A Parque Escolar é um instrumento financeiro criado pelo anterior governo. Beneficiando da sua personalidade jurídica de tipo empresarial, distinta da das administrações públicas, o governo pôde promover um dispendioso programa de investimento na área da construção civil e contrair uma grande dívida financeira fora das malhas do Orçamento de Estado.
Assim, porque antes de 2011 os critérios do Eurostat não contabilizavam as dívidas destas entidades empresariais, o volume de endividamento contraído pela Parque Escolar não figurava nem no défice orçamental nem na dívida pública. Mas as suas dívidas, que poderão ascender a valores próximos dos três mil milhões de Euros, são bem reais e terão de ser pagas pelos cidadãos. Como?
É simples. Para além de estar encarregue pela promoção das obras, a Parque Escolar fica igualmente responsável pela gestão das escolas intervencionadas. Na prática, a P.E. fica “dona” das escolas e as entidades escolares passam a pagar uma renda à Parque Escolar. Em 2011 o valor pago pelas escolas à Parque Escolar foi de 50 milhões de Euros, segundo dados da comunicação social.
Estas “rendas” são, em boa verdade, as prestações da dívida contraída pela Parque Escolar, que passam assim a ser pagas enviesadamente pelo Estado através do orçamento do Ministério da Educação.
Para lá de tudo isto, a Parque Escolar foi um exemplo de más práticas de gestão e corre o risco de se tornar num case-study de insustentabilidade energética e orçamental (ver programa Biosfera: Parque Escolar parte 1 e parte 2). Seria interessante saber quanto custou, por aluno, cada uma das escolas construídas ou intervencionadas ao abrigo deste programa. Mas acima de tudo seria desejável que se tirassem conclusões sobre o que se andou a fazer com o dinheiro público nos últimos anos e se começasse a pensar em como vamos gerir este monstro financeiro que entretanto andámos a edificar. Afinal, enquanto a cultura de gestão não mudar, será apenas uma questão de tempo para que um dia voltemos a fazer mais do mesmo.
Adenda: A missão que está atribuída à Parque Escolar – reabilitar e modernizar os edifícios escolares – não carece da existência de uma qualquer entidade pública empresarial. Trata-se de um trabalho que poderia ser dirigido por uma equipa integrada num ministério com competência em obras públicas, desde que para isso estivesse dotado dos devidos meios técnicos e humanos. E isto é tão verdade que a própria P.E. não faz mais do que ser uma entidade adjudicatária, entregando a empresas externas não apenas o projecto e a construção das obras mas também a sua fiscalização.
O que uma entidade integrada no Estado nunca poderia fazer era criar uma dívida da ordem dos milhares de milhões de Euros e isso não figurar nas contas do défice e da dívida pública. Hoje sabemos bem quem andava o país a enganar com isto, por onde andam os responsáveis por estas políticas e quem está a pagar a factura. Enquanto em Portugal for possível gerir o dinheiro público desta forma e disso não decorrerem responsabilidades de âmbito criminal nunca seremos um país à altura de se considerar Europeu. E de pouco valerá fazer queixas sobre a “senhora Merkl”.
E na Alemanha também não se fazem escolas desta maneira.