O misterioso erro de dimensionamento do RSECE
Diz-se por aí à boca fechada que o RSECE (Regulamento dos Sistemas Energéticos de Climatização em Edifícios), publicado em Abril de 2006, poderá conter um “erro de dimensionamento” com efeito sobre os crítérios de ventilação interior dos edifícios. A ser verdade poderá estar em causa um erro de conversão de unidades de que resultarão exigências superiores ao triplo em relação aos parâmetros utilizados como referência, extraídos a partir de normas técnicas norte-americanas. Poderemos estar assim a impor a nós próprios exigências de ventilação erradas e grosseiramente inflacionadas, com consequências trágicas para o custo, gestão e manutenção de todos os edifícios projectados e construídos ao abrigo desta legislação, que continua em vigor.
O assunto é um verdadeiro mistério. Na revista Indústria e Ambiente (n.º64, Setembro/Outubro 2010) encontramos uma vaga alusão a este problema, tomando como exemplo o caso dos novos edifícios escolares:
Neste momento, têm exigências de entrada de ar novo brutais, muito superiores ao que é exigido nos restantes países europeus, porque houve um erro de sobredimensionamento. Isto faz com que seja preciso arrefecer e aquecer ainda muito mais as salas de aula. Se funcionar como está na lei, os custos de climatização nas escolas vão triplicar.
A ser verdade, repito, o que está em causa pode ser um verdadeiro desastre financeiro e ambiental. Em primeiro lugar porque estaremos a sobredimensionar os sistemas mecânicos de ventilação de ar, em equipamentos e tubagens, com resultado no aumento desnecessário dos custos de obra. Mas o problema não fica por aqui. Ao colocarmos mais ar ventilado no interior dos edifícios do que aquele que seria necessário, temos igualmente de garantir que esse ar é insuflado no intervalo de temperatura exigido por lei, logo estamos igualmente a inflacionar os sistemas centrais e equipamentos de ar condicionado.
Por outro lado, os projectos de AVAC têm uma incidência directa sobre os projectos de electricidade, tanto ao nível das redes como das potências previstas. Temos assim não apenas o facto das redes ficarem sobredimensionadas como resultarem também exigências de potência instalada muito inflacionadas ao nível dos quadros e postos de transformação.
A título de exemplo, temos escolas que funcionavam com PTs de 160 kVA que, depois de intervencionadas pela Parque Escolar, passaram a exigir PTs de 500kVA e 800kVA. Em situações desta natureza, desligar os equipamentos não garantirá sequer a poupança da despesa paga em energia uma vez que o fornecimento daquela potência instalada requer, por si só, um custo de contrato considerável que tem forçosamente de ser pago, quer os sistemas estejam ou não a funcionar – ou seja, quer aquela potência esteja a ser ou não utilizada.
O eventual “erro de dimensionamento” do RSECE, a confirmar-se, poderá traduzir-se num autêntico crime energético auto-inflingido pelo país, pela aplicação de uma lei criada exactamente em nome da eficiência energética. A ser verdade, teremos de nos perguntar como pode esta legislação estar em vigor, sem alteração, há sete anos.
A ser verdade, teremos de nos perguntar por que razão a entidade que tutela a política energética e a gestão do sistema de certificação dos edifícios, responsável pela credenciação dos peritos, nunca detectou esta falha grosseira das normas técnicas.
A ser verdade, teremos de nos perguntar qual o alcance deste erro em gastos financeiros, com incidência sobre promotores públicos e privados, e que medidas irá o país tomar para minimizar os danos entretanto consumados.
A ser verdade, teremos de nos perguntar quem são os responsáveis e por que motivo tarda a suspensão imediata das normas actualmente em vigor e a revisão desta legislação.
A ser verdade… Será verdade?
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Os técnicos da Parque Escolar estão há muito a dizer o mesmo; que o RSECE é exagerado e que não se justificam as exigências que impõe.
ResponderEliminarhttp://www.ordemengenheiros.pt/fotos/dossier_artigo/fraga20carneiro16944492524d22ffb5223ab.pdf
Mas a legislação existe e foi cumprida, com as implicações que se conhecem. Resta saber quem a criou e com que objetivos...
"por que razão a entidade que tutela a política energética e a gestão do sistema de certificação dos edifícios, responsável pela credenciação dos peritos, nunca detectou esta falha grosseira das normas técnicas."
ResponderEliminarE o que andaram a fazer todos os técnicos que fazem projectos de AVAC durante este tempo todo. Durante o desenvolvimento dos seus projectos nao perceberam a falha ou convinha-lhes continuar a trabalhar com valores inflacionados para também poderem inflacionar honorários?
Tudo se inflaciona em Portugal! Até o ar!
Pedro Polónia, os técnicos de ar condicionado têm como profissão dimensionar os sistemas para cumprir a legislação, não faz parte das suas competências a análise da qualidade do ar, a partir da qual se definem os critérios de ventilação.
ResponderEliminarA questão é tão óbvia como escandalosa. E eu não acredito que todos os referidos técnicos de “ar condicionado” , que afinal, são no mínimo bacharéis na área da engenharia mecânica com responsabilidade ética, como o são engºs civis e arquitetos, partilhem a atitude de se limitarem a cumprir uma legislação, que percebam , por via da sua formação, ser altamente danosa para a sociedade. Ou será que não percebem e são uma espécie de autómatos sem inteligência? Mas é claro que também há grandes benefícios gerados por esta situação, e isso sim deve ser referido sem meias palavras: a indústria e o comércio dos “AVACS” a engordar de forma inversamente proporcional ao dos outros sectores congéneres na construção. Os lucros serão tais, que a sua inteligente repartição (aqui não tenho dúvidas em relação ás inteligências) pode ser causadora do silêncio que gera o mistério.
ResponderEliminarNota: Os danos não são apenas económicos, mas também (mais preocupante) para a saúde pública. Está em questão a qualidade do ar que se respira dentro dos edifíciose a sua repercussão na saúde de quem o respira!
Há erros muito convenientes! Dão muito jeito num país em que por norma as pessoas comem e calam. Por outro lado no que se refere à justiça já toda a gente sabe: quem fala verdade, em regra, merece castigo!!!
ResponderEliminarÉ simples e direto! É um erro Sim!!! Sem sombra de duvida, tém a apoiar esse erro a formula de calculo das classificações energéticas dos edificios! Sim essa tb "dá mais pontos a quem tiver maquinas de A/C quando o que se avalia são as caracteristicas do edificio e não do equipamento. Os técnicos como eu que sabem que é um erro, recusam-se a entrar no jogo. Os que embora saibam mas tem que sustentar a familia e manter as suas empresas de pé, vão no jogo e encontram justificações para tal sendo a mais simples a justificação legislativa. Os emprestimos libertados pela UE só para cá vieram porque, quem financiou, queria vender os seus super equipamentos de A/C. O estado aceitou fazer este mau negocio porque queria manter os amigos das construtoras e os seus milhares de trabalhadores no ativo, sem pensar muito nas consequencias desastrosas do futuro. Depois envolceu-se ainda umas centenas de gabinetes de projeto para "roer os ossos", e o resultado é, um aumento de 960% no consumo de eletricidade de uma escola, (quem gastava 25000€/ano passou a gastar 20000€/mês) e os custos de construção aumenaram 433%, (passaram de escolas novas de 3.000.000€ para recuperações de escolas velhas a 14.000.000€) Ninguem saiu rico disto nem quem levou luvas pelos contratos com os fabricantes de equipamentos estrangeiros, mas quem ficou a continua a ficar a perder somos todos nós, com um pais mais individado ainda e gerido pelos mesmos individuos que não vê um palmo para além da sua propria barriga.
ResponderEliminarObrigado a todos pelos comentários. A todos os que aqui têm chegado directamente através do Facebook, deixo a ligação para um texto que foi escrito na sequência deste:
ResponderEliminarA legislação mais avançada do mundo, 2013-06-17.
Mas afinal a Lei permitia aos projectistas algumas modificações desde que justificadas.
ResponderEliminarPorque é que os projectistas não o fizeram e porque é que a Parque escolar não o proporcionou?
DL 79/2006
CAPÍTULO III
Requisitos energéticos
Artigo 6.o
Condições nominais
2—As condições nominais a aplicar a um edifício
ou a uma sua zona específica podem ser modificadas
a título excepcional quando exista a necessidade de soluções
específicas, desde que se explicitem as causas especiais
que as justifiquem, e que as mesmas sejam aceites
pela entidade licenciadora.
ResponderEliminarRecomendo a leitura deste documento aos comentadores anteriores....
http://www.rehva.eu/fileadmin/Old_website_content/technology-and-research-committee/aivc-paper---ventilation-rates-and-iaq-in-eu.pdf
Este texto e uma "palermice"... As pessoas cumpriram o regulamento e os caudais de ar previstos sao os que estao nas normas europeias e americanas de referência. O problema no Parque Escolar é outro e daí eu não aceitar que pessoas como o Fraga Carneiro venham lavar as mãos como Pilatos. O problema no parque escolar está no caderno de encargos de projecto que obrigava os projectistas a colocarem tudo e mais alguma coisa no projecto de AVAC que nada tinham a ver com o RSECE, como por exemplo um recuperador de calor das hottes de cozinha que a própria France-Air diz que tem payback superior a 10 anos!!! Vir desculpar as "aldrabices" feitas por quem fez os cadernos de encargos da Parque escolar com o RSECE é atirar poeira para os olhos. O regulamento não obriga por exemplo a ter ar condicionado em lado nenhum.. eu fiz mais de 10 escolas básicas (sem ser PE) e nenhuma tem AC!
ResponderEliminarQuanto a etica e deontologia, respondendo a um colega "acima", no Aeroporto do Porto, na ampliacao feita ha 2 anos, o arquitecto mandou trocar os vidros previstos em caderno de encargos, por não gostar do efeito depois de aplicados. Foram 80 mil euros em vidro para o lixo! Aldraboes ha em todas as classes e maus profissionais tb.
Tremendo Erro é o tempo que andam a perder com mails como este em que levantam faltas suspeitas sem conhecimento de causa. leiam as normas americanas que referem da asrhae e depois venham falar....
ResponderEliminarNo caso de um bom investigador, técnico ou interessado na area deve-se estar atento a todos os regulamentos e normas que estão na base da ventilação de edificios e não apenas ao Regulamento aplicado no nosso país.
ResponderEliminarQuantos aos consumos exagerados de fornecimento de ar novo existe uma solução, a utilização de ventilação natural.O dimensionamento dos vãos envidraçados na fase de projecto deve ter em conta não só vertente da iluminação natural mas também o seu contributo para a melhoria da qualidade do ar no ambiente inteior dos edificios.
Sem querer alimentar a teoria aqui retratada, posso, com conhecimento de causa, acrescentar o seguinte:
ResponderEliminarRegra geral, o custo total da especialidade AVAC de uma escola, dependendo da solução adotada, poderá estar entre os 30% a 50% do valor total da obra.
Em todas as escolas que participei, como a maioria das escolas do parque escolar, o sistema AVAC, simplesmente está desligado por falta de recursos para pagar a fatura da EDP.
Pedro
ResponderEliminarTudo isto reflete um País com falta de liberdade, sem independência para construir legislação adaptada ao nosso País.