Shoot the glass!
Se Assalto ao Arranha-Céus é um dos mais memoráveis filmes de acção da década de oitenta deve-o em grande parte a Alan Rickman. O actor inglês, então com uma respeitada carreira no teatro e meia-dúzia de participações em televisão, estava à beira de declinar o papel. O que poderia afinal levar alguém com o seu perfil, um homem dos palcos que nunca havia participado numa produção cinematográfica, a enveredar no mundo de Hollywood – e ainda para mais num território tão pouco erudito da representação.
Rickman resolveu deixar um conjunto de sugestões ao produtor Joel Silver. Era suposto que Hans Gruber, o icónico vilão de Die Hard, vestisse roupas de tipo militar, encenando mais uma variação do típico terrorista mercenário que encontramos em mil e um filmes do género. Foi Alan Rickman a sugerir que a personagem envergasse um aprimorado fato e gravata, propondo também que, a certa altura, se fizesse passar por refém – naquele que é o primeiro confronto de representação entre Gruber e o herói, John McClane.
Justamente considerado como um dos grandes vilãos de sempre do cinema, Hans Gruber é, afinal, não um mau-da-fita mas tão só um indivíduo excepcionalmente inteligente, irrepreensivelmente culto e inteiramente desprovido de escrúpulos. É o formalismo shakespeariano que Rickman lhe confere que oferece o contraste vincado com a espontaneidade natural de Bruce Willis, resultando a química perfeita que está na base do sucesso deste western urbano contemporâneo.
O resto, como sabemos, é História. Alan Rickman seguiria para uma brilhante carreira cinematográfica, abraçando sem complexos papéis mais ligeiros e populares, a par com textos de matriz erudita. A sua versatilidade, o seu carisma, a sua voz, a profunda entrega que colocava ao serviço da sua arte, fazem dele um actor inesquecível. Tinha, de igual modo, o sonho da realização que, lamentavelmente, experimentou apenas por duas vezes. O recente A Little Chaos (Nos Jardins do Rei), uma deliciosa incursão fictícia no período da construção dos jardins do Palácio de Versalhes, fica como testemunho da sua sensibilidade teatral, no melhor sentido do termo.
Faleceu ontem, aos 69 anos de idade, cedo demais.
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