RECLAIM: REMEDIATE, REUSE, RECYCLE


RECLAIM: REMEDIATE, REUSE, RECYCLE is a new publication from a+t architecture publishers. This post is available in English (please scroll down to read).

RECLAIM: REMEDIATE, REUSE, RECYCLE é a mais recente edição da a+t magazine. Trata-se do título de abertura de uma nova série especialmente dedicada à analise de obras de arquitectura motivadas pela ideia de Re-acção; projectos que materializam a vontade de reclamar o território, manifestando uma preocupação com o contexto envolvente e um uso inteligente dos recursos disponíveis.
RECLAIM apresenta muitos exemplos interessantes de intervenções urbanas e periféricas conduzidas com sensibilidade e consciência cívica, desde pequenos gestos de reabilitação a grandes operações infraestruturantes. Os projectos são interpretados, comparados e classificados em três categorias: remediar - acções no território; reutilizar - acções em edifícios; reciclar - acções construtivas específicas, nomeadamente através da utilização de materiais existentes em novas associações e técnicas inovadoras.



3S Studio, Railway Transformation, Albissola, Italy, 2011. Image credits: Daniele Voarino.

Estamos assim perante um conjunto de exemplos que vai muito além de uma abordagem meramente conceptual do design para convocar o sentido de responsabilidade moral do papel do arquitecto, agora num contexto de constrangimentos financeiros e restrições orçamentais. São, por isso mesmo, projectos invulgares que não cabem em formulações convencionais do “restauro” e da “preservação”. Em alternativa, são muitas vezes propostas invasivas que se incorporam em estruturas pré-existentes, em alguns casos num explícito estado de decadência e ruína. Esta sobreposição é interessante e materializa uma intenção: uma prática emergente que compreende o design não como uma forma de “embelezamento” mas como processo para implantar função e presença humana em ambientes que se desejam plenamente vividos. Talvez estejamos, por isso, a testemunhar a génese de uma nova cultura arquitectónica consciente das suas limitações mas carregada de recusa pelos discursos paralisantes que se veiculam ao abrigo da austeridade.



Interbreeding Field, Shihlin Paper Mill, Taipei, Taiwan, 2010. Image credits: Interbreeding Field.

Uma vaga que começou com pequenos acontecimentos de guerrilha urbana, de pequena escala, alternativos e oportunistas, começa agora a estabelecer-se lentamente em práticas mais consolidadas. É, de certa forma, o abandono de uma ideia de disciplina isolada, para dar lugar a uma arquitectura enquanto expressão de cidadania activa. Todos estes projectos, grandes e pequenos, partilham o desejo comum de fazer mais com menos. Interrogam-nos assim com a possibilidade de uma arquitectura que exista para lá das formas excêntricas e do custo elevado dos materiais, para lá do desenho de assinatura e de uma qualquer validação oficial, e ainda assim abarcar todo o seu significado e ser decisiva no futuro das nossas cidades. Talvez estejamos perante aquilo que separa o passado do futuro: um paradigma em mudança em torno da própria noção de projecto, não mais uma trajectória contemplativa mas um processo para levar a cabo estratégias e acolher acções transformadoras no território da comunidade.




COMOCO, N10-II Sports Facility, Coimbra, Portugal, 2012. Image credits: Fernando Guerra.

Como sempre, a equipa editorial da a+t apresenta um trabalho de análise minuciosa de todos os projectos, discriminando os muitos processos em presença e identificando relações entre trabalhos semelhantes, sem perder de vista a importância das intervenções como um todo. Cada capítulo contém o contexto prévio do projecto, uma visão sobre as estratégias seguidas e uma apresentação detalhada dos resultados obtidos, através de imagens, desenhos e diagramas, tornando esta publicação não apenas num bom auxiliar de referências mas também uma boa ferramenta de estudo para arquitectos e estudantes. RECLAIM está disponível na loja online da a+t ediciones e tem portes gratuitos para Portugal.




Langarita Navarro, Matadero Music Academy, Madrid, Spain, 2011. Image credits: Luis Díaz Díaz.



Em2n, Schweingruber Zulauf, Letten Viaducts Refurbishment, Zurich, Switzerland, 2010. Image credits: Em2n.





Fabre/deMarien, LE 308, Bordeaux, France, 2009. Image credits: Stéphane Chalmeau.

RECLAIM: REMEDIATE, REUSE, RECYCLE is a new publication from a+t architecture publishers. This is the opening title in a new series specifically dedicated to the analysis of architectural works on the basis of Re-actions, projects that express an intention to reclaim the territory, manifesting a sense of care for the environment and an intelligent use of limited available resources.
RECLAIM features many interesting examples of architectural interventions conducted with conscience and civic awareness. The projects are interpreted, compared and classified under three main categories: remediate refers to processes that act on the territory; reuse is focused on buildings; recycle is about the use of existing materials through innovative construction techniques. Interventions range from small and specific rehabilitation gestures to wide infrastructural events.

These are not mere conceptual approaches to design but initiatives that call for a moral responsibility of the architect’s role in the context of financial constraints and budget restrictions. Therefore, these are unusual projects that don’t fit into the conventional ideas of “restoration” and “preservation”. Alternatively, they’re often invasive proposals that incorporate into existing settings and buildings in a very explicit state of decay and ruin. This superimposition is interesting and materializes an intent; a new and rising architectural practice that understands design as a means not to “beautify” but to install function and presence in a powerful and fulfilled human environment. So maybe we are witnessing the rise of a new design culture that is fully aware of its limitations but is also unwilling to compromise with the paralysis behind certain notions of austerity.

What began with small-scale, process-driven happenings is slowly making its way to become a more consolidated form of practice. This is, in a way, the abandonment of an idea of isolated discipline and the rise of architecture as an expression of active citizenship. All these projects, big and small, share a common desire to do more with less and the will to engage everyday spaces and everyday life. It seems, then, that architecture may survive without costly building materials, beyond signature design and official sanction, and still retain all its meaning and be decisive for the future of our cities. It just may be that this is what separates the past from the future: the changing paradigm of the very notion of project, from a contemplative individual journey to an active process for embodying strategies and nurture transformative actions in the community.

As usual, a+t’s editorial team makes an effort to analyze and dissect all the projects, discriminating the many processes involved in their making. This serves as a way to identify each action and to establish a relationship with similar works, not disregarding the importance of the interventions as a whole. Each chapter features the general background to the project, a view of the strategies followed and a detailed presentation of the results attained, through images, plans and diagrams, making it not only a great design companion but an excellent tool for architects and students alike.







Jansana, de la Villa, de Paauw, AAUP Jordi Romero, Turó de La Rovira, Barcelona, Spain, 2011. Image credits: Lourdes Jansana.

Alvenaria


Wang Shu, Ningbo History Museum, Ningbo, China, 2003-2008. Image credits: Fernando Guerra, via Facebook.

Talvez um autor seja alguém que nos fala sempre das mesmas coisas. Um escritor, um cineasta, um arquitecto, estabelece sempre uma relação com o mundo a partir dos seus próprios temas, do seu ponto de partida. Por isso, de certo modo, de cada vez que abordamos uma obra estamos a retomar uma conversação com a mesma pessoa e esse diálogo é sempre possível, agora e no futuro, como nos é possível reencontrar hoje a voz dos autores do passado.
Uma verdadeira sociedade do conhecimento será aquela que compreende o lugar da cultura enquanto diálogo, não apenas do presente consigo mesmo, mas com os que nos antecederam. O drama do presente reside na perda de contexto das palavras e das imagens, na trágica relativização de tudo. Se há um património a proteger são essas vozes que se lançam através dos tempos para falar connosco, nas páginas de um livro, nos frames de um filme, nas alvenarias de um edifício.

Imagens do Museu de História de Ningbo, projecto da autoria do arquitecto chinês Wang Shu, distinguido com o Prémio Pritzker em 2012. Fotografias de Fernando Guerra. Álbum completo disponível no Facebook.





A vida e o seu entorno

Quando aqui publiquei ontem a curta do Pedro Kok sobre a Marquise do Parque do Ibirapuera estava longe de saber que Oscar Niemeyer vivia as suas últimas horas. Porque nos parecem hoje diferentes estas imagens? Talvez porque agora nos lembram que por detrás das formas há a mão humana que molda o concreto e enche o inerte de espírito.
Oscar Niemeyer pertence a uma geração que viveu e construiu um tempo de que hoje parecemos irremediavelmente distantes. Um tempo em que a sociedade acreditou na força transformadora das ideias e na arquitectura como forma de construir mundo. Brasília é esse sonho desmesurado, tão falível quanto transbordando de humanidade, de um país inteiro fervilhante de vida e cultura.
Talvez por isso as curvas da arquitectura do grande mestre brasileiro nos pareçam hoje mais pesadas. Porque nos recordam que a arquitectura, assim como a política, é mais do que um conjunto de medidas.
A vida é um sopro.

Marquise sobre o parque



Marquise do Parque do Ibirapuera, São Paulo, Brasil, projecto de Oscar Niemeyer de 1954 filmado pelo fotógrafo brasileiro Pedro Kok. Recentemente restaurada, esta estrutura aérea estende-se por várias centenas de metros através do parque unindo edifícios e serve todos os dias de ponto de encontro para muitas pessoas, famílias, patinadores, skatistas e cidadãos solitários que ali se abrigam debaixo da cobertura.