O presente é um sintoma do nascimento gémeo do imediatismo e da obsolescência. Hoje, somos tão nostálgicos como somos futuristas. A nova tecnologia permite-nos experimentar e actuar simultaneamente sobre os eventos de uma multiplicidade de posições. Longe de assinalar o seu fim, a emergência das redes facilita a democratização da história, iluminando os caminhos bifurcados através dos quais grandiosas narrativas poderão sulcar o aqui e o agora.
– Luke Turner, «Metamodernist Manifesto».
Um actor sentado na plateia de uma sala de cinema na baixa de Manhattan durante três dias, visualizando todos os filmes em que participou, em ordem cronológica inversa. Uma câmara apontada a si transmitindo em directo para a internet, em directo para o mundo. A indiferença, o cansaço, as gargalhadas, as lágrimas.
Espectadores vêm e vão aleatoriamente, entrando e saindo do cinema. Lá fora, o passa a palavra das redes sociais começa a motivar uma extensa fila de curiosos. As sessões são gratuitas, limitadas apenas à lotação da sala. Para os que entram não existe qualquer obrigação de sair. Podem ficar durante quinze minutos, ver um filme inteiro ou acompanhar a maratona cinematográfica até ao fim.
Ocasionalmente, o protagonista da experiência levanta-se e sai. Num momento, depois de longos esgares de explícito enfado perante um dos seus filmes, ergue-se para se ir deitar no corredor de acesso, ao fundo da sala. Alguns espectadores lançam sobre o seu corpo adormecido olhares de interrogação.
Noutros momentos a sua face preenche-se de emoção. Risos, lágrimas, olhares de profunda nostalgia, silêncios. Durante uma ausência, um casal de duas jovens senta-se, uma ao colo da outra, numa cadeira um pouco atrás. Olham para a câmara. Riem-se. Depois, uma delas, de cabelo verde, escreve ou desenha algo numa folha de papel e deposita-a na sua cadeira vazia, como mensagem, antes de sair.
Há algo de fascinante em #ALLMYMOVIES, uma nova experiência social de Shia Labeouf, fruto da sua colaboração artística com o grupo Labeouf, Rönkkö & Turner . Os mais cínicos dirão que se trata de mais um artifício sensacionalista em busca de exposição gratuita. Mas parece-me que encontramos ali um homem à procura de si próprio, depois de uma fase de declínio pessoal, sob a luz implacável dos holofotes mediáticos. Um homem que decide confrontar-se com o seu trabalho à vista de todos, sem filtro, sem máscara.
Possa este espírito desalinhado superar os fantasmas que o têm atribulado nestes anos, da dependência e da violência, para ocupar o lugar que o seu talento e o seu carisma tanto merecem.
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