Do the evolution
I’m ahead, I’m a man
I’m the first mammal to wear pants, yeah
I’m at peace with my lust
I can kill ’cause in God I trust, yeah
(...)
I’m at piece, I’m the man
Buying stocks on the day of the crash
On the loose, I’m a truck
All the rolling hills, I’ll flatten’ em out, yeah
It’s herd behavior, uh huh
It’s evolution, baby
(...)
I am ahead, I am advanced
I am the first mammal to make plans, yeah
I crawled the earth, but now I'm higher
2010, watch it go to fire
It's evolution, baby
Do the evolution
Come on, come on, come on
Pearl Jam: Do The Evolution, Yield, 1998.
Há uns tempos atrás falava-se no espaço de comentários de um texto anterior sobre o projecto dos holandeses MVRDV em Liuzhou. O complexo residencial encastrado num vale entre montanhas dá corpo a um curioso conjunto de células que se desenvolve sobre as encostas, envolvendo e reinventando a paisagem.
Regresso a este projecto porque me parece um bom ponto de partida para reflectir sobre os conflitos decisivos que pendem hoje sobre a disciplina do urbanismo e a extensão da sua contaminação arquitectónica.
Os MVRDV representam hoje, a par com nomes como Rem Koolhaas, Herzog & de Meuron ou Zaha Hadid, a referência de uma certa linha arquitectónica hipermoderna e vanguardista, debruçando-se nos limites das possibilidades tecnológicas para se constituir como campo de reflexão crítica sobre a experiência fragmentada do mundo global. Trata-se de uma forte corrente doutrinária que procura dar corpo a novas relações espaciais e sociais, que fogem às categorias tradicionais de definição do urbanismo e começam a conformar o que alguns definem como pós-urbanismo.
É curioso que os MVRDV apontem críticas à mediocridade da prática da arquitectura sustentada na imagem de marca autoral e ao arquitecto-celebridade. Curioso, digo eu, porque o reconhecimento que estas figuras encontram na sociedade, como carácter emblemático de uma certa avant-garde intelectual, se sustenta numa idêntica capacidade mediática provocadora, repetida e desinspiradamente alvitrada como anticonvencional. A responsabilidade por este fenómeno não é, provavelmente, devida aos próprios; que os mesmos media que celebram o feito sensacional sejam incapazes de compreender os processos que os sustentam. Mas não deixa de ser evidente que estes arquitectos sejam também eles hábeis manipuladores do meio e da mensagem, fundamentais ao seu sucesso comercial.
O aspecto mais importante de tudo isto é, no entanto, a forma como estas práticas vão dominando a doutrina e a pedagogia da arquitectura, com forte expressão nos meios universitários e na imprensa especializada. Passam por estes temas as discussões do momento; as reflexões no limiar dos conceitos em que se suporta a prática da profissão. Ao contrário do que possam pensar - e estou certo que alguns me interpretarão assim – não estou a pôr em causa a relevância doutrinária do trabalho dos MVRDV, da obra projectada e escrita de Koolhaas, por exemplo, ou mesmo da prática do criticismo arquitectónico dominante. O que está em causa é a prevalência da arquitectura, não apenas como exercício sobre si mesmo (ou processo como referem os MVRDV), mas sim sobre o território do real e os impactos que inflinge sobre o espaço individual, da comunidade, da sociedade; e mesmo sobre a história.
Alguns arquitectos têm-se debruçado sobre estes limiares da arquitectura contaminante, que extravasa sobre o urbano. No ensaio ZBBZ Stadtebau (imagem acima), os AllesWirdGut elaboram uma arrojada estratégia de densificação do centro de Bozen, criando uma mega-estrutura que se integra no tecido da cidade para fazer parte dela e resolver complexos problemas de acessibilidade e função.
É no contexto destes problemas que o projecto dos MVRDV em Liuzhou, na China, é igualmente pertinente. Para além de penetrar claramente na dimensão do urbano, o exercício dos MVRDV conforma núcleos construídos que são pouco reconhecíveis em termos de linguagem tipológica. Já não estamos na mera conjugação de espaços livres, circulações e estruturas. A mega-escala do projecto rompe com um sentido de coesão ou envolvência (enclosure), para formar um corpo de estruturas celulares, caixas suspensas sobre a textura natural. Estaremos no domínio de uma nova morfologia urbana, ou será esta uma variação sobre um repetido fenómeno de sprawl sobre a paisagem? A teoria da fragmentação como alibí destruidor da coesividade, conceito raíz do urbanismo, dando origem a uma espécie de pós-metrópole.
Este discurso que aqui deixo é, sem grandes dúvidas, extrínseco ao mainstream. É muito mais sexy promover o fascínio pela grande escala, o gesto arrebatador sobre os grandes desígnios: fragmentação de conhecimento, explosão demográfica, transformação de sistemas produtivos, sustentabilidade global. Ou a desesperada colagem doutrinária às raízes do modernismo como legitimação de uma prática que procura a todo o custo estabelecer-se como ideologia e não como brecha comercial. Perante isto, quando estamos no domínio do datascaping e do cripto-criticismo, quem quer reflectir sobre os pequenos problemas da comunidade ou da “civitas”?
Benvindos ao futuro, onde o encantamento do polémico é a fuga definitiva ao real, ao território e ao espaço do homem.
Linkbomb
Seguindo os passos dos Urbs 2005, a visita indispensável ao BLDGBLOG. Confesso que não conhecia, mas parece ser muito bom.
Mergulho rapidamente no vôo solitário de Joe Kittinger em Falling Back To Earth, Alone, para dar com este filme alucinante no Google Video: First man In Space - Skydiving from the edge of the world.
Dois passos mais à frente, estamos no mundo da fotomontagem panorâmica 360º em Fullscreen QTVR e Panoramas.dk. Não consegui perceber se os dois sites estão relacionados, mas penso que sim. Lá dentro, vistas fantásticas do Monte Everest, do Taj Mahal, da Torre Eiffel ou das Pirâmides de Gizé, entre muitas outras. Até ao momento, a minha favorita é esta imagem da mítica Cidade de Petra, na Jordânia. Destaque também para a colecção de fotografias de Marte das sondas Spirit e Opportunity, bem como a colecção mais antiga das missões Apolo.
Outra pérola dos Urbs, esta selecção para melhor fotoblogue urbano do The Beloved Universe. Particularmente bons os retratos, muito expressivos.
No This Is What We Do Now descubro esta sensacional notícia (para nós, cinéfilos geeks) sobre o possível regresso de Michael J. Fox a um 4º título da série Back To The Future. I want it, and I want it now!
Desculpem a passagem Markliana. Continuando, vale a pena percorrer a listagem dos Urbs 2005 e passar os olhos pelos não vencedores. Estão lá alguns blogues muito recomendáveis, como o icónico Satan’s Laundromat, o alucinante London Underground Tube Diary ou ainda, a saber, este gostoso Chubby Hubby.
E daí em diante, o mundo é a vossa ostra. So peruse, peruse...
Mergulho rapidamente no vôo solitário de Joe Kittinger em Falling Back To Earth, Alone, para dar com este filme alucinante no Google Video: First man In Space - Skydiving from the edge of the world.
Dois passos mais à frente, estamos no mundo da fotomontagem panorâmica 360º em Fullscreen QTVR e Panoramas.dk. Não consegui perceber se os dois sites estão relacionados, mas penso que sim. Lá dentro, vistas fantásticas do Monte Everest, do Taj Mahal, da Torre Eiffel ou das Pirâmides de Gizé, entre muitas outras. Até ao momento, a minha favorita é esta imagem da mítica Cidade de Petra, na Jordânia. Destaque também para a colecção de fotografias de Marte das sondas Spirit e Opportunity, bem como a colecção mais antiga das missões Apolo.
Outra pérola dos Urbs, esta selecção para melhor fotoblogue urbano do The Beloved Universe. Particularmente bons os retratos, muito expressivos.
No This Is What We Do Now descubro esta sensacional notícia (para nós, cinéfilos geeks) sobre o possível regresso de Michael J. Fox a um 4º título da série Back To The Future. I want it, and I want it now!
Desculpem a passagem Markliana. Continuando, vale a pena percorrer a listagem dos Urbs 2005 e passar os olhos pelos não vencedores. Estão lá alguns blogues muito recomendáveis, como o icónico Satan’s Laundromat, o alucinante London Underground Tube Diary ou ainda, a saber, este gostoso Chubby Hubby.
E daí em diante, o mundo é a vossa ostra. So peruse, peruse...
The Urbs 2005
O Gridskipper acaba de anunciar os vencedores dos The Urbs: 2005 Urban Blogging Awards. A listagem inclui vários notáveis e outros tantos blogues bastante alternativos. Recomenda-se a visita, mas depois não digam que eu não avisei...
Windows Live Local
A Microsoft está a promover a versão beta do Windows Live Local, uma aposta para contrariar o domínio actual do Google Maps.
A grande inovação do software patrocinado por Bill Gates é a introdução de imagens Bird’s Eye ou olho de pássaro: trata-se de um mapeamento em fotografias aéreas com inclinação de 45 graus, sendo possível rodar o ponto de vista no sentido dos quatro pontos cardeais. O nível de detalhe é espectacular mas esta funcionalidade só está disponível para doze cidades americanas. Para terem uma ideia do que se trata podem seguir o link e visitar o Museu Guggenheim em Nova Iorque. Mudando a orientação da imagem para Este, no controlador do canto superior esquerdo, poderão ver o lado frontal do edifício.
Tanto esta versão da Microsoft como a do Google são brinquedos interessantes mas pouco utéis para quem procure conteúdo nacional. Ainda assim não deixam de proporcionar alguns bons passeios, com a vantagem de não ser necessário instalar qualquer programa. Os mais exigentes, no entanto, talvez prefiram mergulhar no Google Earth ou no Nasa World Wind. Para viagens ainda mais além podem aventurar-se no indispensável Celestia.
A grande inovação do software patrocinado por Bill Gates é a introdução de imagens Bird’s Eye ou olho de pássaro: trata-se de um mapeamento em fotografias aéreas com inclinação de 45 graus, sendo possível rodar o ponto de vista no sentido dos quatro pontos cardeais. O nível de detalhe é espectacular mas esta funcionalidade só está disponível para doze cidades americanas. Para terem uma ideia do que se trata podem seguir o link e visitar o Museu Guggenheim em Nova Iorque. Mudando a orientação da imagem para Este, no controlador do canto superior esquerdo, poderão ver o lado frontal do edifício.
Tanto esta versão da Microsoft como a do Google são brinquedos interessantes mas pouco utéis para quem procure conteúdo nacional. Ainda assim não deixam de proporcionar alguns bons passeios, com a vantagem de não ser necessário instalar qualquer programa. Os mais exigentes, no entanto, talvez prefiram mergulhar no Google Earth ou no Nasa World Wind. Para viagens ainda mais além podem aventurar-se no indispensável Celestia.
And so this is christmas
É chegado o Natal, o momento da família, que como se sabe é passado em ameno convívio com prendas espalhadas pelo chão da sala. A televisão ajuda à festa com aquela programação típica da quadra festiva. Foi a vez do Shrek fazer as vezes de Mary Poppins de serviço. Que boa ideia em noite de consoada. As crianças lá se vão entretendo com o simpático ogre e o seu burro de estimação, à espera de abrir as prendas. Que apropriado - pensa o pai de família até ao intervalo em que é bombeado com prolíficos anúncios a imagens eróticas para telemóvel e uma ou outra atrevida mamoca ao léu. É Natal, é Natal, e ninguém leva a mal. Vamos mas é deitar que amanhã há mais. O tempo passa a correr e eis-nos entretidos em pleno dia de festa. Novamente a televisão que hoje é tarde de santa matiné sem riscos de supresas mais atrevidas. Temos então o Regresso do Rei, e eu fico para aqui a pensar que, mesmo fã do Senhor dos Anéis, isto não é propriamente a Música no Coração nem a aranhonga Shelob é o fantasma do Natal passado. Talvez preocupados com as crianças mais sensíveis, chega o intervalo em jeito de comic-relief. Muitos anúncios a toques de telemóvel com grande destaque para o “peidonatal”. Assim mesmo, sem tirar nem pôr, musicas da quadra santa em tom intestinal. Desisto. Ou sou eu que estou a ficar velho muito depressa ou a tradição, definitivamente, já não é o que era.
Um momento geek, como nós gostamos
Wil Wheaton exibe-se com a mais feia camisola de todó-mundo, demonstrando porque é um dos mais amáveis e famosos geeks da blogosfera. Esta camisola devia ser eleita como fardamenta obrigatória em debates televisivos... Agora passando a coisas sérias, deixo-vos em jeito de prenda natalícia a ligação ao Orisinal. Já estava há meses plantado nos favoritos mas poucos devem ter dado por isso. É um sítio web com os mai-lindos jogos para crianças e adultos, tudo pautado por muito bom gosto e aquelas músicas que ah e tal sim senhora. Eu gosto muito do esquilo do The Way Home, se bem que à segunda volta começo a stressar-me e tenho sempre pena de ver o bichinho cair por ali abaixo.
Espero que se entretenham e passem bem o Natal. Se tudo correr bem, para a semana publico aqui um grande texto sobre o tema do momento. Não, não é essa macacada que estão a pensar, é mesmo sobre o King Kong.
Um abraço e Feliz Natal para todos!
Espero que se entretenham e passem bem o Natal. Se tudo correr bem, para a semana publico aqui um grande texto sobre o tema do momento. Não, não é essa macacada que estão a pensar, é mesmo sobre o King Kong.
Um abraço e Feliz Natal para todos!
Imersão tóxica
Um artigo interessante no Economist.com (ler Online Gaming – Worlds Without End, 2005-12-14) aborda uma nova realidade que está a nascer no mundo dos jogos online. À medida que se vão implementando os chamados massively multiplayer online role-playing games (MMORPs), eles vão-se estabelecendo como plataformas de interacção virtual entre milhões de pessoas, possibilitando-lhes experienciar vivências simuladas com uma forte componente emocional. Para muitos destes jogadores o espaço virtual passa a ocupar uma parte significativa da sua rotina diária. Mergulhados em universos fantásticos, dão vida a personagens imaginários e enfrentam batalhas, combatem monstros ou partem em grandes aventuras onde constroem a sua riqueza e o seu poder.
A tese inovadora que o artigo do Economist.com aborda é a forma como, no mundo dos jogos online, está a nascer toda uma nova economia. À medida que os jogadores vão mergulhando nestas paisagens sintéticas, todo um mercado interno ao mundo dos jogos tem vindo a florescer. No mundo real, os jogadores transacionam monetariamente, em espaços como o Ebay, objectos do jogo: espadas, ouro, poções e até personagens já desenvolvidas. Para dar a noção das proporções deste fenómeno, os autores apresentam o exemplo de uma transação realizada no jogo online Project Entropia, em que um jogador comprou uma ilha (do reino virtual) por mais de 25.000 dólares, tendo reavido o seu dinheiro vendendo caça e direitos de exploração mineira a outros jogadores.
Será isto um jogo, ou antes uma nova realidade de contornos imprevisíveis? Para alguns críticos de títulos como Project Entropia, estes produtos tratam-se de sorvedouros de dinheiro que exploram o fascínio por uma forma de alienação. Imersão tóxica é o termo avançado para definir a crescente tendência de muitos jogadores que dedicam parte significativa do seu tempo a uma experiência interactiva cuja base é ficcional, ao ponto em que as suas vidas virtuais tomam precedência sobre as suas vidas no mundo real. Numa altura em que se começa a tornar possível “ganhar a vida”, vivendo e trabalhando no mundo virtual, o apelo da imersão tóxica é bem capaz de se tornar uma perigosa realidade.
Dois anos
A Barriga De Um Arquitecto completa hoje dois anos de existência. Não é um grande feito, só por si. Muitos blogues desta vaga continuam activos; outros ficaram pelo caminho. Mas em dois anos, a blogosfera mudou alguma coisa.
Poucos meses antes, quando um amigo me alertou para este novo fenómeno que se estava a criar, eu respondi desinteressadamente. Os blogues pareciam-me uma variação sobre a infeliz ideia de página pessoal: olá cá estou eu, diz-me o que pensas, tudo bem carregado de gifs animados e uma tentativa desesperada de existir.
No entanto, aquele impulso fez-me começar a olhar para alguns blogues e, com eles, a ser seduzido para esta viagem.
Aquilo que mais me apelou foi a plataforma, o modelo de registo de dados livre e acessível. Nessa altura a blogosfera era mais feia, mais tosca, mas era como hoje um espaço de custo zero onde qualquer um se podia aventurar. Comecei o meu caminho nesse mundo, sem audiência e sem saber bem para onde ir, mas com vontade de registar muitas ideias sobre temas que me interessavam. Assim se abriu esta subscrição para o fio da minha consciência, uma plateia para os filmes projectados na minha mente, enfim, o que lhe quiserem chamar...
Penso sempre que as melhores coisas que escrevi estão algures nos primeiros meses de vida deste blogue. Sem linha editorial, sem pressão nem expectativa, no maior desconhecimento de amigos e quase sem audiência, registei algumas das ideias que circulavam na minha mente à procura de lugar.
Sou suficientemente crítico para saber o chão que piso, mas aceito bem as minhas falhas. A Barriga De Um Arquitecto não é, nem alguma vez foi, tão bom como eu gostaria. Um blogue verdadeiramente genial exige um enorme compromisso pessoal. Não se iludam os que por essa blogosfera portuguesa se acham muito notáveis: falo de um Binary Bonsai, um desaparecido 1976 Design, a Jen Gray, o maravilhoso Antipixel, um The Nonist; ou em português uma Rua Da Judiaria, a Vitriolica (not really), a Quinta do Sargaçal ou o oficialmente fechado Epiderme (esse sim, o melhor blogue português de arquitectura), entre outros que felizmente estão por aí.
Hoje olho para o percurso desses dois anos e encontro muitos erros pelo caminho. Muitas coisas que já não escreveria daquela maneira, que teria revisto com mais cuidado, outras ideias pouco consolidadas que de todo não registaria. Mas sei apreciar esses erros, gosto de reconhecer essa aprendizagem e como, com todas as mudanças que esta Barriga já sofreu, ficam os registos dos velhos passos como as marcas que carregamos connosco e, mesmo ocultas aos olhos dos outros, as sentimos.
Recordo, quase com saudade, o alargado tempo em que recebia uma média de trinta visitantes por dia. Achava aquilo fantástico, um incentivo a escrever algo ainda melhor para interessar e envolver esses trinta dígitos anónimos do contador de páginas. Recordo também o cansaço ao fim do primeiro ano. Durante alguns meses arrastei-me com esforço por aqui, até que um segundo fôlego me envolveu e, com ele, um novo desprendimento para tornar o blogue algo mais próximo daquilo que desejava...
Hoje, mais um ano passado, volto a renovar esse desejo. A Barriga De Um Arquitecto não é um blogue de arquitectura. É um blogue escrito por alguém que estudou arquitectura e que, por isso mesmo, vê a vida pelo prisma deformado de quem reconhece certas coisas e a quem escapam muitas outras. Eventualmente escreve-se aqui de arquitectura ou de urbanismo, mas continuará a não ter linha editorial e a não exibir a intransigência implacável dos génios insuflados que por tudo e por nada redigem um manifesto.
Ah, é verdade que hoje tudo isto parece tão diferente: uma média de 285 visitantes por dia e um total de 85000 desde o seu início com 125000 visualizações registadas; e ondulando algures na segunda metade do top 100 do blogómetro nacional - o recorde foi 62. Não vos direi que me é indiferente; que não vou lá ver os números de vez em quando e que não são fonte de um orgulho que faço por esconder. Mas, acima de tudo, este será um espaço que, se tudo correr bem, se tornará cada vez mais específico e pessoal. Aqui caberá um rascunho feito num guardanapo, uma velha fotografia ou um abraço a amigos distantes. Eventualmente, podem aparecer textos grandes, mesmo que isso esteja “out”. E vão cometer-se alguns erros. Enquanto valer a pena.
Obrigado a todos.
_
Chega assim ao fim o ciclo de imagens de capa gentilmente cedidas por Fernando Guerra, autor do sítio web Últimas Reportagens. Em especial para ele um grande agradecimento e os votos de que o novo ano seja propício a muitas e cada vez melhores experiências.
Um grande abraço.
_
Referências e comentários:
La Force des Choses, Quase em Português, Zarp, Os (In)separáveis, Quinta do Sargaçal.
O Meu Piu Piu, Fotoben, O Despropósito, Irasshaimase!, O Arrumário, Matarbustos, desNorte, Alecrins no Canavial, postHABITAT, Welcome to Elsinore, Obvious, Ma-Schamba, Parallel Lines, Atuleirus, Apenas Mais Um, Bioterra.
Contra-Indicado, Anjos e Demónios.
A todos, um reconhecido obrigado!
Poucos meses antes, quando um amigo me alertou para este novo fenómeno que se estava a criar, eu respondi desinteressadamente. Os blogues pareciam-me uma variação sobre a infeliz ideia de página pessoal: olá cá estou eu, diz-me o que pensas, tudo bem carregado de gifs animados e uma tentativa desesperada de existir.
No entanto, aquele impulso fez-me começar a olhar para alguns blogues e, com eles, a ser seduzido para esta viagem.
Aquilo que mais me apelou foi a plataforma, o modelo de registo de dados livre e acessível. Nessa altura a blogosfera era mais feia, mais tosca, mas era como hoje um espaço de custo zero onde qualquer um se podia aventurar. Comecei o meu caminho nesse mundo, sem audiência e sem saber bem para onde ir, mas com vontade de registar muitas ideias sobre temas que me interessavam. Assim se abriu esta subscrição para o fio da minha consciência, uma plateia para os filmes projectados na minha mente, enfim, o que lhe quiserem chamar...
Penso sempre que as melhores coisas que escrevi estão algures nos primeiros meses de vida deste blogue. Sem linha editorial, sem pressão nem expectativa, no maior desconhecimento de amigos e quase sem audiência, registei algumas das ideias que circulavam na minha mente à procura de lugar.
Sou suficientemente crítico para saber o chão que piso, mas aceito bem as minhas falhas. A Barriga De Um Arquitecto não é, nem alguma vez foi, tão bom como eu gostaria. Um blogue verdadeiramente genial exige um enorme compromisso pessoal. Não se iludam os que por essa blogosfera portuguesa se acham muito notáveis: falo de um Binary Bonsai, um desaparecido 1976 Design, a Jen Gray, o maravilhoso Antipixel, um The Nonist; ou em português uma Rua Da Judiaria, a Vitriolica (not really), a Quinta do Sargaçal ou o oficialmente fechado Epiderme (esse sim, o melhor blogue português de arquitectura), entre outros que felizmente estão por aí.
Hoje olho para o percurso desses dois anos e encontro muitos erros pelo caminho. Muitas coisas que já não escreveria daquela maneira, que teria revisto com mais cuidado, outras ideias pouco consolidadas que de todo não registaria. Mas sei apreciar esses erros, gosto de reconhecer essa aprendizagem e como, com todas as mudanças que esta Barriga já sofreu, ficam os registos dos velhos passos como as marcas que carregamos connosco e, mesmo ocultas aos olhos dos outros, as sentimos.
Recordo, quase com saudade, o alargado tempo em que recebia uma média de trinta visitantes por dia. Achava aquilo fantástico, um incentivo a escrever algo ainda melhor para interessar e envolver esses trinta dígitos anónimos do contador de páginas. Recordo também o cansaço ao fim do primeiro ano. Durante alguns meses arrastei-me com esforço por aqui, até que um segundo fôlego me envolveu e, com ele, um novo desprendimento para tornar o blogue algo mais próximo daquilo que desejava...
Hoje, mais um ano passado, volto a renovar esse desejo. A Barriga De Um Arquitecto não é um blogue de arquitectura. É um blogue escrito por alguém que estudou arquitectura e que, por isso mesmo, vê a vida pelo prisma deformado de quem reconhece certas coisas e a quem escapam muitas outras. Eventualmente escreve-se aqui de arquitectura ou de urbanismo, mas continuará a não ter linha editorial e a não exibir a intransigência implacável dos génios insuflados que por tudo e por nada redigem um manifesto.
Ah, é verdade que hoje tudo isto parece tão diferente: uma média de 285 visitantes por dia e um total de 85000 desde o seu início com 125000 visualizações registadas; e ondulando algures na segunda metade do top 100 do blogómetro nacional - o recorde foi 62. Não vos direi que me é indiferente; que não vou lá ver os números de vez em quando e que não são fonte de um orgulho que faço por esconder. Mas, acima de tudo, este será um espaço que, se tudo correr bem, se tornará cada vez mais específico e pessoal. Aqui caberá um rascunho feito num guardanapo, uma velha fotografia ou um abraço a amigos distantes. Eventualmente, podem aparecer textos grandes, mesmo que isso esteja “out”. E vão cometer-se alguns erros. Enquanto valer a pena.
Obrigado a todos.
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Chega assim ao fim o ciclo de imagens de capa gentilmente cedidas por Fernando Guerra, autor do sítio web Últimas Reportagens. Em especial para ele um grande agradecimento e os votos de que o novo ano seja propício a muitas e cada vez melhores experiências.
Um grande abraço.
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Referências e comentários:
La Force des Choses, Quase em Português, Zarp, Os (In)separáveis, Quinta do Sargaçal.
O Meu Piu Piu, Fotoben, O Despropósito, Irasshaimase!, O Arrumário, Matarbustos, desNorte, Alecrins no Canavial, postHABITAT, Welcome to Elsinore, Obvious, Ma-Schamba, Parallel Lines, Atuleirus, Apenas Mais Um, Bioterra.
Contra-Indicado, Anjos e Demónios.
A todos, um reconhecido obrigado!
Das Cercas dos Conventos Capuchos
...como em valles baixos, se achão abundantes frutos de boas obras: dos elementos da terra e o mais baixo, porém o mais seguro: alto está o ar; e mais alto o fogo, porém nenhum delles dá fruto: as fragosas serras, e outeiros altos não são de proveito, os humildes valles são os que se lavrão, e os que se estimão.
Frei Manuel de Monforte - Chronica da Provincia da Piedade (1751).
Não é possível falar deste pequeno livro sem falar um pouco sobre o seu autor que tenho o prazer de conhecer. O António Xavier é um daqueles homens que cativam à primeira vista pela humanidade que encerra no olhar. Mas é a sua voz que verdadeiramente seduz os que o escutam; uma voz de contador de histórias na alma de um amante da História. Com o alento jovem de investigador de coisas que a sedimentação do tempo persiste em esconder, aliado à sua sensibilidade de paisagista, Xavier compõe neste seu ensaio Das Cercas dos Conventos Capuchos uma visão sobre a instituição da espiritualidade no território e abre a porta a uma reflexão sobre parte importante da construção da Paisagem em Portugal.
Nele vamos descobrir o importante património cultural que encerram as cercas conventuais como importantes manifestações da arte paisagista portuguesa. Fazendo um percurso pelos Conventos Capuchos da Província da Piedade (território continental a sul do Tejo), faz o retrato urgente de um bem grandemente exposto ao abandono e à ruína, ameaçado tanto pela acção do tempo como pelo esquecimento e a ignorância.
O percurso dos frades Capuchos em Portugal nasce na sombra da perseguição. A sua busca pelo ascetismo espiritual levou-os ao refúgio em lugares distantes, no interior do Alentejo e no Algarve. A sua devoção encontrava eco em ambientes obscuros, encerrados e por vezes insalubres. O vale surgia como a imagem dessas virtudes de convergência entre o solo terrestre e a água celestial; o encontro humilde da alma humana com a graça divina.
Apesar da sua adopção por uma vida de isolamento, os Conventos Capuchos dispunham de normas próprias à sua localização que dependia da aprovação do Capítulo Provincial. Deviam assim ser pobres, pequenos e recolhidos, mas situar-se em lugar não demasiado distante de uma povoação, idealmente pequenos centros urbanos. A excepção é feita pelo Convento de São Vicente do Cabo, caso particular justificado pelas notáveis características do ermo promontório.
António Xavier mostra-nos como, no decurso do tempo, os Conventos Capuchos se foram aproximando das povoações que lhes serviam de auxílio, por um conjunto de razões. Na maioria dos casos, é a consolidação da ocupação do território e o desenvolvimento urbano que vai fazer integrar os edifícios conventuais, tornando-se parte da estrutura das novas aglomerações urbanas. Os conventos, apesar de fundados em meio rural, estabeleciam com a urbe uma relação de dependência e orientavam a expansão urbanística nessa direcção. Acentuavam eixos viários que permitiam sustentar novas malhas construídas. Os espaços conventuais marcariam assim o urbanismo das cidades portuguesas, muito para lá do tempo de vivência das Ordens que lhes deram origem.
Neste ensaio podemos conhecer um pouco da tipologia e simbologia subjacente à origem das cercas dos Conventos Capuchos, e o seu profundo significado enquanto determinantes da religiosidade no espaço e todas as suas implicações. Manifestações de uma cultura íntimamente mergulhada na Natureza, as cercas são também uma reminiscência importante para compreender as raízes da nossa cultura espacial e a forma como nos relacionamos com o território. O tempo, nas suas muitas vagas, trouxe o esquecimento sobre essas ideias, esses materiais, essas soluções tradicionais que foram a génese do nosso fazer urbano. É contra esse vazio de conhecimentos que o pequeno livro de António Xavier se vem erguer, como marca de uma forte esperança em recuperar essas raízes culturais e assim fazer renascer um novo interesse em investigar, conhecer e proteger este património escasso e inegavelmente valioso.
_
O livro Das Cercas dos Conventos Capuchos de António Manuel Xavier é uma publicação da Casa Do Sul Editora em colaboração com o Centro De História De Arte Da Universidade De Évora, podendo ser comprado ou encomendado na Livraria Som Das Letras.
Casa Do Sul Editora
Apartado 2181, 7001-901 Évora
casadosul[arroba]hotmail.com
Livraria Som Das Letras
Rua João de Deus, 21 1º Esq., ÉVORA
somdasletras[arroba]mail.telepac.pt
Fio de luz
A Fio De Luz produz velas artesanais com um grande sentido de criatividade e design, adoptando matérias primas cuidadas a um delicado processo de composição e fabrico. Para além disso, ostenta um belíssimo sítio web que é também o ponto de partida para futuros vôos na área da bijuteria e joalharia. Vale a pena ficar à espera por novos conteúdos enquanto nos deliciamos com as suas velas que podem encontrar um bom lugar lá em casa ou compôr uma alegre prenda de Natal.
As velas podem ser vistas e compradas na Livraria Som Das Letras (Rua João de Deus, 21 1ºE, Évora, próximo da Praça do Giraldo), entre outros pontos de venda distribuídos pelo país.
Últimas reportagens
Tenho o prazer de anunciar em primeira mão que o sítio web Últimas Reportagens produzido por Fernando Guerra acaba de inaugurar uma nova fase de vida. Aquele que é o primeiro e único banco de imagens de arquitectura contemporânea em Portugal de livre acesso apresenta agora novos conteúdos, reunindo um total de 55 reportagens fotográficas sobre algumas das mais notáveis obras arquitectónicas e um principal destaque para projectos nacionais.
Com um interface muito acessível, o Últimas começa a tornar-se um projecto ambicioso com enorme potencial para crescer. O dossier em torno da Casa Tóló, projecto da autoria de Álvaro Leite Siza Vieira construído ao longo de uma encosta, é um bom exemplo dos caminhos que se poderão seguir para desviar a percepção pública dos habituais lugares comuns com que por vezes julga esta actividade e sensibilizá-la para o que de mais belo e erudito tem a arquitectura. O trabalho de Fernando Guerra é uma boa porta de descoberta para esse mundo, de forma e linguagem acessíveis e um olhar sensível a todos os que o procurem conhecer com emoção. Uma visita imprescindível.
Para todas as novidades em torno desta nova fase do Últimas Reportagens recomendo a leitura da sua mais recente Newsletter, disponível online.
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