Diários de Nijmg… Nijmneg… Nijnmegm… de um sítio estranho

«Nerdfighter: People who instead of being made up of cells and organs and stuff are actually made out of awesome.»
Definição de Nerdfighter no Urban Dictionary.

Não o conheço mas ouvi falar bem dele e depois de ver os seus vídeos passei também a ser seguidor. Fica assim este momento “gosto disto” para partilhar as aventuras do Xassbit, estudante de Física, músico, videoblogger a residir temporariamente nos Países Baixos ao abrigo do programa Erasmus. Visitem e subscrevam o canal do Xassbit no Youtube para seguir a bombástica e sensacional série semanal dos Diários de Nijmegen.
O Xassbit (que tem um blogue) é também um adepto do nerdfighting e faz parte do grupo The Nerdfighter Vlogging Initiative, uma comunidade de videobloggers de várias nacionalidades que vale mesmo a pena conhecer. Fica no Tumblr, o único lugar da internet que as nossas mães ainda não descobriram. Ide. Já…

Odeio os meus amigos

O défice de nerdismo nacional é um problema que me assiste. Vou ao ponto de considerar o facto de não ter amigos nerds como um dos dramas da minha existência. A questão coloca-se da seguinte maneira: há toda uma panóplia de temas que fazem parte do meu universo de interesses pessoais sobre os quais não tenho quase ninguém com quem conversar. Pessoas que compreendem a importância de ir à estreia do Hobbit envergando pés-de-hobbit ou uma frondosa barba oficial do Gandalf. Aficionados da ficção científica ou do fantástico, cromos dos comics, do cosplaying e das estátuas-miniatura de super-heróis, gente que vibra com a visão da nave espacial Enterprise a elevar-se dos mares ou com o prospecto de passear pelas ruas virtuais da cidade flutuante de Columbia…

Sei que este não é um assunto sério, e tanto mais num país em crise. Mas a carência do espírito tongue-in-cheek que caracteriza a cultura-nerd reflecte um pequeno problema da sociedade portuguesa. Uma falta geral de entusiasmo pela diversidade e riqueza das formas de expressão humana.

Um dos traços mais “obnóxios” de uma certa postura (falsamente) intelectual reside na pose de enfastiamento generalizado, como se esse fosse um traço de grande selectividade mental. A consideração a fazer é que pessoas de exigência superior serão superiormente exigentes quanto ao “gosto”. Por esta ordem de ideias, quanto mais inteligente se é, mais exigente se é também e, como tal, passamos cada vez mais a gostar de menos coisas. Nada mais falso.

Acredito que este é um problema real da nossa Educação. Não somos educados para o gosto. Não compreendemos, aliás, que o gosto é toda uma ferramenta de aprendizagem. Recordo, a este respeito, um velho disco em vinil que me foi parar às mãos há muitos anos. Duas peças de violoncelo interpretadas por Thomas Demenga. No lado A uma guigue de violoncelo de Bach. No lado B uma obra contemporânea de Elliot Carter.
O álbum era acompanhado no interior por um texto de Heinz Holliger, compositor Suíço, que alertava para o contraste absoluto que o ouvinte iria encontrar.

«Although BA and CA coexist so peacefully beside each other in the alphabet, I am afraid that when the first jagged flashes of flute and clarinet rend the serene C major skies of Bach’s Gigue, your hand will rush to switch off the record player. I hope my plea does not come too late to stop this from happening. It would be such a shame if one fateful turn of the knob were to close off the new and fascinating sound-world just opened to you by those first flashes. Lie back and relax, listen, look, feel and remember the future; try to foresee the past. Let Zeus throw down from the new Olympus those shattering bolts of sound. Let the purifying spiritual storm (not just Esprit rude, Esprit doux) rage around you. You will be richly rewarded.»

Holliger alertava para o choque natural entre as paisagens serenas e familiares de Bach e o universo musical estilhaçado e abstracto de Carter. E desafiava a ir além do repúdio que se sentiria ao confrontar aquela ausência de horizontes, daquelas referências que nos são habituais. A ir para lá daquele espaço onde nos sentimos seguros e confortáveis. A ir além do “desgosto”, a aprender a gostar.

O gosto não é mais do que uma forma de compreensão, um ponto de encontro com a inteligência do autor. Para aqueles que estão dispostos a desafiar os limites do seu gosto, o mundo é um espaço de aprendizagem sem fim.

O melhor da cultura nerd é celebrar essa capacidade de gostar, o entusiasmo de sentir que “gosto disto” e quero partilhar. Desinteressadamente.

As pessoas que não gostam de nada, que se enfastiam, que sofrem de tédio, são pessoas que não sabem nada. Para todos aqueles que estejam dispostos a desafiar-se, a romper com os limites de partida que todos temos, o mundo é um lugar entusiasmante cheio de coisas para viver e descobrir em todos os sentidos, seja no cinema, na literatura, na ciência, na história, na música, na fotografia, na banda-desenhada, nos jogos de vídeo, na culinária ou no crochet, ou em todas as outras coisas em que o espírito humano é capaz de se aventurar.

Se gosto, gosto. Se não gosto, não gosto…

A sério?

Empreendedorismo no país das borlas…

Um texto que recomendo vivamente: Não me peçam borlas… eu vivo disto pela jornalista, produtora e freelancer multifacetada Ana Luisa, autora do blogue Doce Para o Meu Doce.

Desabafo sobre uma cultura de desvalorização do trabalho alheio, hostil ao empreendedorismo e, de uma forma muito particular, às actividades de cariz criativo e artístico. Uma realidade que se vai alastrando de forma absolutamente destruidora da qualidade, abrindo o mercado à concorrência desleal e reduzindo as possibilidades de sucesso ou até de sobrevivência empresarial daqueles que querem cumprir as regras com sentido de ética e cidadania. Para ler, incluindo os comentários…

Oitocentos anos de escárnio e maldizer

Em oposição à exaltação não-crítica do “autor” está o papel desempenhado pelos blogues e as redes sociais enquanto espaços de opinião no directo da rede. Se por um lado temos a incapacidade em produzir asserções sobre “a obra” baseadas em argumentos substantivos, subjectivos mas qualificáveis, temos por outro o exercício infeliz do “achómetro”. Oitocentos anos de escárnio e maldizer encontraram na internet a placa de petri ideal para a fermentação, tudo reduzindo a uma caricatura do outro.

Exemplo deste fenómeno são os ataques recorrentes que a artista portuguesa Joana Vasconcelos parece merecer na nossa blogosfera. Se é certo que não devemos sustentar a ideia provinciana de que só porque alguém é “reconhecido lá fora” será merecedor de vassalagem “cá dentro”, também não devemos alimentar a agressão moral sobre outrem pelo simples facto de ter conquistado notoriedade.
O facto torna-se mais grave quando não encontramos nesses ataques qualquer substância argumentativa que os sustente. Os casos variam entre o engraçadismo habitual, assente na adjectivação mais ou menos colorida, a ataques de classe dirigidos à “política cultural do governo” para quem a artista é um mero dano colateral, ignorável e até desejável. Sobre as obras, invariavelmente, nada se diz.

A subserviência acrítica sobre uns e a destruição liminar de outros são duas faces da mesma moeda, de uma grosseira incapacidade de produzir juízo de valor sobre as coisas. Em boa verdade pouco falamos de obras, antes enfatizamos a chancela do autor – e para quem não tem chancela não há obra que lhe valha, por melhor que seja.
O que perpassa de tudo isto é o modo como olhamos uns para os outros neste tempo tóxico que estamos a viver. A cultura do escárnio é produto da descrença e do cinismo, inimiga maior de uma sociedade meritocrática, entusiástica e desinteressada, motivada por descobrir, partilhar e proteger aquilo que tem valor.

Adenda: uma resposta e um comentário, aqui.

Arquitectura do défice: da arquitectura como narrativa política

Uma obra estimada em 108 milhões de euros para construir em três anos. Mais de uma década passada, 400 milhões de euros depois, o parlamento Galego decidiu concluir o processo de construção da Cidade da Cultura de Galicia “tal como está”, com dois edifícios ainda por construir.
A notícia, agora partilhada por Edgar Gonzalez, confirma as perplexidades já abordadas pelo popular Jordi Évole no seu documentário Cuando éramos cultos. Um retrato severo da bolha cultural de Espanha de que agora restam cascos “sem uso nem conteúdo”, cronicamente deficitários e financeiramente insustentáveis.

Estamos perante um exemplo paradigmático de uma doença mais vasta que atinge o que tantas vezes se faz passar como "política pública de arquitectura". Que devaneios desta natureza tenham sido cometidos em nome do “apoio à cultura”, com a cumplicidade e a vassalagem de todos os agentes institucionais, é bem o retrato da corrosão ética e moral que conduziu à nossa sociedade à falência, em múltiplas formas.

Temos assim a arquitectura enquanto manifestação e veículo de narrativas políticas, uma arquitectura que não se move verdadeiramente por ideias e valores, que não traz consigo qualquer entusiasmo ou vontade de transformação do mundo, antes padece das mesmas debilidades que enfermam o discurso político corrente. Por isto mesmo são operações que se revestem de uma forte carga discursiva, ficções validadas pela chancela “notável” de autor onde confluem interesses e oportunismos geradores das maiores armadilhas financeiras. Que o interesse público, esse valor central da democracia, seja a primeira vítima destes processos é algo que não parece trazer consequência ou qualquer forma de resistência.

Trata-se de uma patologia cultural que afecta profundamente o espaço público das ideias. Tão grave quanto a actuação de políticos sem escrúpulos e sem responsabilidade é o modo como os agentes do meio arquitectónico contribuem activamente para sancionar aquela apropriação do “arquitecto” enquanto álibi da indiscutibilidade dos processos de promoção da obra pública e da sua validade programática.

Neste jogo de interesses a crítica de arquitectura representa um papel decisivo e, lamentavelmente, fatal. É certo que o exercício da crítica vive hoje refém de diversos mal entendidos pela indistinção entre informação, divulgação, opinião e esse outro trabalho maior de contextualização e confronto investigativo da história e das ideias. Também aqui a mediatização e os blogues deram tantas vezes um mau contributo, alimentando a confusão em nome de um falso debate “democrático” que mais não é do que a expressão do mínimo denominador comum do pensamento.

Mas a falência da crítica de arquitectura vai muito para lá dessa disfunção contemporânea. O que está em causa é a legitimidade da crítica enquanto suporte voluntário da construção de narrativas artificiosas, ausentes de qualquer frontalidade ou substância. Como se a obra de arquitectura fosse legitimável enquanto manifestação de si própria, divorciada do tecido financeiro, económico, social, político, cultural em que tem lugar. E como se o crítico pudesse sê-lo sem ser cidadão do seu tempo.

Se vivemos um tempo de narrativas é exactamente por habitarmos um território de não-crítica. O que testemunhamos são representações de crítica, vazias e rotundas, ensaiando ocasionalmente laivos de irreverência, sempre e invariavelmente atirando sobre alvos fáceis. Em boa verdade, mais não são do que exteriorizações de uma cultura falida e moribunda, animada apenas pelo momento de tempos passados, tal como estas arquitecturas.

Estas questões, previsivelmente, não se verão abordadas em qualquer conferência ou editorial.

Descoberto num leitor de feeds

Descubro no Horizonte Artificial um interessante conjunto de notas sobre o Google Reader. O Pedro disseca os meandros desse submundo dos blog-junkies em números. Lembra-nos, a título de exemplo, que A Pipoca Mais Doce tem 8.000 subscritores no Reader e 105.000 fãs no Facebook – números actualizados por mim.

O Pedro tem razão. E se, como ele diz, a melhor forma de acompanhar um blog continua a ser visitando-o e alimentando o seu dono (com comentários, likes e links), a diferença esmagadora que separa aqueles universos fala-nos da transformação da paisagem da rede e da queda da blogosfera enquanto palco central de conversação. Estamos a passar de um tempo em que buscávamos a informação ao nosso ritmo – guardada nos arquivos de um blogue – para um outro tempo em que a informação acontece no directo da rede social.

Também os leitores de feeds não são mais apenas espaços para ler mas plataformas para o broadcasting, gostando ou partilhando no Facebook, no Twitter, no Tumblr à distância de um clic. Estamos todos a emitir nesta nova paisagem onde tudo é “aqui e agora”. Em que estás a pensar? – pergunta o Facebook. O pensamento é substituído pelo comentário. Quanto hits, likes e shares vale, afinal, um leitor?

Da necessidade das portas

«Por cada porta que se abre, em algum lugar do mundo, outra se cerra. Esta equação universal das aberturas e dos fechos é tão certa quanto indemonstrável. Mas parece claro que o número de portas no mundo é sempre estável e imutável e, portanto, deve ter-se muito cuidado para não abrir uma a menos que seja absolutamente necessário.
Das muitas coisas que as portas podem ensinar-nos, uma das mais sugestivas não é essa ficção verosímil mas outra de igual transcendência efabulatória: que toda a porta é uma membrana de muitas substâncias.
As portas deixam entrar o habitante mas também com este o frio. As portas deixam passar os odores da rua e dos vizinhos pelas suas frestas. Pelas portas atravessa o vento e por vezes a neve ou a água percutam nas suas folhas cerradas. As portas incham, roçam e mudam de tamanho. As portas rangem e oxidam. As portas deixam passar vírus, doenças e pragas bíblicas. As portas são o aperto de mão que nos dá o edifício. As portas, sob as suas folhas, são caixas de correio ocasionais para cartas e recados. As portas são esses seres maravilhosamente hostis à mudança, sendo em si mesmo causadoras de tantas. As portas deixam passar notícias, murmúrios e, por vezes, ladrões. As portas são tenazes que trilham os dedos ou o pé acostumado do vendedor de enciclopédias.
As portas deixam passar rios.
E pobre daquela porta que não aspire, ao menos, a todas essas coisas, para lá de entrar e sair.»
Santiago de Molina, La necesidad de las puertas. Via Multiples Estrategias de Arquitectura.

Lisbon Architecture Triennale 2013 website launched


The 2013 Lisbon Architecture Triennale will take place from September 12th to December 15th.

O novo sítio web da Trienal de Arquitectura de Lisboa está online com toda a informação necessária para acompanhar o seu calendário preenchido, tudo à distância de links apropriadamente decorados em tom azul-retro reminiscente dos primórdios da interwebz. Também podem subscrever as páginas do Facebook e do Twitter para mais notícias e actualizações.

The retro-blue links are making a comeback on the 2013 Lisbon Architecture Triennale website, now up and running with all the information you need to follow its busy schedule. Don’t forget to subscribe the Facebook and Twitter accounts for additional news and updates.