Espelho



It’s what NYC is all about, imagem de Katarina Loves Film. Via Eternellement.

Gravidade



O mundo ao contrário. Via Eugene Soloviev.

A Barriga de um Arquitecto Gourmet


Já à venda nos melhores hipermercados do país. Nos outros não.

É que toda a gente que é gente escreve um livro de culinária. Ele é o Miguel Sousa Tavares, ela é a Helena Sacadura Cabral, a Clara de Sousa… Tanta celebridade na cozinha ainda vai dar cabo da vida ao Sá Pessoa e eu até acho mal. Qualquer dia temos o livro de Aventuras Gastronómicas do Alberto João Jardim, ou a Cozinha Presidencial de Maria Cavaco Silva, ou ainda as Receitas Poupadas do Medina Carreira. Mas a verdade é que vai para aí uma crise daquelas e isto agora é cada um por si. Por isso A Barriga de um Arquitecto apresenta ao mundo a sua primeira publicação gourmet. Das entradas pós-modernas ao sushi minimal, passando ainda pelos segredos da cozinha molecular explicada através de diagramas bonitos a cores, há de tudo um pouco e para todas as bolsas. Os primeiros a encomendar recebem ainda uma edição assinada por um indivíduo. Eu não, porque tenho mais que fazer. Mas alguma coisa se há-de arranjar. Enfim, é comprar antes que esgote…

Zeitgeist

A pergunta que se coloca é: de que é que os portugueses andavam à procura quando pesquisavam Google no Google?

Siza sings The Beatles



Álvaro Siza a cantar When I’m 64 dos The Beatles enquanto trabalha num novo projecto. Via Últimas Reportagens.
 
Álvaro Siza sings When I’m 64 by The Beatles while working on a new project. Via Últimas Reportagens.

Porque ele está lá

Homens procuram-se para viagem perigosa. Baixos salários, frio intenso, longos meses de completa escuridão, perigo constante, regresso seguro incerto. Honra e reconhecimento em caso de sucesso.
Reza a lenda que seriam estas as palavras do anúncio mandado publicar por Ernest Shackleton solicitando voluntários para a Expedição Trans-Antártica de 1914. Não era um prospecto animador e, no entanto, 27 homens assinaram a petição.

O centenário da chegada de Roald Amundsen ao Pólo Sul, em 14 de Dezembro de 1911, assinala mais do que a aventura de um só homem. É também a celebração do espírito dos grandes aventureiros do século XIX e do século XX. O que motivava estes homens a embarcar em perigosas viagens, rumo a lugares nunca antes mapeados? O que compele os aventureiros? A resposta é difícil. A aventura é, afinal, o que resta quando a causa e a razão não contam.
Talvez mais do que qualquer outro tenha definido o seu significado o inglês George Mallory que morreu no Evereste em Junho de 1924. Interrogado sobre a necessidade de subir o monte mais alto do planeta respondeu: Porque ele está lá.

Se olharmos para o mundo de há cem anos veremos que quase tudo o que havia para descobrir já tinha sido descoberto. Os grandes desafios por atingir eram os Pólos e o cume dos Himalaias. O seu valor geológico ou estratégico era praticamente irrelevante. E, no entanto, inspiraram as maiores aventuras. Peary, Amundsen, Hillary e Norgay compreenderam o seu verdadeiro significado e tornaram-se ícones da maior magnitude. Porque foram e voltaram, nada mais. E porquê? Porque estava lá.

Empena



Entretanto continua a minha obsessão por empenas insólitas. Ele há coisas piores... Via The Humble Beginnings of a Superstar.

A corrida do século



Foi a primeira grande corrida do século XX. Depois da tentativa falhada de Ernest Shackleton em 1907, Roald Amundsen e Robert Falcon Scott lançaram-se à conquista da Antártida.

Amundsen era um reconhecido explorador profissional. Esquiador exímio e tratador experiente de cães de trenó da Gronelândia, o Norueguês somava já onze incursões em território polar. Scott, capitão da marinha real britânica, era um homem corajoso mas dado a inseguranças consideráveis. Por motivos não inteiramente conhecidos, o inglês levaria consigo quatro compatriotas em vez de três como inicialmente planeado, fazendo acrescer a carga sobre uma reserva de mantimentos e combustível já de si inadequada.

A equipa Norueguesa faria a sua incursão em Dezembro de 1911. Com o auxílio de trenós puxados por cães, uma equipa bem alimentada e uma reserva de combustível três vezes maior do que a de Scott, Amundsen alcançaria o Pólo Sul no dia 14 de Dezembro.
Scott e os seus homens deslocavam-se sobre esquis mas eram inexperientes na travessia do gelo. O seu erro fatal, no entanto, terá sido a utilização de póneis para o transporte de mantimentos. Estes acabariam por revelar-se vulneráveis às condições terríveis da Antártida, obrigando Scott a utilizar parte das reservas de combustível para o aquecimento dos animais durante a noite. Tal não evitaria, infelizmente, a sua morte, o que forçaria os ingleses a carregar os seus próprios mantimentos; uma carga de difícil locomoção naquele território agreste e irregular.
Com um avanço lento e fustigado pelo vento polar Scott atingiu o Pólo no dia 17 de Janeiro de 1912. O regresso, no entanto, revelar-se ia fatal para si e para os seus homens. Retidos na neve devido às terríveis condições climatéricas, acabariam por falecer vítimas do esgotamento e da falta de alimentos.

O Pólo Sul seria novamente palco de uma grande expedição em 1914. A missão de travessia inter-continental de Ernest Shackleton partiu de Plymouth a bordo do mítico navio Endurance, navegando o Atlântico durante dois meses. O navio encontraria o seu trágico destino ao destroçar-se no gelo da Antártida, deixando uma tripulação de 28 homens retida na paisagem gelada durante quase dois anos. Apesar de ter falhado o seu objectivo, Shackleton inscreveria o seu nome na História ao protagonizar aquela que é reconhecida como uma das mais épicas façanhas de sobrevivência humana de sempre.

Não-crise

As técnicas de venda porta a porta tornam reconhecíveis os mecanismos da tomada de decisão. O que induz alguém a comprar, por exemplo, um robot de cozinha hiper inflacionado está longe de ser o resultado de um processo de pensamento racional. Em boa verdade não é uma análise ponderada das necessidades, custos e benefícios que está em causa. A faísca da decisão é, afinal, bem mais prosaica. Algures entre o delicioso refresco de fruta, um sorbet instantâneo e o bacalhau à brás para totós o cérebro baixa a guarda e os mais incautos tornam-se felizes proprietários de um equipamento adquirido em suaves prestações mensais que nunca mais acabam.

Mas o que nos devia verdadeiramente inquietar, para lá do risco de enchermos as nossas casas com uma vasta parafernália de maquinaria inútil, é saber até que ponto a construção das opiniões que temos acerca do mundo que nos rodeia não se baseia em mecanismos de pensamento semelhantes.

Se atentarmos na profusão de espaços de opinião e comentário, na televisão, nos jornais e nos blogues, apercebemo-nos que o opinion-making nada tem de científico. Ser fazedor de opinião não depende da elaboração lógica de uma argumentação sustentada em factos mensuráveis, salvaguardando a liberdade para sobre eles todos podermos elaborar uma análise qualitativa, subjectiva e pessoal.

Sejamos claros: qualquer indivíduo com um Q.I. minimamente capaz pode desenvolver duas argumentações opostas sobre um mesmo tema. Tomemos como exemplo a crise que estamos a viver e a cisão de opiniões que encontramos, à esquerda e à direita. O que está em causa? O que nos divide? Divide-nos o que escolhemos ver a cada momento: o laxismo dos governos que navegaram a economia do crédito e ignoraram (ou ocultaram) o endividamento crescente dos seus estados; a falsa economia privada sustentada pelo dinheiro público; o jogo viciado da especulação dos mercados em torno das dívidas soberanas dos países do Euro; a fragilidade concorrencial das nações desenvolvidas na economia aberta e desigual da globalização; ou seja ainda a corrosão interna dos estados sociais por via de toda a espécie de abusos dos seus próprios cidadãos.

Doutrinas opostas podem assim suportar-se em factores verdadeiros, bastando para isso a manipulação dos dados que escolhemos relevar no curto espaço de attention span disponível nos media. Observamo-lo todos os dias e o que vemos é, tão só, a mesma receita, o mesmo business as usual de todos aqueles que ainda não perceberam que o mundo mudou e que nada ficará como dantes.

Vivemos ainda, social e politicamente, ensopados na cultura da não-crise dos vendedores de Bimbys. Pese embora a sombra da crise eterna faça parte do código genético dos países ocidentais, a economia assente em crédito das últimas décadas produziu uma sociedade incapaz de se confrontar consigo própria e com todas as suas contradições. E por isso sobrevive o wishful thinking, o desejo que tudo passe, o vislumbre de uma saída fácil, sem dor. Ninguém quer afinal comer a colheita amarga dos erros que andámos longos anos a semear.

Do dia mais curto aos dias mais frios distam vários meses, tal a força do atrito da Terra. E assim a não-crise resiste ainda, pois que se vivemos hoje os dias mais curtos da nossa democracia, os dias mais frios não chegaram ainda.

ARX 20 YEARS 20 HOUSES


ARX 20 YEARS 20 HOUSES é um novo livro da editora Uzina Books.

Esta semana será lançado o livro ARX 20 YEARS 20 HOUSES, celebrando 20 anos de actividade do atelier ARX. Esta nova publicação dá a conhecer uma selecção de projectos de arquitectura e inclui um conjunto de ensaios escritos pelos arquitectos José Mateus e Nuno Mateus, bem como um texto de Joseph Grima, editor-chefe da revista Domus. O livro é editado pela Uzina Books e estará disponível muito em breve.

Os sinais

É verdade que por estes meses tenho dedicado mais tempo a ler do que a escrever. Sinto, de certa forma, que sobre a crise já escrevi tudo o que tinha para dizer há muito tempo. Outros se dedicam agora a preleccionar com autoridade sobre o que já no passado se tornava evidente. Não é o Roubini o único vidente que por aí andou. Se me permitem a ousadia, eu também dei uns toques

Júpiter


Júpiter, o grande gigante dos céus, captado através da lente do telescópio do Observatoire du Pic du Midi de Bigorre, nos Pirinéus, entre 10 e 15 de Outubro de 2011. Via The Dark Side of the Force.

Google+ …It’s like a circle

Não se sabe ao certo quantas pessoas usam o Google Reader mas o que consta é que o número de utilizadores activos anda na ordem das dezenas de milhões. O mais popular leitor de feeds do mundo deu origem a uma das comunidades silenciosas mais dedicadas e fiéis da rede. O motivo é simples: o Reader é o modo mais fácil e rápido de ler e partilhar posts, permitindo separar aquilo que é interessante da corrente de irrelevâncias que circulam na internet todos os dias.

Infelizmente, na guerra entre a plataforma social Google+ e o Facebook, os utilizadores do Reader tornaram-se as primeiras vítimas. A propósito da sua integração no G+, o Reader sofreu um upgrade visual mas perdeu uma das suas funções mais interessantes: a partilha. A partir de agora, partilhar posts passa a ser feito no stream do G+, um pouco à imagem do que acontece no Facebook. Como é que isto me afecta? De várias formas…

Em primeiro lugar significa o fim da minha página de itens partilhados, acessível logo na barra de topo do blogue, porque a partir de hoje é impossível adicionar novos shares. Deixo assim de poder seguir as listas de partilha das pessoas que me interessam – e elas deixam de poder seguir a minha lista. Por fim torna nulo o bloco de itens partilhados actualizado automaticamente que aparece no início da barra lateral do blogue (Shared / Referências).

A navegação no Reader torna-se agora uma experiência opaca, obrigando os utilizadores a partilhar no G+; é o que o Google quer afinal. E o que há de errado com isto? É simples. Se começamos todos a utilizar o stream do G+ para partilhar ligações aquilo tornar-se-á muito rapidamente numa torrente de spam. A listagem de shares do Reader tinha a vantagem de ser seguida de forma voluntária por quem a quisesse seguir. Mas o G+ obriga a escolher os círculos de partilha – ou seja, acarreta mais trabalho para o utilizador. Ou então resta partilhar sempre como Public e correr o risco de aborrecermos toda a gente com as nossas ligações favoritas, sejam grandes obras de arquitectura ou gatos fofinhos.

A integração do Reader no Google+ foi, afinal, uma desintegração. Grande parte do interesse do Reader era a facilidade de partilhar e a possibilidade de seguir as partilhas de quem quiséssemos – pessoas de interesse numa determinada área profissional, por exemplo. E o melhor desse sistema era tratar-se de uma comunidade voluntária de pessoas que decidiram subscrever o teu sharing feed, e vice-versa.
Agora passaremos a partilhar em círculos, ou seja, seremos levados a bombardear os outros com shares o que tornará o G+ num novo Facebook. E o problema do FB é esse mesmo, não haver subscrição e recebermos os shares de toda a gente que encontrámos na rede.

Contrariamente à paisagem aberta do Reader passaremos a transitar no espaço fechado do G+, mais um desses mundos de fronteiras que se está a erguer na rede. E, afinal, é disso mesmo que se trata. Estamos a assistir ao fim de uma era de internet aberta. Dentro de pouco tempo estaremos todos fechados em círculos. It’s like a circle…

Sofá Arranhado



Gostava de vos dar a conhecer o novo blogue cá de casa. O Sofá Arranhado é um lugar para guardar as histórias dos companheiros de quatro patas que tanto têm preenchido as nossas vidas. Os que estão connosco e os que já partiram.
Vai também ser um blogue para partilhar tudo o que temos aprendido com eles. Dos cuidados a ter, das brincadeiras, do tempo de descanso e de conforto, passando pela monitorização de problemas de comportamento e de saúde, ali tentaremos dar a conhecer um pouco da nossa experiência com os animais e oferecer alguns conselhos práticos e úteis para o dia-a-dia.
Finalmente, será um recanto para nos entretermos com as coisas boas da vida passada ao lado dos gatos, dos cães e de outros bichos, para acolher as histórias de outros, descobrir novas ligações e em conjunto iluminarmos os nossos dias.

DENSITY IS HOME


DENSITY IS HOME is a new book from a+t architecture publishers. This post is available in English.

DENSITY IS HOME, o mais recente título de arquitectura da a+t, analisa em detalhe um conjunto de 37 edifícios de habitação colectiva. O livro investiga a dimensão urbana dessas propostas, estudando as formas diferentes como a vida dos utilizadores é afectada pelas orientações programáticas e a filosofia de desenho seguida em projecto.
O contexto de cada conjunto habitacional é variado, desde cidades com centros compactos, centralidades únicas ou múltiplas, paisagens urbanas dispersas, estruturas recicladas. Uma atenção especial é ainda dedicada à noção de re-densificação, a regeneração do ambiente construído. Previsivelmente os projectos apresentados variam, tanto em tamanho como em tipologia de intervenção.



Brendeland & Kristoffersen, Svalbard Housing, Longyearbyen, Norway, 2007. Image credits: David Grandorge.

O livro é precedido por um ensaio escrito por Aurora Fernández Per, editora e directora do a+t Research Group. Com o título Densidade e Desejo, é um texto que advoga a necessidade de contemplar noções de urbanidade e humanidade na arquitectura. Fala da importância de acarinhar um sentido de perspectiva individual e proteger a subjectividade do utilizador: Residentes genéricos, escreve, não existem, eles são tão únicos como tu.
De certa forma todos os projectos apresentados partilham a aspiração de ir além de soluções pré-definidas, para lá dos regulamentos e dos constrangimentos – financeiros e outros – enfrentando os problemas de desenho com abertura, inovação e dando ao inesperado uma hipótese de acontecer.



Chiba Manabu, Stitch Cooperative Housing, Tokyo, Japan, 2009. Image credits: Masao Nishikawa.

O prefácio de Aurora Fernández Per é acompanhado por um estudo visual de 14 tipos de residência, todas elas parte integrante de edifícios de habitação colectiva. Estes casos de estudo são apresentados sobre a forma de plantas esquemáticas perspectivadas, conjugadas com anotações que destacam as suas qualidades mais importantes e aspectos específicos de design.
Os leitores com interesse no tema da arquitectura contemporânea de habitação, profissionais e estudantes, encontrarão em DENSITY IS HOME uma boa fonte de informação – complementando a análise quantitativa de parâmetros de custo e qualidade que podemos encontrar em títulos anteriores desta colecção – com uma nova abordagem aos problemas do contexto urbano e da experiência humana do ambiente construído.

Visitem o sítio web da a+t para mais informação sobre este livro e outras publicações .







VA Studio, MD Housing, Vila Nova de Gaia, Portugal, 2010. Image credits: Alberto Plácido.

DENSITY IS HOME, the latest title in a+t’s architectural catalogue, analyses a total of 37 contemporary housing projects. The book investigates the urban dimension of architectural design, studying the different ways in which life is affected by the programmatic orientations and philosophy behind each project.
The context of these housing proposals is varied, including cities with compact centers, with single or multiple cores, dispersed urban landscapes, recycled structures and more. A big emphasis is also set on the notion of re-densification, the regeneration of the built environment. As expected, the featured projects range both in size and typology.




Rueda Pizarro, 64 Social Housing Units, Madrid, Spain, 2010. Image credits: Ricardo Espinosa.

The book is preceded with an essay written by Aurora Fernández Per, editor and director of the a+t Research Group, titled Density And Desire. It talks about the need to address the notions of urbanity and humanity in architecture. To embrace a sense of individual perspective and preserve the subjectivity of the user: Generic residents, she writes, do not exist, they are as unique as you are.
In a way, all the projects featured in this book share the aspiration to go beyond pre-defined solutions, beyond the regulations and financial constraints, addressing design problems with openness, innovation and ultimately giving the unexpected a chance.




Aires Mateus, Housing for the Elderly, Alcácer do Sal, Portugal, 2010. Image credits: Fernando Guerra FG+SG.

This preface is followed with an interesting visual study of 14 contemporary home types, all of which are inserted in collective dwellings. These case studies are presented in the form of schematic plans, followed by annotations that highlight its most important qualities and specific design features.
Those with an interest in contemporary housing design, both architects and students, will likely find DENSITY IS HOME a powerful source of information, as it complements the quantitative analysis of density and costs we can find in previous titles in this collection with a new approach to the matters of urban context and the human experience of architecture.




C. Colomès + F. Nomdedeu, Student Housing, Troyes, France, 2009. Image credits: Guilhem-Ducléon.

Visit a+t architecture publishers for additional information on this book and other publications.

Empena



Enquanto escrevo nos bastidores… O Senhor e a Senhora Chaminé. Via The Iridescence (Oh, My Buddha).

Cubículo



Álvaro Siza num cubículo para fumadores em Frankfurt. Foto de iPhone por Fernando Guerra, via Facebook.

Álvaro Siza in a smoking cubicle, in Frankfurt, just a few days ago. iPhone pic by Fernando Guerra, via Facebook.

The Feynman series



Do mesmo autor de The Sagan Series chega agora o projecto The Feynman Series. Neste primeiro filme Richard Feynman fala-nos do seu entendimento da beleza e das muitas dimensões em que esta existe e se manifesta na natureza. Vários episódios já disponíveis no YouTube, para relembrar aquele que é unanimemente reconhecido como um dos grandes génios do século XX.

Nove entre dez arquitectos recomendam…



O sabonete poliédrico MORFOZE. Via mmminimal.

Retalhos da vida de um arquitecto



‘Tou, xôr arquitecto, é que chegaram aquelas floreiras que o senhor encomendou mas é que isto parece que não vem bom, está pr’aqui tudo enferrujado, ‘tá a ver?

Arquitectura do défice (2) – É matemático

Anteriormente: Arquitectura do défice.

Portugal perde 382 milhões com fim do TGV. O título percorreu hoje diversos títulos da imprensa, pelo menos a julgar pelas suas edições online. Não é o tanto o tema que interessa agora aprofundar, tão só o simplismo daquelas palavras. Talvez o problema seja mesmo do jornalismo e a sua solução passasse por fazer da matemática uma disciplina obrigatória nos cursos de comunicação social. Os jornalistas – como os arquitectos e tantos outros – deviam estudar mais matemática.

Uma das patologias mais perversas do nosso sistema político e económico foi essa doença dos financiamentos. Ao nível da administração central, das regiões, das autarquias, os financiamentos foram a porta aberta para fazer obra sem medir consequências. E quando o endividamento já não parecia possível inventaram-se mecanismos legais para evadir dívida das contas do Estado através de parcerias público-privadas, entidades públicas empresariais e outros exemplos da grande imaginação dos nossos governantes.

Devíamos interrogar-nos sobre esses países que alimentaram, com os impostos dos seus cidadãos, os fundos comunitários que deveriam ter servido para dinamizar o nosso desenvolvimento e competitividade. Como conseguiram, nesses países que não receberam fundos da UE, reabilitar as suas cidades, construir as suas escolas, os seus hospitais, as suas estradas, os seus equipamentos e infra-estruturas. Aprenderam afinal a viver à medida das suas possibilidades fazendo o assessment rigoroso das necessidades e a gestão austera dos meios disponíveis.

O título de hoje seria fácil de desmontar com números. Quanto desembolsaria o Estado Português – em dinheiro que não tem, ou seja, em crédito (financiado por quem e a que preço?) – para acompanhar o investimento do TGV e assim receber uma cenoura de 382 milhões de euros. E qual o volume de gastos indirectos, ausentes das contas daquele investimento, em acessibilidades complementares tais como pontes, viadutos, vias rápidas… E valerá a pena rever os estudos realizados pelos gabinetes de consultadoria da última legislatura, em especial no que diz respeito às receitas estimadas? Se mais não fosse os jornalistas poderiam ao menos fazer perguntas.

Costuma dizer-se que se queres sair do buraco pára de escavar. Talvez a solução para o problema Português seja mesmo acabar com os financiamentos, tout court, e encarar finalmente um novo paradigma de planear, projectar e fazer. Diz que é assim lá fora.

My bad

Ainda com a memória da areia nos pés e um atrito infinito no fundo da mente, fugindo ao mundo lá fora e às mil e uma pequenas vozes que o reflectem cá dentro, vou regressando à ideia de escrever. Para todos os que me enviaram emails, em particular aos que solicitaram divulgação na listagem de arquitectos e no blogue, fica a promessa de estar a fazer o trabalho de casa. Darei conta da actualização muito em breve e a todos responderei nos próximos dias.

A arquitectura voltará, a pouco e pouco, a aparecer nesta página. Por estes dias interessa-me a arquitectura da crise, do tempo da carência, dos que se propõem novos modos de pensar e se recusam a viver de narrativas. Abandonemos os fósseis televisionados e revistados que alimentaram por demasiado tempo o nosso maravilhamento colectivo. Mas olhemos também para lá do pessimismo das evidências; há muita coisa interessante a acontecer à nossa volta.

E obrigado por estarem desse lado. Este é o meu blogue mas vocês também o podem ler.

9o

Image credits: Type Findings.

Type Findings, um tumblelog para os aficionados da tipografia no espaço urbano.

Viver no momento



Filme de lançamento da competição de curtas-metragens Pepsi Max London 2011. Sem gráficos gerados por computador ou efeitos digitais, apenas alguns adereços e muita imaginação.

Limbo

Image credits: Emmy (B1nd1). Via I Am Not What I Am.

Um estado de incerteza, negligência, no ar, suspenso, entre, sem saber se se está de partida ou de regresso.

Para onde vão os sonhos



Curta de animação concebida como vídeo-clip para o tema Bronte, uma composição do músico Gotye. Um filme agridoce com influências no trabalho de Hayao Miyazaki e que nos fala da perda da capacidade de imaginar o mundo à medida que nos vamos afastando da infância.

Breves notas sobre a hibernação dos ursos


Image credits: Chic Sin Design. Via They Don’t Even Fit.

Basicamente quero vinte coisas destas na minha casa…

Procrastinar


Versão original aqui.

Londres XXI

Escrever não é apenas pensar. É construir uma realidade. As referências que escolhemos fabricam um ponto de vista. A linguagem nunca é neutral, como não o são os factos que invocamos, as imagens, os vídeos. O que vemos no assalto ao jovem agredido Asyraf Haziq, por exemplo? Um instantâneo da realidade ou algo mais? E dissertando sobre isso, falamos da verdade dos factos ou do simbolismo de tudo o que podemos ver para lá das imagens?

O que nos separa dos eventos de Londres da semana que passou? O primeiro obstáculo é mesmo uma questão de distância. É demasiado fácil discorrer sobre aquela violência, seja para exigir repressão implacável ou para desmultiplicar a complexidade das causas. E é fácil porque, de uma forma ou de outra, estamos todos sentados nas nossas torres de marfim, em condomínios fechados ou num apartamento dos subúrbios. Se aqueles selvagens estivessem no nosso bairro a pilhar e a destruir seríamos os primeiros a clamar pelo exército nas ruas já. E no entanto, depois da tempestade, o que fazer? Dispomo-nos a pensar sobre o que aconteceu ou, como escreve o Russell Brand, varremos aquela juventude perdida por entre os destroços do motim?

Escutemos o debate acalorado entre alguns jovens londrinos em plena rua – ver aqui. Podemos perceber que o instantâneo não será tão espontâneo assim; afinal não sabemos ao certo quem são aqueles jovens, quem é actor convidado e quem é intruso na peça. Mas a discussão é rica e resvala rapidamente para fora de um qualquer guião. A dada altura um daqueles rapazes diz sobre os looters: estes são os filhos das mães adolescentes.

É uma daquelas frases que faz soar campainhas. Sim, é um belo pedaço de retórica e carrega consigo uma boa dose de generalização romântica. Mas há ali qualquer coisa de verdade, não é assim?
Sabemos que os jovens encapuçados – e os adultos – das noites da última semana não são todos filhos de mães adolescentes. E sabemos que aqueles grupos não são representativos de uma comunidade e muito menos de toda uma geração. Mas se aquelas imagens nos perturbam é porque encontramos ali algo que nos é reconhecível. Afinal, ali testemunhamos o que pode significar o fim da linha de uma sociedade.

Não posso deixar de pensar que o que está ali em causa é, em parte, o momento em que a família – seja qual for a cor, o tamanho, o feitio – deixou, de alguma forma, de existir. Não se trata de afirmar que a culpa é dos pais. Sim, a culpa também é dos pais, seja pela carência, pela indiferença ou pela inaptidão total. Mas não podemos deixar de questionar o plano mais vasto em que tudo isto existe. De interrogar o papel a que a nossa sociedade vem votando o espaço da família. E aqui temos de ir mais fundo, à estrutura social que a dimensão económica e política da nossa realidade está a construir. À ética empresarial, por exemplo, porque no mundo em que vivemos se subjuga a família ao sucesso profissional. Ou, no caso mais extremo, à mera sobrevivência financeira.

Quando a destruição chega às ruas não há lugar para mais do que a repressão. Mas o problema de fundo, para lá do plano da criminalidade que também existe, não é apenas um caso de polícia. E ao pensar nisto já não estamos só a pensar em Londres, Manchester, Liverpool, Birmingham. Ou em Paris. Mas em Europa.

Talvez o futuro de tudo isto, e de todos nós, se balance num fio tão instável como o dos mercados da última semana. Na ausência de afirmação de uma Europa forte em torno de um desígnio económico conjunto para o desenvolvimento, estes podem ser problemas que ficarão por responder no contra-ciclo do empobrecimento das nações. Restará assim a única saída fácil, viável, que é a da repressão. E assistiremos ao definhar de um sonho, talvez mais romântico ainda, de uma sociedade de direitos e liberdades, para vermos ascender uma nova sociedade de desesperança e conflito.

A história do Século XXI ainda não está escrita. Esperemos que os motins de Londres não sejam, dessa história, as primeiras palavras.

Não me obriguem a vir para a rua (limpar)







Por entre os estragos ergue-se uma comunidade. E talvez a primeira pergunta a fazer seja essa: que tipo de pessoa és tu? És dos que vestem camisola com gorro para beber, roubar e destruir? Ou és dos que vêm para a rua de vassoura na mão para limpar e refazer?

A questão não é assim tão simples porque se lhe seguem os porquês. Bem faremos assim em ver, escutar e pensar antes de emitir posts e tweets e likes. Nem sociologia de meia-tigela nem tanques na rua, se faz favor. Acima de tudo afastemo-nos daqueles que se deliciam a fantasiar narrativas em torno dos factos, à esquerda e à direita, à medida do estreito túnel ideológico de onde vislumbram, pouco, o mundo lá fora.

Arrefecidos os escombros talvez se possa pensar com mais serenidade no que aconteceu. Em primeiro lugar importa manter a lucidez para lá do imediatismo fatalista que nos quer fazer crer a todos que a Inglaterra já está a arder. Como se os motins urbanos fossem coisa nova neste mundo. E como se o que ali se passou carregasse um sentido para lá da subcultura da violência, da destruição como entretenimento, da amoralidade e do vazio.

Talvez se tenham cruzado pelas ruas de Londres, no entanto, alguns factores novos. Na era da televisão 24 horas por dia, do vídeo instantâneo na internet e da rede social, a velocidade é o combustível do contágio, da disseminação. E teremos também um terreno de sociologia urbana – sem conotações ideológicas – que só alguma ingenuidade (se não má vontade) pode descurar quanto a fenómenos de criminalidade organizada que vem de longe e que encontra no meio juvenil um veículo para a retaliação sobre a ordem estabelecida.

Podemos embarcar no jogo das culpas: é dos políticos, é do capitalismo, é da sociedade de consumo, do desemprego, dos pais, dos professores, do futebol, da televisão ou dos jogos de computador. E talvez possamos, ponto a ponto, encontrar motivos legítimos para reflexão. Talvez tenha faltado liderança política ou, de forma mais vasta, esteja a falhar a sociedade enquanto lugar de instituição e transmissão de valores. Ou talvez esteja em causa o empobrecimento do espaço da família, seja por carência de dinheiro, de tempo, de afecto, seja pela obesidade do consumo e de múltiplas expressões de futilidade. Ou talvez ainda tudo isso e mais ainda; e valerá a pena pensar em todas as razões e questionar que tipo de pessoas está a nossa sociedade a construir e porquê.

Mas se queremos ler narrativa ideológica e movimento social sobre os insubordinados, talvez devêssemos interpretar igualmente a expressão social destes outros cidadãos que se ergueram para repor a ordem nas suas comunidades e limpar as suas ruas. Porque estes também são povo, como o são os proprietários e os trabalhadores das lojas destruídas e os que residem nas casas incendiadas.
* * *

E porque a questão é complexa e vale a pena ouvir vozes diferentes, ficam algumas ligações de interesse: [1] Panic on the streets of London; [2] Most of the kids are alright; [3] UK RIOTS DEBATE IN CLAPHAM - FLIP LIFE TV - 2011; [4] London Riots: Clapham Junction Speaker; [5] UK rioters / looters try to justify actions; [6] Big Brother isn’t watching you.

E agora, monstros

E se falamos de monster movies temos de recordar essa obra-prima do género sci-fi horror que é The Thing. Realizado por John Carpenter em 1982 continua a ser considerado um dos filmes de terror mais grotescos de sempre.



The Thing fala-nos de um monstro capaz de absorver e replicar qualquer criatura com que entre em contacto físico, não apenas a sua forma orgânica mas a própria mente. Viajante da galáxia há milhares de anos, ele tem por único propósito a sobrevivência.
O derradeiro monstro não tem apenas a aptidão de absorver outras criaturas; ele é capaz de se metamorfosear misturando características de seres diferentes para se tornar num mutante híbrido mortal. Apropriando-se da mente das vítimas tornou-se também numa mistura de diferentes psicologias, com as suas instabilidades, os seus medos e os seus ódios. Este é o monstro absoluto.

O clássico de Carpenter não seria o mesmo sem a colaboração de Rob Bottin, especialista em efeitos especiais e criador das monstruosidades memoráveis que assombram o filme. Este artista conceptual viria a descrever o longo processo de produção de The Thing como uma viagem ao inferno. Fazendo uso de bonecos animados, esculturas de látex, toda uma miríade de viscosidades estranhas e técnicas de stop-motion, Bottin concebeu visões de horror e insanidade sem paralelo na história do cinema. O filme chocou audiências e mereceu, à data, o desdém da crítica. Fracassado na bilheteira, seriam necessários vários anos para ser reconhecido como uma referência do cinema de horror e se tornar num sucesso de vendas em DVD.

Quase trinta anos passados desde a sua estreia e eis que surgem na internet notícias de uma prequela com o mesmo título. Alguns remakes recentes de obras de Carpenter não fazem aguardar o filme com as maiores expectativas mas é com curiosidade que aguardo esta reaparição do extraterrestre enterrado no gelo da Antártida. Conseguirá o monstro analógico sobreviver à era digital? Saberemos no final do Verão. Por agora resta-nos o trailer.

Super 8



Super 8 é, entre outras coisas, um monster movie consumido pela tentação de mostrar o monstro. J.J. Abrams vai ainda mais longe cometendo o pecado de humanizar aquilo que deveria permanecer para sempre estranho, para sempre nas sombras da mente do espectador. Quantas vezes podemos ter na manga os xenomorfos de H. R. Giger ou as mutações loucas de Rob Bottin? Afinal, o monstro que imaginamos é bem mais interessante do que aquele que nos é dado a ver.

Nos seus bons momentos Super 8 é um belo filme, tributo a uma era do cinema americano vibrante de energia e imaginação. Longe estamos do blockbuster contemporâneo em que cada plano é um compósito chroma-key e cada sequência um money-shot, para reencontrarmos a ingenuidade de E.T., a jovialidade de Os Goonies e o crescendo de Encontros Imediatos. E temos um grupo de crianças que é o melhor do filme, com destaque inevitável para Elle Fanning, a jovem paixão dos heróis da aventura, e Riley Griffiths no papel do mais pequeno realizador de série B da história do cinema.

Antes de ser tudo isto, Super 8 é um filme sobre um tempo que já não existe. Passa por ali toda uma infância preenchida por modelos de aviões, soldados em miniatura e um imaginário de banda desenhada. Depois há uma máquina de filmar e um mundo de fantástico que apenas se pode desvendar a partir da penumbra da lente. O cinema, como a infância, em tempos foi assim.

Who is visiting the Moon these days?



E enquanto andávamos distraídos com a vida lá fora eis que chegaram dois novos filmes da série The Sagan Series, SETI Decide To Listen e End Of An Era: The Final Shuttle Launch.
Já aqui publicados anteriormente: Earth: The Pale Blue Dot, Life Looks For Life, A Reassuring Fable e NASA Per Aspera Ad Astra.



While I was being distracted with life in the outside world, The Sagan Series launched two new videos: SETI Decide To Listen and End Of An Era: The Final Shuttle Launch.
If you’ve missed the previous episodes, here are the links: Earth: The Pale Blue Dot, Life Looks For Life, A Reassuring Fable and NASA Per Aspera Ad Astra.

Brinca na areia




Isto é, tipo, uma grande ideia. E de repente ocorre-me… É que eu tenho gatos.

This is, like, a great idea. And then I realize… That’s right, I have cats.

Estaleiro

As minhas desculpas aos visitantes mais persistentes pela ausência de notícias. Com trabalhos de conservação a decorrer em casa, arranjo de carpintarias, pintura de paredes, muito pó e tudo forrado a plástico, manter a actividade no blogue ficou simplesmente impossível. As casas antigas são cheias de charme mas não imaginam o trabalho que dão a cuidar. Felizmente tudo parece estar a encaminhar-se bem e na próxima semana já poderei destapar o computador. O blogue voltará assim à actividade regular com muito para escrever. Até já!

Simetria



Filmado inteiramente com um telemóvel, Splitscreen: A Love Story é um pequeno vídeo premiado na competição Nokia Shorts 2011.

Winner of the Nokia Shorts 2011 competition, Splitscreen: A Love Story was entirely shot on a mobile phone.

Lunch atop a Skyscraper


Image credits: Mike Stimpson.

Recriação em Lego da famosa fotografia Lunch atop a Skyscraper por Charles Ebbets. Também disponível em formato panorâmico. Via Live and Let Live.

Lego version of the famous photograph Lunch atop a Skyscraper taken by Charles Ebbets. Also available in widescreen format. Via Live and Let Live.

Simbólico

Uma bandeira Portuguesa, velha e desfiada, exibida num edifício do Estado ou num posto de fronteira, era uma imagem frequente durante a década de oitenta. O desapreço pelo símbolo da nação teria correspondência na visão complexada com que a nova República foi estabelecendo a sua relação com o passado histórico.
Podemos encontrar consequências diversas deste fenómeno, na pobreza das manifestações de arte pública, na fraca capacidade de celebração, de imaginação, de transcendência perante um desígnio de comunidade e identidade nacional. A história de quase quatro décadas de democracia em Portugal é marcada por essa desvalorização do simbólico, tanto no que respeita ao exercício de gestos rituais, institucionais ou éticos, como no campo da cultura e da arte.
É um processo que se terá procurado legitimar enquanto distanciamento da afirmação nacionalista deliberada do antigo regime, em tudo o que aí se inscrevia de visão provinciana de sociedade e de mundo. Mas tal não deixou de significar o abandono de uma revisitação crítica mas descomplexada com a nossa herança histórica – na arte, na cultura, na produção audiovisual – algo sobre o qual a classe política e o próprio Estado prescindiram de pensar.
Se a democracia não deixou também ela de construir os seus próprios rituais, assentes na repetição eloquente de gestos e palavras que parecem querer inscrever a verdade do regime e as suas próprias narrativas, tal não impediu que se fosse perdendo a dimensão ritual e, mais grave ainda, a ética do exemplo, na política e na sociedade no seu todo.

Primavera-Verão



Kate Spade New York ad campaign featuring Bryce Dallas Howard. Via Debbie Does Detroit.

Loucos e Fãs


Há uma cena muito boa no filme Fanboys. Não, não era desta que eu queria falar…

Há uma sequência genial no filme Fanboys. Queria dizer: vocês sabem qual é! Mas depois ocorre-me que os leitores eventuais deste blogue não são geeks como eu, facto que devo confessar me entristece bastante mais do que imaginam. Viver num país com poucos cromos, gente apaixonada por coisas genialmente improváveis que nos rodeiam a todo o momento e por toda a parte. Mas voltemos ao filme, quando Linus diz, a propósito da saga Star Wars, que é necessário manter as falhas, os efeitos foleiros, as marionetas. Que é isso que torna os filmes tão especiais. Questiono-me se será um pouco de saudosismo da minha parte. Mas ocorre-me pensar que havia qualquer coisa naquele tempo, mais pura e inocente, que entretanto se perdeu. Na forma como nos relacionávamos com os filmes, com a televisão. Como parávamos para ver o concurso de melhor bronzeado no programa da tarde de sábado com o Júlio Isidro. E não se trata apenas do cerco de consumo tornado cultura com que os media barricaram as novas gerações. Falo antes do cinismo com que encaramos tudo o que nos rodeia. Afinal, no mundo dos Big Brothers e da Casa-que-não-lembra-o-diabo já ninguém pode acreditar num programa de televisão.

Estórias da Carochinha



Estórias da Carochinha é um tumblelog principalmente dedicado à descoberta de ilustrações de livros infantis antigos.

Estórias da Carochinha is a Portuguese tumblelog mostly dedicated to vintage children’s books illustrations.

Pascal Campion


Strasbourg, 1996.

As belas ilustrações de Pascal Campion. Mais aqui. (Nota: nesta gosto dos degraus irregulares, do interruptor com o fio à vista e da maçaneta da porta.)

The wonderful art of Pascal Campion. More here.

ARX.pt


Image credits: Fernando Guerra (FG+SG), House in Possanco (Comporta), Alcácer do Sal, Portugal, 2011.

A ARX está a celebrar 20 anos de actividade. O atelier de Nuno Mateus e José Mateus resolveu assinalar a ocasião com o relançamento da sua página web (www.arx.pt), agora com novo design e muitos conteúdos dedicados os seus trabalhos mais recentes.

ARX Portugal is an architecture firm based in Lisbon directed by Nuno Mateus and José Mateus. Originally founded in Berlin in 1991, it is celebrating 20 years of architectural activity with a relaunch of its website (www.arx.pt), now featuring a brand new design and extensive information about their most recent works.

Mil e duzentos milhões de quilómetros



Cassini Mission é um pequeno filme composto por Chris Abbas a partir de imagens transmitidas pela sonda Cassini, em órbita no planeta Saturno desde 2004.
Um entre milhares de vídeos que aparecem na Internet todos os dias, passará porventura pelos olhos do mundo como uma pequena curiosidade de infoentretenimento. Aos que aqui passam fica o comentário de um não-cientista. Que em toda a história da Humanidade, a nossa é a primeira geração de humanos a vislumbrar tais paisagens. E que por detrás da experiência Kubrickiana de dois minutos está uma longa viagem da Ciência, só equiparável aos mais de mil e duzentos milhões de quilómetros que nos separam de Saturno. O mais extraordinário é que, mais difícil do que construir a tecnologia das máquinas, tenha sido desbravar os mistérios da física e da astronomia que tornaram tudo isto possível.
Chris Abbas é designer e cineasta e trabalha na firma Digital Kitchen em Seattle. Via Capítulo 0, um excelente blogue do jornalista galego Manuel Gago.

A morte de um filho da floresta



Por vezes ao percorrer o meu leitor de feeds, hábito quase diário, transitando rapidamente uma notícia atrás de outra, um título sobressai sobre todos os outros. E poucos terão sido tão chocantes como este. O TEDBlog dá conta da morte de Zé Cláudio e da sua mulher Maria, assassinados em sua casa de Nova Ipixuna, Pará, Brasil, no passado dia 24 de Maio.
José Cláudio Ribeiro da Silva vivia da floresta Amazónica como “extractivista”, recolhendo os seus frutos e fabricando produtos naturais a partir de sementes e óleos. Tornou-se líder comunitário e activista contra o abate ilegal de árvores e a ameaça de desflorestação da Amazónia. A sua determinação tornou-o num símbolo de defesa da floresta e um alvo para os madeireiros ilegais de quem recebeu diversas ameaças de morte.
Em Novembro do ano passado, Zé Cláudio participou na conferência TEDxAmazônia onde deixou o testemunho tocante do seu amor pela natureza, dando conta do seu medo pelo futuro mas também da sua enorme coragem. O mundo não pode esquecer este homem.

Árvore



Museu Paula Rego, por Eduardo Souto de Moura, em Cascais. Vista parcial com o detalhe da escorrência de água da chuva na fachada. A textura diagonal da cofragem do betão dá origem a um desenho que parece evocar a forma das árvores próximas. A observação é do tumblelog Subtilitas, a partir de uma imagem de Pedro Kok, fotógrafo e autor de um pequeno filme publicado no blogue anteriormente. Via People and Place.