A casa marcada
As siglas poveiras são uma forma de escrita antiga utilizada pelo Poveiro – nome dado aos habitantes da Póvoa do Varzim – em particular pelos membros da comunidade piscatória. São marcas de origem milenar usadas para assinalar barcos ou outros bens, geralmente cravadas a navalha na madeira ou, em alternativa, pintadas na superfície das casas ou em barracos de praia. Sendo utilizadas para identificar a propriedade familiar eram passadas de geração em geração e evoluíram em novas combinações ao longo do tempo.
São estas siglas que serviram de motivo ao arquitecto José Cadilhe, inspirando-se naquela grafia para conceber a imagem exterior da Casa 77. O trabalho não é uma novidade; passou pela blogosfera de arquitectura mundo fora há quase um ano. Ficou também guardado, talvez um pouco perdido, na minha pasta de rascunhos mas é um daqueles projectos a que gosto de regressar e que não desmerece um segundo olhar. A voragem da divulgação pode ser afinal cruel e nem sempre damos a devida atenção à novidade do momento.
Este blogue subscreve o uso de gatos na fotografia de arquitectura. :)
Olhemos então de novo para aquela fachada-ecrã em painéis perfurados de aço. São painéis móveis, verticais, que abrem e rebatem para imprimir uma mobilidade pouco usual numa fachada, em especial num contexto urbano consolidado. Aquela peça insólita confronta-nos abertamente com a questão da integração no ambiente urbano. Não há ali mimetismo mas, ao mesmo tempo, não existe confronto estridente. A casa está ali afirmando a sua nova face no meio da vizinhança, mas retêm a proporção vertical no todo e na métrica individual dos painéis, preservando o ritmo e a continuidade daquele conjunto.
José Cadilhe, dIONISO LAB: Casa 77, Póvoa do Varzim, Portugal, 2010.
Fica a ligação para esta pequena casa urbana de lote exíguo, para ver, ou rever, no Últimas Reportagens.
Architecture: José Cadilhe, dIONISO LAB.
Photography: Fernando Guerra FG+SG.
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