Kingsdale School, de Rijke Marsh Morgan Architects.
Caro Daniel,
(...) Gostei bastante da reflexão que fez sobre a problemática das escolas. E que escolas queremos nós?
Em Inglaterra existe um programa governamental chamado Building Schools for the Future (BSF). Foram desenvolvidos projectos por Wilkinson Eyre, Sir Norman Foster, Future Systems, entre outros. Entre esses "outros" mais pequenos destaco um, premiado diversas vezes pela RIBA, de Rijke Marsh Morgan Architects, onde trabalhei entre 2005 e 2007.
A primeira grande encomenda que tiveram, fruto de um 1º lugar num concurso, foi exactamente a remodelação de uma escola dos anos 60, a Sul de Londres, no âmbito deste programa. Antes da renovação, os alunos (muitos com desordens de comportamento e/ou problemas de aprendizagem) vandalizavam a escola, melindravam professores, enfim metiam a escola no mapa pelas piores razões.
Agora não só existem estatísticas que provam que os resultados escolares melhoraram consideravelmente, como a postura dos alunos mudou; gostam de estar na escolar e gostam de cuidar da escola. Kingsdale School é tudo isso; lugar de encontro da comunidade, espaço de aprendizagem, espaço para crescer e formar carácter.
Destaco duas razões simples para o sucesso: a realização de um extenso processo de consultoria, onde pais, professores, alunos e toda a equipa projectista foi largamente envolvida, e a procura constante de soluções de projecto que servissem a ESCOLA.
Estas soluções de projecto podem ser encontradas aqui - School Works - de forma expedita, numa simples lista onde se apontam problemas, a visão estratégica escolhida e as soluções encontradas. Sem imagens, ou com poucas, sucinto e directo - uma das boas características dos ingleses. Podem ver um tour virtual da própria escola.
Imagens da escola de música e pavilhão do desporto (Music & Sports Pavillion), último parte do projecto, independente em relação ao bloco das aulas podem ser vistas aqui - thecoolhunter.net. Este atelier vê na utilização de painéis estruturais sólidos em madeira (cross laminated timber) uma solução sustentável. As preocupações ambientais são também um dos principais vectores no desenvolvimento de cada projecto.
Tenho um enorme orgulho por ter trabalhado com as pessoas que tornaram isto possível. Embora o meu contributo tenha sido feito noutros projectos, não pude deixar passar a oportunidade de mostrar um bom exemplo daquilo se faz na Europa, quer através deste programa do governo inglês, quer através da respostas dadas pelas equipas escolhidas.
Acredito que os arquitectos perderam terreno em Portugal. E continuam a perder peso no mundo. Como disse Prince-Ramus na última Icon: it's our own damn fault. Architects have become stylists, people who do window dressing. We're taught to say 'that's my vision' and the client says 'but that's not what I need'. Meanwhile, all the important stuff that has a moral or social agenda, we have no involvement in anymore. That gets carried out by developers.
A juntar ao debate da travessia da ponte, do novo aeroporto, é urgente um debate sobre a instituição da escola entre nós, os "formadores do espaço" que vai formar pessoas. (...)
Este contributo da Joana Lages, a quem deixo o meu agradecimento, sublinha algumas preocupações que julgo importantes - não apenas na intervenção dos arquitectos no campo da arquitectura escolar mas quanto ao papel que gostaríamos de assumir como participantes da construção do espaço social, do espaço colectivo das comunidades em que vivemos. São questões que abordarei em breve, concluindo esta série dedicada ao tema das escolas.
Estou estupefacta com a falta de "eco" que este TEMA tem tido e com o que esse silêncio significa.Será que os Arquitectos não têm opinião formada?Nem os Professores? nem os Pais? Nem o Cidadão comum? nem os Políticos? nem as Câmaras Municipais a quem está entregue a construção de muitos edifícios escolares?
ResponderEliminarJá viram algum Concurso Público para a construção de uma Escola pública ou Jardim de Infância?
Só os Arquitectos que estão fora do país é que têm contributos a dar sobre esta temática?
A experiência desta jovem Arquitecta é muito interessante e demonstra o interesse das autoridades inglesas em resolver os problemas da Educação.Também a comunicação entre os técnicos e a Escola envolvendo os Professores, os Pais e os Alunos têm grande importância e podem ajudar a mudar muitas atitudes negativas.Parabéns por ter abordado este tema. Esperemos que "não caia em saco roto". M. Fátima C.
e olhar para a imagem deste post e pensar na minha escola secundária semi-pré-fabricada...
ResponderEliminarclaro que falamos de países diferentes, de orçamentos muito diferentes, mas isto não é uma questão de dinheiro, é acima de tudo uma questão de vontade, de planeamento, de projecto.
As escolas inglesas são pesadas , escuras.A idéia de modernizar a construção é importante.Tudo para o ser humano entrar nos eixos!!!
ResponderEliminarPara além de ter sido colega na universidade da arquitecta Joana Lages, estou completamente de acordo com as suas palavras e os exemplos dados não podiam ser mais óbvios. Partilho a mesma opinião com outra prespectiva, ao nível da função e dos conteúdos do espaço escola. Não arquitectando espaço construído, arquitecto programas, estratégias de educação artística, sou mediadora desses programas por isso movimento-me por muitas escolas de norte a sul do país. Modernizar uma escola não é só informatizá-la... e são essas muitas vezes as novas brisas de vento que encontro. Numa altura em que se discute tanto a escola, os seus programas, reformas, professores, greves, ministras e telemovéis, porque não discutir o seu espaço, trazer para as mesas redondas arquitectos! Porque a escola que temos é feita por todos nós, se alguém de demitir deste processo a máquina começa a ficar perra...e olhando à minha volta...
ResponderEliminarMargarida Botelho
Não será antes uma questão de MENTALIDADE?
ResponderEliminar34 anos após o 25 de Abril o que é que mudou nas nossas Escolas?...
Perdoe-me o desabafo.
Butterfly