se a internet pode ser tida como plataforma para a acreditação daquilo que deve ser considerado como uma forma relevante de prática. A esse respeito poderia dizer-se que o que torna os meios digitais tão eficazes é igualmente aquilo que mais os aflige. Os blogues de maior visibilidade são agregadores de informação, aspirando a oferecer aos seus leitores o mais recente material visual disponível na rede. Quem siga alguns deles com regularidade através de um leitor de feeds cedo se apercebe que bastam apenas alguns minutos até que o último press-release seja revelado, numa competição frenética para ver quem publica primeiro. Dito isto, estes blogues não assumem por missão contribuir para qualquer debate crítico sobre arquitectura.
No outro lado do espectro estão um conjunto muito diversificado de blogues dedicados a fazer isso mesmo. E ainda que muitos deles tenham por retorno uma visibilidade muito inferior, provavelmente alcançam audiências que estão realmente interessadas em ler o que eles têm para dizer, ao invés de se dedicarem simplesmente a percorrer as mais recentes novidades em matéria de deleite visual.
No mundo caótico da informação em rede, o utilizador torna-se no editor e no crítico. É ao leitor que compete estabelecer o seu próprio critério daquilo que é relevante. A subjectividade torna-se a chave, uma vez que ninguém pode ser uma máquina de gravação neutral do fio infinito da informação. E ainda que a subjectividade possa estabelecer um problema de conhecimento, é o filtro pessoal de cada um que nos permite não submergir em observações e detalhes irrelevantes, estabelecendo um sentido daquilo que é efectivamente importante.
O que importa questionar assim não é tanto o papel destas ferramentas digitais enquanto «plataformas destinadas a revelar mais um novo candidato potencial ao estrelato», mas aquilo que os círculos estabelecidos de conhecimento arquitectónico estão a fazer para providenciar formas alternativas de juízo crítico. O verdadeiro drama não é a ascensão do middlebrow mas a decadência do highbrow no tempo da actual inflação académica. Muitas academias – em particular na nossa realidade sul Europeia – tornaram-se veículos a uma cultura de mero acknowledgement intelectual: uma coisa é considerada respeitável pelo simples facto de ser reconhecível segundo os padrões, códigos e linguagens dos seus próprios mentores.
Uma vez que os meios de publicação escrita estão tradicionalmente mais próximos das fontes de conhecimento académico, tornaram-se igualmente promotores de uma visão estrita daquilo que é relevante, com uma abordagem antagonista mas igualmente curta do que agora se cataloga como middlebrow architecture. E assim se encontram vozes estabelecidas da crítica a desprezar Bjarke Ingels ao mesmo tempo que revelam a maior indulgência para com as últimas fantasias de Zaha Hadid. O highbrow desaprova o star-system mas, de igual modo, repercute juízos sobre “o arquitecto” e não sobre a arquitectura. Isto é tão evidente que se torna possível prever aquilo que o establishment tem a dizer sobre qualquer concepção de uma figura instituída. Quando foi a última vez que leram algo original sobre Álvaro Siza, Souto Moura, Paulo Mendes da Rocha, apenas para citar alguns?
Os críticos de elite serão forçados a exibir coragem para ir além do óbvio, se desejarem reclamar a sua importância na nova paisagem saturada da informação. O problema é que, quando se abandonam os trilhos do pensamento convencional, é mais difícil fazer amigos. Pensar fora da caixa vem com um preço que poucos estão dispostos a pagar. E se é esse o caso, então, talvez seja preferível ficar pelos blogues, para o bem e para o mal.
Pedro Gadanho reflects upon the rise of the middlebrow as a representative symptom of the digital age. The digital landscape of social networks and blogs provided new grounds for the ascension of unaccredited participations in the realm of specific, once closed, fields of knowledge. It would be wise, however, to consider the differences between the cult of the amateur and a wider notion of open source culture, and its likely implications to a new paradigm of architectural criticism. [+/-]
One of the first questions to be asked is whether the internet is a platform for accreditation of what is to be considered a relevant form of practice. To that regard, one could say that what makes digital media so effective is also what afflicts it the most. The most successful blogs are aggregators of information, aspiring to provide their readers with the latest eye-candy available. If you follow some of them on your regular feed reader you’ll realize it takes only minutes until the latest press release gets published in a competition to see who’s first. That said, most of these blogs are not really aiming to contribute to a critical debate about architecture.
On the other hand you’ll find many blogs out there trying to do just that. And although most of them have much less visitors, they probably reach an audience that’s actually interested in reading what they have to say, instead of merely browsing through the visual gimmick of the day.
In the chaotic sea of web information, the user becomes the editor and the critic. It’s up to the reader to establish its own criteria of what is relevant. Subjectivity becomes the key, as one cannot be a neutral recording machine of the infinite stream of information. So even though subjectivity establishes a problem of knowledge, it’s our own personal filter that allows one not to sink in irrelevant details and observations, establishing a sense of what is in fact relevant and important.
What needs to be questioned then is not the role of these digital tools as «platforms aiming to reveal yet another potential claim to stardom», but what established circles of architectural knowledge are doing to provide an alternate kind of critical judgement. The real drama is not the ascension of the middlebrow but the fall of the highbrow in our current world of academic inflation. Many academies – particularly in our own southern European scene – have become contributors to a general culture of intellectual acknowledgment: something is considered respectable for the mere fact that it is recognizable within the codes, languages and typologies of its own mentors.
Since traditional printed media has customarily been closer to academic sources of knowledge, they’ve often become supporters to a narrow view of what is relevant, with an antagonistic but just as shallow approach to what is considered middlebrow architecture. And so you’ll find established architecture critics despising Bjarke Ingels as they reveal the utmost indulgence towards the latest whimsies of Zaha Hadid. The highbrow despises the star-system but, just as much, acknowledges the architect over the architecture.
This is so evident that you can pretty much guess what the establishment will say about any design from a reputable figure. When was the last time we read something original about Álvaro Siza, Souto Moura, Paulo Mendes da Rocha, just to name a few?
Highbrow critics will need to muster the bravery to go beyond the obvious if they want to reclaim their significance in the new landscape of information overload. The problem is that once you journey off the beaten track of thinking, chances are you’ll not be making many friends in the establishment. Thinking outside the box comes at a price not many are willing to pay. And if that’s the case, well then, I rather stick with blogs instead.
On the other hand you’ll find many blogs out there trying to do just that. And although most of them have much less visitors, they probably reach an audience that’s actually interested in reading what they have to say, instead of merely browsing through the visual gimmick of the day.
In the chaotic sea of web information, the user becomes the editor and the critic. It’s up to the reader to establish its own criteria of what is relevant. Subjectivity becomes the key, as one cannot be a neutral recording machine of the infinite stream of information. So even though subjectivity establishes a problem of knowledge, it’s our own personal filter that allows one not to sink in irrelevant details and observations, establishing a sense of what is in fact relevant and important.
What needs to be questioned then is not the role of these digital tools as «platforms aiming to reveal yet another potential claim to stardom», but what established circles of architectural knowledge are doing to provide an alternate kind of critical judgement. The real drama is not the ascension of the middlebrow but the fall of the highbrow in our current world of academic inflation. Many academies – particularly in our own southern European scene – have become contributors to a general culture of intellectual acknowledgment: something is considered respectable for the mere fact that it is recognizable within the codes, languages and typologies of its own mentors.
Since traditional printed media has customarily been closer to academic sources of knowledge, they’ve often become supporters to a narrow view of what is relevant, with an antagonistic but just as shallow approach to what is considered middlebrow architecture. And so you’ll find established architecture critics despising Bjarke Ingels as they reveal the utmost indulgence towards the latest whimsies of Zaha Hadid. The highbrow despises the star-system but, just as much, acknowledges the architect over the architecture.
This is so evident that you can pretty much guess what the establishment will say about any design from a reputable figure. When was the last time we read something original about Álvaro Siza, Souto Moura, Paulo Mendes da Rocha, just to name a few?
Highbrow critics will need to muster the bravery to go beyond the obvious if they want to reclaim their significance in the new landscape of information overload. The problem is that once you journey off the beaten track of thinking, chances are you’ll not be making many friends in the establishment. Thinking outside the box comes at a price not many are willing to pay. And if that’s the case, well then, I rather stick with blogs instead.
Este texto contém uma das mensagens mais importantes no mundo actual da internet, pelo menos no que toca a blogs de tendências: estamos a competir para ver quem publica primeiro uma novidade, ou estamos a tentar tornar a internet numa ferramenta que contribua para o aparecimento de uma plataforma de opiniões mais sólida, divergente e, por isso mesmo, mais rica?
ResponderEliminarPenso que todos os que bloguistas deviam ler este artigo. Parabéns!