Este texto foi publicado no Jornal Arquitectos #240.A CHUVA QUE TARDA EM CHEGAR
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Com que sentido enunciamos palavras como independência, liberdade ou outros ideais tão queridos da geração pós-Maio de ’68, neste Portugal contemporâneo? Reconhecemo-los enquanto valores matriciais da nossa experiência democrática? Ou antes como meras expressões para preencher, à boca cheia, o vazio de retórica?
Portugal, hoje detentor de um estado massivo e uma desconfiança generalizada para com a actividade individual, apresenta-se no contexto europeu como um dos países mais adversos ao investimento e à criação de emprego, incapaz de conter o crescimento do endividamento público e privado.
Como pode uma nova geração, herdeira destes e de tantos outros problemas, sonhar com esses valores com que outros se arrogaram construir uma existência. Como podem os próximos portugueses ousar a independência, saindo de um sistema educativo arcaico, completamente alheado das necessidades da vida privada.
Serão as nossas faculdades de arquitectura lugares generosos, empenhados em investir os seus alunos com o conhecimento, a humildade e a consciência que conduzam o futuro das suas vidas? Em boa verdade, vejo muitos desses jovens dotados de um certeiro domínio da linguagem da profissão, dirimindo a retórica dos
volumes,
paramentos,
embasamentos, como se de movimentos de esgrima se tratassem, para com eles exprimir banalidades. A linguagem é o último reduto da falência universitária pós-massificação, espécie de testemunho ritual identitário em que todos, e em particular a crítica, se parecem enquistar.
Também eles correm o risco de submergir na espessa nuvem de estado e corporativismo que asfixia a democracia em Portugal, hoje um dos países mais desiguais da Europa. A visibilidade e o sucesso persistirá para aqueles que, tal como hoje, se consigam estabelecer nos fios condutores dos laços familiares, das instituições académicas, das estruturas políticas, das ordens profissionais. Portugal arrisca-se, por fim, a ter como maior exportação o seu próprio povo, fugindo em busca de emprego e da promessa de uma vida impossível de construir aqui mesmo. Em busca, talvez, de um sonho chamado independência.
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Numa das suas belas palestras sobre educação Ken Robinson fala do seu fascínio pelo Vale da Morte. Naquela extensão árida do Deserto do Mojave, na fronteira entre a Califórnia e o Nevada, quase nunca chove e nada, absolutamente nada, cresce. O milagre aconteceu na improvável Primavera de 2005, quando a chuva abençoou o vale fazendo brotar uma vastidão infinita de flores de muitas cores estendendo-se até ao horizonte. O fenómeno atraiu milhares de pessoas que quiseram testemunhar o aparecimento de vida num dos territórios mais inóspitos do planeta. O Vale da Morte, afinal, nunca estivera morto, antes adormecido à espera de condições que fizessem nascer as sementes cravadas nas profundezas da terra, onde o calor mortal não chega.
Urban space is often a stage for all kinds of conflict and tension, from the desire to promote a participated built environment to the respect for private initiative, between a sense of authorship and the expectations of the public towards the landscape that they inhabit. And here we recognise a project that represented a conflict for its own architect, as we can sense from Byrne’s concerns regarding the demolition of the previous building and the many urban and typological constraints that were pre-imposed to his design.
To propose an architecture of urban dimension is to negotiate, so often, contradictory interests and relationships, of connection and segregation, privacy and public life. Such endeavour calls for a driving urban critical vision, establishing diversity and functional intensity and still exercise its own sense of individuality. And maybe we should learn from the solemn attitude of Gonçalo Byrne who challenges us beyond the easy approach of a recognisable personal aesthetics.
The new Estoril-Sol is a building that defies tradition to propose new possibilities, a renewed experience of place. It’s a distinctive landmark that emphasizes its visual importance and sense of hierarchy. This is a compact hybrid of infrastructural nature and dimension, a dominant figure over the landscape. Harmonious or contrasting, this is an architecture that denies limitations of style or the representation or archetypes to suggest a critical sense of modernity.