Bling my bling


The awe-inspiring design of the pyramids had an amazing effect on the spirit of the slaves. Those whips helped as well.

Estão a escrever-se coisas muito interessantes nos blogs de arquitectura sobre os efeitos da depressão económica. Kazys Varnelis reflecte sobre a arquitectura do “bling” e aponta para 15 arranha-céus com planos de construção presentemente cancelados devido à crise. [Pode alguém inventar uma nova palavra para isto, estou a ficar cansado de escrever “crise” neste blog.] Afirma, correctamente, que a estética destes edifícios é pouco mais que uma celebração do excesso, acolhendo “nenhuma cultura, nenhuma história, nenhuma moralidade, nenhum gosto, apenas o desejo de exibir riqueza”.

Curiosamente, hoje mesmo o Guardian publicou uma entrevista com Zaha Hadid. Focando num dos seus mais recentes projectos, o centro aquático para os Jogos Olímpicos de Londres de 2012, Hannah Pool questiona Hadid se ela não desejaria ter desenhado um edifício mais modesto, devido ao actual estado da economia. “Não” - responde a arquitecta – “Nestes momentos de recessão, elevar o espírito é ainda mais importante e deviamos aprender pelas coisas que fizemos no passado e que foram feitas à pressa”.
É um pouco lamentável ver alguém que iniciou a sua carreira com uma das abordagens mais desafiadoras à convenção e à norma, agora abraçar esta arquitectura de despudorada representação de poder. E praticá-la sem uma réstia de reflexão sobre a sua legitimidade económica, para não falar em moralidade.
A sofisticação do design arquitectónico de Hadid parece agora tornar-se no epítome do pós-modernismo-tardio e do kitsch, uma arquitectura despojada de um sentido de pertença ou função social para lá dessa motivação inicial: elevar o espírito, reverenciar através da monumentalidade e do maravilhamento. Nestes tempos difíceis, talvez nos sintamos mais elevados por uma aplicação racional e equilibrada do dinheiro público. O exibicionismo leviano de Zaha para com a seriedade da questão dificilmente poderá ser lido como um sinal de irreverência, mas de pura negligência social.

There's a lot of interesting writing about the depression on architectural blogs these days. Kazys Varnelis writes about the architecture of bling and points out to 15 skyscrapers currently on hold due to the economic crisis. [Can anyone invent a new word for it, I’m tired of writing “crisis” on this blog.] He rightly states that the aesthetics of these buildings is little more than a shallow celebration of excess, retrieving "no culture, no history, no morality, no taste, merely the desire to display wealth".

Interestingly, just today the Guardian published an interview with Zaha Hadid. Focusing on one of her latest projects, the Olympic Aquatic Center for the 2012 Summer Olympic Games in London, Hannah Pool questions Hadid if she wishes she had designed a more modest building in regard for the current state of the economy. "No" - she says - "In these moments of recession, uplifting the spirit is even more important and we should learn from things that were done in the past that were done in a hurry".
It's quite unfortunate to witness someone who started her career with one of the most challenging approaches to convention and norm, now embracing this impudent architecture of representational power. And practice it without a hint of reflection on plain economic legitimacy, not to mention morality.
The sophistication of Hadid's architectural design now seems to be the epitome of late-post-modern and kitsh, an architecture devoid of any sense of belonging or social function other than that startling motif: to uplift the spirit, to revere through monumentality and awe. In these harsh times, one whould rather feel uplifted by a rational and balanced application of public money. Zaha’s lighthearted display of disregard to the seriousness of the matter is hardly a sign of irreverence, but plain social negligence.

6 comentários:

  1. Concordo plenamente...
    As coisas que ela tem feito ultimamente são de um ridiculo extremo...

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  2. Bom dia Daniel,
    Esta reflexão que Kazys faz sobre a desmultiplicação do conceito do "automonumento" (ver rem koolhaas. NY Delirante) faz sentido se dissociada do crash (prefere?): importaria reflectir sobre o porquê da proliferação deste tipo de estruturas que têm na sua génese icons como o Woolworth ou o Empire State building - só para referir dois, enfim, Manhattan!
    Importa também sublinhar que este lugar "mágico", com períodos mais e menos criativos, encontrou neste tipo de estruturas a gramática de afirmação cultural e económica que hoje em dia é também por nós, ocidentais, em parte, utilizada. Se por um lado entendo que este edificado faz sentido nesse lugar abstracto onde se desenvolveu, já não fará muito sentido ser deslocalizado e aplicado noutro tipo de contextos. A este respeito bastará que nos situemos na Weimar dos anos 30 e nos debates tidos na época sobre a utilização destas estruturas na Europa Ocidental e facilmente se chega à conclusão de que aquilo que foi defendido não é mais do que aquilo que se pratica: rejeita-se a relação entre quadras assim como pedonal e ou se colocam estruturas destas no meio de um edificado pré-existente de grande carga histórica ou se inventam "Plans Voisin" - tão bem sabemos a que é que este tipo de planificação acabou por dar origem, tão bem demonstrado por Jaques Tati em Play Life ou Mon Uncle.
    Assim entendo que este tipo de estruturas só fará sentido em determinados contextos.
    Quanto à carga simbólica que estas estruturas têm: então não foi para isso que foram criadas? Para extasiar e reflectir todo o potencial de quem representam? Isto, mais do que arquitectura são objectos de propaganda.
    Quanto a Hadid, tal como o Rockefeller Center - desenvolvido durante e após o Crash de 29, grande bolsa de ar para uma economia em queda, também acredito que as grandes obras podem funcionar como alavanca económica. Por outro lado, entendo que quando respondemos a um trabalho, enquanto criadores, compete-nos apresentar a solução em que acreditamos - sabemos que fazer concessões, abdicar de certas opções é sempre certo e que se chega quase sempre a um consenso mais ou menos viável para ambas as partes.
    Quanto a uma arquitectura verde e sustentável: concordo que deveria ser amplamente debatida e aplicada, faltará no entanto encontrar parceiros ou investidores que encontrem nessas linguagens uma gramática que os represente.
    Afinal de contas, qualquer criador tem barriga e umbigo mas não nos podemos esquecer de que essa para ser alimentada precisa que as suas criações sejam devidamente pagas.
    A arquitectos, designers ou pintores sem clientes chamam-se mortos à fome.
    Acredite que concordo com muito do que escreve, mas não devemos esquecer em que sociedade vivemos e se a queremos mudar, é de dentro que teremos que o tentar fazer.

    Cumprimentos
    Pedro

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  3. ja ha algum tempo q nao visitava o seu blog.
    tenho pena q se tenha transformado num sitio de entretenimento em vez do antigo sitio de informaçao. para alem disso pena a dor de cotovelo deste artigo sobre uma das icones da arquitectura mundial. o desncantamento é evidente, mas há outras formas de o evidenciar...

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  4. Concordo plenamente Daniel!
    Antes de ver esse post,vi vídeos da construção da CCTV tower, de Rem Koolhaas no youtube.
    Fiquei assustado com a monumentalidade e o esforço financeiro necessário para tal feito.
    Também questionei o que diriam os faraós do antigo egito se vissem isso. Talvez ficassem constrangidos ao verem a simplicidade estrutural das piramides perto da CCTV tower.
    Penso que as pirâmides do Egito pelo menos foram erguidas com um motivo mais nobre.

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  5. Apesar de achar de Zaha é de facto uma arquitecta do bling bling e até um pouco kitch, discordo da sua opiniao no que diz respeito sobretudo à importancia desta mesma arquitectura.

    Penso que seja unanime o desagrado perante uma descaracterizaçao de qualquer cidade gerado pela construçao massiva de demonstraçoes de poder, porém penso que temos de ser menos generalistas.

    Ha bem pouco tempo o atelier suiço Herzog et de Meuron anunciaram a construçao do mais alto complexo de habitaçao em Londres, ali mesmo ao lado da torre de Renzo, e este é um caso que ilustra bem as preocupaçoes pela falta de habitaçao em Londres e que tera' necessariamente de passar pelo aumento da densidade da cidade.

    Havera igualmente a preocupaçao da imagem da cidade e ai' defendo a Arq. Zaha, pois podemos de facto olhar para o passado e ver o que os promotores poupadinhos fizeram com as nossas cidades... A arquitectura precisa de alguns icones.

    PS: Quanto a sinonimos de crise = demonstraçao que o sistema capitalista falhou tanto ou mais que o comunista. mas isto sao outras conversas.

    PS2: Peço desculpa pela escrita incorrecta mas escrevo-lhe de um teclado Suiço.

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  6. Não vejo razões para estar sempre a comparar o "excesso" com as torres e arranha-céus. Parece-me um tabu Português. O excesso pode vir dum edifício baixo igualmente, apesar de não dar tanto nas vistas. É claro que no Dubai e contextos semelhantes nota-se "vaidade" e "show off" ao querer ter sempre a torre "mais alta" (Burj Dubai, por exemplo). No contexto europeu é desejável a introdução de algumas torres e densidade em certas áreas das cidades, não só rentabiliza o espaço, como os edifíicos tornam-se pontos de referência no skyline. Não se trata de excesso. Não se trata de fazer a mais alta da mais alta. Poderão ser edifícos relativamente altos, mas de grande simplicidade. O importante é a qualidade dos mesmos. É incrível como em Portugal acham excesso por exemplo a proposta das 3 torres do Siza para Alcântara e não acham excesso os gigantescos centros comerciais sem relação com a paisagem. Basta ver o mono descomunal que é o novo Dolce Vita Tejo. Exterior horrendo e maçudo, um bloco sem qualquer integração com a envolvente e que nada de novo traz ao panorama dos centros comerciais. É apenas grande.

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