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Alguém que começa e acaba o dia com uma máquina ligada ao coração. Com data marcada para uma operação que decidirá a vida inteira e onde, mesmo que tudo corra bem, não deixará de prevalecer a incerteza de tudo o que virá depois. Presumo que lhe reste uma de duas atitudes: ou se entrega à depressão ou brinca com tudo isto.
O Salvador parece ter escolhido a segunda opção. Estranha ironia que o reconhecimento do público, a celebridade e a fama sejam o destino desejado de quase todos os artistas, ou de todos nós. E ei-lo chegado tão jovem a esse lugar raras vezes atingido com a lucidez implacável que não deixa de assinalar o metrónomo que lhe auxilia o bater do coração.
Que estranho e mágico lugar deve ser a vida do Salvador Sobral. Que estranho lugar será esse, onde os dias mais felizes da tua vida podem ser também os piores dias da tua vida. Antes de brincar com a sua frágil humanidade cantava as palavras da Joni Mitchell, que estás no meu sangue como vinho sagrado, tão amargo, tão doce.
Hão-de existir sempre aqueles que estão prontos a ceifar os artistas num momento de vulnerabilidade. Não percebem que os artistas são aqueles que oferecem sempre o que têm de mais frágil, aquilo que todos os outros, todos nós, escondemos do mundo. Venham de lá as hordas indignadas, venham de lá com os vossos escândalos. São a espuma de coisa nenhuma.
O mar é lá longe.