[os bois pelos nomes]

Sexta-feira

O Carlos do Carmo Carapinha dedica-se a dissecar as contradições do que atrás escrevi. Pouco me interessa entrar numa discussão dos nossos pequenos egos: Daniel acusa os outros. Mas quem sou eu? Quem é o Carlos? E o que é que isso interessa?
Já não me é indiferente que o Carlos não referencie o exacto artigo do Blasfémias que motivou a minha crítica. Não se tratou de contestar a confrontação crítica da história, no caso a “efeméride” 25 de Abril e a mitificação do seu sentido histórico. Porque o texto do Blasfémias não produz reais juízos de valor sobre o “25 de Abril”, o que quer que ele seja para Rui A.

Contradição? Produzir uma análise crítica da História não é o mesmo que produzir um julgamento sentenciando os seus participantes. Os exemplos são, lamentavelmente, muitos. Podemos muito bem apreciar o processo de expansão marítima e todos os fenómenos que o envolveram: crime, escravatura, pilhagens, doenças. E podemos produzir sobre eles um valor crítico, chamando os bois pelos nomes do que correu bem e do que correu mal. Daquilo que são erros à luz da nossa visão dos valores universais. Mas daí a sentenciar os promotores da escravatura de criminosos universais vai um passo que só a falta de uma visão plena da História pode justificar.
Uso este exemplo porque sei que é altamente passível de deturpação. Basta ver o que foi a participação envergonhada das autoridades portuguesas nos 500 anos do achamento do Brasil para perceber o estado a que chega a autoridade intelectual deste país.
O pior de tudo é ver-nos discutir fúteis equívocos de interpretação: julgar o que os outros escrevem, mal e à nossa maneira, e depois censurá-los por isso. Se reconheço inteira verdade ao parágrafo final do texto do Carlos, não posso perceber porque me vem aquilo atirado à cara como se alguma vez o tivesse posto em causa. Mas isso, tenho de reconhecer, já é uma queixa do meu pequeno ego.

2 comentários:

  1. Pode-se sempre ir à História buscar argumentos para defender a Tese.
    Essa História não é Positiva, é Política, apaga partes e evidencia outras.

    A História positiva tem que se limitar, a factos, a dúvidas, à contextualização, no fundo à investigação da verdade factual.
    Não sabemos e procuramos perceber.

    Depois podemos interpretar, emitir críticas e elogios, não podemos é disfarçar de ciência.
    Isso é construir uma História, como fizeram todos os Nacionalismos, como fez Camões nos Lusíadas.
    Havia uma História Espanhola e outra Portuguesa, uma Francesa e outra Alemã, etc.

    É neste sentido que concordo inteiramente com o Daniel ao condenar o maniqueismo histórico, a História dos bons e dos maus do texto do Blasfémias.

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  2. "Basta ver o que foi a participação envergonhada das autoridades portuguesas nos 500 anos do achamento do Brasil para perceber o estado a que chega a autoridade intelectual deste país."
    Parabéns!!
    Poucos, muito poucos, tiveram a coragem de falar sobre isto, desta maneira, sem medos nem falsos pruridos. Se bem que "achamento" seja uma expressão de compromisso desnecessária. Descoberta, é a palavra certa. Doa a quem doer.
    Um abraço

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