Arquitectástico

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O problema com os blogs tem tudo que ver com a densidade. Os blogs são uma plataforma específica de comunicação com particularidades de linguagem que se prendem directamente com o “interface”. Não tão densos quanto uma revista mas possivelmente não tão leves quanto um spot de tv, a melhor qualidade do blog é a sua continuidade. Os blogs tornam possível um diálogo permanente e porque são específicos por natureza podem adquirir uma profundidade que de outro modo não lhes seria possível.
A evolução de standards web teve um impacto evidente sobre o meio: os blogs são hoje muito mais gráficos do que eram há alguns anos; as qualidades visuais ganharam predominância sobre a dimensão textual. No que respeita aos blogs de arquitectura esta tendência teve consequências contraditórias. Curiosamente os blogs mais reputados são ainda os que acolhem a melhor escrita. Mas no que respeita à edição – naquilo que é divulgado e do que recebe pouca exposição – o elemento visual tornou-se mais importante. Não surpreende por isso que o que ocorre nas economias emergentes mereça mais visibilidade, mesmo quando a substância da sua arquitectura possa não estar a par com a proeminência da forma. E assim temos as torres rotativas, os grandes feitos em altura e incontáveis edifícios arquitectásticos que se parecem com outra coisa qualquer: de barcos a flores a coisas que parecem acabadas de sair da guerra das estrelas. Não importa o quão irrelevante possa ser o maior edifício do mundo. Será sempre “o maior edifício do mundo”. Uma torre que roda pode ser um conceito intelectualmente fútil mas, que mais não seja, ela roda. E se nunca foi visto antes, é notícia. E o nunca antes visto tem grande impacto na rede.
Existe assim um lado perigoso dos blogs quando pensamos neles como ferramentas de aprendizagem, porque o que recebe atenção não é necessariamente o mais relevante e sim aquilo que é visualmente mais notável – o que raras vezes é a mesma coisa. Um bom exemplo disto pode ser encontrado também no campo da “arquitectura sustentável”; ou como o blogging está a contribuir para estabelecer um entendimento estético do que é o eco-design. A arquitectura está a ficar literalmente verde – relva nos telhados, árvores e arbustos a sair dos alçados – como se isso fosse infalivelmente a expressão de ideais de sustentabilidade na esfera do projecto. Uma das razões que contribuem para este fenómeno reside num sentido de interpretação conceptual – a necessidade de traduzir visualmente as ideias. Um mecanismo que é muito favorecido pela linguagem blog, pois que é muito mais complicado examinar as especificidades do design – tanto no que diz respeito ao impacto ambiental dos materiais aplicados, questões de custo-benefício ou os ganhos de soluções formais e tecnologias específicas – do que produzir uma gramática visual sobre a construção-verde.
Num olhar mais vasto podemos dizer que o blogging – apesar dos seus aspectos positivos – é um forte contribuinte para uma cultura global de simplificação. Demasiada síntese, pouca análise. O que é desanimador, sendo este um meio onde o discurso não necessita de um princípio ou um fim – e onde a examinação a longo prazo pode ser o paradigma de produção intelectual.
Afinal, pouco importa que a torre rode. O que importa é a razão porque somos motivados por essas ideias; o que nos compele em nome de algo, seja o novo ou o antigo, o decadente ou o sustentável. E sendo assim, talvez os blogs, estas formas abertas de diálogo possam assistir ao nosso entendimento e trazer-nos mais próximo de um sentido para as coisas.

Architectastic
The trouble with blogs is a matter of density. Blogs are a specific communication platform. They retain a uniqueness in language that relates to interface structure. Not as dense as a magazine but likely not as light as a tv-spot, the greatest asset of blogs is that they’re ongoing. Blogs make enduring dialogue possible and because they are specific in nature they may acquire a depth that otherwise wouldn’t seize in the short term.


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The evolution of web standards had a definite impact on blogging interface. As we all know, blogs are much more graphic now than they were a few years ago. The visual features have gained power over the textual dimension.
As far as architectural blogs go, this trend has contradictory consequences. Interestingly enough, the most acclaimed blogs are still the ones with the best written text. But as far as editing goes – as far as what gets the spotlight and what doesn’t – the visual element has become growingly decisive.
Not surprisingly, what goes on under thriving economies gets wide visibility even though the substance of its architecture may not always match the prominence of its looks. Hence the rotating towers, the high-rise achievements and countless architectastic buildings that look like something: from boats to flowers to stuff coming straight from star wars. It doesn’t matter how architecturally irrelevant the tallest building in the world is. It’s still “the tallest building in the world”. A rotating tower may be an intellectually frivolous concept but hey, it rotates. If you haven’t seen it before, it’s news. And the previously unseen makes for great blogging material.
So there’s this downside to blogging when you think of it as a learning tool, because what gets noticed isn’t necessarily the most relevant but that which is most visually remarkable – which is often not the same thing. A good example of this can be found on the issue of “sustainable architecture”; or how blogging is a contributor to the establishment of an aesthetic understanding of eco-design. Architecture going literally green - grass on the roofs, trees and bushes hanging from the walls – as if this was necessarily the expression of sustainable ideals in the realm or architectural design.
One of the contributing reasons for this outcome is a sense of conceptual interpretation – the need to visually translate ideas. A mechanism to which blogs are particularly subsidiary to. For it is much more complicated to delve into the specificities of the design process – either relating to environmental impacts of applied materials, matters of cost-benefit or the gains of specific design solutions – than to produce a visual grammar for green-building.
In a wider scope one could say that blogging – despite its positive aspects, and there are many – is contributing to the global culture of simplification. Too much synthesis, not enough analysis. Which is somewhat disappointing, as this is a medium where discourse doesn’t seem to have a beginning or an end – and long-term examination should, therefore, be the paradigm of intellectual contribution. In the end, it doesn’t really matter that the tower rotates. What matter is why we are driven for that single idea; what compels us in the name of something, either it be the new or the old, the decadent or the sustainable. And if so, maybe blogs, these open forms of dialogue, can assist our understanding and bring us closer to some kind of awareness.

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