M.
Alguém me disse que na vida, a partir de certa altura, não existem anos bons. Há sempre algo mais que se perde do que aquilo que se ganha. Sei, no fundo, que não é verdade. Que as coisas boas, por breves que possam ser ou parecer, valerão sempre muito mais do que o mal que por vezes nos possa atingir.
A Margarida era uma lutadora. Uma gata franzina que nunca cresceu, tribulações de uma doença na infância, porque os gatos também podem ser crianças. Se a vida se regesse pela lógica, há muito que nos teria abandonado. Mas a M., no tempo breve que nos concedeu, ofereceu-nos duas vidas. Renasceu para nos lembrar que vale sempre a pena ter esperança, sem garantias, assim é o seu mistério. E se agora resta o vazio, nos seus recantos, no silêncio celebramos aquilo que nada pode preencher. Pois quem poderia pedir generosidade maior.