Touch-screen interface



Jeff Han impressionou a plateia do fórum TED com a sua apresentação de um interface revolucionário de manipulação digital, o sistema de touch-screen Perceptive Pixel.
Para além da sedução visual da exposição, fazendo interagir elementos gráficos ao estilo do filme Minority Report, o que impressiona é o potencial desta nova forma de operar a instrumentação digital. Não apenas o apelo da inovação tecnológica, mas a dimensão integradora de conteúdos como nova orgânica de actuação. Uma visão dos futuros suportes da prática profissional, também na arquitectura, de horizontes rasgados muito para lá dos limites do ecrã.

Trienal de Arquitectura de Lisboa



Vem aí a Trienal de Arquitectura de Lisboa 2007, a primeira edição do que pretende ser um ambicioso festival internacional de arquitectura contemporânea. Entre 31 de Maio e 31 de Julho deste ano devem passar por Lisboa muitos dos mais reconhecidos profissionais da área, naquele que será um extenso programa de conferências, exposições, concursos e outras actividades. Mais informações no sítio web do evento, que também tem blog.

Conferências de arquitectura em Harvard

O sítio web da Graduate School Of Design da Harvard University disponibiliza um webcast de conferências de arquitectura gravadas na instituição. Figuram entre os participantes Rem Koolhaas, Ben van Berkel, Jinhee Park e John Hong, Greg Lynn, Greg Pasquarelli e ainda Fumihiko Maki (brevemente).

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Portagens nas cidades: começar pelo fim



A experiência de tributação rodoviária na cidade de Londres provou que as taxas podem contribuir para reduzir o tráfego e melhorar os sistemas de transporte público nas grandes cidades. O sucesso da estratégia londrina tem motivado a reflexão sobre a implementação de políticas semelhantes noutros países, entre os quais Portugal.

Seria importante começar por compreender que a experiência inglesa não nasceu de forma isolada mas integrada numa longa estratégia política para a mobilidade e os transportes. É por isso estranho que algumas declarações pontuais que se vão realizando sobre esta matéria incidam sobre a dimensão da “coragem política” para tomar medidas, passando ao lado da discussão técnica sobre o que está em causa. E o que está em causa é a mobilidade sustentável.

A mobilidade sustentável não é um slogan. É, antes, uma doutrina que abrange muitas áreas da nossa vida. A sua acção extravasa em muito a questão dos transportes, tendo efeitos visíveis em sectores tão diversos como o planeamento urbano e a economia, o ambiente e a saúde, a educação e os hábitos sociais. A necessidade de consolidar formas de gestão inovadoras para estes problemas vem há muito sendo dramatizada no contexto político europeu. São essas preocupações que estiveram na origem do Livro Branco para os Transportes (A Política Europeia de Transportes no Horizonte 2010), adoptado pela Comissão Europeia em 2001. Devemos assim olhar para a experiência dos países com melhores práticas e aprender com as estratégias que aplicaram na sua procura pela melhoria da vivência urbana e de um uso mais eficaz dos recursos energéticos.

É hoje aceite sem controvérsia que a redistribuição das solicitações existentes entre os diferentes meios de transporte não pode ser imposta artificialmente – concentrando a actuação política num ataque ao transporte rodoviário através de uma política de preços – sem outras medidas complementares de revitalização das alternativas mais sustentáveis. Querer promover a redução de circulação – da mobilidade de pessoas ou mercadorias – por mera imposição legislativa é negar a complexidade do problema.
É necessário compreender as causas primárias da congestão urbana, e não olhar apenas para os efeitos do congestionamento resultante.

As nossas cidades, em especial as grandes áreas metropolitanas, cresceram de forma pouco compacta e descontínua. O território urbano desenvolveu-se em resultado de pulsões diversas, não sendo planeado segundo o objectivo de optimizar o recurso ao transporte. As cidades raras vezes oferecem condições para as pessoas trabalharem e habitarem em zonas próximas. Isto, aliado às necessidades específicas de uma vida contemporânea com grandes exigências de mobilidade, tem favorecido o uso do automóvel particular.

Para lá das razões objectivas desenvolvem-se também aquelas de carácter cultural. Um determinado modo de vida favorece a sua continuidade. Invertê-lo exige a capacidade de tornar apelativas as alternativas, mobilizando os cidadãos a aderir às novas lógicas de transporte mais sustentáveis e ambientalmente correctas. Isto significa que importa acompanhar a sua implementação com um trabalho promocional - marketing positivo, pedagógico se quiserem – que aumente as suas garantias de sucesso.

Na ausência de uma estratégia mais vasta, falar de portagens nas cidades é começar pelo fim. Uma verdadeira estratégia para a mobilidade sustentável passa por integrar medidas numa acção concertada de alteração dos comportamentos. E para que isto seja possível, há que garantir a qualidade e a integração dos sistemas de transporte, criando novos pontos de integração intermodal, ampliando zonas pedonais e ciclovias, regulamentando o acesso viário e de mercadorias e, enfim, planeando a cidade com vista à redução das necessidades de tráfego.

A questão da intermodalidade é central ao problema da mobilidade urbana. Este princípio determinante assenta na ideia de óptima interacção entre modos de transporte, pela plena habilidade de transitar de sistema para outro sem perdas de qualidade evidentes. Transitar do carro privado para os sistemas colectivos deve ser tão simples como mudar de metro numa qualquer estação. Assim, e em tecidos urbanos descontínuos como os nossos, é fundamental criar interfaces centrais de comutação nos principais eixos de acessibilidade – onde deixar o carro em segurança e aceder à rede colectiva.

Para lá deste trabalho imenso, há que entender o próprio planeamento urbano como uma ferramenta de gestão, que contribua para que a estrutura da cidade - territorial e funcional - se mantenha coesa. Áreas residenciais e de serviços deviam ser projectadas e construídas tomando em conta as infra-estruturas existentes e a provisão de boa mobilidade pública, proporcionando menor carência de uso de viatura particular.
Esta tarefa, aparentemente gigantesca, é possível com a consciência de que estamos perante uma nova abordagem ao transporte urbano. Uma abordagem que exigirá, ao nível da acção local, um esforço para a modernização dos serviços públicos ou colectivos. E para isso é essencial satisfazer as necessidades dos utilizadores que têm o direito a esperar serviços de boa qualidade e o respeito pelos seus direitos: colocando o utilizador no centro da organização dos transportes.
Alcançada a consciencialização dos cidadãos, encorajando alterações aos seus hábitos e aumentando o uso de formas alternativas de transporte, estarão lançadas as bases para a redução da exigência por mobilidade automóvel, com todos os efeitos negativos que daí decorrem. É esse o bom exemplo de Londres a seguir, não parcialmente, mas no seu todo.

AllesWirdGutt ROM (Romersteinbruch)

Outro projecto dos AllesWirdGut, desta vez intervindo num território complexo e invulgar.



St. Mergareten é uma vila de viticultores na província de Eisenstadt, na Áustria. O seu bem arqueológico mais notável reside na enorme pedreira de Romersteinbruch, usada desde os tempos da ocupação romana e posteriormente utilizada na extracção de pedra para a construção dos palácios e igrejas da Ringstrasse de Viena. O sítio, de características vincadas e algo inóspitas, serve hoje de teatro ao ar livre funcionando durante a época de festivais da região.








É para este local que os AllesWirdGut formularam uma proposta de intervenção, contemplando novas acessibilidades, espaços de suporte e a ocupação de um edifício de apoio. É um dos mais recentes projectos da firma austríaca.
Longas rampas de acesso apropriam-se da dinâmica morfológica daquele território, numa abordagem que congrega diferentes escalas numa estruturação contínua- o percurso, o espaço, o edifício. A massa de nova construção encastra-se igualmente entre os muros da pedreira, enquadrando um grande monólito central ali existente. As texturas insinuam o aço e o betão como os principais componentes materiais. Os resultados formais são tensos, dinâmicos, mas ao mesmo tempo, reverentes à solenidade do sítio.
Mais detalhes no sítio web da AWG (em alemão).

Arquitectura: Awg.

John Pawson Lake Crossing







Projecto recente de John Pawson para uma ponte nos Royal Botanic Gardens de Kew, uma localidade próxima de Londres.
Uma travessia serpenteante sobre a água, a curta distância da superfície. O chão de granito remata numa guarda em barras finas de bronze rasgadas à visibilidade lateral, como um muro que se quer invisível. Vista de frente, as lâminas surgem como uma composição sólida. Lateralmente, a imagem fragmenta-se num ensaio de transparência, reforçando a proximidade entre quem a percorre e a envolvente natural. Uma pequena criação de Pawson com a beleza e abstracção habituais da sua arquitectura.

Arquitectura: John Pawson.

Remind me

Desconhecia este vídeo dos Royksopp, a banda norueguesa de música electrónica, para o tema Remind Me de 2002. Trata-se de um pequeno filme que desmonta a complexidade da vida quotidiana através de uma linguagem visual padronizada, muito ao estilo de comunicação gráfica da IKEA. O resultado é uma visão ampla e muito incomum das ramificações da actividade humana, do consumo de recursos e dos nossos modos de organização de informação. Muito interessante. E também tem gráficos saltitantes.



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School Blog Project

Representantes de escolas de arquitectura de todo o mundo documentam as suas experiências académicas. É a rede de blogs universitários da Archinect.

The Climate Project

Al Gore em full swing. Uma Verdade Inconveniente dá origem ao The Climate Project.

Delugan Meissl House Ray 1








A House Ray 1 de Delugan Meissl ocupa o terraço plano de um edifício de escritórios de Viena. Trata-se de uma expansão de cobertura, uma peça arquitectónica que constitui um piso autónomo e reconfigura a silhueta dos telhados daquele quarteirão.
O desenho é provocador e recusa, nos seus próprios termos, a submissão aos regulamentos para construção deste tipo de ampliação. Re-interpretando essas regras, o novo elemento conforma uma estrutura destacada que se repercute na sua volumetrização exterior. O resultado é um contraste vincado entre a massa estática do bloco existente e a forma dinâmica da nova ocupação.
O piso adicional reforça a continuidade entre a linha de cume dos edifícios contíguos. O objecto parece um agregado de membros metálicos em Alucobond, numa ondulação que faz rasgar zonas transparentes e terraços protegidos. O deck principal suspende-se sobre o horizonte, terminando num espelho de água que define o limite da plataforma, sem guarda, abeirando-se do abismo. Imagem de uma arquitectura no limite, integrando as tensões estruturais como motor da concepção, dos desníveis internos e externos. O cuidado pelo pormenor revela-se em todos os aspectos do desenho, nos elementos interiores e mobiliário fixo, como parte integrante da experiência arquitectónica. A vivência sobressai fluída e tranquila, pela horizontalidade e permeabilidade na relação entre interior e exterior.

Arquitectura: Delugan Meissl.
Fotografia: Hertha Hurnaus; Delugan Meissl.

What the fuck is central vacuuming?

Sem querer parecer muito obstinado, deixem-me recomendar-vos um texto recente e imprescindível da Blogzira: It’s all so predictable.

And you know how it’s going to go, too, don’t you?
“You can’t have that space as a kitchen.” the man with the imaginary clipboard will say as he looks at my plans, meticulously drawn up and technicalfied by an architect.
“Why not?”
“Because it is stipulated in the regulations.” he will say, and you know he will say it in a “Michael Palin doing officious twerp” kind of voice. “And you can forget about that extra 20m2 of space you have surreptitiously tried to sneak in there, underground, where there exists space but which you are not allowed to use…. and don’t even think of asking me why because it is a regulation, stipulated. And that window makes one too many windows.” Oh yeah you clipboarded wanker? And I’ll punch him in the nose and lose my stake forever in the good books of the council.
I’m already getting irritated by the thought of it.
It’s going to make me mad.


Muito, muito bom!

Momento geek

A New Sith, uma reflexão sobre o clássico A Guerra Das Estrelas (Episódio IV) re-interpretado à luz da nova trilogia.

AllesWirdGutt KIGA (Kindergarten)







Um projecto para uma creche em St. Anton am Arlberg, a vila austríaca dos Alpes de Tyrol mais conhecida por ser uma privilegiada estância de ski. A proposta demonstra todo o talento dos AllesWirdGut, a jovem firma de Viena, não só pela qualidade do edifício, compacto e de modulação orgânica, mas pela maturidade das soluções projectuais e materiais ali escolhidas.
O bloco construído, num topo do lote, estabelece a transição entre o acesso exterior de rua e o espaço interno do terreno. Aí desenha-se um jardim de modulação suave em que a simples morfologia parece convidar ao recreio, pontuado de elementos naturais e artificiais, pequenos acontecimentos na paisagem como uma plataforma de madeira, um chapinheiro, um tronco de árvore, uma caixa de areia.
A qualidade assinalável do desenho que ali se observa não resulta apenas de um factor de beleza ou funcionalidade, mas pelo facto de se ver ali um total desprendimento pelo “material nobre”. Sem certas extravagâncias novo-ricas que se fazem reflectir em alguma da nossa arquitectura – a obsessão pelo granito, o aço corten, o mobiliário urbano de luxo – os AllesWirdGutt dão uma lição de bom design fazendo recurso a uma paleta material tão simples como o asfalto, a gravilha, a pedra, a madeira, a relva e um apontamento de calçada nos alçados voltados para a rua. Uma lição de como não é necessário forrar um projecto a ouro para criar uma grande peça de arquitectura.
O interior é tão rico visualmente como o exterior. Também aí encontramos apontamentos de toro de madeira e seixo, criando uma dinâmica naturalista num jogo de contrastes com o minimalismo conceptual. Igualmente reveladora é a preocupação com a luz natural – o edifício abre-se continuamente à luz zenital impressa nos paramentos brancos do interior, valorizando os espaços e ampliando as suas possibilidades de vivência.
Mais detalhes, incluindo uma brochura em PDF, na página da AWG.

Arquitectura: AWG.
Fotografia: Hertha Hurnaus; AWG.

BLOGUITOS 2007



A minha escolha dos melhores dos melhores - assim mesmo – blogs que deviam estar em todas as listas de favoritos. Uma pequena divulgação daqueles que têm tudo para ser uma referência, dos que passam despercebidos ao olhar dos media, os que vivem à beira do mainstream. Algumas das mais recomendáveis paragens da nossa blogosfera.

Categorias:


Não é um blog de arquitectura. Também não se fica apenas por urbanismo. Mas no seu olhar sobre o território e a paisagem tem sido capaz de reflectir sobre o urbano de uma forma invulgar e sempre erudita. Numa área em que poucos se têm destacado, O Verdete tem tudo para ser uma referência.
Recomendam-se: Aspirina Light, MorfoLL, Palavras Da Arquitectura, PostHabitat.
BLOGUITOS 2006: PostHabitat.


Um blog recheado de cores e aromas, o Blog De Cheiros é poético, didático e feito com muito amor pelas coisas da natureza.
Recomendam-se: Blog No Botânico, Dias Com Árvores, Paisagir.
BLOGUITOS 2006: Dias Com Árvores.


A Quinta Do Sargaçal continua a merecer o meu destaque, tornando-se neste ano que passou numa verdadeira página de referência na divulgação de temas em torno da sustentabilidade.
Recomendam-se: Ambio, Bioterra.
BLOGUITOS 2006: Quinta Do Sargaçal.


Outra escolha repetida. Numa área marcada por algum activismo, nem sempre isento, o Viver Na Alta De Lisboa é um dos melhores exemplos de boas práticas. Informativo e participativo, um modelo de cidadania na blogosfera, com assinatura.
BLOGUITOS 2006: Viver Na Alta De Lisboa.


Uma área interessante e surpreendentemente rica. Destacaram-se os bloggers portugueses sediados em Nova Iorque. Entre eles a minha escolha vai para o Caderno Vermelho, que alia belas fotografias a reflexões pessoais sobre a experiência de viver na grande metrópole americana. Fica ainda a nota para A Cidade Surpreendente, um excelente registo da vida na cidade do Porto.
Recomendam-se: A Cidade Surpreendente (Porto), Around NY (Eli In NY) (Nova Iorque), DMNY (Nova Iorque), Inês em NY (Nova Iorque), Santa Bárbara (Nova Iorque).
BLOGUITOS 2006: O Céu Sobre Lisboa.


Life*Fever, o mestre do trendspotting. Um catálogo imprescindível do que de melhor se faz em matéria de design, moda, interiores e arte.
Recomendam-se: Águas Furtadas, Le Petit Roy, Zarp.
BLOGUITOS 2006: Comunicarte Design.


O Fotocafe é um dos melhores fotoblogs portugueses, numa área que começa a estar, felizmente, recheada de bons exemplos. Fica também o destaque para a página da fotografias da Joana Garrido e o excelente estreante O Elogio Da Sombra.
Recomendam-se: Joana Garrido Photoblog, O Elogio Da Sombra.
BLOGUITOS 2006: FotoBen.


Lugar para divulgar a costela artística dos bloggers portugueses. Arriscadamente, a minha escolha vai para uma inglesa residente em Portugal, autora do mítico sketch blog Vitriolica Webb's Ite, que agora se exprime em pleno no novo Blogzira. Fotografia, pintura e escrita, tudo ao serviço de um olhar vivo e bem humorado sobre a vida neste nosso pequeno mundo.
Recomendam-se: Palavra Alada, Sabor A Sal, The Flow State (Uma Palavra Vazia), There’s Only 1 Alice.
BLOGUITOS 2006: Sabor A Sal.


Um excelente sketch blog, em formato cartoon.
BLOGUITOS 2006: Espirro No Mato.


Os melhores blogs para lavar a vista. Pela originalidade e equilíbrio na composição de conteúdos, a minha escolha vai para O Elogio Da Sombra. Mas os outros também são bonitos.
Recomendam-se:
Blogzira, La Double Vie De Veronique, Rititi, She Just Kept On Dancing, Espirro No Mato.

BLOGUITOS 2006: La Double Vie De Veronique.


O meu segundo prémio para este estreante. O Elogio Da Sombra foi uma das mais refrescantes revelações do ano que passou, sendo já uma das referências para 2007.
BLOGUITOS 2006: O Verdete.


Hélas! A minha escolha para melhor blog do ano vai para uma página de língua inglesa. Mas o Blogzira é, indiscutivelmente, um dos mais notáveis blogs escritos em Portugal.
BLOGUITOS 2006: Quinta Do Sargaçal.

Para o ano há mais. Deixem propostas alternativas ou divulguem o vosso próprio blog. Ideias, opiniões e reclamações, o espaço fica aberto na caixa de comentários ou via email.

Pura arquitectura



Richard Meier, Weishaupt Forum, Schwendi, Alemanha; 1989-1993.
(imagens via)







Richard Meier, Burda Collection Museum, Baden-Baden, Alemanha; 2001-2004.
(imagens via)


O perigo que reside em falar da arquitectura numa dimensão subjectiva – do universo da experiência artística - prende-se com o problema da linguagem. Tendemos a sobrevalorizar o poder da palavra, assumindo a linguagem verbal como a base em que reside o nosso saber. Ao fazê-lo, esquecemos que um vasto conjunto de expressões humanas se estabelece sob a forma de linguagens não verbais: em que poderíamos inscrever a arquitectura, mas também a música, a dança, as artes plásticas. Com os seus processos específicos de expressão, estas linguagens desenvolvem-se no espaço abstracto, estrito, do seu universo próprio.
Ao falarmos de arte em arquitectura, o perigo de enveredar por mal-entendidos é ainda maior. Um dos conceitos mais correntes para afirmar esta qualidade é o sentido de poesia. A poesia torna-se um problema quando é entendida enquanto valor linguístico crítico – contaminando o discurso verbal em torno da obra sem lhe adicionar outras qualidades. Porque em arquitectura, a poesia é um sentido subjectivo da forma e da sua percepção; e não um registo interpretativo de cariz literário sem paralelo com a base formal em que ela assenta. De outro modo não poderemos perceber de que poesia fala Álvaro Siza, por exemplo, quando fala da sua obra, sem paralelo em tantas memórias descritivas poéticas que nada dizem de arquitectura. Mais é dizer que linguagem arquitectónica não é o mesmo que a linguagem com que falamos de arquitectura.

Um dos aspectos mais interessantes na arquitectura de Richard Meier reside na enfatização de dois temas recorrentes: o branco como textura e a abstracção como linguagem.
O arquitecto americano tem assumido, sempre e sem pudor, a dimensão artística como integrante da sua expressão arquitectónica. Persiste, nas suas quatro décadas de trabalho, dramatizando os conteúdos teóricos como metáforas de arquitectura, afirmando o significado crítico como parte interna do discurso conceptual. Por isso os seus temas remetem sempre para a arquitectura pura e não para a dissertação teórica fora dela.
Meier fala de espaço, forma, luz, permanência; e fala dessas qualidades através da manipulação de superfícies e volumes, da busca de luminância e de contraste, fazendo sobressair o pleno poder da forma visual. São valores que estão presentes nas suas obras mais antigas, tão evidentes desde a seminal Smith House (1965-67) passando pela Douglas House (1971-73), e ainda no icónico Atheneum (1975-79) que será sempre uma das suas referências.

Um dos projectos que mais admiro na obra de Meier é o Weishaupt Forum (1989-93). É um daqueles edifícios cheios de maturidade, sem marcas de exuberância, que antes exprime equilíbrio, elegância, pureza; qualidades que agora retoma no mais recente Burda Collection Museum (2001-2004) também edificado na Alemanha.
Dois projectos exemplares pelo sentido de harmonia com o espaço que os envolve, destacando-se no contraste material entre o branco metálico e os planos transparentes.
Quando Richard Meier fala na procura de abstracção em arquitectura, fala de uma ideia de arquitectura “ela mesma”. O interessante na obra de Meier é que essa noção de abstracção resulta da dimensão dinâmica da sua experiência e não da desagregação formal. Sem necessidade de subscrever gestos polémicos, a sua arquitectura permanece enquanto gesto de economia. Na execução em busca da beleza pura, no propósito racional, num perene sentido de humanismo.

Sítio



Sítio é uma base de dados de concursos de arquitectura, para arquitectos e estudantes em todo o mundo. Uma página que concentra informação geralmente dispersa, aqui reunida em formato blog naquele que se pode tornar um mini-portal de grande utilidade. Também acessível no spotlight da barra lateral.

Arrumário

Um blog que sobe montanhas. Parabéns ao Arrumário pelos seus dois bons anos de actividade. Ficam na memória deste ano que passou os aviões do Museu do Brinquedo, as rampas do ISCTE de Raúl Hestnes Ferreira, o passeio à Mina de S. Domingos, uma deliciosa intrusão ao “quintal” do arquitecto Alberto de Souza Oliveira, e finalmente, uma extraordinária viagem ao Monte Perdido nos Pirinéus. Vão até lá e percam-se pelos seus arquivos montanhosos.

Residência no Restelo







Vistas de rua de uma casa em construção na zona do Restelo, da autoria do arquitecto José Guedes Cruz.
Num contexto urbano consolidado, o lote faz-se ocupar por dois volumes de estrutura em aço que se intersectam. Os generosos vãos envidraçados do contorno interno são encaixados nos paramentos limite, em forra de ardósia e chapa metálica.
Duas varandas suspensas acentuam uma horizontalidade bastante dinâmica, pontuando no alçado principal um dos momentos mais marcantes de desenho.
Ainda mais interessante são alguns apontamentos de solução de implantação. Assume-se o desnível de contorno através de um muro interno de gabions, definindo a textura do embasamento como sendo já parte da construção. Externamente desenha-se uma vedação em prumos de ferro, como o esqueleto metálico de uma caixa de cofragem. A rede cinzenta faz resultar uma leitura muito interessante, nela se integrando um amplo portão central e ainda o volume inox composto pela caixa de correio e campaínha de entrada. Uma solução invulgar e muito bem conseguida, integrando elementos aparentemente rudes com um sentido de design que lhes confere uma leveza admirável.