A educação mobiliza o sentimento colectivo de formas que poucas outras áreas são capazes de fazer. Na escola parecem advir todos os entusiasmos e todos os temores da comunidade, como demonstrou o recente episódio de afronta estudantil divulgado à exaustão, primeiro no Youtube e depois na comunicação social.
À emotividade imediata seria útil seguir-se a reflexão sobre o que queremos da Escola do século XXI. Num país em que a educação parece ocupar um lugar de tamanha importância enquanto tema social e político, é interessante observar a enorme carência de saber técnico aplicado no domínio da arquitectura escolar. O sistema público continua subserviente da lógica do “projecto tipo”, sem que se reflicta mais profundamente sobre os conteúdos para produzir uma nova “tipologia de escola”. Assim, ao falar de uma Escola para o século XXI, não será demais lembrar que estamos a falar deste mesmo século em que já estamos a viver. Aqui e agora.
A arquitectura – mesmo a boa arquitectura – não é uma panaceia para os males do mundo. Uma boa escola não suprime a envolvente social que a rodeia ou as pulsões do tempo em que existe. Mas o ambiente construído é um reflexo visível da filosofia que lhe dá origem. E assim também a escola é um símbolo daquilo que a comunidade dramatiza, aquilo a que dá importância.
A escola preenche hoje um conjunto muito diverso de funções. É um lugar de aprendizagem para aptidões a muitos níveis diferentes – das ciências às artes, à actividade física e ao relacionamento social e interpessoal. Para além disso, a escola ocupa cada vez mais um lugar de instituição comunitária, em que jovens mas também adultos se podem reunir para ocupações bastante flexíveis.
Mas para que a escola possa desempenhar eficientemente essas funções tem de existir um propósito que lhe dê origem. O “espaço da comunidade” não acontece por acaso. É necessária uma intenção que o promova, que dê corpo a um conjunto de preocupações muito específicas na sua concepção, de cuja execução depende o seu sucesso futuro.
Como ponto de partida para uma longa reflexão vale a pena conhecer o sítio web da DesignShare. Trata-se de uma página de divulgação de boas práticas de arquitectura escolar em todo o mundo. Nela podemos encontrar a referência ao livro Design Patterns for 21st Century Schools - ver The Language of School Design (PDF summary) - onde se sintetiza um conjunto de conhecimentos em torno das melhores práticas no planeamento e construção de edifícios escolares.
Num formato de manual técnico quase elementar, sem teorizações obscuras, processa-se em doutrina aplicável uma série de factores complexos com vista a funções muito específicas. Temos assim o oposto da solução-tipo, antes a busca de ideias experimentadas, o padrão comum entre muitas formas possíveis para a boa prática que se procura implementar.
O site oferece um ensaio introdutório acerca de alguns dos princípios que se propõem para esta escola do século XXI. Partindo do modelo Ford da escola de início do século XX, observa-se a expansão do espaço de corredor para se tornar num lugar de interacção social.
A própria sala de aula sofre mutações diversas, na forma e no tipo de relação com o exterior e interior do edifício. Promove-se a interacção e a multi-funcionalidade – não uma polivalência inespecífica, mas a afectação de sub-áreas a funções bem definidas.
Uma referência particularmente curiosa é a ênfase colocada no desenvolvimento de aptidões relacionais: A maioria das escolas tradicionais, na verdade, desmotiva a interacção social dentro da escola por considerá-la uma “distracção” e por medo que da socialização dos estudantes resulte uma ameaça para o objectivo de disciplina e obediência às regras dos adultos. Sabemos hoje que a capacidade discursiva e a aprendizagem colaborativa são aspectos críticos para o desenvolvimento de cidadãos completos. Estas chamadas “aptidões leves” estão no topo da lista de qualificações para o sucesso em qualquer profissão.
Igualmente importantes são as considerações feitas em torno do objecto-escola enquanto parte do coração da comunidade. Algo que extravasa necessariamente as considerações de ordem meramente arquitectónica. A Escola vista no contexto da comunidade global, o verdadeiro ambiente da aprendizagem – que tem por isso de encontrar novas formas de ocupar o ambiente urbano para deixar de ser uma fortaleza de ensinar e relacionar-se com suportes tecnológicos, o ensino à distância, as parcerias com entidades externas, públicas e privadas – e assim tornar-se uma verdadeira instituição para o presente e o futuro daqueles que por ela passam.
O tema é longo e merecerá por certo uma reflexão continuada. Mas seria importante que, também por cá, estes princípios tomassem corpo em formas de proceder, planear e projectar, mais esclarecidas. Para que a escola possa realmente contribuir para o futuro mais lúcido e mais próspero que todos desejam.
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Olá!
ResponderEliminarParabéns pelo blogue, o seu conteúdo e layout são muito interessantes!