É um prazer apresentar em ante-estreia o novo sítio web produzido por Fernando Guerra, intitulado Últimas Reportagens.
Últimas Reportagens é um módulo autónomo do site oficial deste arquitecto/fotógrafo de grande talento. Propõe-se apresentar projectos arquitectónicos relevantes expostos sobre um olhar que transcende a mera “fotografia/poster” para partir em busca da alma das arquitecturas que representa. A não perder o nascimento do que promete vir a ser uma exemplar biblioteca de arquitectura em constante crescimento e de grande sensibilidade. O site já está online e conta com uma qualidade formal irrepreensível, para além de permitir o registo para uma newsletter oficial via email.
Nota: o site pode demorar a carregar na primeira abertura apresentando um ecrã branco, seguindo-se o portal de entrada.
Últimas Reportagens – Fernando Guerra
SketchUp
Descobri recentemente este espectacular SketchUp. É um programa de desenho conceptual 3D com excelentes características para a prática da arquitectura. Não se assumindo como um CAD tradicional para desenho técnico de projecto, trata-se antes de uma ferramenta dedicada à criação e apresentação de ideias, um verdadeiro programa de esquiço tridimensional com um leque de utensílios gráficos bastante poderosos - e que funcionam mesmo.
O mais fascinante é a facilidade de manipulação e a rápida curva de aprendizagem, sem o espartilho habitual dos programas de CAD mais pesados. Os efeitos de visualização garantem uma versatilidade enorme de modos de apresentação possíveis.
O SketchUp tem download gratuito com um período de utilização livre de 8 horas de duração, completamente operacional. É produzido nos Estados Unidos e representado em Portugal pela TechLimits Informática, estando à venda por uns surpreendentes 495€ (+IVA).
Arquitectos portugueses na internet
A propósito do primeiro directório de Arquitectos Portugueses que produzi aqui no blogue, um leitor perguntou qual foi o critério utilizado para destacar algumas das páginas como visita imprescindível ou recomendada. Aproveito a oportunidade para responder e adiantar alguns esclarecimentos.
Primeiro: as coisas mudam. Os conteúdos das páginas são alterados ao longo do tempo, outros perdem actualidade, outros deixam de funcionar. Uma avaliação feita para sítios da web, para além de estar sujeita às subjectividades de quem a produz, tem a validade comprometida à constante alteração das condições em que foi feita.
Esta é uma listagem de sítios web de arquitectos ou firmas de arquitectura. Existem outros tipos de páginas com informação diversa, mas interessava-me encontrar páginas produzidas pelos próprios que mostrassem a presença que os arquitectos portugueses têm na internet e a forma como a trabalham.
Infelizmente, ao contrário de outros países, existe uma grande carência em directórios actualizados e com critério na nossa actividade. Vejam-se, por comparação, os exemplos do Linkscape ou do Nextroom.
Pior, muitos profissionais não parecem encarar a internet como algo importante para a expressão pública do seu trabalho. É quase impensável imaginar que Souto Moura, Gonçalo Byrne ou João Santa Rita (só para citar alguns) não tenham sites próprios. Se têm, desconheço, mas não aparecem no topo das pesquisas do Google.
Noutros casos como Álvaro Siza ou Carrilho da Graça, resumem-se a um cartão de visita. Alguns podem apreciar este gesto minimal mas vejam como outros grandes nomes se dão a conhecer: Campo Baeza, Norman Foster, Rem Koolhaas, Renzo Piano, Richard Meier, Steven Holl.
O meu critério para destacar algumas páginas baseia-se assim mais na qualidade do site, na sua imagem e conteúdos, do que no conjunto dos trabalhos apresentados. Isto não significa que uma coisa seja indiferente da outra. Nos cinco imprescindíveis, destaco alguns casos exemplares de profissionalismo absoluto com que os autores assumem a sua imagem na web e a extensão de conteúdos que disponibilizam.
As visitas recomendadas são igualmente páginas de grande qualidade que merecem atenção suplementar, relevantes na maneira de abordar a concepção e o potencial gráfico da web, ou porque os conteúdos merecem destaque.
Os restantes que compõem o directório não são necessariamente inferiores. Em alguns casos, a falta de actualização das páginas torna-os menos relevantes ou destacáveis. Outros assumem uma postura meramente empresarial, por vezes bem construída, divulgando a firma em termos comerciais, mas sem interesse proeminente para os profissionais da área.
Quase a terminar, tenho de reconhecer que é uma listagem ainda muito pequena. Isso pode revelar a ausência de fontes ou a minha falta de tempo para as pesquisar. Seja como for, esta é uma lista aberta e por isso disponível para as vossas críticas e recomendações.
Por fim, gostava de vos dar a conhecer aquela que é a minha página favorita de um atelier de arquitectura: a AWG – AllesWirdGut Architectur. É um site de uma equipa austríaca que apresento como exemplo do melhor que se pode fazer em termos de apresentação e qualidade de design web. A enorme qualidade dos projectos, a diversidade de elementos gráficos disponíveis com exposições escritas (por vezes só em alemão), imagens da obra em construção, esquemas gráficos; é um caso notável de uma página viva que oferece muitas razões para se continuar a visitar repetidamente. Sirvo-me deste exemplo para mostrar que a internet é hoje mais que uma montra mas uma forma de criar interacções fortes com uma grande rede de pessoas e estar vivo no mundo da comunicação.
2. Directório
2.1. Visita imprescindível ++
Arkibyo ++
a|Um Studio ++
Filipe Oliveira Dias ++
Inês Lobo ++
José Soalheiro e Teresa Castro ++
Promontório Arquitectos ++
S’A Arquitectos ++
2.2. Visita recomendada +
Alexandre Burmester +
Archiphobia +
Arquitectos Pioledo +
Bernardo Rodrigues +
Cannatà & Fernandes +
CLCS Arquitectos +
EMITFLESTI +
Frederico Valsassina +
Miguel Rocha & Saraiva +
Nuno Antunes e Gonçalo Silva +
2.3. Directório completo (revisão de Junho de 2005)
A+G Arquitectura
Jovens arquitectos. Poucos trabalhos expostos e um grafismo experimental. Muitas imagens.
Alexandre Burmester +
Autor do emblemático edifício da Telecel/Vodafone no Parque das Nações. Interface acessível mas pouco claro. Conteúdo extenso mas pouco detalhado e ausência de textos. Visita recomendada.
Álvaro Siza Vieira
Página com contacto de email. Ausência de conteúdo.
Angelo De Castro
Bom interface mas uma imagem demasiado “empresarial”. Conteúdo não muito extenso mas com qualidade. Excelentes ilustrações.
Arkibyo ++
Entrada directa para a lista das visitas imprescindíveis, o site da Arkibyo é uma página espectacular tanto na apresentação como na qualidade de conteúdos disponíveis.
Archiphobia +
Gabinete jovem sediado no Porto. Bom design e conteúdo prometedor. Visita recomendada.
Arquitectos Pioledo +
Página de um grupo de arquitectos. Interface cuidado mas por vezes confuso de percorrer. Bom conteúdo de imagem.
Arqwork Arquitectura
Bom interface. Conteúdo breve, essencialmente orientado para divulgação da empresa.
AT.93
Bom interface e conteúdo com algum interesse. Muitos projectos apresentados mas pouco detalhados.
Atelier Cidade Aberta
Firma do arquitecto Vasco Massapina. Página em aparente construção. Algum conteúdo disponível mas pouco detalhado; formato de divulgação de empresa.
Ateliers De Santa Catarina
Portal de agrupamento de várias páginas de arquitectos e designers, caracterizadas por uma construção jovem e irreverente. Algumas áreas ainda em construção.
Augmented Architectures
Equipa formada por uma arquitecta venezuelana e um arquitecto português. Formato muito experimental e inovador; projectos de design interactivo e forte componente urbana.
a|Um Studio ++
Outra nova entrada para a lista de visitas imprescindíveis, o a|Um Studio é um portal que reúne a colaboração do atelier umAsideia da arquitecta Carla Leitão e a firma de design multimédia aChrono de Ed Keller. O resultado é uma fusão muito interessante de trabalhos de grande qualidade num formato expositivo exemplar. Visita Imprescindível.
Bernardo Rodrigues +
Clareza e simplicidade; design muito profissional. Conteúdo sucinto mas bem apresentado; bons projectos com acompanhamento de texto e informações diversas. Visita recomendada.
Bruno Parente
Jovem arquitecto. Bom design e interface intuitivo. Conteúdo de imagem interessante.
Cannatà & Fernandes +
Formada pela portuguesa Fátima Fernandes e o italiano Michele Cannatà, a Cannatà & Fernandes apresenta um site de interface extremamente simples e projectos de qualidade superior com acompanhamento escrito e excelentes imagens. Visita recomendada.
CLCS Arquitectos +
Interface pesado mas com excelente design. Projectos de muita qualidade; bom conteúdo de imagem; ausência de conteúdo escrito. Visita recomendada.
Contemporânea
Firma dos arquitectos Manuel Graça Dias e Egas José Vieira. O site encontra-se inactivo há muitos meses.
Carlos Nuno Lacerda
Interface um pouco pesado mas cuidado graficamente. Conteúdo diversificado com bom acompanhamento escrito.
Daniel Pereira Mateus
Jovem arquitecto. Página intuitiva e com bom design. Apresentação de trabalhos da faculdade; algum conteúdo escrito.
EMITFLESTI +
Firma de jovens arquitectos. Conteúdo de qualidade; ausência de textos. Visita recomendada.
FFCB Arquitectos Associados
Interface desactualizado mas algum conteúdo com interesse; textos disponíveis.
Filipe Oliveira Dias ++
Página muito profissional com óptimos conteúdos escritos e de imagem. Visita imprescindível.
Fragmentos de Arquitectura
Página de divulgação. Muitos projectos apresentados; pouco conteúdo de texto mas muitas imagens.
Frederico Valsassina +
Interface desactualizado. Muitos projectos apresentados e bom conteúdo de imagem. Ausência de textos. Visita recomendada.
Hugo Igrejas
Jovem arquitecto. Interface pouco amadurecido. Algum conteúdo interessante de imagem renderizada.
Inês Lobo ++
Excelente qualidade gráfica e de conteúdos. Muitos projectos disponíveis, bem apresentados e com desenvolvimento escrito. Visita imprescindível.
J. M. Carvalho Araújo
Página em formato de currículo digital. Boa qualidade de apresentação; conteúdo muito sumário.
João Luís Carrilho da Graça
Página com contacto de email. Ausência de conteúdo.
João Paciência
Interface desactualizado. Divulgação extensa mas pouco detalhada.
João Patrício
Interface “empresarial” de visualização carregada. Alguns projectos interessantes. Conteúdo orientado para divulgação comercial.
João Paulo Ferreira
Página com design sóbrio. Alguns projectos interessantes mas pouco detalhados. Bons links. A precisar de actualização.
José Soalheiro e Teresa Castro ++
Excelente design e interface. Muita informação disponível; projectos de elevada qualidade e boa apresentação de conteúdos. Visita imprescindível.
José Virgílio
Portfolio pessoal com trabalhos académicos e outros, design gráfico e fotografia. Página sóbria e bem construída com muitas referências interessantes.
Marco Ligeiro
Equipa dirigida por um jovem arquitecto, dá a conhecer os seus serviços e expõe alguns projectos realizados. Site com boa composição gráfica essencialmente dirigida para a divulgação a clientes.
Miguel Rocha & Saraiva +
Excelente interface. Conteúdo extenso e diversificado. Óptimos projectos. Visita recomendada.
MVA Arquitectos
Interface simples. Alguns projectos interessantes; muitas imagens.
Neuparth Atelier
Interface acessível e de qualidade. Projectos interessantes; conteúdo sucinto e ausência de textos.
Nuno Antunes e Gonçalo Silva +
Bom desenho geral. Conteúdo muito diversificado e de boa qualidade. Visita recomendada.
Paulo Corceiro
Design acessível com excelente apresentação. Conteúdo pouco extenso. Vale pela originalidade da composição gráfica.
Pedro Andrade de Sousa
Jovem arquitecto. Pouco conteúdo mas com algum interesse. Interface simples mas pouco amadurecido.
Pedro Duarte Bento
Portfolio pessoal com desenho simples e sóbrio, em suporte blogger. Trabalhos interessantes com destaque para algumas intervenções de design urbano muito surpreendentes.
Pedro George
Interface “empresarial”. Conteúdo orientado para divulgação comercial; só imagens. Apresentação desactualizada.
Pedro Mendes
Página em aparente construção.
PEX Studio
Equipa jovem. Pouco conteúdo mas portfolio com imagem muito interessante.
Piso 1
Site em construção.
Promontório Arquitectos ++
Design simples mas eficaz. Excelente conteúdo escrito e de imagem. A precisar de actualização. Visita imprescindível.
PS.:BF
Página de dois arquitectos em formato blogue, com divulgação diversa. Imagem pouco consolidada.
Rui Miguel Cruz
Página com design original e alguma complexidade gráfica. Trabalhos académicos e profissionais com apresentação cuidada e conteúdos bastante interessantes.
S’A arquitectos ++
Pagina em formato blogue. Excelente apresentação e conteúdos de texto e imagem. Visita imprescindível.
Stretch Move
Divulgação sucinta de projectos e da empresa.
Sua Kay
Design pouco apelativo. Portfolio extenso mas sem detalhe. Página essencialmente orientada para divulgação comercial.
Tiago Matos & Ricardo Pereira
Jovens arquitectos. Design intuitivo. Portfolio visualmente pesado. Conteúdos de texto e imagem.
Topos Atelier
Design algo desactualizado. Apresentação sucinta de projectos com texto e algumas imagens.
3. Actualizações
3.1. Actualização, 2005-07-01
Foram adicionados à lista os seguintes sites: Arkibyo e Ateliers De Santa Catarina.
3.2. Actualização, 2005-07-12
Foi adicionado à lista o seguinte site: a|Um Studio.
3.3. Actualização, 2005-08-18
Foram adicionados à lista os seguintes sites: Piso 1, Rui Miguel Cruz, José Virgílio e Pedro Duarte Bento.
3.4. Actualização, 2005-09-20
Foram adicionados à lista os seguintes sites: Cannatà & Fernandes e Marco Ligeiro.
Ideias, recomendações e críticas para
abarrigadeumarquitecto[arroba]gmail[ponto]com
Archinect
O Archinect é um portal aberto para um conjunto de discussões e iniciativas em torno da prática e do ensino da arquitectura no mundo.
Uma ideia interessante promovida pelo Archinect é o School Blog Project, uma rede de blogs mantidos por estudantes de várias escolas de arquitectura que documentam as suas experiências durante o ano lectivo. Alunos dos Estados Unidos, Inglaterra, Espanha, Roménia, Turquia, Singapura, Itália, Japão e Nova Zelândia oferecem um olhar sobre os ambientes vividos nas suas instituições académicas.
Apesar do projecto estar um pouco parado por estarmos na época de Verão é um exemplo inovador da forma como os blogues poderão introduzir-se no mundo universitário e produzir uma experiência partilhada sem barreiras de distância e nacionalidade.
Ainda no Archinect podem ler as conclusões de um debate em torno do ensino da arquitectura: Redefining Education in the 21st Century. Com a presença de Zaha Hadid, Peter Cook, Alan Balfour e Simon Allford entre outros, reúne um conjunto de reflexões com muito conteúdo sobre a clivagem entre o mundo académico e profissional na era da informação e ainda as contradições entre uma abordagem mais artística ou científica da arquitectura. Uma leitura essencial e um tema a que voltarei em breve.
A cidade do arrastão
Numa altura em que todos se queixam do aparecimento de novas formas de criminalidade, em que o contacto com a pobreza e a degradação da vida urbana se vem tornando inevitável, seria interessante perguntarmo-nos de que forma é que esta deterioração nos tem vindo a afectar colectivamente.
Os fenómenos de violência suburbana não se reduzem a casos de polícia; eles têm as suas raízes no tecido sociológico das cidades e são amplificados por efeitos de exclusão social, racial e económica. Para os compreender, temos de dramatizar o peso da decadência urbana como um problema em si mesmo e o grau em que ela favorece o aparecimento de fenómenos contrários à ordem social. A degradação urbana em que crescem alguns grupos populacionais faz parte de uma progressão perigosa que não tem vindo a merecer suficiente atenção. Trata-se afinal de uma fragmentação silenciosa da sociedade que permite criar vários lados hostis, barricados uns dos outros.
Pobreza não é sinónimo de crime, tal como a riqueza não garante a ausência de problemas sociais. Mas se uma cidade se faz acompanhar do aparecimento de bairros degradados onde a pobreza predomina, é inevitável que aí se encontre uma concentração superior de disfuncionalidades sociais. Onde estes problemas predominam, segue-se a criminalidade que conduz ao agravamento das condições urbanas e, por fim, ao isolamento.
Confrontados com esta realidade, os cidadãos começam a reclamar por medidas de protecção e policiamento. Vivemos assim numa mentalidade fortificada. À medida que o nosso apelo à segurança aumenta, também o medo se espalha. O medo colectivo acentua a fragmentação social que está na raiz do problema, de que a face urbana é ao mesmo tempo origem e sintoma.
É importante cultivar a consciência destes fenómenos. Quanto maior forem as suspeitas e o medo contra grupos sociais, mais fácil é promover medidas que eliminam qualquer compaixão com as vítimas inocentes da pobreza das cidades.
Bairros degradados como os que existem em volta de Lisboa, na Amadora ou na Damaia, são mais que um sintoma de pobreza. São antes o factor causal de outros problemas mais complexos cujas implicações moldarão a sociedade em que todos vamos viver no futuro. Encontrar formas de restaurar o sentimento de comunidade e civilidade desses bairros e daqueles em que essas qualidades ainda existem devia ser mais que um objectivo local mas sim uma vontade estratégica do país.
Wim Mertens no CCB
Infelizmente não poderei assistir ao concerto do Wim Mertens, amanhã (17) às 21 horas no CCB. Recomendo a todos os que possam ir, a não perder esta oportunidade. Ele estará também em Aveiro no sábado (18) às 21h30 no Teatro Aveirense.
Wim Mertens é um daqueles músicos que nos faz crescer. Para mim é uma referência, com outro nome que muito aprecio que é Keith Jarrett, daqueles autores que buscam o que não é óbvio e mostram que não está tudo inventado e se pode sempre criar de novo. Uma piscadela de olho ao facto de ser o autor da orquestração do dramático filme de Greenaway The Belly Of An Architect onde, evidentemente, encontrei o título deste blogue.
Génio compositor, busca o espírito com as teclas do piano e por vezes aquela voz fabulosa que parece mergulhada na torrente das notas. Música para escutar no silêncio da alma e vislumbrar como a vida nos transcende e embeleza o sentido de estarmos aqui.
Se forem, contem como foi. :)
Notas soltas
Fica aqui a informação que devido a problemas no servidor do Photobucket, a imagem de capa está temporariamente desactivada. Entretanto, deixo-vos alguns sítios que visitei na web recentemente:
Urban Review – St. Louis
Clusterfuck Nation
Walkable Communities
New (sub)Urbanism
Green Car Congress
Gristmill: The environmental news blog
Curbed
Naparstek
Destaque ainda para esta iniciativa de um provocador grupo de arquitectos que decidiu erguer plataformas de observação para espreitar para lá dos muros de muitos condomínios fechados da área de Los Angeles. A ver no Heavy Trash.
As árvores e a floresta
(imagem via FotoBen)
O urbanismo compreende a planificação, o desenvolvimento e execução dos espaços das cidades, suas estruturas e circulações, com o fim de promover a qualidade de vida de quem nelas habita. Numa outra definição, o urbanismo pode ainda ser entendido como uma montanha de problemas de toda a espécie, consequência directa das relações que esta disciplina mantém com muitas outras do domínio social, económico, cultural, natural e por aí adiante.
O planeamento urbano é pluridisciplinar por natureza e, bem entendido, integra-se no planeamento estratégico do conjunto do território; que evidentemente se relaciona com o seu planeamento económico, jurídico, ambiental, habitacional, do património histórico, da mobilidade, infraestruturas, equipamento. Isto significa que é uma área de trabalho carregada de consequência política: o urbanismo pode ser incompetente mas não é inocente; ele permite conformar objectivos concretos e promover visões específicas sobre a ordem social, a dinâmica económica, a regulamentação jurídica do espaço de acção do cidadão entre tantos exemplos possíveis.
Com isto presente, é fácil compreender que o verdadeiro urbanismo só pode resultar da cooperação de vários domínios do saber: na área do “desenho urbano” e daquilo que chamarei de “não-desenho”. Entre os primeiros estão necessariamente o arquitecto paisagista, o engenheiro civil, o arquitecto; eles constituem o motor dos aspectos relativos à concepção e materialização das ideias no espaço. Entre os segundos, deverão estar os técnicos do ambiente, da gestão urbana, do financiamento e análise financeira, membros do planeamento local, grupos de interesse da comunidade e até indivíduos particulares. Evidentemente, o tamanho de uma equipa deverá resultar da importância e escala do projecto.
O urbanismo em Portugal não tem verdadeira doutrina que resulte de uma tradição ou do fruto de boas práticas. Não parece existir sequer um espírito de cooperação na área ou um entendimento do significado da missão ou serviço público que o urbanismo deveria servir. Na verdade, estamos ainda no tempo da reivindicação de competências, cada um querendo emancipar-se frente ao técnico do lado. O planeamento urbano em Portugal está ainda longe da maturidade.
Os engenheiros, por terem a profissão mais enraizada historicamente, assumiram tradicionalmente um papel importante na produção urbanística e mantêm ainda hoje uma presença forte ao nível do Estado. Para o bem e para o mal, os engenheiros servem também de alibí para justificar todos os males cometidos ao longo de décadas.
Os arquitectos só há poucas décadas se estabeleceram como profissão reconhecida com peso social e político. Na sua necessidade de afirmação, procuraram remeter os engenheiros para um papel de mera especialidade técnica, tomando-os como autênticos “desenhadores dos cálculos” e desvalorizando a mais-valia do seu saber. O urbanismo foi-se tornando monopólio dos arquitectos que tomaram o espaço do engenheiro e também o espaço ainda vazio dos arquitectos paisagistas.
Recentemente os paisagistas têm vindo a conquistar o seu espaço e afirmar-se fazendo valer a forma abrangente como a sua disciplina compreende a cidade e a sua integração no território em larga escala, sendo igualmente sensíveis ao tecido interno e orgânica da cidade. Na necessidade de conquistar o seu lugar, os paisagistas muitas vezes querem reduzir os arquitectos como especialistas em fazer prédios, que por isso não deveriam pôr o pé fora dos seus polígonos de implantação.
E estão já chegando os urbanistas que nos explicam que a situação de caos urbanístico que se vive em Portugal é culpa dos engenheiros civis e dos arquitectos, assim mesmo. Na Proposta de “Projecto de Lei” sobre a profissão, a prática e a formação do Urbanista, produzida pela APROURB, escreve-se que os urbanistas procedem, à elaboração dos planos (sob a forma de desenho), que contempla o volume dos edifícios, as vias de comunicação, os espaços verdes e os terrenos destinados à habitação, ao comércio, à indústria e aos equipamentos sociais. Tranquilizam-nos no ponto seguinte, assegurando que dada a inter-relação com outras áreas profissionais, muito do seu trabalho é realizado em equipas interdisciplinares compostas, para além dos urbanistas, por geógrafos, arquitectos paisagistas, engenheiros do ambiente, arquitectos, economistas, sociólogos, arqueólogos e historiadores, entre outros, pelo que deve poder assegurar funções de mediação e de coordenação. Curiosa, mas não inocente, a ausência de referência ao engenheiro civil.
Apesar de ser caricatura, o que escrevi não anda longe da forma como se fazem as coisas no nosso país. Enquanto os vários intervenientes da área se entretêm em guerras de alecrim e manjerona o urbanismo continua a produzir-se segundo os mesmos velhos paradigmas e a mesma insensibilidade técnica que sempre o caracterizou. O problema, claro está, é que o urbanismo resulta de uma conjugação de saberes e não de um mero agrupamento de técnicos de mentalidade mono-funcional.
A desvalorização da cooperação neste processo resulta de uma coisa muito simples: ignorância. A incapacidade de cada um compreender a urgência do saber dos outros; de que cada vez que olhamos o problema por um diferente ponto de vista técnico vemos coisas diferentes e encontramos necessidades diferentes.
Em boa verdade, no desenho urbano a própria criatividade não resulta tanto do talento individual mas da capacidade adquirida para resolver problemas muito diversos. O urbanismo resulta de fazer as perguntas certas que permitem obter a visão global e começar a identificar as soluções. Nesse processo, a criatividade é a faísca que dá vida aos elementos brutos, quando elementos antes desconexos da pesquisa e inventório começam a tomar forma e revelar padrões. Quando tudo parece tomar forma e começa a fazer sentido, maravilhamo-nos com a sua simplicidade: a solução tinha mesmo de ser assim; mas para lá chegar são precisas muitas reformulações que ocorrem para conjugar as diferentes prioridades que sobre ela actuam.
A criatividade em urbanismo não resulta assim da prática de uma qualquer arte misteriosa ao alcance de indivíduos superiores. Na verdade, e especificamente em desenho urbano, o acto de ser criativo é o processo de fundir os objectivos de um programa com um conjunto de ideais fortes e os constrangimentos das condições existentes. Em urbanismo, como na natureza, a floresta não é apenas um somatório de árvores mas o fruto de muitas interacções e de frágeis equilíbrios que demoram sempre muito tempo a desenvolver.
Construir comunidades
A nossa sociedade tem a capacidade tecnológica e financeira para promover a urbanização de vastas áreas em curtos períodos de tempo. Conseguimos hoje urbanizar em dez anos áreas equivalentes às que antes demoravam séculos a crescer.
A compreensão deste facto devia incutir-nos uma grande responsabilidade. Desejamos que as novas extensões de cidade retenham o mesmo sentido de humanidade, de vivência, de comunidade, que aquelas partes de cidade que se foram consolidando lentamente. Mas isso não acontece por acaso. Para que a cidade nova crie novas centralidades, mantenha carácter e coesividade, é necessário que exista uma intenção que a promova desde o início.
O nosso modelo de planeamento urbano assenta no carácter centralizador do Estado. Independentemente do facto de isto trazer aspectos positivos e outros negativos, a realidade é que esta é a nossa referência de como se produz espaço urbano em Portugal. Um dos problemas que resultam deste sistema é que, em grande parte, ao privado cabe apenas o papel de ser um optimizador do seu espaço particular, e quase sempre essa optimização é financeira e nada mais. O Estado pode queixar-se disso, mas a verdade é que o sistema que criou (legislativamente e no seu modo de operar) deixa pouco espaço à participação do privado e é pouco aberto à interacção com as diferentes forças vivas da comunidade.
Apesar de tudo, existem movimentos que tentam contrariar esta falta de dinâmica. Os processos da Agenda Local (para o desenvolvimento sustentável, ou Agenda 21) são exemplos de novas doutrinas e novas mentalidades na forma de actuar na gestão dos diversos assuntos importantes para a colectividade. Mas esses processos são ainda minoritários e por vezes usados apenas para promover a ideia de que se está a fazer algo, do que para o fazer realmente. Ao nível do urbanismo, a metodologia das agendas locais ou a participação cívica não só não tem tradição em Portugal como se conhecem poucos exemplos de boas práticas que daí tenham resultado.
O tecido da cidade é assim produzido à medida das obrigações legais e não resultado de uma visão planeadora com finalidade global. A doutrina que resulta desta mentalidade é que a legislação definida para os mínimos aceitáveis se torna uma norma de projectar. Se a rua mínima é de 6 metros, a rua será de 6 metros. Se o passeio mínimo é de 2.25 metros, o passeio será 2.25 metros. Promove-se assim um urbanismo e uma arquitectura dos mínimos, e não da qualidade e da excelência.
É necessário romper com esta mentalidade, e fazê-lo de uma forma assertiva. É necessário dramatizar este problema, que o urbanismo tem de resultar de uma visão que o sustente. Que deve promover o sentido da comunidade. O território da cidade não é um lugar abstracto que resulta da aplicação de determinados índices de ocupação. É antes o tecido de uma realidade sociológica que deve ser valorizada e protegida.
Para que a comunidade possa, de facto, acontecer.
Começar pela comunidade
Um dos aspectos mais negativos da sociedade urbana é a tendência para produzir não-lugares. O fenómeno de não-lugar (placeless-ness) é uma definição criada para realidades fisicamente descaracterizadas sem traços de comunidade ou vizinhança e por isso hostis à vida humana. Um exemplo disto são as estradas suburbanas de vias múltiplas que conduzem a grandes superfícies comerciais ou a zonas residenciais periféricas. Outro aspecto igualmente importante é a irrelevância do indivíduo no contexto das grandes concentrações populacionais: a solidão no meio da multidão.
Á medida que a qualidade de vida nestas zonas se vai deteriorando com a congestão rodoviária, a criminalidade ou o aumento do custo de vida, as cidades pequenas ou de média dimensão começam a ser vistas como alternativas desejáveis, ainda que esse ímpeto seja motivado por uma visão culturalmente idealizada da vida fora da grande cidade.
As cidades pequenas podem oferecer uma alternativa real à vida dos grandes centros. Mas a realidade é que, para as pequenas comunidades, se levantam os mesmos problemas das cidades maiores. Independentemente do seu tamanho, ela tem de providenciar os mesmos serviços e equipamentos para promover a segurança e a saúde dos seus cidadãos, e tem de desenvolver recursos económicos para suportar esses serviços e estruturas.
As cidades pequenas podem parecer ter menos problemas, mas também têm menores recursos para lidar com eles: menos pessoal, menor orçamento, menos capacidade técnica; que afectam principalmente as áreas financeiras e de planeamento.
Para fazer frente a essas desvantagens, elas têm de procurar canalizar as capacidades da comunidade para promover o dinamismo social e económico. Para isso é preciso interiorizar que o mais importante recurso local são, na verdade, os seus próprios residentes.
Sidewalk, o passeio americano
Na génese do urbanismo americano, o passeio (sidewalk) ocupa um papel importante que está intimamente ligado ao conceito de comunidade. O troço não pavimentado e lamacento das vias destinado aos veículos não era lugar para os habitantes. Passadiços limpos e seguros na berma da rua providenciavam um caminho seguro para o percurso dos pedestres. As áreas residenciais aninhavam-se próximo dos lugares de trabalho e comércio porque, para a maioria das pessoas, caminhar era a principal forma de transporte.
Mesmo com a chegada do comboio entre as cidades e, mais tarde, dos eléctricos urbanos (streetcars), o caminho pedonal continuava a ser o modo primário de deslocação no início e fim dos percursos.
Ainda que os veículos eléctricos tenham dado origem a pequenos subúrbios, a maioria das casas continuava a aconchegar-se em pequenos quarteirões próximos da paragem do eléctrico. Os passeios providenciavam o meio de acesso da casa ao transporte. Assim, e até ao aparecimento do automóvel, as cidades americanas eram geralmente compactas na forma e davam resposta às necessidades dos pedestres.
À medida que as cidades se foram tornando mais dependentes do automóvel, o passeio foi gradualmente perdendo importância até desaparecer completamente de muitos desenvolvimentos suburbanos. Vários factores determinaram esta realidade. Em primeiro lugar, as zonas residenciais foram-se tornando cada vez mais isoladas das áreas comerciais, parques ou escolas e lugares de trabalho. O carro tornava-se a forma dos cidadãos chegarem a todo e a qualquer lado. Em termos práticos, onde anteriormente fazia sentido caminhar três ou quatro quarteirões (cerca de 400 metros) para uma escola próxima, loja ou parque, nesta nova realidade esses equipamentos e serviços encontravam-se agora a vários quilómetros de distância.
Por outro lado, o automóvel permitia criar zonamentos habitacionais com dimensões muito maiores. Como resultado a instalação de um passeio nessas zonas extensas tornava-se demasiado dispendiosa. Finalmente, era a própria tipologia residencial resultante desta lógica de ocupação do território que desencorajava a actividade pedonal.
Temos assim que antes da Segunda-Guerra Mundial, o passeio era um componente essencial no desenvolvimento da comunidade e dos bairros habitacionais. Depois da guerra o desenvolvimento suburbano tornava as áreas residenciais cada vez mais afastadas dos serviços, e os passeios foram perdendo a sua importância no desenho urbano.
Nos Estados-Unidos, a constatação deste fenómeno deu origem a um movimento particular chamado New-Urbanism, ou um retorno aos valores tradicionais de um urbanismo voltado para uma lógica de comunidade. Os passeios foram reconhecidos novamente como um elemento fundamental ao funcionamento social da vizinhança.
A tipologia do passeio americano resulta de uma lógica funcional e muito económica. Em primeiro lugar, o trajecto pavimentado (geralmente em betonilha esquartelada) afasta-se da via automóvel, dando lugar a um espaço destinado à plantação de árvores de sombreamento. Essas árvores protegem a faixa automóvel mais junto à berma, geralmente destinada a estacionamento.
Por outro lado, uma pequena faixa separa o passeio do início do lote. Esta área usualmente plantada e não pavimentada, serve para passagem das infra-estruturas, tornando as intervenções futuras muito mais económicas.
Por fim, o início do lote privado não corresponde ao início da construção, mas sim à vedação que separa o domínio público de uma zona tipologicamente semi-privada que favorece uma extensão visual da rua.
Ainda que esta tipologia de rua não tenha paralelo no contexto do urbanismo do sul da Europa, não deixa de ser interessante pensar nas preocupações culturais que lhe estão subjacentes. Não pretendo fazer aqui uma análise sociológica de aspectos particulares do urbanismo americano. A suburbanização urban-sprawl deu origem a apropriações de linguagem urbana que resultaram como verdadeiras caricaturas de uma ideia perversa de sociedade perfeita. No entanto, na sua origem e tipologias, o urbanismo americano responde a valores de comunidade e integração social muito racionais e igualitários. E a pergunta que deixo no ar é se o nosso urbanismo, como está regulamentado nos planos locais e na legislação nacional, responde a alguma visão social sobre a “rua”, o “passeio” ou a “comunidade”? Se, bem ou mal, temos em Portugal alguma doutrina urbanística que dê resposta a uma ideia de sociedade, ou se a lógica miserabilista do muro-passeio-rua-passeio-muro é apenas o eco da nossa intrínseca pobreza cultural, no que ao urbanismo diz respeito?
[fontes e imagens: J.J. Fruin, Pedestrian Planning and Design, Metropolitan Association of Urban Designers and Environmental Planners, New York; J.H. Allen, "Engineering Pedestrian Facilities" in Getting There By All Means: Interrelationships of Transportation Modes, 8th International Pedestrian Conference]