Simbólico

Uma bandeira Portuguesa, velha e desfiada, exibida num edifício do Estado ou num posto de fronteira, era uma imagem frequente durante a década de oitenta. O desapreço pelo símbolo da nação teria correspondência na visão complexada com que a nova República foi estabelecendo a sua relação com o passado histórico.
Podemos encontrar consequências diversas deste fenómeno, na pobreza das manifestações de arte pública, na fraca capacidade de celebração, de imaginação, de transcendência perante um desígnio de comunidade e identidade nacional. A história de quase quatro décadas de democracia em Portugal é marcada por essa desvalorização do simbólico, tanto no que respeita ao exercício de gestos rituais, institucionais ou éticos, como no campo da cultura e da arte.
É um processo que se terá procurado legitimar enquanto distanciamento da afirmação nacionalista deliberada do antigo regime, em tudo o que aí se inscrevia de visão provinciana de sociedade e de mundo. Mas tal não deixou de significar o abandono de uma revisitação crítica mas descomplexada com a nossa herança histórica – na arte, na cultura, na produção audiovisual – algo sobre o qual a classe política e o próprio Estado prescindiram de pensar.
Se a democracia não deixou também ela de construir os seus próprios rituais, assentes na repetição eloquente de gestos e palavras que parecem querer inscrever a verdade do regime e as suas próprias narrativas, tal não impediu que se fosse perdendo a dimensão ritual e, mais grave ainda, a ética do exemplo, na política e na sociedade no seu todo.

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