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Quinta-feira

It is no longer the city but communications that form coexistence, and this induces one to abandon the perspective of the city as a representation of the group rationalization of relationships and social conflicts.
Vittorio Gregotti, The Besieged City

[via Hardblog] (...) Uma praça de S. Marcos em Santos, Manhattan de Cacilhas, Broadway de Matosinhos, são os mais mediáticos exemplos da desventura da cidade portuguesa. (...) Cheios de si mesmos, os promotores (plenos de boas intenções urbanas), e os nossos representantes políticos (plenos de ambição e glória), avançam ameaças de ficarmos com um bocado, com um pouco de tudo em Lisboa. Esquecendo-se de Lisboa.

Lembro-me do que escreveu Aldo Rossi a propósito do seu muito famoso Hotel Il Palazzo, em Fukuoka, Japão. Dizia ele que os seus clientes esperavam uma obra com a marca do seu autor, uma obra à Aldo Rossi. E no entanto, ao deslocar-se ao Japão e absorver as influências da sua cultura, seduzindo-se com a eloquência e permanência daquela sociedade, sentiu-se a projectar um edifício japonês, ou melhor, uma peça de arquitectura do Japão sentido por um ocidental. E apesar de ser hoje um dos projectos mais icónicos de Rossi, foi uma pequena desilusão inicial para os seus promotores.
Julgo que este percurso descrito por Rossi é de uma nobreza exemplar. De certo modo, e responsabilizando-me inteiramente pela comparação, julgo também que foi essa a intenção de Vittorio Gregotti ao projectar o seu (nosso) Centro Cultural de Belém. Não é um edifício à Gregotti, mas a sua interpretação de uma certa cultura atlântica portuguesa expressa na arquitectura renascentista. É assim um dos poucos edifícios monumentais contemporâneos genuinamente portugueses da cidade de Lisboa, como o tempo veio a comprovar.
O problema de perda de identidade que fala o Hardblog relaciona-se com o que a seguir descreve a propósito da “sociedade da(s) imagen(s)”. O excesso de imagem, de comunicação e informação, tem como consequência o contrário: uma redução tanto da comunicação como da informação. A realidade exacerbada pelo consumo imediato dos conteúdos num processo de “estetização” geral. O mundo é percebido segundo a óptica da proliferação de imagens estéticas desprovidas de conteúdo.
Ora estes reflexos de absorção de modelos que assentam em grande parte na espectacularidade vão no sentido exactamente inverso daquele que é descrito por Rossi, que é o da Experiência do Lugar, algo que está na base do próprio conceito de arquitectura como a entendemos desde Vitrúvio. Não quero com isto promover nenhuma espécie de conservadorismo passadista. A imaginação e a criatividade, a capacidade de nos relacionarmos com as referências do mundo que nos rodeia, enfim, a liberdade, são uma necessidade intrínseca e fundamental do trabalho da arquitectura. Mas essa liberdade não deve ser entendida como uma forma de consumo de imagens e modelos, desprovidos de contexto e substância. Deixamos de estar no mundo da arquitectura para começar a entrar no mundo da moda. O que também dava um tema interessante e longo de debater.

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