Para perceber um pouco mais da mecânica por detrás dos grandes desígnios do Estado no sector das obras públicas, com um destaque muito particular ao caso da Ota e também do TGV, recomendo urgentemente a leitura da entrevista de Fernando Nunes da Silva à revista Arquitecturas (Nº5, Outubro 2005).
Em poucas páginas, este professor catedrático do Técnico na área do urbanismo e dos transportes disseca as lógicas que dirigem as grandes tomadas de decisão política. Nas entrelinhas está um país refém de lóbis que enriqueceram à custa da completa vampirização de um Estado invertebrado que se demitiu de exercer o seu papel. Eis-nos nas mãos de um sistema político-partidário mais interessado em favorecer determinados grupos económicos do que em construir estratégias integradas de governação e desenvolvimento.
Esta história que passa pela Expo, segue pelos Polis e pelas Capitais da Cultura, com visita privilegiada ao Euro, promete agora continuar para a Ota e para o TGV. O problema, claro está, não é a falta de justificação para que se realizem certos empreendimentos de escala nacional, mas a forma enviesada como se dirigem fundos brutais em direcção a conclusões pré-concebidas por partes do tecido empresarial que não está sujeito ao escrutínio democrático.
Desiludam-se aqueles que pensam que os termos que aqui utilizo são de um qualquer radicalismo de esquerda. Este problema existe e é real. A falsa ligeireza assente na decisão do governo em prosseguir sem dúvidas para a Ota mostra bem que as rodas dentadas dos lóbis continuam a trabalhar indiferentes à situação financeira do Estado.
Não importa aqui se os futuros governos vão ser mais socialistas ou liberais. Importa é perceber que salvar um país a saque com as velhas receitas do défice é o mesmo que querer tratar de um cancro com mezinhas.
A discussão destas coisas, evidentemente, não passará pelos telejornais.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
"vampirização de um Estado invertebrado"
ResponderEliminarBravo!
Nossa ... parece até que estou lendo algo sobre o Brasil...
ResponderEliminarMuito embora esteja de acordo, o problema não está nos empreiteiros mas sim no sistema.
ResponderEliminarOs empreoteiros pagam campanhas e beneficiam (financeiramente) politicos. O estado "invertebrado" é que não reage ao mensalão instituido...
Não falei em empreiteiros. Falo certamente dos grandes grupos da área da construção e de sectores da banca, em associação com empresas de sectores específicos. Falei aqui dos transportes por via da Ota - e esqueci-me de referir as Scuts por exemplo. Mas poderíamos falar de muitos outros sectores. Vejam o caso da energia. Que tipo de parcerias é que pensam que estão a promover a construção de parques eólicos. Ah, pois é, são os suspeitos do costume.
ResponderEliminarinfelizmente os que governam são já eles mesmo parte da horda de saquedores...
ResponderEliminar