A atribuição do Pritzker a Souto Moura gerou reacções curiosas entre blogues – ou, melhor dizendo, entre arquitectos bloggers – que nos deviam fazer pensar . Tentemos compreender o enfado presente desses desabafos, tanto mais que se manifestam enquanto oposição a uma retórica apologética sem substância muitas vezes presente no modo como a imprensa se debruça sobre o tema da arquitectura. Em Portugal a arquitectura torna-se invariavelmente notícia de uma de duas formas: ou enquanto caso de polícia – o mamarracho, o escândalo – ou como exercício de sublimação fútil. Tanto pior que a imprensa especializada parece dedicar-se a este último figurino com o deleite retórico habitual nos críticos, mais empenhados no acknowledgement perante os seus pares e em encher currículo do que em contribuir para uma reflexão profunda, interrogativa e assertiva, da contextualização da arquitectura no território mais abrangente da cultura, da economia, da política do nosso tempo.
Será, no entanto, importante não ignorar nestes desabafos em forma de post e comentário um sintoma mais grave de incompreensão do valor real das coisas e de ausência de uma cultura de reconhecimento do mérito do outro. Podemos afinal desmultiplicar a real significância do prémio com um pouco de bom humor, como fez recentemente Conrad Newel em Predicting the Pritzker. Os prémios falam-nos de quem os ganha mas também nos dizem muito sobre quem os atribui. O Pritzker vai conformando ao longo dos anos uma tendência institucionalizada para glorificar o modernismo nas suas diversas correntes e manifestações, de matriz académica acentuadamente Europeia.
Mas não podemos ignorar a sua relevância enquanto celebração de uma carreira perante os pares, bem como o impacto mediático que tem sobre a comunidade internacional e a sua vasta projecção no mundo online.
Lamentável é ver desmultiplicar o mérito próprio do premiado defendendo, entre outras coisas, que Souto Moura deve aquela consagração aos bons arquitectos de várias gerações que têm passado pelo seu atelier. Teses deste tipo evidenciam apenas um facto triste. Que o mérito que se é incapaz de reconhecer nos outros também tem correspondência no mérito que os outros nos reconhecerão no futuro. A nossa pobreza também passa por aqui.
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Achei merecido.
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