Escola: o fazer de um lugar

Para ir um pouco mais longe na reflexão sobre novas abordagens na área da arquitectura escolar recomendo uma leitura aprofundada de alguns textos de Jeff Lackney, um arquitecto especialista em psicologia ambiental. No documento Teachers as Placemakers são apresentadas algumas questões prévias importantes na relação entre o espaço construído e o processo de ensino. Refere-se que aspectos tão simples como a temperatura da sala de aula, a iluminação e a qualidade do ar parecem ter efeitos sobre a aprendizagem. Adicionalmente, a limpeza, a arrumação e as características transmitidas pelo ambiente da escola são identificadas pelos professores como tendo influência sobre o comportamento dos alunos. A própria organização do mobiliário ou a distribuição dos espaços dentro da sala podem fazer beneficiar em grande medida o sucesso da missão do professor.

Podemos observar o elaborado nível de preocupações tidas em conta na concepção de espaços escolares num outro documento intitulado Twelve Design Principles Based on Brain-based Learning Research. Entrando já no domínio das neurociências, estabelecem-se diversos princípios sobre a relação próxima entre espaço e comportamento. Ambientes ricos em estímulos, na cor e na textura; criação de “lugares” para diferentes formas de socialização; valorização de ligações entre espaços interiores e exteriores; simbologia e sinalética; diversidade de espaços e funções – permitindo tanto a convivência como a reflexão e a introspecção – são apenas alguns dos aspectos importantes a ter em conta. Lackney exprime preocupação pela existência de escolas baseadas num conceito homogéneo e inexpressivo, reforçando a necessidade de incorporar a complexidade e a flexibilidade para acomodar um conjunto diverso de processos de aprendizagem.

O próprio autor refere alguma prudência no modo como estas pesquisas devem ser incorporadas, reconhecendo que a neurociência é uma especialidade extremamente recente e por isso mesmo justificando um trabalho continuado de pesquisa. Mas a base de conhecimentos e princípios que se expressam são demasiado evidentes para continuarem a ser desprezados. Sublinha alguma frustração no modo como alguns especialistas da área de ensino “falam a linguagem” mas persistem na prática na utilização de metodologias antigas.
Tomaria a liberdade de prolongar esta preocupação para o modo como arquitectos assumem a concepção de equipamentos escolares. Em Portugal bastará consultar alguns projectos-tipo – ainda divulgados por entidades da área da Educação – e ver como os correctos pressupostos enunciados na teoria não têm a mais pequena correspondência com o objecto construído, onde afinal esses princípios deveriam tomar forma.

Na sua conclusão Lackney refere a necessidade de adoptar o conceito do “fazer de um lugar”, em oposição ao mero desenho dos seus espaços. O que em arquitectura significa ir além do ambiente físico para enquadrar a dimensão social, organizativa, pedagógica e emocional. Um trabalho que devia desafiar modos de operar pré-definidos ou tipificados para abraçar uma interacção disciplinar fértil, tanto na definição de princípios teóricos como na sua realização prática. As mais bem intencionadas ideias não servirão, caso contrário, nem para nada nem em benefício de ninguém.

2 comentários:

  1. Daniel,
    antes de mais, parabéns pela leveza da nova imagem, com a densidade de conteúdo habitual.
    E obrigado por estes artigos sobre escolas: demasiadas vezes se esquece que os espaços têm destinatários — pessoas reais, em lugares concretos.
    António Carvalho

    ResponderEliminar
  2. Parabéns pela criação e desenvolvimento!!!beijos!!

    ResponderEliminar