Os muros cá dentro
A alma de um homem é um lugar cheio de sombras que só uma vida inteira ajuda a iluminar. Para Ennis Del Mar a alma é um precipício que antes preferia esquecer, mas terá de enfrentar no trajecto do seu amor secreto por Jack Twist, em Brokeback Mountain. Esta é a história desse lugar distante onde um homem pode encontrar a liberdade contra a vontade do mundo e de si mesmo. Um mundo que fará Ennis tombar aos próprios pés e esmurrar as paredes de si próprio, até descobrir que na vida tudo se pode atraiçoar menos aquilo que verdadeiramente somos.
O amor reprimido é um tema com raízes distantes no melodrama americano. A singularidade de Brokeback Mountain reside antes na forma como consegue tornar-se tão mais universal quanto particulares são os seus personagens. Para descobrir que, no fundo, Ennis e Jack são apenas homens e que a sua história transcende as fronteiras do Wyoming para nos revelar que a beleza do amor não cabe no espartilho das convenções sociais.
Filme de espaços e silêncios, a obra de Ang Lee é uma experiência enriquecedora que se debruça sobre os vazios interiores de cada um e as angústias que neles moram. Marca maior para a prestação surpreendente de Heath Ledger como Ennis, num registo carregado de uma dureza que só a dor acabará por derrubar.
Um filme que vale a pena descobrir por aquilo que é, sem a bagagem de polémicas e a celeuma dos Óscares. Brokeback Mountain supera algumas pequenas fragilidades para acabar por se revelar como uma obra memorável, e nesse sentido bem mais capaz de ascender rapidamente a um estatuto de culto do que o mais convencional vencedor do título de melhor filme de 2005. Fica a recomendação para os que perderam, como eu, este trabalho maior de Ang Lee, um filme adulto para um público igualmente adulto.
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Também perdi o filme mas espero comprar o DVD. Tens razão no que dizes: "na vida tudo se pode atraiçoar menos aquilo que verdadeiramente somos". Há quem aprenda; há quem nunca aprenda...
ResponderEliminarTem piada, não escreves como um arquitecto...
Graças a Deus e aos Homens também há arquitectos que sabem escrever. E sim, o filme é de facto tudo isso.
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