Perdendo o terreno
A decorrer entre 10 de Setembro e 19 de Novembro, a Bienal de Veneza 2006 faz incidir a sua exposição internacional de arquitectura sobre o tema Cidades – Arquitectura e Sociedade. Em foco a nova realidade urbana do século 21 em que mais de 75% da população mundial viverá em cidades ou mesmo mega-cidades com mais de 20 milhões de habitantes; fenómeno contraditório com o panorama dos países ocidentais, mais concretamente na Europa, em que as cidades enfrentam o problema contrário de diminuição de população nos seus centros.
Sintomática da perda de protagonismo da arquitectura no debate sobre os novos paradigmas do urbanismo, a exposição central da Biennale revela os mecanismos de evolução das cidades, num jogo de forças entre fenómenos sociais não planeados e a regulamentação da política urbana. Nesse processo, a arquitectura de referência corre o risco de aparecer como uma doutrina acessória – edifícios icónicos são um pobre substituto para a liderança do processo urbano. Por outro lado, a forma como ficam de fora as reflexões em torno da sustentabilidade, novos materiais e modelos de habitar, racionalidade energética e recursos construtivos, revelam igualmente a ambiguidade crescente entre imagem e o conteúdo na discussão crítica da arquitectura e do lugar que ocupa na sociedade actual. Ao divorciar-se da dimensão social da cidade, será cada vez maior a sua falta de consequência colectiva para reduzir-se a um protagonismo tão fashionable quanto efémero.
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aqui, na América Latina, não seremos 75% vivendo em cidades... já somos!
ResponderEliminarNão será essa perda de protagonismo da Arquitectura um sinal de autonomização definitiva do Urbanismo como disciplina?
ResponderEliminarApesar da ascendencia arquitectónica, desde há muito que me parecia necessária a transferencia do centro de gravidade para outras disciplinas como a geografia urbana, e principalmente a ecologia humana, porque é a cidade o habitat construido do homem.
Isto não exclui a importancia do desenho, mas relega-o para mais um complemento da disciplina urbana, e não o seu centro.
Urbanismo sem desenho... seria talvez o ponto máximo do modernismo, a completa destituição da estética da sua linguagem, a tão desejada "desartificação" da paisagem humana.
ResponderEliminarah, pois, podia "adornar" o espaço, é para isso que existem os "artistas" afinal de contas, para embelezarem as rotundas.
Esquece-se talvez que a arte é coisa que transcende o adorno? Implícito no desenho técnico, nas contas rigorosas dos cadernos de encargos, existe um mundo de sensações e desejos. O desenho é até hoje a melhor ferramenta, a que sintetiza melhor o rigor ao desejo.
Melhor que relegarem o desenho para segundo plano, coisa só desejável por quem não sabe desenhar, é investigar quais as soluções técnicas que sejam sustentáveis. A todas as escalas. Mas relegar o desenho!!! Oiço com cada disparate...
além de que me estão para provar a capacidade dos urbanistas para "desenharem" uma cidade realmente "humana" a todos os níveis, acho que é uma escala tão pequena que não se consegue por um lado fazer o planeado nem por outro que o plano contabilize de modo eficaz tanta variável. Vá falem-me agora de "flexibilidade" (e como o concebem sem o desenho?).
ResponderEliminarMais, a cidade parece-me algo que deve ser continuamente pensado, tal como diria Eisenhower, "plans are useless, but planning is indispensable"