Welcome to Las Vegas
Taking a Position: Lebbeus Woods fala do “Efeito Bilbao”. As suas impressões fazem eco com o que Charles Jencks expressou sobre a arquitectura icónica. Faz-nos questionar sobre as novas paisagens da teoria da arquitectura – assustadoramente representadas na distópica silhueta do Dubai. Tanta grandeza e, no entanto, nada mais que um deserto. Bem-vindo a Las Vegas.
Lebbeus Woods apresenta um discurso bem incisivo sobre o modo como a crítica escrita de arquitectura sofreu um desvio da teoria real para o domínio predominante da forma. LW refere-se ao Guggenheim de Bilbao como a pedra de toque: “Não inspirou uma nova arquitectura, ou um novo discurso, outro que não o do sucesso mediático. Herbert Muschamp tinha razão – o edifício é a ressurreição da Marilyn Monroe. Certamente que o arquitecto, como a Marilyn, não disse nada de importante. O sex-appeal fala por si, não?”
A iconografia coloca uma contradição perigosa: por um lado, a arquitectura sensacional que ocupa as capas de revista oferece uma mensagem de optimismo e grandeza; e no entanto persiste um pessimismo subterrâneo difícil de disfarçar. Para tanta audácia, a arquitectura nunca pareceu tão fugaz. A imagem é uma coisa perigosa – e no mundo da imagem, a forma e o discurso facilmente se tornam irreconhecíveis. Seja qual for o resultado de tanta incerteza, LW tem razão. Os arquitectos têm de começar a escrever sobre isto.
Welcome to Las Vegas
Lebbeus Woods is Taking a Position. His assertions on the “Bilbao Effect” seem somewhat referenced to what Charles Jencks expressed about iconic architecture. It makes one wonder about the new landscapes of architectural theory – frighteningly represented by the dystopic skyline of Dubai. All greatness, and yet a desert. Welcome to Las Vegas.
Lebbeus Woods makes a strong statement on how critical architectural writing suffered a shift from real theory into the realms of prominent form. LW refers, for that matter, the Bilbao Guggenheim as a touchstone: “It hasn’t inspired a new architecture, or a new discourse, other than that of media success. Herbert Muschamp was right—the building is the resurrection of Marilyn Monroe. Certainly the architect, like Marilyn, hasn’t said anything of consequence. Sexiness just speaks for itself, no?”
Iconography poses a dangerous contradiction: in one way, the awe-inspiring architecture that fits into magazine covers delivers a message of optimism and greatness, and yet an underground pessimism is looming. For all its boldness, architecture never seemed so short-lived. Image is a dangerous thing – and in the world of image, form and discourse often become undistinguishable. Whatever comes next, LW is right. Architects need to start writing about it.
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O carácter icónico ou a produção de uma imagem vendável não é, por si, um mal, bem pelo contrário. O pior acontece quando é apenas isso que um edifício tem para oferecer, escondendo essa imagem uma arquitectura banal e previsível, ou mesmo quase disparatada (como é o caso de Bilbau - e só fiquei com esta ideia bem clara depois de o visitar). Ao crítico cabe o papel de separar o trigo do joio. A diabolização da imagem não ajuda a este discernimento.
ResponderEliminarFalando em cidade e em arquitectura...Foi esta semana lancado mais um livro sobre Jane Jacobs.
ResponderEliminarhttp://www.skyscraper.org/WHAT'S_UP/CURRENT/programs.htm
“O verdadeiro mistério do mundo é o visível, não o invisível...” Oscar Wilde
ResponderEliminarLebbeus Woods usou poucas palavras para tomar uma posição, o que nos força a um trabalho de interpretação temerário e incerto. Começo dos extremos: De modo geral, Woods denuncia o efeito Bilbao, e critica os arquitetos que estariam produzindo arquitetura num ambiente “menos intelectual”. Ao mesmo tempo conclama tais arquitetos a seguirem os passos de Koolhaas e Holl, explicitando suas teorias. Se ele está tão certo quanto aos maus resultados, do que importam as idéias?
O que pretende Woods? A produção atual de arquitetura força os críticos a falarem sobre a forma. Mas isto não implica num “desvio da teoria real” como pode parecer. O contrário seria mais razoável: a não discussão da forma é que representaria um desvio do real. De qualquer modo, seria preciso definir melhor o que se quer dizer quando se fala em teoria. Um projeto é uma teoria.
Para Woods, Bilbao nada tem a dizer além do seu sucesso midiático. Caberia aqui um reparo: seu sucesso não é apenas midiático, mas, principalmente um sucesso de público e isto certamente quer dizer alguma coisa. Por outro lado, tal juízo revela uma análise superficial do edifício e uma visão redutiva da arquitetura: nega-lhe o direito à exploração da forma e não aprofunda nos múltiplos aspectos contidos numa proposta arquitetônica.
Certas observações de Woods seriam ridículas, não fossem tão gratuitas: Diz êle: “If we look behind the curving titanium skin, we find swarms of metal studs holding it up–no innovative construction technology there.” Ora uma olhada mais atenta ao adjetivo “curving” já falaria muito da tecnologia, do engenho requerido para realizá-la. Por outro lado, não há pensamento mais retrógrado e inadequado ao nosso tempo do que defesa da inovação tecnológica, per se, como critério de qualidade.
Igualmente desastrosa é a comparação entre Bilbao e Marilyn Monroe. Quem pensa que Marilyn fala apenas com o sex-appeal, nada entende de cinema, de fotografia ou de mulheres. A diva comunicava muito mais do que sensualidade pela voz, pelos gestos, pelos olhares: é uma atriz tão admirável que é criticada como se os seus personagens fossem ela mesma.
Por outro lado, o tal ambiente árido de teorias denunciado por Woods é, supostamente, a democracia liberal capitalista, contexto no qual os arquitetos estariam se prostituindo. A sutil esquerdopatia de Woods se perde em inconsistências: a arquitetura sempre estará onde o dinheiro está. Não necessariamente a de melhor qualidade e não exclusivamente onde existe riqueza, mas o dinheiro oferece oportunidades únicas: foi assim no Egito, na Grécia, em Roma, etc, etc, etc.
Entretanto, quem Woods aponta como o paladino da independência e consistência intelectual? Rem Koolhaas. Não é o momento de discutir as suas idéias, mas, certamente ele é fruto de marqueting midiático e de esperteza nos negócios. A sua competência como projetista é, para mim, uma incógnita e o alarde que ele mesmo faz dos kilometros voados e dos compromissos comerciais, denuncia o pouco tempo para se dedicar a essa tarefa tão absorvente que é a de projetar. John Portman, frequentemente demonizado pela sua proximidade com o capital, é um arquiteto cujas concepções podemos atribuir diretamente ao seu gênio. Quem produz as obras do OMA?
Por fim, me parece que a tomada de posição de Woods também é uma contribuição e um alerta para os arquitetos, no sentido de que assumam a frente no que diz respeito a um discurso que represente a profissão, tirando da mão dos críticos e dos oportunistas, esta prerrogativa.
Sérgio Machado. arquiteto
Sérgio Machado, obrigado pelo seu contributo. Levanta diversas questões que me merecem reflexão, a desenvolver num dos próximos textos aqui no blog.
ResponderEliminarVolte sempre.