[ter história]

Terça-feira

Eu nunca quis ser jovem. O que eu queria era ter história.

Estas palavras, escreveu-as Lina Bo Bardi no início do seu currículo. Relembro-as ao ler no Obvious uma reflexão sobre O Tempo E A Arquitectura.

A juventude traz consigo um poder imenso, o potencial de virar o olhar de pernas para o ar e ver de formas novas, criar contextos diferentes, reinventar. Triste ver cada geração, cada fornada de potencial humano, ser desacarinhada e não ser investida do melhor do nosso saber. Vivemos um falso culto da juventude, apenas mais um escalão de consumo, um target publicitário.
Para o falso culto, promove-se na juventude uma forma de arrogância ácida, a fazer esquecer a complexidade do mundo em que nos vamos instalar. E partimos para a vida cheios de motivação, ou não, como se tudo aquilo que foram dificuldades e obstáculos para outros venham a ser facilidades para nós, só porque somos jovens, só porque estamos cheios de atitude, cheios de nós próprios. Aos velhos, nada como uma boa dose de presunção de culpa para aliviar a consciência.

Informação, Conhecimento, Sabedoria. Uma discussão também ela velhinha com muitas respostas. E para a arquitectura, sem dúvida, o percurso de licenciado a verdadeiro arquitecto é longo. Coisas de velhos? Não diria, mas coisas para pessoas com substância lá dentro, com um caminho percorrido a ver, a querer e a saber ver.
Frank Lloyd Wright, o génio americano, tinha oitenta anos quando projectou o célebre Museu Guggenheim de Nova Iorque. Concebeu-o, disse-o pelas suas palavras, todo na sua cabeça, antes de colocar um risco no papel. O velho mestre, como um grande pianista que parte para as teclas sem olhar mais para elas, pensava arquitectura. Era a sua linguagem, e ele falava-a como quem fala sem pensar em gramática ou métrica, como algo que lhe está no sangue, ou para citar Damásio, nas vísceras.

1 comentário:

  1. Ao texto irrepreensível, poderia apenas acrescentar uma observação (se não for demasiada arrogância): “O jovem” só explora o seu potencial se lhe for permitida a aprendizagem livre de preconceitos (velhos e novos). Antes de chegarmos a velhos experientes, somos todos jovens sonhadores… E é do sonho que viemos!

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