Se construires, eles vêm. Ou se calhar não.


Bom, resultou para o Kevin Costner.

Aí estava eu a percorrer o blog do Gamespot Work in Progress, no meu regular momento geek, quando descobri este artigo interessante sobre um jogo chamado Cities XL. É um festival de construção no mundo virtual ao estilo sim-city em que vocês – sim, vocês - podem ser arquitectos de sucesso e criar fantásticas mega-estruturas, sem os aborrecimentos de uma economia real para vos chatear. Eis o escapismo de que estamos a precisar nos dias que correm uma vez que, ao que parece, vamos todos estar desempregados daqui a pouco tempo.
O que é interessante no conceito de ser empreiteiro de cidades virtuais é a ideia de que construindo um monumento atraente vão atrair uma montanha de turistas cheios de vontade de gastar dinheiro. O que soa muito bem na terra da fantasia, mas talvez devesse ser tomado com alguma reserva no mundo lá fora. A culpa é do Gehry, sem dúvida, mas o efeito Bilbao entranhou-se de tal forma nas mentes dos políticos da vida real que a arquitectura se tornou na definitiva vaca púrpura. Assim, para o meu próximo projecto, vou pintar a coisa de lilás. E meter uma lâmpada de lava gigante por cima. Deve resultar!

O que me aborrece no modo como a arquitectura é discutida actualmente é que, na maior parte dos casos, não é discutida de todo. Ainda recentemente tentei abrir uma discussão sobre o maior investimento arquitectónico da década a realizar na cidade de Lisboa. Aqui está um museu para uma instituição que recebe anualmente 200 mil visitantes. Espera-se que a nova construção aumente esse número para um milhão. E como é que eles chegaram a este valor? Bom, por certo houve uma análise da procura e das necessidades do novo edifício; extensos estudos foram feitos. Caso contrário, estaríamos entregues ao domínio da ‘fé’, não é assim?
Ora, ao que parece, o novo projecto é bastante controverso. No canto esquerdo do ringue temos os descrentes a peticionar contra o «monstro de betão». No canto direito temos agora um grupo de personalidades famosas, entre as quais alguns dos mais reputados arquitectos Portugueses, a peticionar a favor do edifício que se diz ser uma «lição da evidência do homem no universo». Nossa Senhora!
E aqui estou eu, esmagado no meio. E estou a pensar para mim próprio que se calhar sou mesmo estúpido, porque não estou a perceber. Seria possível alguma destas pessoas partilhar as suas firmes certezas e iluminar o meu pequeno intelecto. E explicar-me, em termos arquitectónicos, como é que o edifício é um ogre ou uma ocorrência metafísica?

E é assim. A democracia a funcionar. O debate está lançado, só que não há debate nenhum porque não há argumentos de facto. A arquitectura, assim parece, é só subjectividade e abstracção. É tudo ilusionismo. E, assim sendo, talvez o que sirva para os jogos de vídeo seja verdade afinal. «Se construíres, eles vêm». Que diabo, funcionou para o Kevin Costner.

If you build it, they will come. Actually, no they won’t.

There I was perusing through Gamespot’s Work In Progress Blog, having my regular geek moment, when I found this interesting post about the upcoming game Cities XL. It’s the usual sim-city-building extravaganza in a virtual world where you – yes, you – can become a successful architect and create fantastic megastructures withouth the annoyances of a real economy to bother you. Just the kind of escapism we need right now, as it seems likely that we’re all going to be out of our jobs in the near future.
What’s interesting about the concept of being a triumphant virtual city builder is the notion that building an attractive monument will bring in a bucketload of happy money-spending tourists. This sounds pretty great in a virtual la-la-land, but probably should be taken less lightly in the outside world. It’s all Gehry’s fault I guess, but the Bilbao effect has become so embedded into the minds of real life polititians that architecture seems to be the ultimate purple cow. So, for my next project, I’m paiting the whole thing purple. And put a giant lava-lamp on top. That will do it!


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What bothers me about the way architecture is discussed nowadays is that, for the most part, it isn’t. Just recently I’ve tried to open a discussion about the greatest architectural investment of the decade to be built in the city of Lisbon. Here is a museum for an institution that currently receives 200 thousand visitors every year. The new construction is expected to boost that number to a million. And how did they come up with that figure? Well, surely there was an assessment of the needs and demands for such a building, extensive studies were made. Otherwise, it would all reside on good old fashioned ‘faith’, wouldn’t it?
So, as it turns out, the project is rather controversial. On the left corner you have the naysayers, petitioning against the «concrete monster». On the right corner is now a group of prominent personalities, including some of the most notorious Portuguese architects, petitioning for the building that is said to be a «lesson of the evidence of man in the universe». Holly Moses!
And here I am, crushed in the middle. I’m thinking to myself that maybe I am really stupid, because I just don’t get it. So would it be possible that these people could bring their staunch certainties and shed a light over my undersized intelect. And explain, in architectural terms, how the building is either a monster or a metaphysical phenomenon?

This is it. Democracy at work. The debate is on, only there is no debate at all because there are no arguments of fact. Architecture, as it turns out, is all subjectivity and abstraction. It’s a freakin illusion. So maybe what’s good for videogames is true after all. «If you build it, they will come». Well, it worked for Kevin Costner.

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