Postopolis! Those were the days...



Aconteceu na cidade de Nova Iorque. Tenho estado a fazer a minha web-tour do Postopolis!. Não foi apenas excepcional, foi o nascimento de uma referência. Torna-se frustrante ficar aqui sentado a apreciar a magnitude da coisa e sentir que vivo num país em que talvez vinte pessoas tenham a noção do que significa. Postopolis! foi um ponto de viragem na blogosfera de arquitectura internacional. Estes tipos não estão apenas a falar do fenómeno blog e de como é bestial e que grande potencial isto tem. Eles estão a fazê-lo, estão a vivê-lo. E de repente tem-se a noção de que está a nascer uma coisa nova. Aqui está um evento de micro-escala que se disseminou pela blogosfera sem paralelo. E não é apenas isso. É algo que exemplifica o que é o blogging – uma fusão de toda a espécie de áreas da inteligência e criatividade, um interface onde tudo pode ser revelado e digerido e processado. É uma coisa nova que vai muito para lá dos anteriores suportes de comunicação de arquitectura. A rede é uma coisa poderosa.
E aí têm. Estiveram lá arquitectos, engenheiros estruturais, paisagistas, ambientalistas, professores, urbanistas, editores, jornalistas, escritores, pintores, fotógrafos, cineastas, músicos. É um vislumbre do poder dos blogs enquanto plataforma para o pensamento colaborativo. Vai mudar o mundo tal como o conhecemos. Já está a fazê-lo. E ninguém está a ver.
Faz-me pensar nas razões porque comecei um blog em primeiro lugar. E estou a fazê-lo há três anos e meio, sempre fascinado e supreendido em como o poderei fazer tão melhor. Os blogs são plataformas abertas, estão a evoluir, ainda mal estão a começar a ganhar estrutura e forma. E olho em volta para a blogosfera portuguesa de arquitectura e sinto-me deprimido. Não me importo nada em ser copiado. Mas chateia-me que metade destes bloggers queiram ser o Arkinetia quando forem grandes. Como disse em tempos o Geoff Manaugh, é tudo Zaha, o tempo todo. Não me mostrem projectos bonitos, digam-me o que pensam deles. E apresentem-se. Os blogs pessoais não são instituições por isso metam-lhes o nome. E, já agora, alguma personalidade.
Quanto à outra metade, é simplesmente lixo.
A nossa blogosfera nacional tem um problema. Foi colocada no mapa por pessoas dos media. Em algum momento, o pessoal da comunicação e da política compreendeu que esta era a plataforma perfeita para começar a construir nome e ser notado. E, assim, a percepção pública do que é a blogosfera foi filtrada por este segmento particular mas muito visível da blogosfera, que ou está a falar das eleições que aí vêm ou das notícias do dia anterior. O blogging como câmara de eco da imprensa. Uma caixa de reverberação e ruído.
E por isso há tanta gente que simplesmente não vê que este é um novo e estimulante campo para a interacção pública. E se estão a ler isto, então agora já sabem. Por isso vejam o Postopolis! como exemplo perfeito do tudo o que estou a falar. Rede e cidadania. É muito bom. E todos podem fazer parte.

Por onde começar. Se eu tivesse tempo faria um guia dos melhores êxitos do Postopolis! Mas não tenho tempo. E é tudo bom. Por isso comecem por visitar o site do Geoff Manaugh, BLDGBLOG, para ficar com uma ideia. Depois mergulhem no registo longo e simplesmente excepcional daqueles cinco dias alucinantes, pelo Dan Hill no City of Sound. A Jill Fehrenbacher do Inhabitat também publicou alguma coisa, assim como o Bryan Finoki do Subtopia (edit: o debate com Lebbeus Woods é obrigatório).

Em seguida, nada como visitar o Archidose do John Hill. Ele esteve lá e juntou uma selecção de vídeos do Postopolis!. Que também poderão procurar no Youtube.

Querem fotografias. Eles têm fotografias para mostrar. Vejam o Postopolis! Flickr pool e o Postopolis! Flickr set do Geoff Manaugh também.

Então, o que é que falta? Deixem ver, há esta excelente discussão sobre o Postopolis! na Archinect. E a galeria de imagens da Archinect / fotos de eventos com mais fotos, se vos apetecer.

E é tudo. Agora, o melhor é começar a juntar fundos para ir ao Postopolis2! Talvez para o ano.

Postopolis! Those were the days...
It happened in New York City. I’ve been making my own Postopolis! web-tour on the aftermath. It wasn’t just awesome, it was a landmark. It’s kind of frustrating sitting here and getting the grasp on the magnitude of the thing, and feeling that I live in a country where maybe twenty people will “get it”.
Postopolis! is a turning point for the international architectural blogosphere. These guys aren’t just talking about the blog phenomena and how great it will be and what a great potential it has. They’re doin’it, they’re livin’it. And suddently you get the feeling that this is something new. Here’s a small scale event that’s been spilled onto the blogosphere beyond parallel. And that’s not just it. It kind of exemplifies what blogging is all about – a fusion of every possible area of intelligence and creativity, the melting pot where it can all be revealed and digested and processed. It’s a new thing that goes way beyond the previous supports for architectural communication. The web is a powerful thing.
So there you have it. There were architects, structural engineers, landscape architects, environmentalists, teachers, urban designers, publishers, journalists, writers, painters, architectural photographers, filmmakers, musicians. It gives you a glimpse of the power of blogs as a platform for collaborative thinking. It’s going to change the world as we know it. It’s doing it already. And nobody’s watching.
It kind’a makes me go back to why I started a blog in the first place. And I’ve been doing it for three and a half years now, and I’m always amazed and wondered on how I could make it be so much better. Blogs are open platforms, they’re evolving, they’re just beginning to get shape and form. So I look around at the portuguese architectural blogosphere and just feel depressed. Now I don’t mind being copied at all. But I do feel bothered that half of these bloggers are making Arkinetia wannabes. As Geoff Manaugh once said, it’s all Zaha, all the time. Don’t just show me nice projects, tell me what you think about them. And do present yourselves. Personal blogs aren’t institutions so put your name on them. And some personality too.
As for the other half, well, it’s simply crap.
Our national blogosphere has a problem. It was put on the map by media people. At some point, folks from communication and politics found out that this was the perfect platform to build a name and get noticed. So public perception on what the blogosphere is all about is filtered by that particular but very visible segment of the blogosphere, that’s either talking about the next elections or yesterday’s news. Blogging as a reverberation chamber for the press. A noise box.
And so there’s a lot of people out there that don’t get the fact that this is a new stimulating field for public interaction. And if you’re reading this, well, now you do. So check Postopolis! for the perfect example of what I’m talking about. Web and citizenship, all in one. It’s great. And you can join in too.
So where do you start. Well, if I had the time I would make a decent road map of Postopolis! greatest hits. But I don’t have the time. And it’s all great. So start by hitting Geoff Manaugh’s place, BLDGBLOG, to get an idea. And then dwelve into Dan Hill’s ongoing and absolutely remarkable record of those five hectic days, on City of Sound. Jill Fehrenbacher from Inhabitat has some stuff too, and so does Bryan Finoki’s Subtopia (edit: the debate with Lebbeus Woods is an absolute must-read).
Next, move your feet towards John Hill’s Archidose. He was there and he’s been gathering a great selection of Postopolis! videos. Wich you can further search for on Youtube.
You want pictures? They’ve got pictures for you. Check Postopolis! Flickr pool and Geoff Manaugh’s BLDGBLOG Postopolis! Flickr set too.
So, what’s left. Well, there’s the really cool Archinect @ Postopolis! discussion which you definitely shouldn’t miss. And the Archinect image gallery / event photos with even more pictures, if you’re in to it.
And that’s it I guess. Time to start saving money to attend Postopolis2! Maybe next year!

6 comentários:

  1. vou linkar este seu post, ok?

    (é demasiado importante para eu não o fazer :-)

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  2. ótimo texto e perfeita colocação de como vários bloggers querem ser Arkinetia...

    eu comecei como blogger faz pouco tempo, mais como blogterapia do que qualquer outra coisa, é uma maneira de tirar da mesa de bar algumas discussões sobre arquitetura.

    abraço e parabéns pelo belo trabalho

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  3. Acompanhei o evento como pude e a verdade é que acaba por acontecer como resultado normal de uma grande organização e vontade de partilhar. Partilha.
    A palavra transforma-se em conceito e em principio, coisa que por aqui dificilmente se pode entender.
    A Blogosfera nacional é politicodependente? É. Mas é assim em todo o lado, a diferença é que por cá a coisa depende da publicidade do autor. Do saber-se fazer mostrar, e aí reside o problema.
    Assisto com enorme perplexidade à forma como gente com pouco ou nenhum conteúdo se vê publicada com grande à vontade, e assim se consegue fazer ler, vomitando os seus principios e o seu opinanço, acrescentando muito pouco ao objecto da critica, e isso, infelizmente, acontece em todo o diâmetro do circulo blog. De uma ponta à outra.
    Por outro lado acredito que por aqui um evento destes poderia ter lugar, uma oportunidade para conferenciar e fazer convivio entre pessoas com vontade de abrir as suas perspectivas sobre determinado assunto. Mesmo sobre arquitectura, porque não?

    Ainda assim Daniel, retiramos coisas muito boas desta experiência salutar que é a publicação dos nossos textos. Uns com o conhecimento e a capacidade de busca do Daniel, outro que como eu se limitam a procurar fazer do pouco tempo disponivel um veiculo oportuno de divulgação de alguns momentos geniais que a arquitectura nos oferece. Pessoalmente gosto de fazer companhia à centena que acompanha o Aspirina, isso motiva sem sombra de duvida... E enquanto o trabalho for sendo assim sincero Daniel, acredito que não há que haver preocupação com os monstros politicos que assombram estes recantos da internet. É que no que toca a ir à procura de lugares que realmente nos interessam, enquanto formos visitados, o estimulo, penso eu, nunca desaparece.

    Um abraço

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  4. Não acho que os monstros políticos, ou jornalísticos, ou outra coisa qualquer, assombrem a blogosfera. Não é a sua presença que é um problema. Quantos mais melhor. O Pacheco Pereira fez mais pela sua disseminação em Portugal do que nós todos juntos.
    O que me parece um problema é a distorção da percepção pública sobre o que é a blogosfera, que resulta do protagonismo mediático de uma espécie de discussão ruminante de coisas, sem produção de conteúdo ou reflexão original. Um protagonismo que oculta todo o potencial da infraestrutura blog em produzir coisas como o Postopolis. Quando se diz “A Blogosfera nacional é politicodependente? É.” confesso que tremo de alto a baixo. Nem sei que blogosfera com B grande é essa – ou se sei, não é decididamente aquela em que quero participar e com quem quero estabelecer pontes de diálogo.
    Tenho sérias dúvidas de que seja possível reproduzir em Portugal uma sombra que seja de um Postopolis! Por falta de uma coisa que agora está muito na moda– massa crítica. Ou por falta dela. E pela completa ausência de cidadania e espírito de comunidade assertiva.
    Vê a página de discussão do Postopolis! na Archinect. Centenas de comentários em meia-dúzia de dias, com algumas discussões conjuntas pelo meio, mas sempre num tom elevado, colaborativo, assertivo, e nem por isso menos contundente. E depois percorram os comentários colocados, por exemplo, no BLDGBLOG, e experimentem percorrer os muitos blogs desses comentadores desconhecidos. E descobrimos que a blogosfera de arquitectura tem muito mais coisas do que pensamos, e tantas tantas interessantes, de estilos totalmente diferentes, com reflexão e conteúdo. É este o referencial de cidadania que produz coisas deste género.
    Depois experimentem dar uma volta pela blogosfera de arquitectura feita entre nós. Sigam os links. Vejam os comentários. E tirem as vossas conclusões.

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  5. É dificil não se ser analitico quando se é interpretado analiticamente... Dos 25 blogs de topo no blogómetro (na lista politicamente correcta), quantos são objectivamente espaços de óbvia manifestação de texto directamente relacionado com politica ou o contexto politico-social do país? Não perco tempo a contá-los e digo que serão a maioria. Não chega isso para definir a blogosfera como politicodependente mas dá-nos uma boa amostre sobre aquilo que é lido . Pessoalmente não me incomoda nada porque não faço parte da hitlist dos ditos espaços, nem me faz qualquer diferença que a população em si prefira oferecer a um blog cheio de opinanço o seu tempo em deterimento de outro sobre outro assunto qualquer.
    O que me trás áquele que é o ambiente nos blogs portugueses de arquitectura, naturalmente desenvolvidos por gente do meio ou estudantes com interesse, ou fotógrafos curiosos ou quem quer que seja com tempo e disponibilidade intelectual para desenvolver a actividade da escrita. O resultado é reflexo do ambiente profissional em que essas pessoas vivem, horários das 10 ás 19 e receita de afastamento compulsivo do computador no periodo pós-laboral (quando ele sequer se digna existir). Falo por experiência própria, procuro produzir um blog com o tempo que tenho, com trabalho das 9 às 18 e part-time das 19 à meia noite, o esforço faz-se com enorme satisfação mas a hipotese de investir realmente na coisa vê-se refreada pela actividade principal que exerço durante o dia. Como eu, centenas o fazem e é aí que a blogosfera de arquitectura acaba por se tornar um resultado possível daquilo que o tempo nos permite fazer.
    É certo que muito boa gente tem tempo mas não se preocupa, ou tem meios e não os aplica, isso são outras contas, mas acredito que uma esmagadora maioria faria melhor caso a vida o permitisse, coisa que os 4 intervenientes principais do Postopolis! acabam por ter (sobretudo o Inhabitat que trabalha em equipa) mercê das condições que regulam a sua actividade (apesar de no caso do Geoff Manaugh não ser propriamente um blogger de publicação diária).
    Acredito que muito mais do que falta de estimulo, nos falta tempo (coisa que no caso dos politicos existe em lamentável demasia)

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  6. Confesso que não conhecia este fenómeno Postopolis até aos anúncios feitos aquilo pelo Daniel. Felizmente temos alguém aqui que se lembra de os referênciar para nos abrir os olhos!

    É realmente uma iniciativa extraordinária que só acontece pela grande força de vontade de pessoas activas e com vontade de desenvolver projectos extra-horários a favor da discussão, troca de experiências e exposição da arquitectura num panorama mundial. Esta iniciativa pôs-me a pensar em que medida seria possível ou não um acontecimento similar no nosso país. Não ponho esta hipótese de parte, certamente não seria com a dimensão que este teve, mas observando o que se vai passando nesta blogosfera quase inactiva em Portugal (que mesmo eu tenho dificuldade em encontrar tempo), temos alguns, muito poucos, bons exemplos com os quais seria possível partilhar conhecimentos, gerar discussões e incentivar a uma participação exterior em debates públicos.

    Entretanto mesmo com pouquíssima quantidade, vou aproveitando a grande qualidade de blogs nacionais que continuam empenhados e com vontade de continuar.

    um abraço

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