Às vezes é difícil recordar que a saga Alien já foi assim...
Vi este fim de semana, pela primeira e última vez, o filme Alien – A Ressureição, ou Alien 4 para os entendidos.
Já me custa ver filmes nos canais generalistas de televisão. A publicidade ainda se aguenta. O que incomoda mesmo é o pan-e-scan enchouriçado ao quatro por três. No entanto, porque sempre fui aficionado em sci-fi e na saga espacial de Ellen Ripley, lá me encaixei desta vez no sofá para descobrir o capítulo final da quadrilogia. O Alien Vs Predator, obviamente, não conta para este campeonato nem como desculpa para comer pipocas.
Indo directo ao assunto, Alien 4 é um nojo de filme. E eu até sou muito tolerante com filmes parvos. Se estiver em casa num domingo à tarde a ver uma estupidez como o Transporter (Correio de Risco) enquanto estou a enfardar uma montanha de crepes com Nutela, não faço grandes juízos críticos ao ver o cabeça de pedra Jason Statham a borrar-se em óleo para dar nos fagotes a cinquenta tipos maus vindos sabe-se lá de onde para lhe ortogonalizar o traseiro. Mas a série Alien não é uma treta qualquer. Com os créditos passados de Scott, Cameron e Fincher, o mínimo que se exigiria era um título que se levasse a sério.
Primeiro, é aquela premissa da Ripley clonada. Eu não sei se os argumentistas de Hollywood já perceberam que a clonagem é uma solução narrativa que cheira a mofo como a ovelha Dolly. Mas enfim, vamos então fazer de conta que num futuro bio-tecnologicamente super desenvolvido, Ripley foi recriada e, com ela, a rainha-alien que lhe crescia na barriga. E vamos fazer esse esforço alienesco para acreditar que por graças da fusão de ADN alien-humano que a contaminou, ela tem acesso à sua memória genética, ou seja, às recordações da antiga Ellen Ripley. E, de seguida, vamos fazer de conta que não nos estamos completamente nas tintas para aqueles contrabandistas espaciais que se percebe desde o início que estão ali para servir de carne picada para o que se vai seguir.
Sim, depois de todos estes descontos, vamos então às verdadeiras palhaçadas do filme.
Primeiro, porque é que uma estação espacial militar onde se desenvolvem espécies extraterrestres brutalmente agressivas com ácido em vez de sangue e vontade de comer a cabeça a tudo o que mexe, está programada para rumar à Terra caso algo corra mal? Sou só eu, ou... Bem, de seguida, o que é que se passa com o Brad Dourif, também conhecido como o Grima Wormtongue do Senhor dos Anéis para os amigos? Será que os militares do futuro são tão estúpidos que escolhem para seus cientistas os psicopatas mais suicidas que conseguem encontrar?
Mas o filme lá vai entretendo com uns visuais de encher o olho, muito tiro e gritaria. Até que chega o verdadeiro "escambal". Em fuga com a maralha de sobreviventes, e após muitas cenas de exposição - tipos a falar uns para os outros para explicar as partes da história que não conseguiram meter no filme como saber que a Winona é uma andróide de uma raça de robots que se revoltaram e foram eliminados e ela é das poucas sobreviventes e onde é que eu já vi isto sim foi no Blade Runner e em mais trinta filmes - como ia dizendo, Ripley vai ter sabe-se lá porquê à sala onde a raínha-alien está a dar à luz. Só que, desta vez, em vez de por ovos, esta alien desenvolveu um sistema uterino e está a parir literalmente um monstro híbrido alien-humano. E a cena cómica é que a raínha-alien está de barriga para o ar com umas pernitas a dar-a-dar que é das coisas mais idiotas que já se fez em cinema. E claro que, depois de umas quantas reviravoltas grotescas, o monstro-alien-humano acaba destruído sendo sugado para o espaço por uma escotilha. E onde é que já vimos isto? Ah, sim, foi no Alien (1), e no Aliens (2). Será que não há outras maneiras de matar estes bichos no futuro longínquo.
Para acabar em beleza, o filme acaba com Sigourney e Winona dentro de uma nave espacial acabada de entrar na atmosfera terrestre, a sabe-se lá quantos mil pés de altitude por cima das nuvens e numa sala com uma escotilha rebentada, e no entanto não mexe um cabelo que seja das duas meninas. Estão ali a olhar para as nuvens enquanto contabilizam o cachet pela prestação nesta anedota de proporções galácticas.
Tudo isto deixou-me com enormes saudades do James Cameron. Por isso, e para impedir o desânimo, nada como saber que o realizador implacável pode estar a preparar o seu antigo projecto
Avatar, considerado como um dos
melhores filmes nunca feitos.
A notícia, como sempre, descoberta nessa enciclopédia de coisas boas do mundo geek que dá pelo nome de
Binary Bonsai.