[contra o aborto somos todos]

Sexta-feira

[este texto foi inicialmente escrito como comentário no blog Murcon de Júlio Machado Vaz]

O verdadeiro confronto que existe na questão do aborto é entre aqueles que vêm a questão sobre um ponto de vista ideológico e os que a olham de um ponto de vista pragmático. Para os primeiros trata-se de um problema de civilização e de princípios, o que atira o debate para um patamar de quase indiscutibilidade. Para os segundos é, antes de mais, um problema da realidade social, sendo nesse plano que se deve encontrar a resposta ao mesmo.

Defendo que, acima de tudo, é importante que os que advogam a criminalização desçam do pedestal dos ideais e dos princípios civilizacionais onde se pretendem colocar e venham para a realidade. Onde mulheres chegam aos hospitais com sangramentos e consequências terríveis por recorrerem ao aborto clandestino e ainda são maltratadas (e agora perseguidas) por isso. A realidade que faz de nós o país europeu com maior taxa de gravidez na adolescência. Que faz de nós o país com maior incidência de novos casos de HIV da Europa.
Venham então para esta realidade, que é aquela onde vivemos, e venham falar do significado de expressões como “direito à vida”. Porque “contra o aborto” somos todos. O que não vale é defender a educação sexual como argumento contra a descriminalização, e no dia depois do referendo meter a educação sexual na gaveta porque também é tabu. Porque isso não é defender a civilização, é defender a mentira.

Que consolo podem encontrar os que defendem a actual lei, como a que melhor serve essa superior visão civilizacional, se depois vivem na pior realidade europeia. Dá vontade de perguntar: então mas se a lei é tão boa tão boa tão boa, porque é que isto não presta?!

O aborto deve ser combatido, não pela prisão, mas pela cultura, pelo esclarecimento, pela promoção de uma educação sexual integrada numa educação para a saúde, e porque não dizê-lo, numa educação para a cidadania. E nunca esquecer que “informação” não é o mesmo que “conhecimento” que também não é o mesmo que “sabedoria”.

[o fim do mundo, outra vez]

Sexta-feira

No Peak Oil News. E não, desta vez não é a brincar!

[rav'ormance: é hoje, é hoje]

Sexta-feira

Para celebrar o Dia Mundial da Dança 2005 a RAV'ORMANCE organiza um grande evento de festa e muita música. É logo à noite a partir das 23 horas no CLUBE ESTEFÂNIA, Rua Alexandre Braga 24ª em Lisboa. Vá pessoal, toca a telefonar aos amigos e a enviar SMS. Não faltem à festa!

[liberabilismo]

Quarta-feira



Escrevem-se muitos disparates na internet e talvez este texto do Blasfémias - Liberalismo E 25 De Abril - seja apenas mais um deles. Ainda assim, é difícil não ficar incomodado com o maniqueísmo e a baixeza intelectual do que ali se escreve. Em primeiro lugar percebe-se que não é do 25 de Abril que se está a falar, mas de processos de apropriação política de um momento da história já de si bastante mitificado. Em segundo lugar, que sentido faz comparar esse 25 de Abril de há trinta anos com o liberalismo actual, mesmo tolerando o exacerbamento ideológico do texto.

De todos os maniqueísmos, um há que é particularmente insultuoso: O liberalismo exige que o Estado seja responsável e o 25 de Abril debandou irresponsavelmente das antigas colónias, como bem afirmou, na altura, o historiador comunista António José Saraiva, e chamou a isso «descolonização». Em boa verdade e em nome da honestidade intelectual, é bom que se comece a perceber que o drama da descolonização começou no dia em que o regime não aceitou a insustentabilidade de manter o sistema colonial por via de uma guerra que não podia suportar – e pior que tudo, sabia-o desde o início. No dia 25 de Abril de 1974 já o país há muito deixara de ter estrutura para dirigir uma descolonização organizada, como fizeram os ingleses com a Commonwealth. E também daria pano para mangas discutir o modelo Commonwealth como verdadeiro modelo de descolonização, mas isso é outra conversa.

Não faz sentido colocar a História no banco dos réus, como não faz sentido ajuizar sobre processos bastante complexos e intrínsecos às contingências de uma situação histórica particular avaliando-os pelos padrões culturais do presente. Tão fácil como cobarde é moralizar do sofá ou do lado de lá de um teclado de computador a trinta anos de distância.

[world wind]

Quarta-feira



Ter o mundo literalmente na mão é o que a NASA oferece gratuitamente com este espectacular World Wind. O programa permite ver qualquer ponto do globo terrestre, fazer aproximações até um grande nível de detalhe e manipular o planeta para obter vistas tridimensionais impressionantes. De enorme valor técnico e didático, o World Wind actualmente na versão 1.3 é um software imprescindível.
Download gratuito aqui.

[atenção]
O ficheiro de instalação (download) tem 171MB. Após instalação, o programa ocupa 1GB (em modo normal) e tem como requisitos recomendados de sistema:
Windows 2000 ou XP;
Intel Pentium 3, 1 GHz, ou AMD Athlon ou superior;
256MB de RAM;
Placa gráfica 3D;
Internet por cabo ou ADSL;
2GB de espaço de disco disponível.

[rav’ormance: dia mundial da dança]

Clube Estefânia, 29 de Abril, Sexta-feira


[clique na imagem para ampliar]

RAV’ORMANCE
apresenta
Mila & Firmino’s Big Band
Bodas de faiança de “Nu Meio”
DIA MUNDIAL DA DANÇA
CLUBE ESTEFÂNIA, Rua Alexandre Braga, 24ª, 1150-004 LISBOA
DIA 29 de ABRIL às 23 horas.

Inserido no REDE em REDE - Celebrações do Dia Mundial da Dança 2005, promovido pela REDE – Associação de Estruturas para a Dança Contemporânea, a RAV’ORMANCE apresenta um grande evento de comemoração e festeja as bodas de faiança da coreografia “Nu Meio”, de Filipa Francisco e Bruno Cochat.
Dança, música, performance, um acontecimento ao vivo que reune muitos participantes e vários DJ’s pela noite dentro. A partir das 23 horas de 29 de Abril (sexta-feira), no CLUBE ESTEFÂNIA, Rua Alexandre Braga 24ª em Lisboa.

[lisboa 1956]

Quinta-feira

Muito curioso, este texto de Gérard Castello Lopes no La Force des Choses (scriptoriumciberico.blogspot.com/) re-publicado integralmente no Space And Culture da venerável Anne Galloway.

[adenda]
Fica a correcção devida: o texto é da autoria de CBS, autor do blogue, sob uma imagem de Gérard Castello Lopes. A Anne gostou. Eu também.

[comente sff]

Quinta-feira

O Blogger introduziu algumas alterações ao sistema de comentários permitindo abrir em janela “pop-up” e tornando mais fácil a sua utilização sem obrigação de registo prévio. Porque se trata de um sistema com melhor integração na página ponderei abandonar o serviço Haloscan, mas fui obrigado a reconhecer que está aí a maior parte do património de comentários do blogue. Assim, resolvi fazer apenas uma pequena correcção tornando o serviço de comentários Blogger como “recomendado” e deixando o Haloscan acessível para quem o queira utilizar.
Fica a informação aos interessados, estando aberto o livro de reclamações.

[a imagem da melancolia]

Quarta-feira



Um grupo de jovens músicos dá corpo a este belo consort de flautas, buscando as raízes da história para recriar um reportório escrito entre 1400 e 1700. Uma viagem no tempo é o que eles oferecem, pelos sons de um projecto fascinante que redescobre os encantos do melancólico sopro renascentista. Os mais curiosos podem ouvir algumas das suas interpretações na página audio do site oficial.

Para mais informações visitem A Imagem Da Melancolia ou contactem via email para aimagemdamelancolia@gmail.com.

Nota: em rodapé, uma piscadela de olho para a Inês. :)

[ter história]

Terça-feira

Eu nunca quis ser jovem. O que eu queria era ter história.

Estas palavras, escreveu-as Lina Bo Bardi no início do seu currículo. Relembro-as ao ler no Obvious uma reflexão sobre O Tempo E A Arquitectura.

A juventude traz consigo um poder imenso, o potencial de virar o olhar de pernas para o ar e ver de formas novas, criar contextos diferentes, reinventar. Triste ver cada geração, cada fornada de potencial humano, ser desacarinhada e não ser investida do melhor do nosso saber. Vivemos um falso culto da juventude, apenas mais um escalão de consumo, um target publicitário.
Para o falso culto, promove-se na juventude uma forma de arrogância ácida, a fazer esquecer a complexidade do mundo em que nos vamos instalar. E partimos para a vida cheios de motivação, ou não, como se tudo aquilo que foram dificuldades e obstáculos para outros venham a ser facilidades para nós, só porque somos jovens, só porque estamos cheios de atitude, cheios de nós próprios. Aos velhos, nada como uma boa dose de presunção de culpa para aliviar a consciência.

Informação, Conhecimento, Sabedoria. Uma discussão também ela velhinha com muitas respostas. E para a arquitectura, sem dúvida, o percurso de licenciado a verdadeiro arquitecto é longo. Coisas de velhos? Não diria, mas coisas para pessoas com substância lá dentro, com um caminho percorrido a ver, a querer e a saber ver.
Frank Lloyd Wright, o génio americano, tinha oitenta anos quando projectou o célebre Museu Guggenheim de Nova Iorque. Concebeu-o, disse-o pelas suas palavras, todo na sua cabeça, antes de colocar um risco no papel. O velho mestre, como um grande pianista que parte para as teclas sem olhar mais para elas, pensava arquitectura. Era a sua linguagem, e ele falava-a como quem fala sem pensar em gramática ou métrica, como algo que lhe está no sangue, ou para citar Damásio, nas vísceras.

[deslinkar]

Terça-feira

O Bruno Ebo (autor do blogue Aqui Entre Nós) questiona com alguma razão o meu critério de catalogação da barra de links e pergunta se a sua presença na lista não se trata de um engano.

A listagem de sites foi construída com alguns critérios mas não passa de uma colecção pessoal de favoritos: páginas que gosto de visitar regularmente, outras que já visitei algures e algumas ainda que ficaram à espera de tempo para as descobrir. No que aos blogues diz respeito, confesso, é onde a desorganização é maior. Fui juntando blogues de vários temas, formas e feitios ao longo do tempo; pessoas que me contactaram, outras que descobri por aí.
Perante a actual profusão de blogues portugueses, sinto uma enorme dificuldade em adicionar outros à lista, guardados que ficam na pasta de “potenciais” do meu browser. Na verdade, já tenho deslinkado alguns, essa coisa feia, especialmente aqueles que acabaram, ou que poucos motivos me davam para lá voltar. Mas ao Bruno, digo-lhe que mais depressa tirava o Abrupto da lista do que o Aqui Entre Nós ou outros ilustres desconhecidos da blogosfera. Também eu navego nesse limbo, lançando folhas no deserto deste espaço que, como o Bruno, vou construíndo a pouco e pouco.

Nova página.

[descubro-te]

Terça-feira



O melhor post de sempre da blogosfera portuguesa. Palavras na fronteira de um corpo, sentido na ponta dos dedos, no fundo de um peito cheio de verdade do que somos. E porque é arte. Agridoce. Sabor A Sal.

[fernando guerra]

Segunda-feira



Arquitecto e fotógrafo de grande talento, Fernando Guerra dá a conhecer um percurso por entre belos momentos de arquitectura e de vida; olhares para lá da forma das coisas, à procura da sua profunda essência. Arquitectura, Interiores, Design e Pessoas, quatro motivos para descobrir um trabalho de grande sensibilidade, passeando numa página de qualidade irrepreensível.

[imagem: Casa Alentejo, arquitecto Aires Mateus, fotografia de Fernando Guerra]

[knopfler]

Sexta-feira



É hoje à noite no Pavilhão Atlântico. Eu vou lá estar para duas horas de bajulação e histeria colectiva. Mark Knopfler, ex-líder superstar dos Dire Straits, sultão do swing, abandonou a imagem estabelecida do herói da guitarra para seguir o seu percurso pessoal, límpido, de referências country e um grande amor pela sua Stratocaster.

[adenda]
Cabelo curto e grisalho, óculos, camisa branca por fora das jeans, boa disposição e uma respeitável colecção de guitarras. Mark Knopfler abriu o livro para um concerto fenomenal que começou às 21.30 e durou bem para lá da meia-noite. Três horas de música total, a qualidade e variedade de arranjos, uma abordagem informal, a pureza de um evento todo à base de música, por vezes cheio de intimismo, outras de uma potência arrebatadora a fazer esquecer a idade dos homens no palco.
Começando em Why Aye Man e percorrendo a história de Knopfler, ouviram-se temas dos seus discos a solo e muitas, muitas músicas dos Dire Straits. Houve um pouco de tudo para todos, se bem que alguns dos seus belos temas se tenham perdido numa sala mais voltada para matar saudades do que para apreciar os seus últimos trabalhos (que dizer do belíssimo Rudiger, perdido numa plateia um pouco distraída).
Para os olhos e ouvidos mais atentos, foi uma noite inesquecível. A presença de um grupo de homens amadurecidos, sem exibicionismos e com muita presença de palco, abençoou os presentes com uma lista de músicas sensacional. A lembrar: Why Aye Man, Walk Of Life, What It Is, Sailing To Philadelphia, Romeo & Juliet, Sultans Of Swing, Done With Bonaparte, Song For Sonny Liston, Donegan’s Gone, Rudiger e Boom, Like That. Para o encore, só Dire Straits: Telegraph Road, para trazer a sala abaixo, seguida de um silêncio religioso ao som de Brothers In Arms, depois o arrebatamento de Money For Nothing e um final em grande com So Far Away. O concerto termina com o tema do Local Hero (Wild Theme), Mark Knopfler na frente do palco, guitarra e um acompanhamento discreto de teclas. O cenário enche-se de estrelas sobre um fundo azul-negro para uma despedida memorável, um largo sorriso e a guitarra estendida, lá no alto. (2005-04-05)