O país das fontes



Este mapa foi publicado num folheto divulgado recentemente por uma conhecida construtora de fontes ornamentais. O título é esclarecedor: «Mais de 300 fontes em Portugal». Se esta fosse uma medida do nosso desenvolvimento, deixaríamos a Espanha envergonhada.
Será injusto criticar a empresa. Mas ao olhar para esta imagem não posso deixar de pensar que está aqui um retrato fiel de como as nossas entidades locais têm estado a aplicar o dinheiro público nas últimas décadas.
Não quero ceder a demagogia mas ocorrem-me as notícias publicadas no Expresso, revelando que um terço dos nossos edifícios históricos classificados na lista de património mundial da Unesco se encontra em severo estado de degradação. Talvez tenhamos as nossas prioridades baralhadas. E talvez, afinal, este mapa represente realmente em que consiste o nosso património cultural.

Fountain madness
This map of Portugal and Spain was printed on a booklet recently published by a leading manufacturer of water fountains. The title is enlightening: «More than 300 fountains in Portugal». If this was a measure of our development, we would be putting Spain to shame.
The company is not to blame, I suppose. But looking at this image I can’t help thinking that here is a fair portrait of how local authorities have been spending tax money in the last decades.
I don’t want to fall into demagoguery but this reminds me of recent news published in Expresso revealing that a third of our historical buildings classified in the Unesco World Heritage list stand in severe state of degradation. Maybe we have our priorities wrong. And maybe, in the end, this map really represents what our cultural heritage is all about.

6 comentários:

  1. Talvez a UE devesse aplicar uma sanção para gasto abusivo de água. Se bem que algumas fontes têm a chamada "reciclagem", em que a água volta sempre a entrar no sistema. Mas aí, tanto pior; o sistema é caríssimo.

    ResponderEliminar
  2. A cidade onde vivo tem cerca de 10 mil habitantes e tem 4 fontes destas, que dá uma média de 1 fonte por cada 2500 habitantes. Se aplicarmos esta média ao pais vemos que estarão em falta cerca de 3300 fontes em Portugal!
    Esperemos que os Autarcas não façam estas contas! :)
    É triste mas temos de brincar com o provincianismo do nosso país!

    ResponderEliminar
  3. Como sempre, "andamos a meter água"...
    O pior é que não são só as Fontes.Já contabilizaram os "Centros Culturais"
    que todos querem ter na sua terra?...
    Butterfly

    ResponderEliminar
  4. As fontes no contexto em que falo são apenas a ilustração de uma diferença, neste caso pela desproporção entre a alta densidade no norte de Portugal e o resto do território ibérico. A questão nem se coloca por serem caras - são mais ou menos dispendiosas em função da dimensão, volume de água, dispositivos instalados etc, não necessariamente pela recirculação.
    Sei que existe aqui algum simplismo. Pendo para a demagogia ao dizer que não se cuida do património histórico porque se está a gastar dinheiro em fontes. Não será isso. Mas talvez se possa especular sobre a razão porque somos campeões em algo que não deixa de constituir um elemento acessório. Um ornamento urbano. E porque somos deficitários quando falamos de bens indescutíveis, preciosos, cuja perda é irrecuperável. Esse o desalento. Investe-se no visível, no espectáculo, mas não se investe no que se vai perdendo de forma lenta e quase invisível.

    ResponderEliminar
  5. Infelizmente é o reflexo da mediocridade dos nossos governantes...e cada um que tire as suas próprias conclusões!
    (...)é que investir em saneamento e outras infraestruturas básicas não dá votos!
    Já agora quantos projectos Polis não incluem fontes?

    ResponderEliminar
  6. Fontes e rotundas temos para dar e vender. Já o resto..

    ResponderEliminar