O BUILDblog traz-nos o exemplo do atelier dinamarquês Vandkusten para nos falar de um conceito pouco dramatizado no panorama da arquitectura: a modéstia – ler BUILDblog: Architecture of modesty. Produzir boa arquitectura para as pessoas que nela habitam e trabalham pode parecer um desígnio demasiado pequeno no espaço competitivo da rede de informação, lugar onde as grandes obras se destacam pelo impacto imediato de uma imagem.
Num tempo de transição económica, em que o outrora dominante papel dos Estados e a crença ideológica nas virtudes da arquitectura se parecem esbater, talvez importe questionar o papel dos arquitectos enquanto comunidade de profissionais cujo trabalho, para uma grande maioria, encontra pouco eco em campanhas de marketing, nas publicações de especialidade e nos meios genéricos da comunicação.
CSD Architecten: Stef & Britt House, Antwerp, Belgium, 2009. Image credits: Luc Roymans.
Elding Oscarson: Townhouse, Landskrona, Sweden, 2009. Image credits: Åke E:son Lindman.
Jo Nagasaka + Schemata Architecture: 63.02º House, Nakano, Tokyo, Japan, 2009. Image credits: Takumi Oota.
Suppose Design Office: House in Sakuragawa, Tokyo, Japan, 2008. Image credits: Suppose Design Office.
Nos mais pequenos exercícios de arquitectura, vamos encontrando práticas carregadas de inovação, de versatilidade na manipulação de tipologias e soluções materiais, a comprovar a validade do nosso trabalho enquanto campo para a criatividade ao serviço da vida humana. As referências que aqui trago, mais ou menos recentes, não são novas; têm merecido destaque pela blogosfera fora, o que não deixa de constituir um reconhecimento feliz das virtudes da internet quando apropriada com o devido discernimento crítico.
Na Casa Stef & Britt encontramos um desses notáveis exemplos. Trata-se de uma apropriação de um lote urbano exíguo, que dá lugar a uma habitação complexa mas materialmente simples. Ali encontramos crueza de acabamentos e desadorno nos pormenores, a par com uma riqueza formal dos espaços e possibilidade de funções atribuídas.
São traços que podemos igualmente identificar na Casa 63.02º ou na Casa Sakuragawa, inscritos na tradição contemporânea Japonesa que nos continua a despertar para as muitas possibilidades informais do habitar.
Na Townhouse, de divulgação muito recente, descobrimos um novo desafio aos conceitos estabelecidos de tipologia: a casa como unidade descompartimentada, uma estrutura espacial suporte de funções e não um somatório de dependências. São práticas que desafiam lugares comuns, pequenos manifestos sobre modos alternativos de pensar, silenciosos na aparência mas carregados de significado em tempos de contenção, nos custos e nos gestos, da arquitectura.
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Não posso de, ao ler este post, referir a semelhança formal existente entre os projecto dos CSD Architecten e a Casa para a Crise de Eduardo Souto Moura. Também não deixa de ser interessante constatar que todos estes projectos apresentam o tão criticado desenvolvimento em 3 pisos monofuncionais, de modo a aproveitar as condicionantes do contexto.
ResponderEliminarComparem-se agora as suas opiniões sobre os projectos:
-Projecto de Souto Moura, "Se entendermos que uma casa se resume a uma sala de estar, apoio de cozinha, quartos e instalações sanitárias, pois bem. É uma casa. Fora disso, nada mais há senão um formalismo reconhecível e a interminável vista de rio."
-Projectos deste post "Nos mais pequenos exercícios de arquitectura, vamos encontrando práticas carregadas de inovação, de versatilidade na manipulação de tipologias e soluções materiais, a comprovar a validade do nosso trabalho enquanto campo para a criatividade ao serviço da vida humana.".
Creio que estamos perante o tipico chauvinismo invertido português, talvez um reflexo de uma inveja recalcada....
Caro Vitor.
ResponderEliminarSemelhanças? Sim. Diferenças? Também. Chauvinismo invertido Português? :))
Duas ideias. Primeiro, e se lhe disser que estes projectos não aparecem aqui por acaso. Ou seja, que essa associação com a "casa para a crise" não é ocasional.
Segundo, que valerá a pena trazer mais exemplos, bem Portugueses, e bem mais felizes no que respeita a "inovação, versatilidade na manipulação de tipologias e soluções materiais", para continuar a reflexão. Brevemente...
Caros,
ResponderEliminarmesmo antes de ler os posts olhei para a foto e pensei "isto é a casa para a crise? não? parece mesmo..." e é óbvio que qualquer arquitecto faz imediatamente essa associação imagética, mas após ler os comentários apraz-me ressalvar o seguinte apenas como tópico de discussão: enquanto este projecto está claramente definido pelo lote de implantação e envolvente, e ganha espaço sobre a rua adicionando uma protecção sobre a entrada, e daí resulta esta forma de fachada, que trz vantagens a nível de vãos e iluminação interior, o projecto do Souto-Moura é de carácter conceptual, e aquela fachada podia ter aquela ou qualquer outra forma, por isso semelhanças... acho que nem por isso, semelhança meramente casual aconteceu porque o arquitecto português fez, na minha opinião (é apenas a minha interpretação)um exercício formal (irónico)á semelhança de anteriores projectos seus em que virou a casa "de pernas para o ar", mas neste caso virou-a "de lado" ficando as águas do telhado no lugar da fachada, (daí resultando todas as semelhanças,ou seja, nenhumas...), possívelmente como ironia ou paródia á dita crise, pelo menos assim penso, caso contrário foi apenas experimentação gratuita...
Bem hajam!
Pedro,
ResponderEliminarNa minha opinião o que descreveu sobre este projecto trata-se de um conceito... Os conceitos em arquitectura não se resumem aos ovnis/meteorito que aterram rotunda da boavista, ou no plano que se desenrola no espaço e conforma um edifício.
Creio também que a forma da casa do Souto Moura é muito mais um reflexo do aproveitamento de diferentes pontos de vista que aquele terreno oferece e um modo de resolver a questão da acessibilidade à casa.