Austero
A crise portuguesa vista da América. Retratos dos que vão e dos que ficam. O sorriso daqueles que sonham encontrar uma vida melhor lá fora. O desalento dos que sucumbiram na torrente dos dias do lixo cá dentro. Imagens para não esquecer a deselegância dos tempos que correm. Fotoreportagem do brasileiro Mauricio Lima para o The New York Times para ver, na íntegra, aqui.
A casa do Eddie
A história de como Frank Lloyd Wright se tornou, em 1956, autor de uma casa para o cão Eddie. Tudo começa com a carta de um rapaz de doze anos, Jim… No Archimess.
Momento geek
Revisitar os gloriosos efeitos visuais de O Caminho das Estrelas. Via The Silver Screen Kid Rides Again, viral no Tumblr.
Expo 98: retratos de uma exposição (por Clara Azevedo)
Image credits: Clara Azevedo.
Revisitar, quinze anos depois, o território da Expo 98 pelas fotografias da Clara Azevedo. Da paisagem em decadência profunda para um tempo de optimismo em que acreditámos fazer parte de uma Europa mais cosmopolita. O que fazer hoje com estas memórias?
Crítica de arquitectura: disparar sobre o mensageiro
A ambiguidade que paira entre divulgação, opinião e crítica – esta última assente num trabalho mais profundo de investigação e contextualização, de referenciação da história, dos conteúdos e das ideias – é por certo um dos desafios que se coloca à expressão do pensamento erudito sobre o mundo que nos rodeia; a este respeito escrevi recentemente em Da arquitectura como narrativa política. O caso torna-se no entanto mais complicado quando essa indistinção parte dos próprios críticos, neste caso de arquitectura. No ensaio Os analfabetos do presente Pedro Levi Bismark enuncia o «últimas reportagens» como sintoma de um processo de desvalorização crítica da imagem, denunciando-lhe a ausência de critério arquitectónico, estético ou político.
Coloca-se, em primeiro lugar, um equívoco de partida. O exemplo em causa, como tantos outros sítios web de fotógrafos de arquitectura, tem explícita uma fundação empresarial. Estes profissionais são – tal como os arquitectos – prestadores de serviços e a sua presença na internet é uma extensão natural da sua imagem; algo que se traduz, no interface gráfico e nos conteúdos que divulgam, tanto no domínio corporativo como no campo criativo. É assim com Iwan Baan, Cristobal Palma, Hertha Hurnaus, Fernando Guerra, como com tantos outros.
Afirmar, em relação ao caso particular do fotógrafo português, que não pode ser esquecido de modo nenhum é que um site como este não é uma publicação de arquitectura, onde texto e fotografia se cruzam para construir uma crítica de obra é “disparar sobre o mensageiro” em nome de um equívoco que o próprio crítico parece alimentar.
Será indesmentível que a fotografia se tornou, no mundo da rede, um veículo poderoso de divulgação da arquitectura produzida – mais do que do seu “valor crítico”. Uma boa foto de arquitectura não é necessariamente consequência de um bom projecto nem o fim último de um edifício consiste em ser fotografado. A arquitectura, existindo para ser vivida, abre sobre o mundo um diálogo com o lugar, com o tempo, com a memória. A representação fotográfica é mais uma extensão desse diálogo, não sendo indiferente o discurso formal da própria imagem e o seu destinatário editorial. Uma fotografia comissionada por um arquitecto não tem os mesmos parâmetros estéticos de uma comissão para a Dwell, como esta diverge dos padrões editoriais de uma Wallpaper; e, no entanto, nestes como noutros exemplos mais, podemos estar a falar de um só edifício. Para a mesma arquitectura, muitas “imagens” possíveis.
O que é questionável é alimentar uma visão caricatural em que a chancela de um fotógrafo se traduz numa paródia de “selo de qualidade” da própria arquitectura. Como se o facto de obras de diferentes arquitectos serem fotografadas por Iwaan Baan ou Fernando Guerra as colocassem num mesmo patamar “crítico”. O caso torna-se mais grave quando se enuncia o caso particular de Álvaro Siza, merecedor de uma secção autónoma destacada no site do fotógrafo português, como estando lado a lado com um outro exemplo publicado numa rede social, ignorando o valor editorial dessa distinção.
O equívoco expresso por Pedro Levi Bismark torna-se ainda mais explícito quando coloca no mesmo plano o «últimas reportagens» com o «archdaily», este último o blogue de arquitectura mais visitado do mundo. Vale a pena reflectir sobre o que isso significa: qual o seu “valor crítico”. Resposta: nenhum. O «archdaily» não é um espaço de crítica de arquitectura e, no entanto, a sua política editorial não é de todo inócua. Ele concorre, com outros blogues semelhantes, pela publicação de conteúdos “em primeira mão”. Um press-release com imagens mais ou menos sensacionais de um projecto, enviado a dezenas ou centenas de emails de blogues, vê-se publicado em poucos minutos. Nesta blogosfera a novidade e a celeridade traduzem-se em hits, o que por sua vez se converte em fonte de revenue.
Não desenvolvendo sobre os projectos qualquer conteúdo crítico, a publicação num «archdaily» não se traduz por isso num valor qualitativo da obra. Um projecto não é bom ou mau por ser publicado na internet. No entanto, esta lógica de reciprocidade entre blogues e empresas de arquitectura tem uma consequência perversa quando dela se pretende extrair uma representatividade crítica; algo que o «archdaily» invocou por diversas vezes sob a forma de editorial. Como se a exposição de um projecto e a sua submissão ao “comentário” fossem em si mesmo uma forma de sujeição à “crítica” popular, o que por sua vez se traduziria num “valor” democrático. Ao fazê-lo, o «archdaily» alimenta os piores equívocos redutores da noção de crítica de arquitectura no espaço público.
Por muito que isso escandalize noções pueris de democraticidade que reinam na internet, a verdade é que a crítica de arquitectura será sempre uma actividade minoritária, de nicho. Trata-se, no entanto, de um espaço contido mas poderoso onde podemos encontrar coisas como o BLDGBLOG, o City of Sound, o Fantastic Journal, o Kosmograd, entre tantos outros, que desenvolvem o trabalho crítico de mapear os conteúdos – dos projectos, dos desenhos, dos textos, das fotografias – com o cruzamento de múltiplas referências.
O aspecto mais infeliz do texto do Pedro Levi Bismark é confundir estes diferentes planos na tábua rasa de uma generalização que alimenta esse mesmo olhar iletrado e indistinto sobre “as imagens” que hoje se abatem sobre nós num volume sem precedentes. O que ali se traduz é uma patologia recorrente na crítica escrita entre nós, pronta a disparar sobre o mensageiro de forma fácil mas que tantas vezes se demite de abordar os verdadeiros temas do nosso país em crise e do território sociológico em que vivemos. Nunca como hoje fez a crítica de arquitectura tanta falta, nem esteve tão ausente.
Coloca-se, em primeiro lugar, um equívoco de partida. O exemplo em causa, como tantos outros sítios web de fotógrafos de arquitectura, tem explícita uma fundação empresarial. Estes profissionais são – tal como os arquitectos – prestadores de serviços e a sua presença na internet é uma extensão natural da sua imagem; algo que se traduz, no interface gráfico e nos conteúdos que divulgam, tanto no domínio corporativo como no campo criativo. É assim com Iwan Baan, Cristobal Palma, Hertha Hurnaus, Fernando Guerra, como com tantos outros.
Afirmar, em relação ao caso particular do fotógrafo português, que não pode ser esquecido de modo nenhum é que um site como este não é uma publicação de arquitectura, onde texto e fotografia se cruzam para construir uma crítica de obra é “disparar sobre o mensageiro” em nome de um equívoco que o próprio crítico parece alimentar.
Será indesmentível que a fotografia se tornou, no mundo da rede, um veículo poderoso de divulgação da arquitectura produzida – mais do que do seu “valor crítico”. Uma boa foto de arquitectura não é necessariamente consequência de um bom projecto nem o fim último de um edifício consiste em ser fotografado. A arquitectura, existindo para ser vivida, abre sobre o mundo um diálogo com o lugar, com o tempo, com a memória. A representação fotográfica é mais uma extensão desse diálogo, não sendo indiferente o discurso formal da própria imagem e o seu destinatário editorial. Uma fotografia comissionada por um arquitecto não tem os mesmos parâmetros estéticos de uma comissão para a Dwell, como esta diverge dos padrões editoriais de uma Wallpaper; e, no entanto, nestes como noutros exemplos mais, podemos estar a falar de um só edifício. Para a mesma arquitectura, muitas “imagens” possíveis.
O que é questionável é alimentar uma visão caricatural em que a chancela de um fotógrafo se traduz numa paródia de “selo de qualidade” da própria arquitectura. Como se o facto de obras de diferentes arquitectos serem fotografadas por Iwaan Baan ou Fernando Guerra as colocassem num mesmo patamar “crítico”. O caso torna-se mais grave quando se enuncia o caso particular de Álvaro Siza, merecedor de uma secção autónoma destacada no site do fotógrafo português, como estando lado a lado com um outro exemplo publicado numa rede social, ignorando o valor editorial dessa distinção.
O equívoco expresso por Pedro Levi Bismark torna-se ainda mais explícito quando coloca no mesmo plano o «últimas reportagens» com o «archdaily», este último o blogue de arquitectura mais visitado do mundo. Vale a pena reflectir sobre o que isso significa: qual o seu “valor crítico”. Resposta: nenhum. O «archdaily» não é um espaço de crítica de arquitectura e, no entanto, a sua política editorial não é de todo inócua. Ele concorre, com outros blogues semelhantes, pela publicação de conteúdos “em primeira mão”. Um press-release com imagens mais ou menos sensacionais de um projecto, enviado a dezenas ou centenas de emails de blogues, vê-se publicado em poucos minutos. Nesta blogosfera a novidade e a celeridade traduzem-se em hits, o que por sua vez se converte em fonte de revenue.
Não desenvolvendo sobre os projectos qualquer conteúdo crítico, a publicação num «archdaily» não se traduz por isso num valor qualitativo da obra. Um projecto não é bom ou mau por ser publicado na internet. No entanto, esta lógica de reciprocidade entre blogues e empresas de arquitectura tem uma consequência perversa quando dela se pretende extrair uma representatividade crítica; algo que o «archdaily» invocou por diversas vezes sob a forma de editorial. Como se a exposição de um projecto e a sua submissão ao “comentário” fossem em si mesmo uma forma de sujeição à “crítica” popular, o que por sua vez se traduziria num “valor” democrático. Ao fazê-lo, o «archdaily» alimenta os piores equívocos redutores da noção de crítica de arquitectura no espaço público.
Por muito que isso escandalize noções pueris de democraticidade que reinam na internet, a verdade é que a crítica de arquitectura será sempre uma actividade minoritária, de nicho. Trata-se, no entanto, de um espaço contido mas poderoso onde podemos encontrar coisas como o BLDGBLOG, o City of Sound, o Fantastic Journal, o Kosmograd, entre tantos outros, que desenvolvem o trabalho crítico de mapear os conteúdos – dos projectos, dos desenhos, dos textos, das fotografias – com o cruzamento de múltiplas referências.
O aspecto mais infeliz do texto do Pedro Levi Bismark é confundir estes diferentes planos na tábua rasa de uma generalização que alimenta esse mesmo olhar iletrado e indistinto sobre “as imagens” que hoje se abatem sobre nós num volume sem precedentes. O que ali se traduz é uma patologia recorrente na crítica escrita entre nós, pronta a disparar sobre o mensageiro de forma fácil mas que tantas vezes se demite de abordar os verdadeiros temas do nosso país em crise e do território sociológico em que vivemos. Nunca como hoje fez a crítica de arquitectura tanta falta, nem esteve tão ausente.
StreetViewPrtScr
Uma recolha de imagens captadas no sistema de vistas panorâmicas Street View pelo Benjamim Silva. Um pequeno ensaio sobre a transição entre o registo mecânico de captura de imagens, acrítico, para um processamento emoldurado pelo olhar. O seu trabalho de fotografia pode ser descoberto no Flickr.
A cadeira
O blogue 100ideias faz-nos relembrar as célebres Cadeiras Gonçalo, um clássico do design industrial português. Um pouco da sua história encontra-se aqui. Imagem via Wikipédia.
Mau trabalho
O Diário de Notícias dá conta da polémica que envolve a intenção de construir um novo quartel da GNR no centro histórico da vila de Penedono. A arquitectura volta a fazer manchete como se de um caso de polícia se tratasse.
Não estão em causa os fundamentos da inquietação expressa no artigo, em particular nas palavras ponderadas de Dalila Rodrigues, antiga directora do Museu Grão Vasco e do Museu Nacional de Arte Antiga. O que motiva perplexidade é o facto da peça jornalística se sustentar numa imagem não creditada como forma de validação daqueles argumentos.
Ficamos assim sem saber se aquela é uma pré-visualização oficial do projecto ou antes uma fotomontagem caseira feita por um anónimo qualquer. A imagem tem, aliás, o efeito perverso de reduzir um debate importante a um juízo binário sobre uma vista desfocada de um edifício a centenas de metros de distância.
Não se trata aqui de defender aquela arquitectura, cujo conteúdo desconheço para lá da imagem que nos é dada. Mas, falando-se de arquitectura, fica ausente o contraponto do depoimento dos autores do projecto em abono do rigor jornalístico.
Quanto à polémica resta apenas esperar que prevaleça o bom senso e o respeito por um património que persistiu ao decurso do tempo e merece sem dúvida ser preservado.
Não estão em causa os fundamentos da inquietação expressa no artigo, em particular nas palavras ponderadas de Dalila Rodrigues, antiga directora do Museu Grão Vasco e do Museu Nacional de Arte Antiga. O que motiva perplexidade é o facto da peça jornalística se sustentar numa imagem não creditada como forma de validação daqueles argumentos.
Ficamos assim sem saber se aquela é uma pré-visualização oficial do projecto ou antes uma fotomontagem caseira feita por um anónimo qualquer. A imagem tem, aliás, o efeito perverso de reduzir um debate importante a um juízo binário sobre uma vista desfocada de um edifício a centenas de metros de distância.
Não se trata aqui de defender aquela arquitectura, cujo conteúdo desconheço para lá da imagem que nos é dada. Mas, falando-se de arquitectura, fica ausente o contraponto do depoimento dos autores do projecto em abono do rigor jornalístico.
Quanto à polémica resta apenas esperar que prevaleça o bom senso e o respeito por um património que persistiu ao decurso do tempo e merece sem dúvida ser preservado.
Identidade ARX
Visitei recentemente a exposição ARX ARQUIVO onde se dá a conhecer o percurso de duas décadas de trabalho da ARX Portugal. Uma viagem pelo processo de investigação que o atelier de Nuno e José Mateus leva a cabo em cada projecto de arquitectura, trata-se de uma apresentação de um espólio muito extenso de material de trabalho que se organiza como arquivo habitável, onde as maquetes ocupam um papel fundamental.
A exposição começa por conduzir-nos no tempo através de um painel de fotografias, desenhos e referências várias que fazem parte das suas origens, onde podemos reconhecer as influências da Morphosis de Thom Mayne, de Eisenman ou de Libeskind. Abre-se então o trajecto cronológico pelas obras da ARX, revelando como cedo se foram desvanecendo gestos mais formalistas de origem para assistirmos à consolidação da identidade ARX. É uma prática experimental que arrisca o desconhecido, exploratória, livre do espartilho de pressupostos fixos e linguagens pré-definidas, expondo o melhor sentido cosmopolita da academia de Lisboa.
ARX ARQUIVO estará patente no CCB até ao dia 21 de Julho. Ficam alguns instantâneos, recomendando a visita ao sítio web da ARX onde podem encontrar uma reportagem fotográfica mais completa e fiel ao ambiente da exposição, a não perder.
ARX, ARX ARCHIVE exhibition, Lisbon, Portugal, 2013.
Ur_Animals
António Belém Lima, ABA - Centro Comunitário, Vila Real, Portugal, 2008. Image credits: Fernando Guerra.
Porque nenhuma reportagem de arquitectura fica completa sem o apontamento animal eis o álbum que se impunha: Ur_ANIMALS. A imagem acima faz parte do conjunto de fotografias do Centro Comunitário ABA em Vila Real, projecto do arquitecto António Belém Lima. Não percam a colecção completa de álbuns do Ultimas Reportagens no Pinterest, uma extensão da página oficial do Fernando Guerra.
Nova Utøya: construir para curar
Fantastic Norway, New Utøya, Utøya, Norway, 2013 (under development). Image credits: Fantastic Norway.
Como lidar com o território de uma tragédia? Em tantos casos a dimensão do trauma, bem presente na memória dos vivos, parece justificar apenas o vazio. Como se só o silêncio pudesse falar a dor que habita os sobreviventes e as famílias das vítimas.
Não podemos fazer juízos sobre esse silêncio profundo. No entanto, se há algo verdadeiramente extraordinário no projecto da Nova Utøya é a força e a vontade de ultrapassar o vazio e construir o futuro. O projecto, promovido pelo Labor Youth Party e desenhado pela Fantastic Norway, visa reestabelecer o campo de jovens da ilha de Utøya e fazer dela um símbolo de unidade e diversidade. A arquitectura como forma de construir democracia.
Via Daniel Gray.
Os demónios que ficam
To all my beautiful demons is a photographic essay by Mário Venda Nova, author of the Portuguese blog O Elogio da Sombra.
O que é a ausência? – eis o ponto de partida para uma viagem fotográfica em busca dos demónios de relações passadas que carregamos connosco e projectamos no mundo que nos rodeia. Um trabalho de Mário Venda Nova, autor do blogue O Elogio da Sombra, para ver na íntegra em: To all my beautiful demons.
Subscrever:
Mensagens (Atom)