Crítico de arquitectura instantâneo. Ou de como os blogs nos permitem assumir um qualquer papel, crítico instantâneo de áreas do saber anteriormente vedadas ao espectador comum, domínio da elite, hoje abertas à opinião pública. A crítica caiu na rua, com tudo o que isso tem de bom, de mau, e de muito mau.
A propósito de blogs comecei por recordar a imagem da roda de relva, projecto muito divulgado no circuito blog, criado por alunos de uma faculdade americana. A ideia é fácil de apreender. Perante a ausência crescente do natural na paisagem urbana, nada melhor do que criar o espaço verde individual, portátil. O nosso pequeno mundo. E isto pareceu-me uma boa metáfora para os blogs, porque são um lugar onde todos podem inventar regras de relação com o exterior, extensões de uma outra forma de existência.
A blogosfera é uma infraestrutura de comunicação global. O blog é um interface. Não mais, não menos. Não é uma entidade social, não acarreta em si mesmo dimensão moral ou ética. Mas o seu exercício constrói espaço, um lugar que é uma construção cultural, pois que os lugares são isso mesmo, instituídos pela prática da expressão humana.
Trocando impressões com várias pessoas vou recolhendo um retrato, em particular nos meios académicos, de um fenómeno apreendido com conotações tendencialmente negativas. Pacheco Pereira descreveu bem esse mundo como o oeste selvagem, território sem parâmetros ou regras. Uma crua descrição da blogosfera portuguesa.
Não é por se usar a mesma ferramenta de software que os americanos, brasileiros, japoneses e chineses que deixamos de ser portugueses, de levar para lá o nosso mundo exterior. Não somos ricos na Rede se somos pobres cá fora, não somos sofisticados em linha, se somos trogloditas cá fora, não sabemos mais e pensamos melhor nas páginas do Blogger do que pensamos cá fora, nos cafés de província, ou no Bairro Alto ou no Lux ou nas páginas dos jornais, não se é cosmopolita lá dentro se se é provinciano cá fora, não se é subserviente cá fora e independente no ecrã diante do computador, não se é burro cá fora e inteligente lá dentro.
O que se passa é que esse verdadeiro mostruário em linha, feito de mil egos à solta, revela mesmo a nossa pobreza, a nossa rudeza, a falta de independência face aos poderosos, grandes, pequenos e médios, os péssimos hábitos de pensar a falta de estudos e trabalho, de leitura e de "mundo", que caracterizam o nosso "Portugalinho". Nem podia ser de outra maneira. Com a diferença que nos blogues o retrato é mais brutal porque mais arrogante e mais solto, ou pelo anonimato, ou pela completa falta de noção de si próprio de quem, por poder escrever sem edição para os milhões de leitores potenciais da Rede, acha que é crítico de cinema instantâneo, engraçadista brilhante, analista político, escritor genial de aforismos, herói único da denúncia dos males do mundo, e portador de todas as soluções que só não são aplicadas porque os outros, a começar pelo blogue do lado e a acabar no fim do mundo, são todos corruptos, vendidos e tristes.
[A cultura de blogue nacional, via Abrupto]
Existirão várias razões para ser esta a nossa blogosfera mais visível e aquela mais facilmente referenciavel em órgãos de comunicação. Em parte porque trazida para o campo dos “media” por pessoas da imprensa escrita e da política, cujas regras de reflexão se pautam por: a) actualidade ruminante (o assunto do dia); e b) conflituosidade latente. O diálogo racional e uma base de referência fundada em valores de cidadania avançada (na tolerância perante “o outro”, na contraposição argumentativa, na prevalência do racional sobre o emocional) sucumbem no caldo cultural dominante. Algo que ninguém parece interessado em questionar “de dentro”. A fazer lembrar a tese de Bjarke Ingels relativamente à cultura de vanguarda – a ideia de rebelião contra o estabelecido, a ideia de que o progresso ou o radical se associa ao negativo, a “estar contra”, que tornando-se na corrente dominante se transforma numa nova forma de seguidismo.
Esta degradação do espaço público das ideias não é exclusiva da rede, mas é agravada pelo esbater de barreiras de comportamento social que existem no exterior. Confunde-se contundência com intolerância, personalidade por “opinião forte”, tantas formas de extremismo intelectual.
A outro nível, processam-se fenómenos de dimensão global resultantes de uma nova cultura de massas. O problema é identificado no livro de Andrew Keen, na tese do Culto do Amador. A dissolução de referência de cultura específica, a submersão do técnico perante o ideológico. A subjectivização indistinta do saber, processado com poucas variáveis. A negação da margem de erro e da complexidade do real.
A blogosfera é por isso um mundo com vários perigos. Mas não é apenas isto. É também uma paisagem promissora para a troca de ideias, a comunicação e a partilha. Falando da blogosfera de arquitectura, referenciei o Postopolis como ilustração exemplar.
O Postopolis foi um evento promovido por Joseph Grima, director da Storefront for Art and Architecture, a célebre galeria de arte nova-iorquina desenhada por Steven Holl e Vito Acconci. Grima convidou quatro dos mais notáveis bloggers de arquitectura - o Geoff Manaugh do BLDGBLOG, a Jill Fehrenbacher do Inhabitat, o Bryan Finoki do Subtopia e o Dan Hill do City of Sound.
E desafiou-os a organizar um evento de cinco dias, preenchido por debates com imensos convidados, especialistas das mais diversas áreas: arquitectura, design, landscaping, ecologia e sustentabilidade, arte digital, música, imprensa de arquitectura, cinema.
Tudo.
Debates intensos em pleno verão, na cidade de Nova-Iorque. Mas o que o Postopolis teve de único e extraordinário foi o facto de ter os seus conteúdos altamente disseminados na rede. Através dos blogs dos organizadores e de uma rede espontânea de bloggers, de visitantes ou de curiosos em todo o mundo, o que ali se passou foi recebido e debatido pelo globo fora. Em meia dúzia de dias apareceram galerias no Flickr com centenas de fotografias do evento. Vídeos das conferências foram colocados no Youtube, vistos, divulgados, comentados. Várias páginas web abriram fóruns de debate. No Archinect, o canal do Postopolis recebeu durante aqueles dias centenas de mensagens. Um exemplo a mostrar que outra blogosfera é possível, capaz de produzir conteúdos, reflexão, inteligência crítica.
Longe da cultura do “o que tu queres sei eu”, da presunção da má fé. Onde a assertividade e a cidadania podem ser não a excepção mas a regra.
Conclui partilhando algumas preocupações que fazem parte do meu percurso pelo mundo da arquitectura. O tema, um cartaz fictício com o título de Architecture is dead. Uma composição feita a partir do cartaz do famoso filme de ficção científica dos anos 50, “Invasion of the Body Snatchers”. Uma visão catastrófica da Torre do Burgo, de Souto Moura, sendo destruída por uma chuva de meteoros com a forma da Casa da Música, de Koolhaas.
No fundo trata-se de reflectir sobre o facto de que a arquitectura está a mudar. O modo de fazer, pensar a arquitectura, está a mudar.
Claro que a arquitectura não morreu, nem vai morrer, pelo facto de sofrer transformações. A mudança sempre fez parte da história da arquitectura, algumas dessas mudanças bastante radicais, e talvez nenhuma mais profunda do que o movimento moderno. Mas a produção de arquitectura é hoje diferente daquela do passado. E esta provocação pretende fazer reflectir sobre isso, sobre aquilo em que consiste essa mudança.
Dizia Alfred Hitchcock que era capaz de visualizar um filme todo, antes de o realizar, na sua mente. O seu anseio por domínio era tal que, ele próprio o disse, ao realizar o filme, até os actores eram um estorvo. Algo que estava entre ele e a obra perfeita, que ele teria de subjugar à sua visão maior.
Também a nossa profissão tem uma dimensão doutrinária em que pesa enormemente o factor autoral. O papel do arquitecto-autor está fortemente entranhado na doutrina académica e é assim de uma forma assumidamente resistente. Mas será esse o nosso papel no mundo de hoje?
Não se trata já de uma questão de opção, em que podemos ser assim ou de outra forma. A esse respeito, várias vezes vi debatida a ambivalência da arquitectura enquanto arte e enquanto técnica. Claro que a arquitectura é uma arte, quando produz emoção estética nas pessoas que a vivem.
A arquitectura, para ser erudita, tem de carregar essa dimensão da arte, da transcendência das ideias. E, quando se alcança essa arquitectura, então estamos perante uma obra capaz de transformar a percepção e as nossas referências, abalando a verdade do que somos, do nosso ponto de partida.
Mas a arquitectura é acima de tudo muitas coisas. Arte, técnica, mas também jurídica, económica, ambiental, com implicações sobre a sociologia e a história. É essa a grandeza da disciplina, o facto de tocar em muitas áreas do saber humano.
E porque as exigências que se colocam à arquitectura são cada vez mais amplas, mais complexas, desafia-nos a desenvolver mecanismos para processar essa complexidade. No fundo, como dizia Mark Wigley, o arquitecto é um especialista em incerteza e em multi-tasking..
Somos arquitectos no tempo da sustentabilidade. Algo que não se traduz por incorporar nos projectos umas quantas tecnologias high-tech green. Sustentável significa fazer uso dos recursos adequados para o fim a que se destinam. Significa combater desperdício. A arquitectura também é um acto de economia, até no que respeita especificamente ao desenho.
Podemos ignorar tudo isso, assumindo como prioritárias as razões de factor estético e elaborando-as à última potência. Mas não somos esteticistas. Fazer perfeitos objectos estéticos não significa necessariamente estar a fazer boa arquitectura. E fazer boa arquitectura não depende apenas de reunir o cardápio de materiais de topo ou fazer uso de meios tecnológicos de última geração.
Pelo contrário, a boa arquitectura estabelece-se a partir da capacidade de encontrar o grau de eficácia mais apurado na resposta a todas as vertentes da complexidade do real.
O mundo lá fora será sempre mais complexo. Não é por se ser jovem, por se ter muito voluntarismo ou vontade, ou opiniões fortes, que lá fora tudo aquilo que foram dificuldades para gerações que nos precederam serão facilidades para os que virão. Lá fora aguarda o mesmo atrito, as mesmas frustrações e até, por vezes, o desânimo.
Mas outra coisa é certa. Não está tudo inventado. Está tudo inventado – grande mentira. Nunca está tudo inventado. É sempre possível fazer melhor, com o menor dos meios. Inovar depende da capacidade de olhar para os problemas de forma diferente, dissecando-os nos seus vários graus, apreendendo os diversos elementos de cuja combinação resulta a complexidade aparente, aparentemente irresolúvel, que neles reside. E por isso o sucesso em arquitectura depende de muitos retornos, de produzir várias iterações, de experimentação, de especulação.
Nada está inventado. Na verdade, está quase tudo, como sempre foi, na arquitectura como em tudo o resto, por descobrir.
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Parabéns pela brilhante exposição! Óptima análise àcerca de um assunto tão actual!
ResponderEliminarButterfly
Stellar !
ResponderEliminarum conjunto de boas referências e uma boa oportunidade para um debate interessnate em torno da arquitectura 2.0. Parabéns !
Gostei bastante da exposição de ideias com que nos presenteou. É sempre um prazer te-lo por cá. Até breve
ResponderEliminarTexto muito bem construído, parabéns.
ResponderEliminarSe há coisa que a blogosfera faz é resistir sempre às simplificações. O que existe são pessoas que produzem conteúdos em blogues, e essas pessoas são muito diferentes e querem coisas diferentes, não há maneira de as subjugar a uma imagem única. Mesmo que só houvessem um ou dois autores a fazerem diferente do resto isso já era importante.
As colaborações que podem nascer a partir deste meio é o factor diferenciador e o que há de mais importante.
Há aqui uma carga de penitência que me parece algo excessiva Daniel.
ResponderEliminarO fenómeno blog durará o tempo necessário até encontrar outras plataformas de promoção de um determinado assunto, ou de alguém que, por intermédio do conteúdo sobre o qual expõe/disserta, aproveita para com ele se promover também.
Este tipo de espaços online devem ser tidos na conta devida, que é a da utilidade da comunicação que se presta, porque em ultima análise esta é mais moderna plataforma de comunicação, que nos não obriga a qualquer tipo de seguidismo ou aclamação. O JPP resolve escrever sobre politica e agir em pró e contra o PS ou o PSD? Porreiro, não é espaço que visite, nem é espaço que faça parte da nossa cultura nacional, nem sequer de uma qualquer cultura blog nacional, e não é o número de visitas que o tornará mais ou menos categórico, pois a montante da qualidade ou quantidade de postagem, está a minha escolha pessoal. Se o Browser não o visita, se não se linka para lá, então o livre arbítrio, soberano aqui como em tudo o mais, mantê-lo-á longe da minha consideração, e como eu, milhares.
Sei que não é essa a intenção, mas estamos a dar demasiada importância a estes espaços que de um momento para o outro deixaram de existir. Não fazem sermões, não promovem manifesto. São um conjunto de posições subjectivas cujo consumo se faz de forma tão imediata que não há tempo que lhes garanta uma progressão sustentada nas ideias que apresentam.
No limite, daqui a 10 anos os blogs estarão lá longe, ao nível dos newsgroups ou dos fóruns de opinião. Lugares estéreis que se viram ultrapassados por uma plataforma superior e que pela velocidade moderna não tiveram tempo para sustentar a sua importância.
E ainda bem, acrescento eu.
Acredito que faz sentido exercitarmos o momento da melhor forma possível, porque serve acima de tudo como uma das mais úteis fontes de partilha do actual contexto global. Seja aplicado às artes, politica ou economia.
Ou à galhofa e descontracção.
E é por isso que no seu onanismo quase pornográfico o Nuno Markl se mantém como uma das referências do negócio.
Why so serious ?
Ivo,
ResponderEliminarDe curta ou longa duração, o fenómeno blog é uma instituição universal e representa hoje uma boa parte da cultura do nosso tempo. Não tão longe do que foram os newsgroups – muito mais do que as páginas pessoais dos primórdios da WWW – porque são de igual forma plataformas de rede, que inadvertidamente se mobilizam no mesmo sentido gregário, mais ou menos temático. Mas os blogs têm uma dimensão nova porque têm sido capazes de absorver a evolução de tecnologias web -imagem, áudio, vídeo, tecnologias interactivas – o que os torna capazes de fazer a progressão para a Internet 2.0.
Dito isto, ninguém sabe o que será a Internet 3.0, e como os blogs se poderão tornar obsoletos num futuro mais ou menos próximo, extinguir-se ou tornar-se noutra coisa qualquer. Mas no que são e no que significam no momento presente, são também reveladores dos méritos e dos vícios da expressão colectiva dominante. De forma brutalmente crua, os blogs são um caso (de estudo) muito sério.
Faço o meu blog sem pretensões institucionais. É uma forma de expressão individual. Mas o que faço gosto de fazer bem feito e levo-me a sério. Como a sério se leva o Nuno Markl, bem mais do que a aparência pode denunciar. E a questão aqui não é se tomamos a nossa expressão com amadorismo ou profissionalismo mas antes se o fazemos, como diz o Pacheco Pereira, com “completa falta de noção de si próprio”. Pessoalismos à parte, ele tem sido a pessoa a pensar com mais profundidade sobre a blogosfera portuguesa. E o que ele diz é, ponto por ponto, a verdade do que somos e do que andamos por aqui a fazer.
Chamo a isso a cultura do “o que tu queres sei eu”. Que pode ser uma boa anedota, mas é uma tragédia quando se torna um retrato social, da referência dominante de presunção de má-fé alheia.
E quanto a isso, entristece-me que a blogosfera portuguesa de arquitectura seja uma miséria, repartida entre arkinetia-wannabes e idiotas chapados. Sobre isso não tenho paternalismos. A mim entristece-me que isto nos represente, que não sejamos colectivamente capazes de fazer melhor. De trazer inteligência e assertividade para uma construção colaborativa comunitária de ideias. Como fazem outros, porque o portugalinho não é uma fatalidade. Não, outras blogosferas existem a demonstrar que é possível fazê-lo.
E entristece-me que perante a folha em branco se produza tão pouca inteligência, mas que sobre o domínio alheio sejamos capazes de elaborar com tanta diligência e capacidade intelectual as maiores sentenças ao serviço da mais pura destruição. O que não é mais do que a negação da cidadania.
O que às vezes me faz lembrar o que alguém dizia, que “é uma coisa que me chateia pá”!
E o Daniel acha que há blogosfera nacional de arquitectura? É bastante subjectiva a consideração, e por isso não me vou alargar sobre o assunto.
ResponderEliminarPessoalmente não vejo a esfera blog como a ferramenta mais optimizada para troca de informação, é apenas uma ferramenta, uma óptima ferramenta a ameaçar a publicação em papel em ritmo muito mais lento, mas também acredito que aí se torne apenas numa ajuda acessória em termos de factor de escolha para discussões mais a sério.
Pessoalmente nem blogger me considero, e não sei sequer se a coisa serve para muito mais do que um mero exercício de escrita. Um tipo que escreve sobre coisas e que se entretém a partilhá-las online, com a seriedade possível e uma descontracção que se exige. Se pelo meio se enriquecer a experiência com partilha pessoal mais à séria, então melhor.
Espaços como o Arkinetia servem como um exemplo a uma escala mais ampla, com a verdadeira dimensão worldwide, a tal dos dois primeiros termos de WWW.
E é aí que está a chave da discussão. Será que alguém por aqui vê proveitos em criar um espaço do género para consumo compulsivo? Se sim (e eu acho que sim, mas não me interessa fazê-lo) acabará por surgir, acredito que a coisa está ainda demasiado crua, sobretudo porque tem um tempo de vida demasiado curto para grandes considerações. Falta-lhe tempo e não cresce a par do que se assina lá por fora. Mas isto não invalida que ao longo do processo e com amadurecimento e posterior evolução de plataformas, acabe por cair em desuso. É Inevitável.
A blogosfera nacional continua demasiado politico-dependente para que muito boa gente com vontade de intervir se atreva a fazê-lo, e é aí que as intervenções de JPP se tornam abruptas em si mesmas.
Os bons blogs, os pedaços de imagem e de escrita continuam a ser os underdogs, e ainda bem que assim é, falo por mim. Pessoalmente prefiro não partilhar isto com gente que venha com cores politicas agarradas a si, é que para lá da boa partilha e dos debates porreiros, a coisa acabaria por resultar numa espécie de comunidade bipolar nada interessante.
Sobre a exposição blog, assusta-me profundamente que num programa miserável como o Eixo do Mal, onde de alguma forma (e paradoxalmente) se está a fazer uma espécie de serviço publico ao relantim, se passe uma hora a fazer referência a blogs de gente obcecada que escreve com base nos mais mesquinhos princípios que a portucalidade tem para nos oferecer. É aí que estão grande parte das teses do JPP, percebo e entendo, mas não acompanho o alarme. São apenas blogs. São tipos que viram um balde ao contrário e desatam a pregoar a banha da cobra em pleno rossio nos anos 50.
Tempo, falta-nos tempo...
Tudo isto para chegar à conclusão que entre o mainstream e o desinteressante, há uma percentagem de espaços gostosos que revelam muito mais do que qualquer ideia que surja publicada num semanário por intermédio de um jornalista que consultou o blog X. É ali, no meio, no lusco-fusco, que está o que verdadeiramente interessa.
Depois vem aquele abrupto Portugal profundo, com as suas causas e as suas blasfémias.
Tudo se esgotará com o tempo, e com alguém a dizer "opa, o que tuqueres sei eu..."
E eu não me chateio nada com isso.
Deixando de lado as questões da arquitectura, aliás muito bem abordadas no post, e bem debatidas nos comentários entre Daniel e Ivo, retenho apenas os aspectos mais gerais relativos à blogosfera.
ResponderEliminarIsto para dizer que os opositores à chamada "blogosfera lusa" são quase sempre jornalistas, muitos deles também bloggers. Nada de estranho, se pensarmos que pela primeira vês na história da humanidade o cidadão comum tem possibilidade de se expressar para "o mundo", livremente, ameaçando desse modo o monopólio das agendas mediáticas. Se os jornalistas vieram (quase) todos para a blogosfera é porque ela, enquanto contraponto/contrapoder, lhes é ameaçadora. Vieram e trouxeram consigo os mesmos vícios do jornalismo clássico. Os restantes bloggers agacharam-se. E por isso, contrariando Ivo, a coisa é mesmo séria.
Blogues umbiguistas, onde se escreve de tudo e de nada, onde não se resiste ao tema do momento nem à alfinetada neste e naquele, tenderão a desaparecer. Qualquer um pode tornar-se blogger, mas apenas alguns possuem as necessárias qualidade, disponibilidade e persistência. Permanecerá, porém, a ambiguidade de um meio de comunicação simultâneamente interpessoal e global.
Quanto ao futuro, estou convencido que pertence aos blogues especialiazados ou temáticos capazes de suscitar debate de ideias e troca de saberes. Isto se o critério do lucro não vier a desmantelar a essência desta coisa, que por ser potencialmente desinteressada é ainda tão preciosa.
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