As «palavras mortas» de Lebbeus Woods
Image from “Modern Movements in Architecture” by Charles Jencks (1973, Penguin).
Lebbeus Woods publicou recentemente um interessante exercício teórico sobre ”palavras mortas”: expressões que perderam o seu significado no campo da arquitectura.
O seu breve ensaio é revelador das mutações ocultas que tiveram lugar na história da arquitectura. Muitas das palavras desaparecidas referem-se, de uma forma ou de outra, à cultura moderna do século vinte. A perda do seu significado clarifica o processo mais vasto de desconstrução das ideologias políticas que sustentaram as teorias do modernismo. Um processo em que podemos identificar as verdadeiras implicações do pós-modernismo: a ascensão do mercado, a prevalência do discurso económico sobre ideias políticas. Palavras como RADICAL e PROGRESSO referem-se directamente a tais conceitos que perderam significado na transição para a pós-modernidade, latu sensu. O abandono de outras palavras – NOVO, ORIGINAL, EXPERIMENTAL – expõe uma realidade contaminada pela queda do idealismo. O cinismo prevaleceu. As elites entraram em queda – GÉNIO – e são agora vistas, como diz LW, com expressões injuriosas: “celebridade”, “starchitect”.
Talvez possamos extrapolar para uma dimensão mais ampla deste vasto processo, uma evidência da morte de certas ideias. E assim eu juntaria duas palavras à lista: ESTILO e MOVIMENTO. A ideia de ESTILO como discurso específico envolvia grande significado na teoria da arquitectura, como expressão de certos princípios artísticos e ideológicos. Este conceito praticamente desapareceu na prática arquitectónica contemporânea. Os arquitectos já não se assumem como detentores de tais doutrinas. A ideia do arquitecto como advogado de um ESTILO parece risível num mundo dominado por uma complexidade estilhaçada. O reconhecimento de padrões substituiu o pensamento linear do mundo moderno, e a prática da arquitectura dá agora ênfase no processo e na análise programática, dando origem a novos conceitos: “creative diagramming”, por exemplo.
Também a ideia de MOVIMENTO enquanto expressão carregada de significado ideológico se tornou distante. A paisagem acelerada do mundo digital transformou a nossa perspectiva da história como uma sequência linear de movimentos culturais. A complexidade e a incerteza são os valores dominantes do nosso tempo. E assim, à medida que o mundo se transfigura para o desconhecido, assim mudam as manifestações da nossa arquitectura, e a nossa linguagem.
«Dead words» by Lebbeus Woods
Lebbeus Woods has recently published an interesting theoretical exercise about ”dead words”: words and terms that have lost their significance in the architectural world.
His small essay is particularly revealing of unconcealed mutations that have taken place in architecture history. Many of his fading words are, in one way or another, related to twentieth century modern culture and theory. Their loss of meaning is enlightening as to a wider process of deconstruction of political ideologies that sustained modern theory. A process under which we may identify the true implications of post-modernism: the rise of the marketplace, the prevalence of the economic discourse over political ideas and beliefs. Words like RADICAL and PROGRESS refer directly to such concepts that have lost meaning in the transition to post-modernity, latu sensu. The abandonment of other words – NEW, ORIGINAL, EXPERIMENTAL – exposes a reality tainted by the fall of idealism. Cynicism has prevailed. The elites have fallen – GENIUS – and are now looked upon, as LW says, with derogatory terms: “celebrity”, “starchitect”.
Maybe one could extrapolate as to a wider dimension of this vast process, as an evidence of the death of certain ideas. And so I would add two words to the list: STYLE and MOVEMENT. The idea of STYLE as a specific discourse enclosed great meaning in architecture theory, as an expression of certain artistic and ideological principles. This concept has lost its meaning altogether in contemporary architectural practice. Architects no longer assume themselves as the bearers of such doctrines. The idea of the architect as an advocate for STYLE seems ludicrous in a world dominated by shattered complexity. Pattern recognition has replaced the linear thinking of the modern world, and architecture practice now focuses on process and programmatic analysis, giving birth to new concepts: creative diagramming, for example.
Also, the idea of MOVEMENT as an ideologically charged expression has become distant. The accelerated information landscape of the digital world has changed our perspective of history as a linear sequence of cultural movements. Complexity and uncertainty are the dominant values of our times. And so, as the world changes into the unknown, so change our architectural manifestations, and so does our language.
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