Percorrendo os projectos apresentados no sítio web do DesignShare podemos observar o resultado prático de muitas ideias propostas para uma Escola melhor. Proponho assim um pequeno passeio por alguns desses ambientes reflectindo sobre os conceitos que lhes deram origem.
Entrada principal, Thomas L. Wells Public School, Baird Sampson Neuert Architects.
A identidade da escola é um aspecto sempre muito sublinhado. Cada escola deve transparecer uma personalidade própria, romper com o anonimato e a repetição mecanicista de modelos tipificados. A escola deve assumir um lugar de relevo na comunidade em que se insere e a sua arquitectura deve demonstrá-lo, ao serviço de uma missão mais vasta de humanização do ambiente urbano.
Independentemente dos meios disponíveis, com maior ou menor grau de espectacularidade, a instituição da escola deve transportar a sua assinatura e ser um lugar reconhecível. Um espaço para ficar na memória de quem a vive e de quem a visita.
Átrio de entrada, Pistorius-Schule, Behnisch Architekten.
O átrio deve prolongar a expressão dessa personalidade própria, favorecendo o contacto social, o encontro e o diálogo. Ambientes humanizados promovem um comportamento mais humano. A luz, a textura material, a dimensão e a comunicação visual devem servir esses fins. Não se trata de uma simples necessidade de embelezamento estético, antes compreender que um ambiente qualificado valoriza quem o vive, propiciando o retorno de comportamentos igualmente qualificados.
«Learning street», Vidyalankar Institute of Technology, Planet 3 Studios Architecture.
As áreas comuns podem constituir todo o tema de um espaço escolar – uma verdadeira rua para ver e ser visto, caracterizada em diferentes escalas, nos pequenos detalhes e nos grandes gestos do edifício.
«School commons», High Tech High International, Carrier Johnson.
A afirmação do espaço comum como centro social de uma pequena comunidade – o «commons» - é um dos princípios centrais a uma nova filosofia de escola. As áreas de circulação devem servir uma função – não se reduzirem a canais de distribuição mas permitirem a convivência e a observação. Uma ênfase muito interessante é colocada na ideia de «soft-seating», ponto de descanso para um grupo de estudantes nas pausas do tempo de aula ou onde professores podem conversar informalmente com alunos e pais.
Corredor principal, Bronx Charter School for the Arts, Weisz + Yoes Architecture.
Também muito interessante é observar em muitas destas boas práticas uma relação descomprometida do espaço com a expressão própria da construção e das suas infra-estruturas. Condutas de ventilação e calhas técnicas atravessam as áreas de circulação de forma visível, tornando-se parte do seu desenho interior.
High Tech Middle School, Carrier Johnson.
O edifício não tem de ser uma construção pesada. Investir na casca da arquitectura não é mais importante do que enriquecer o seu interior com soluções de desenho inteligentes e criativas.
Escada principal, The Bay School of San Francisco, Leddy Maytum Stacy Architects.
Um recanto pode servir de ponto de encontro. O design interior deve contribuir para tornar cada lugar único, criando um espaço que conta uma história e se torna parte da sua memória.
Área de circulação, Pistorius-Schule, Behnisch Architekten.
As áreas de circulação podem servir várias funções, constituindo sub-espaços autónomos onde actividades diversas podem ter lugar.
Átrio, Greenman Elementary School, Architecture for Education Incorporated.
Um corredor não tem de ser anónimo. A cor, o desenho e o mobiliário podem transformar por completo a vida do interior de uma escola.
Espaço partilhado, Galilee Catholic Learning Community, Russell & Yelland Architects.
Uma sala de actividades colectivas não tem de ser uma balbúrdia. Mobiliário integrado e um uso inteligente do espaço contribuem para criar regras de utilização e promover uma cultura própria do lugar. A interligação com outras salas promove a interacção e torna possível a deslocação entre espaços para diferentes fins.
Salas interligadas, Great Beginnings Early Education Center, ACI/Frangkiser Hutchens.
Uma sala de aula não precisa de ser um compartimento estanque. A arquitectura pode estar ao serviço da flexibilidade através de soluções tão simples quanto inteligentes.
Salas interligadas, Chugach Optional Elementary School, McCool Carlson Green Architects.
A descompartimentação pode ser muito positiva. No entanto, em espaços polivalentes, deve ser tido em conta que diferentes funções requerem suportes diferentes. A especificidade deve conviver com a flexibilidade.
Sala de aula, Pistorius-Schule, Behnisch Architekten.
Uma sala de aula deve ser muito mais do que quatro paredes. A arquitectura escolar exige detalhe.
Sala de aula com «cave seat» (nicho), Galilee Catholic Learning Community, Russell & Yelland Architects.
Uma sala de aula não tem apenas uma função. Espaços de convívio e de recolhimento podem coexistir para proporcionar diferentes momentos e enriquecer a sua vivência.
Área de apresentações, PS1/Bergen School Library, Marpillero Pollak Architects.
Um espaço diferente promove um comportamento diferente. O mobiliário não serve apenas um único fim, podendo estar ao serviço de toda uma filosofia.
Espaços identificados, Northwest Middle School, VCBO Architecture.
A sinalética deve fazer parte da linguagem arquitectónica. Salas para funções diferentes devem assumir características diferentes, demonstrando-o tanto para dentro como para fora.
Espaço exterior, Paschalisschool, Atelier PRO Architects.
A escola deve apropriar-se do espaço exterior, conferindo-lhe funções e permitindo que esteja ao serviço da sua comunidade.
«Aula» - espaço de assembleia, Paschalisschool, Atelier PRO Architects.
A transparência é outro princípio muito valorizado. A escola deve olhar para fora, permitindo bons níveis de visibilidade tanto em áreas formais como informais. Uma vez que grande parte do tempo de aprendizagem acontece em espaços fechados, existe um grande benefício em expandir literalmente os horizontes dos alunos criando pontos de vista amplos e abertos.
Comunicação entre interior e exterior, Paschalisschool, Atelier PRO Architects.
De forma pouco convencional, a transparência pode ser levada ao limite. Uma sala de aula pode comunicar visualmente com o espaço exterior…
Comunicação entre espaços interiores, Paschalisschool, Atelier PRO Architects.
…tal como com o interior.
Rede de recreio, Yuyu-no-mori Nursery School and Day Nursery, Environment Design Institute.
Acima de tudo, na escola como em tudo o resto, não existem receitas feitas. E talvez não exista lugar mais nobre em que a arquitectura deva estar ao serviço de uma causa. Não aceitemos a ilusão de que a distância que temos para com estas práticas se deve simplesmente aos meios. Devemos questionar o que temos, o que fazemos e porque insistimos em fazê-lo. Com criatividade é sempre possível encontrar novas soluções. A imaginação, afinal, não tem limites.
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boa tarde,
ResponderEliminarencontrei o blog ao acaso e gostei muito deste artigo. pena que estas escolas sejam, por enquanto, uma ideia no papel. mas quem sabe... num futuro!!
cumprimentos
1001 acessórios
Eu também "sonho" uma Escola assim...
ResponderEliminarInfelizmente, a construção das Escolas foi entregue às Câmaras Municipais,e estas investem muito mais em estádios para futebol, do que em Educação.
Também me estou a lembrar das Escolas de tipo P3 que se construiram nos anos 70, também chamadas de Área Aberta. A pouco e pouco foram-se erguendo "muros" com armários e mais tarde ergueram-se paredes e fecharam-se os espaços...É que estes espaços assim idealizados, exigem diferentes Pedagogias e um grande Planeamento e trabalho de Equipa por parte dos seus Professores.Têm de ser quebradas as amarras da Pedagogia tradicional ainda vigente no nosso Ensino!
Muito haverá a dizer sobre este tema tão importante e tão esquecido....Eu também "sonho" uma Escola assim. M. Fátima C.
Daniel, parábens pela matéria do blog! Venho aqui com frequência porque gosto muito de arquitetura e, o Barriga com certeza é uma referência. Nunca havia deixado um comentário, mas ao ver essa postagem sobre as escolas tive certeza que devia parabenizá-lo pelo trabalho feito no teu blog!! Parábens!
ResponderEliminarOlá Daniel!
ResponderEliminarAs escolas portuguesas não estão assim tão longe desta realidade. O Atelier do Chiado ganhou em 2002 um Recognized Value Award da Design Share pela Escola Básica Integrada de Gondifelos. Julgo que o Fernando Bagulho e a Cristina Salvador terão o maior prazer em apresentar o projecto
Abraços,
João Costa Ribeiro
Olá João.
ResponderEliminarSei que existem algumas boas práticas entre nós e será uma boa ideia divulgá-las futuramente, dando continuidade a esta série de posts. Mas é um daqueles casos em que, receio bem, a excepção não confirme a regra.
Um abraço.
Obrigado a todos pelos comentários.