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Quarta-feira

O que é um blog se não um caderno de apontamentos digital? Podem anotar-se pensamentos, escrever poemas, rascunhos, colar desenhos ou fotografias, rasurar e até rasgar as páginas. A parte interessante é podermos todos vasculhar os cadernos uns dos outros. Julgo que é um traço de alguma generosidade que alguém como José Pacheco Pereira, goste-se mais ou menos da sua orientação partidária, abrir no Abrupto uma janela para a sua mente e dar a conhecer os assuntos que lhe interessam, que o comovem, que o aborrecem, as referências com que constrói o seu dia a dia. Um blog pode ser uma janela para essa “electric mind”, o intelecto digital que cada um quiser inventar para si. Esse tipo de blog, com exposições pessoais daquilo que nos interessa independentemente da correspondência com o interesse dos outros, parece-me apesar de tudo mais atraente do que aqueles que são assumidamente políticos no discurso e na agenda.
Mas o blog é apenas o suporte, a criatividade faz o resto. Gosto de blogs que nos fazem pensar no que está para trás do que ali se escreve e se mostra. Gosto de blogs com percursos, como O Céu Sobre Lisboa. Quem é esta pessoa? Que histórias são estas? Esses são para mim os blogs mais fascinantes, aqueles que dizem “vem comigo, vou mostrar-te coisas que não conheces”.

Descobri recentemente que os blogs são uma maneira nova de se viajar. E que tal ir hoje passear por Nova Iorque. Gosto de visitar Rachelle Bowden, uma designer nova-iorquina que partilha fotografias da cidade, dos amigos, do trabalho, do almoço. Seduz-me a subjectividade de coisas que não interessam nada mas que são expostas com sentido estético, porque a riqueza da vida se constrói pelo olhar, o humano em cada um. Passo pelo mercado de peixe em Chinatown pela mão de Jake Dobkin, depois talvez vá fugir da chuva que cai na 114th and Broadway. Fico a ver as pessoas circulando de patins no gelo em Central Park, partindo para parte incerta ao desviar-me da confusão que paira para os lados da Ave. B. Agora perco-me no Satan’s Laundromat, um fotoblog com percursos pela cidade decadente, perdida, perturbante. Afinal Nova Iorque também pode ser assustadora. Perco-me por aquelas paragens mas fujo depressa. Depois, cansado, talvez pare para ver os restaurantes em NYC Eats.

Os blogs têm uma coisa boa, mostram-nos que o mundo está vivo e cheio de pessoas. Afinal as cidades não são abstractas, povoadas daqueles utentes imaginários que os arquitectos gostam de manipular, que aqui se surpreendem, aqui se extasiam. As cidades são povoadas por pessoas concretas com vida própria, e talvez este novo suporte de comunicação que é o blog sirva para nos descobrirmos todos uns aos outros. Por isso, amanhã, talvez vá de blog até ao Japão.

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