Jorge Graça Costa: Casa DT








A edificação tem impactos muito variados sobre o ambiente. Na escolha de materiais e processos construtivos estabelecem-se consequências quanto a métodos de extracção dos seus componentes, aos mecanismos da sua transformação, a gastos de energia e emissões associadas, e posteriormente quanto a requisitos de manutenção, demolição, reciclagem. No entanto, raras vezes essas preocupações são consideradas por aqueles que promovem os edifícios ou pelos técnicos que os projectam.
O ambiente construído é um bem relativamente duradouro. A maioria dos edifícios dura muitas décadas, tornando-se importante considerar desde o início o seu longo ciclo de vida. As decisões de projecto não devem por isso reflectir apenas a tentativa de minimizar os custos iniciais da construção, pois vão afectar os consumos de energia que dela vão resultar, a sua capacidade de resistir aos factores de exposição natural e envelhecimento; e até quanto à sua adequabilidade a novos usos não previstos.
A questão da energia é, de todas estas, uma das mais prementes e ameaçadoras para a manutenção de uma boa qualidade de vida. A pressão exercida pelo preço dos combustíveis, as flutuações na oferta e as considerações ambientais que lhe estão associadas fazem com que também na arquitectura este seja um tema merecedor de crescente atenção. Os edifícios consomem uma boa fatia da produção energética de cada país. Melhorar a eficiência dos edifícios quanto ao seu aproveitamento é por isso um objectivo que ninguém pode descurar.
A adequação do desenho de um edifício a características que proporcionem uma melhor eficiência energética não requer necessariamente o aumento significativo de custos de construção. Muitos dos princípios que hoje se categorizam no âmbito da sustentabilidade reflectem preocupações de relação com o território sempre presentes na arquitectura. Mas exige-se hoje que essa prática não dependa apenas de uma intuição empírica, traduzindo-a tanto em conhecimento técnico sistematizado como numa maior exigência quanto aos padrões de qualidade que tutelam a indústria da construção.

A Casa DT, situada em Oeiras, é um exemplo interessante de um projecto que reflecte na sua base muitas destas preocupações. Projectada pelo arquitecto Jorge Graça Costa, trata-se de um objecto compacto que integra tecnologias de construção acessíveis com soluções de desenho adequadas ao enquadramento local, às suas características de exposição e clima.
Este jovem arquitecto português interessou-se desde cedo pela importância da sustentabilidade e eficiência energética em arquitectura. Desenvolveu um trabalho de investigação na área da arquitectura bioclimática, sendo igualmente premiado em diversos concursos nacionais e internacionais. Destaca-se, como mais notável, a medalha de ouro recebida em 2005 no concurso internacional de design promovido pela Fundação Japonesa de Design - exactamente sob o tema «Energy – Sustainable and Enjoyable Life».
O projecto da Casa DT demonstra bem como a eficácia energética resulta não tanto da exibição de meios – tecnológicos ou materiais - mas da sua capacidade em responder racionalmente às muitas exigências que a vivência humana lhe coloca. A casa está implantada num topo de colina com vistas desafogadas sobre a paisagem, o que permite explorar a relação de vistas e o contraste entre espaços sociais (nível inferior) e espaços privados (nível superior) – conjugados em dois volumes que se destacam e servem de motivo à composição. Tomando por base a configuração regular do lote, o edifício acaba por definir-se como objecto simples e compacto, sobressaindo a expressão da estrutura visível e a diferenciação de materiais utilizados. O desenho reflecte preocupações de utilização racional da energia quanto à relação do volume interior de ar e ao funcionamento passivo do edifício no aquecimento e arrefecimento, sem dependência regular de tecnologias activas para manter níveis de conforto satisfatórios. A iluminação natural é potenciada pelas aberturas mais generosas que servem o piso térreo, onde se localizam as zonas de maior permanência, e a iluminação artificial assenta em sistemas de baixo consumo.
Dos traços de concepção da arquitectura à definição adequada de soluções complementares mais específicas, a Casa DT demonstra que é possível conjugar as particularidades locais a materiais e tecnologias contemporâneas, garantindo a coesão entre bom desenho e bom conforto humano. O resultado é notável pela simplicidade, sentido de economia e racionalidade na gestão de recursos, em respeito pelos valores maiores da sustentabilidade ambiental que a motivam.

Jorge Graça Costa: DT House
The act of building has multiple impacts on the environment. There are many consequences to the kind of constructive processes and components applied in architecture: from the extraction of raw materials, transformation and manufacturing impacts, to energy costs and associated emissions, following to requirements on maintenance, demolishing, recycling. And yet, often, these factors are not considered by those who promote buildings or by those who design them.
The built environment is a long-lasting resource. Most buildings survive for many decades. Therefore, it is important to consider that long life-span, right from the beginning. Design decisions shouldn’t reflect a simple attempt to minimize initial construction costs; since those decisions will affect its future energy demands, its resistance to aging and other natural factors, its adaptability to alternate, unpredicted uses.
Energy is a pressing issue regarding the maintenance of a good standard of living. Fuel prices, fluctuations in demand, environmental implications, are among the many factors that have contributed to a new global awareness. Since buildings absorb a great deal of every country’s energy production, architecture is now becoming a central discipline in the debate for sustainability.

The DT House is an interesting example of applied energy-efficient principles in architecture. Designed by Jorge Graça Costa, it’s a simple, compact object that integrates accessible construction technologies with smart design solutions.
This young portuguese architect was soon interested by the implications of sustainability and energy efficiency in architecture. He developed an investigation practice in the field of bio-climatic architecture, receiving several awards for national and international competitions. Most noticeably, he won a gold medal for his participation in the International Design Competition Osaka 2005, promoted by the Japan Design Foundation under the theme «Energy – Sustainable and Enjoyable Life».
The DT House project was built on top of a hill, benefiting from open views over the surrounding landscape. Its composition explores the contrast between the social areas of the lower level and the private areas located on the upper floor. These result in distinctive volumes that are enhanced by the visibility of its structure and the different materials applied as external texture.
The design reflects the requirements of rational energy use, integrating solutions of passive cooling and heating as an alternative to more active, energy-dependent technologies. Natural lighting is also enhanced to better serve the lower level, where the social, collective functions, are located. Artificial lighting is supported by low consumption systems.
From the architectural design to the adequate definition of particular solutions, the DT House shows that it’s possible to integrate contemporary technologies and sustainable design solutions – good design as the support to good human comfort. The result is remarkable for its simplicity, sense of adequacy and economy, respecting the greater values of environmental sustainability that served as inspiration.


Architecture: Jorge Graça Costa.
Photography: Fernando Guerra (FG+SG).

7 comentários:

  1. buen blog. Enhorabuena y ánimos para seguir así.

    www.surconsciente.com

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  2. Trabalho a um tiro de pedra desta moradia e acompanhei a sua construção, mesmo antes de saber que o seu programa pretendia optimizar a eficiência energética. Achei-a desde os primeiros tijolos uma carta fora do baralho, numa zona em que a generalidade das construções são pato bravisses ou português suave. Por essa razão visitei várias vezes o local para ir tentando "perceber" o que ia dar. Só soube quem era o arquitecto quando vi a reportagem da Terra Alerta da SIC.
    Há contudo 2 aspectos que me causam alguma confusão:
    1 - aquela estrutura em aço da fachada Sul não é uma gigantesca ponte térmica? Ou dada a dimensão da fachada acaba sendo desprezável?
    2 - Não parece haver aberturas na parte superior do grande pano de vidro da fachada Sul. Isso não seria fundamental para aproveitar o efeito de chaminé solar e reduzir muito a temperatura do espaço de duplo pé direito durante o Verão?

    As fotos do Fernando, como já vai sendo hábito, estão fabulosas.

    Um abraço e feliz ano novo.

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  3. Caro Zé (zm), bem atento como sempre, colocas duas questões pertinentes. Não sei responder completamente, em especial quanto ao primeiro ponto, mas aqui ficam os dados de que disponho.

    1. Poderá a estrutura em aço constituir uma ponte térmica? Talvez. Não tenho pormenores da construção mas pode não ser uma estrutura simples e sim uma solução composta – com corte térmico – ou seja, com separação entre a estrutura visível no exterior e a parte interior, associada à solução de caixilharia.
    2. O efeito de chaminé-solar, para fins de arrefecimento passivo, funciona através de toda a casa – entre a parte inferior da fachada sul e a parte superior da fachada norte. A piscina, colocada na base do alçado sul, reforça a deslocação de ar aproveitando o fenómeno evaporativo para arrefecimento do ar exterior próximo antes de entrar no edifício. Podes confirmar este aspecto num documento que te farei chegar por email; que me serviu de base para esta apresentação. Poderás ainda observar outras particularidades interessantes quanto ao ensombramento de Verão e exposição solar no Inverno, para ganhos térmicos. Existem outros pormenores curiosos relativos a soluções técnicas que foram introduzidas, assim como uma análise computacional da temperatura radiante da construção nas várias estações do ano.

    Abraço e bom ano de 2008.

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  4. São exemplos como este que nos fazem reflectir que os esteriótipos na arquitectura não estão esgotados.
    Gostei particularmente da atitude "pedrada no charco" do arquitecto Jorge Graça Costa. Oxalá que respingem algumas gotas na consciência de muitas mentes adormecidas.
    Um abraço e continuação de bom trabalho.
    LVF

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  5. O que é aqui interessante e verificar que provavelmente esta casa não terá custado muito mais a construir que as moradias vizinhas e ainda vai permitir uma poupança de recursos energéticos, já para não falar do bem estar psiquico de receber tanta luz solar dentro de casa.

    Ainda não tinha visto nenhuma obra construida do arq. Jorge Graça Costa e devo dizer que há aqui uma óptima aplicação das disposições teóricas com que trabalha academicamente, ficando um bom exemplo de acção e não apenas elacção académica.

    Parabéns ao dono da moradia.

    PS: Gostava também de recomendar aos interessados que não estudem arquitectura um pequeno livro da Evergreen, de nome "Casa Ecológicas" que tem um preço muito acessivel (à volta de 10€) e contém muita informação útil para a sustentabilidade.

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  6. well my freind, congratulations on your great project. it looks fantastic.
    I rememebr seeing it when it was at the beggining, and never doubted your skill and determination to deliver such a high quality peice of architecture.
    Well Done.

    Paul

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  7. Antes de mais parabéns pela obra, está realmente fantástica. Deve de ser um prazer viver numa casa assim.

    Alguém me sabe dizer se se Trata de uma construção modular, como se fala muito agora? Ou de um tipo de construção convencional? ( tipode construção e materiais) Já agora quanto custará em média o m2 desta casa. Por quanto ficou esta casa?

    obrigado

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