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Todos gostam de uma boa nave espacial. De ultra-velozes caças galácticos a enormes cruzadores interplanetários capazes de navegar a velocidade warp e saltar para o hiperespaço, a ficção científica ofereceu algumas das mais fantásticas criações alguma vez concebidas pela mente humana. Sunshine, de Danny Boyle, contém um dos exemplos mais audazes: uma nave projectada para alcançar o Sol. O conceito provocou alguma excitação entre os aficionados da sci-fi e ainda que o filme proporcione uma espectacular odisseia visual, fica infelizmente marcado por questionáveis opções de argumento que destroçaram o que poderia ter sido um clássico instantâneo. Esqueçamos por isso que há um filme pelo meio e mergulhemos apenas nos muitos pormenores da fabulosa nave Icarus II.
A parte mais marcante da nave consiste no escudo reflector solar. Com cerca de quilómetro e meio de diâmetro, trata-se de uma estrutura circular que protege o corpo da nave do intenso calor e radiação. Por detrás desse grande disco dourado situa-se uma outra estrutura secundária, de forma cúbica, que contém uma bomba estelar concebida para re-acender o Sol. À boa maneira da ficção científica, a nossa estrela preferida está a sofrer um fenómeno de disrupção provocado por um núcleo supersimétrico, também conhecido como uma Q-Ball. Uma vez que não faço ideia do que isso seja, resta-me confiar na palavra do consultor científico do filme. Trata-se do Dr. Brian Cox, um proeminente físico do CERN, caso se estejam a questionar.
O restante corpo da nave contém as funções humanas e os sistemas de suporte à vida. A Icarus II revela uma conjugação interessante de contrastes e escalas e o seu desenho demonstra uma quase obsessiva atenção ao detalhe. Espaços como a ponte de comando e os quartos da tripulação, tal como os seus longos corredores, são relativamente evocativos da icónica Nostromo do filme Alien. A Sala Estanque (Airlock) parece extraída directamente do clássico 2001. As restantes áreas, no entanto, são surpreendentemente originais.
Apesar das suas fraquezas, Sunshine é um trabalho admirável de design de produção. O filme toma algumas liberdades científicas, principalmente no que respeita à poderosa atracção gravitacional do Sol. No entanto, oferece uma forte sensação de viagem e o mais impressionante retrato do Sol alguma vez visto num ecrã. É exposto em toda a sua beleza e poder, a grande fonte de toda a vida na Terra, no entanto tão destrutiva, tão intangível em si mesma.
Um dos espaços mais interessantes de Icarus II é a Sala de Observação. Não existem, de facto, quaisquer outras janelas na nave. Mas este compartimento contém um enorme painel-ecrã com um mecanismo ajustável de filtragem de luz, que permite a observação directa da fotosfera. Este espaço é central à narrativa e oferece alguns dos momentos mais espectaculares do filme.
A denominada Sala da Terra é outro compartimento apelativo. É, na verdade, um cubículo de realidade virtual que oferece uma projecção de imagem imersiva. A sua textura e design minimal apresentam um contraste vincado com a anterior Sala de Observação; este último sendo um espaço físico ilimitado e o primeiro um lugar muito mais interiorizado e psicológico.
A Sala de Oxigénio, também denominada como Jardim de Oxigénio, é possivelmente o lugar mais detalhado do filme. Os mais cinéfilos lembrar-se-hão das estufas artificiais da nave Valley Forge, do clássico de 1972 Silent Running, como referência. Na Icarus II, este compartimento está concebido para recarregar os níveis de oxigénio da nave e providenciar novas reservas alimentares para a tripulação. Contém um conjunto de contentores hidropónicos com uma rede de plantações e um sistema auxiliar de circulação de ar.
O filme, infelizmente, não explora suficientemente este ambiente como elemento mais intenso da narrativa. É o único lugar onde a natureza está presente sob alguma forma. Esta espécie artificial de construção viva constitui o contraponto essencial para a qualidade hostil do Sol, e poderia ser o seu equivalente psicológico na viagem. Mas concedo que talvez seja apenas um efeito da minha cinefilia mais melancólica. Assim, deixo-vos com um pequeno clássico, o filme de apresentação do referido Silent Running de Douglas Trumbull, para uma outra viagem cataclísmica pelo espaço sideral.
Solar spaceship
Everybody loves spaceships. From ultra fast space-fighters to huge warp-speeding hyperspace-jumping interplanetary cruisers, science fiction has delivered some of the most amazing creations ever conceived by the human mind. Danny Boyle’s Sunshine features one of the boldest examples: a starship designed to reach the Sun. The concept got the sci-fi crowd pretty excited and although the movie did offer an amazing visual odyssey, it was ultimately, and unfortunately, doomed by questionable script choices that spoilt an otherwise instant classic. So let’s forget that there’s a movie attached to it and talk about the fabulous spaceship Icarus II instead.
The main feature of the ship is the gold plated solar reflective shield. A mile in diameter, it’s a circular structure that protects the remaining body from the intense heat and radiation. Right behind it is a secondary structure, a massive cube containing a stellar bomb devised to re-ignite the Sun. In pure sci-fi fashion, our beloved star is suffering a disruption phenomena caused by a supersymetric nucleus, also known as a Q-Ball. Since I have no idea what that means, I’ll take the film’s science adviser’s word on the matter. That’s Dr. Brian Cox, a prominent physicist from CERN, in case you’re wondering.
The remaining body of the ship contains the human functions and life support systems. Icarus II reveals an interesting mix of contrasts and scales and the design presents an obsessive attention to detail. Spaces like the flightdeck and sleeping quarters, just as its long eerie corridors, are somewhat evocative to Alien’s Nostromo. The airlock room is pure 2001 territory. The remaining areas, however, are surprisingly original.
Despite its shortcomings, Sunshine is a wonderful work of production design. The movie takes a few liberties, most noticeably regarding to the star’s strong gravitational pull. Still, it nevertheless provides a strong sense of journey and the most impressive portrait of the Sun ever seen on screen. It is exposed in all its beauty and power, the great source of all life in the world, yet so destructive, so intangible in itself.
One of the most interesting spaces in Icarus II is the Observation room. There are, in fact, no other windows in the ship. But this compartment features a huge screening wall with an adjustable filtering mechanism that allows for direct observation of the photosphere. The room is central to the narrative and offers some of the most spectacular moments of the film.
The Earth room is another appealing compartment. It is, in fact, a virtual reality booth that offers an immersive 360º image projection. Its minimalist texture and design presents an interesting contrast with the Observation room; the first one being a limitless, physical space, and this one being much more interiorized and psychological.
The Oxygen room, also known as the Oxygen Garden, is probably one of the most detailed environments in the film. Movie geeks will remember the Valley Forge’s artificial greenhouses, from the 1972’s sci-fi classic Silent Running, as a reference. In Icarus II, this room has been conceived to replenish the ship’s oxygen supplies and provide new food reserves for the crew. It features a set of hydroponic containers with a network of plants, and an auxiliary system of airducts.
It’s somewhat unfortunate that the film doesn’t explore this space more intensely into the narrative. It is the only room where nature is present in some form. This kind of artificial, living environment, makes the essential counterpart with the hostile quality of the Sun, and would offer an engaging psychological equivalent to the journey. But then, maybe that’s just my cinephile melancholy at work. So I’m signing off now, leaving you all with a presentational film from Douglas Trumbull’s Silent Running, for additional cataclysm in outer space.
Images: Sunshine, SunshineDNA.com and Sunshine Fan Online.
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Fantástico post!
ResponderEliminarCumprimentos
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